Ana Isabel Rodrigues
Ana Isabel Rodrigues
Ana Isabel Rodrigues
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O Alqueva e o Turismo: Oportunidades, Constrangimentos e Desafios para<br />
um “Turismo de Lagos”<br />
Congresso Internacional de Turismo Leiria e Oeste/ Escola Superior de Tecnologia do Mar,<br />
Peniche, 22-23 de Novembro de 2007<br />
<strong>Ana</strong> <strong>Isabel</strong> Barros Pimentel <strong>Rodrigues</strong><br />
Docente da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja/Instituto Politécnico de Beja<br />
ana.rodrigues@estig.ipbeja.pt<br />
PALAVRAS-CHAVE: Turismo, Alqueva, Turismo de Lagos, Desenvolvimento Turístico,<br />
Destino Turístico<br />
INTRODUÇÃO<br />
De acordo com o PENT 1 , Portugal deverá até 2015 diversificar a sua oferta e apostar em sete<br />
novos pólos de atracção turística, um dos quais o Alqueva. O Alentejo como destino turístico<br />
reúne já um conjunto de factores distintivos e que poderão ser diferenciadores num mercado cada<br />
vez mais competitivo. Com a albufeira do Alqueva, o Grande Lago como é conhecido, um novo<br />
destino turístico emerge na região do Alentejo acrescentando valor a este destino turístico. A<br />
existência de “lagos”, como elemento físico natural ou artificial, apresenta um potencial de<br />
desenvolvimento de um tipo de turismo principalmente associado a territórios do interior do país:<br />
o “Turismo de Lagos”. O elemento natural “água” surge como a alavanca para o aparecimento de<br />
várias outras formas de turismo (rural, cultural, desportivo, ambiental, náutico, gastronómico, etc)<br />
que poderão encontrar no “lago” um excelente pólo de atracção turística. Que oportunidades,<br />
constrangimentos e desafios se colocam a um “novo” destino no Alentejo decorrente da albufeira<br />
do Alqueva é a reflexão proposta neste trabalho, numa altura em que o potencial turístico deste<br />
projecto está em discussão pelos agentes do sector.<br />
I. Potencialidades Turísticas da Região: Uma Reflexão<br />
1.1. O Alentejo<br />
Politicamente é objectivo do Governo afirmar Portugal como destino turístico de excelência<br />
competindo, por um lado, com propostas de oferta já consolidadas internacionalmente no<br />
1 Plano Estratégico Nacional de Turismo.<br />
1
mercado turístico (o caso do produto Sol e Praia no Algarve, o City Breaks em Lisboa ou os<br />
Resorts na Madeira); por outro lado, com novas propostas de novos destinos que procuram<br />
afirmar-se, como o Turismo Cultural e Paisagístico no Alentejo ou o Turismo de Natureza nos<br />
Açores ou Madeira). Contudo, embora o turismo seja um importante sector económico,<br />
contribuindo em cerca de 11% do PIB, na realidade tem vindo a perder quota de mercado nos<br />
últimos anos. A excessiva dependência mercados emissores como Inglaterra, Alemanha ou<br />
França e de destinos como Algarve, Madeira e Lisboa exigem uma aposta em estratégias de<br />
diversificação de produtos e mercados.<br />
Neste sentido, a proposta de valor de Portugal de acordo com o PENT, assenta quer em factores<br />
diferenciadores como “ Clima e Luz”, “História, Cultura e Tradição” e “Hospitalidade”, quer em<br />
factores qualificadores da nossa oferta “Segurança”, “Autenticidade Moderna” e “Qualidade<br />
Competitiva”. Mas o valor da marca “Portugal” assume-se, sobretudo, com base no conceito de<br />
“Diversidade Concentrada”. Portugal é um país pequeno em dimensão, mas rico em experiências<br />
onde é possível, num período limitado de tempo, fazer mais do que em qualquer outro lugar. Por<br />
essa razão, a linha de promoção turística de Portugal segue a estratégia da marca umbrella, onde<br />
existem vários destinos por explorar num só país, cada um com as suas especificidades. Cada<br />
destino deve definir estrategicamente quais os seus produtos turísticos, passando de uma<br />
promoção genérica de imagem para uma estratégia de desenvolvimento de produto/mercado,<br />
tendo por base as diversas regiões de Portugal denominadas de Áreas Promocionais (sendo sete<br />
ao todo) 2 .<br />
No que se refere às características próprias do Alentejo, estas alicerçam-se em valores de marca<br />
como o romantismo, autenticidade, sedução e diversidade, baseadas em atractivos recursos<br />
turísticos, quer materiais desde a natureza, cultura popular, património imóvel, quer imateriais<br />
gastronomia, vinhos, tradições, hospitalidade. Por essa razão, o Alentejo permite ao visitante<br />
desfrutar de um conjunto alargado de experiências, diferenciando-se das outras regiões de<br />
Portugal pela noção de “Tempo”. A marca Alentejo pretende posicionar-se no mercado turístico<br />
português e estrangeiro com base no conceito de “Tempo”, promovendo-se através do slogan “ O<br />
Tempo é Tudo…”. A mensagem a transmitir assenta na ideia de que nesta região de Portugal o<br />
tempo ganha outra dimensão…ou seja, a par da natureza, cultura, gastronomia, tradições, etc, o<br />
2 Alentejo, Algarve, Lisboa e Vale do Tejo, Centro, Porto e Norte de Portugal, Madeira e Açores.<br />
2
Alentejo quer assumir-se como um destino “com alma…” , proporcionando um conjunto de<br />
sensações e experiências de forte impacto.<br />
É face a uma estratégia de diversificação da oferta, que pode e deve ser capitalizada a vocação<br />
natural do Alentejo que lhe permita competir em mercados-alvo. De acordo com o PENT, foram<br />
identificados sete novos pólos de atracção turística a apostar em Portugal até 2015, onde se<br />
destaca no Alentejo, o Litoral Alentejano e o Alqueva. Para o desenvolvimento destes pólos de<br />
atracção prevê-se, em termos de actuação do sector público, a dinamização de “clusters”<br />
regionais, planos sectoriais, acessos e rede de transportes competitivos, “via” rápida para<br />
projectos de elevado valor acrescentado, novo quadro de incentivos e calendário de animação<br />
regular.<br />
A região do Alentejo apresenta já no mercado uma oferta turística organizada, apesar de algumas<br />
componentes carecerem ainda de estruturação e consolidação. Seguidamente, apresentam-se<br />
algumas reflexões a propósito de algumas das componentes da oferta deste destino (<strong>Rodrigues</strong>,<br />
2006a):<br />
a) Alojamento<br />
É de referir que já existem nesta região um conjunto de unidades de qualidade, quer ao nível da<br />
hotelaria tradicional (hotel de 3* e 4* com destaque para o surgimento do primeiro hotel de 5*<br />
em Évora no ano de 2005); quer ao nível do Turismo em Espaço Rural, com um acréscimo de<br />
unidades nos últimos anos. O alojamento existente pretende atrair o mercado de lazer, em<br />
especial a modalidade TER, embora existam já alguns Hotéis Rurais a apostar cada vez mais no<br />
mercado das empresas; e o mercado de negócios, cuja oferta de alojamento se situa<br />
essencialmente nos centros urbanos de Beja, Évora, Portalegre. Com vista a atrair mais turistas e<br />
fixá-los por um maior número de dias 3 , as unidades de alojamento têm vindo a apostar na<br />
componente da animação turística, através da disponibilização de programas variados (fins-de-<br />
semana gastronómicos, circuitos culturais, programas desportivos, etc), quer organizando elas<br />
próprias a sua oferta, quer em parceria com empresas de animação.<br />
3 A estada média no Alentejo situa-se em 1,6 dias (INE, Estatísticas do Turismo 2006).<br />
3
) Cultura/natureza<br />
O Alentejo dispõe de recursos culturais e naturais com interesse turístico que funcionam como<br />
factor principal de deslocação dos turistas ou como elementos complementares da oferta deste<br />
destino. Quanto aos recursos culturais destaca-se, não apenas a riqueza do seu património<br />
arquitectónico de cariz religioso (capelas, ermidas, igrejas, conventos) e militar (castelos,<br />
fortificações, etc), mas sobretudo, um património mais de cariz popular, caracterizado quer por<br />
uma arquitectura popular típica desta região (montes e casas caiadas de branco e barras em<br />
amarelo, cinzento ou azul), quer por um património imaterial rico em cantares, tradições, lendas<br />
(o caso do cante alentejano). A par disso, o Alentejo apresenta uma riqueza do ponto de vista de<br />
património arqueológico, salientando-se os seus variados monumentos megalíticos (Norte<br />
Alentejano, Elvas, Évora). Importa ainda referir que em comparação com outras regiões do país,<br />
o Alentejo não se caracteriza por um património cultural edificado monumental e sumptuoso.<br />
Esta região apresenta um potencial de diferenciação no mercado que se baseia precisamente no<br />
carácter simples e genuíno do seu património. Acresce ainda o facto do povo alentejano se<br />
caracterizar por um modo de estar e ser muito próprio que é transmitido ao turista, contribuindo<br />
para o aumento do grau de atractividade deste destino. Apesar da riqueza e diversidade dos seus<br />
recursos culturais, torna-se premente a sua qualificação, por forma a aumentar o potencial<br />
turístico deste destino. Essa qualificação passa por obras de recuperação e valorização do<br />
património, melhorar a informação e sinaléctica turística existente, apostar em pessoal com<br />
formação adequada (por exemplo, na área do acolhimento e atendimento), e conceber circuitos<br />
turísticos que de facto permitam o usufruto desses recursos.<br />
No que se refere aos recursos naturais, o Alentejo dispõe de um recurso valioso – a água – não<br />
apenas ao nível das praias que possui, mas também pelas inúmeras albufeiras espalhadas pelo seu<br />
território. A paisagem alentejana apresenta-se igualmente como um importante factor de atracção<br />
natural (apesar de ser um elemento cada vez mais construído pelo Homem), transmitindo ao<br />
visitante uma sensação de liberdade, evasão e imensidão. Essas sensações decorrem do tipo de<br />
relevo cuja «base» morfológica é uma peneplanície, fracamente ondulada que se estende num<br />
horizonte que parece perdido, onde as searas, montados e montes são os seus elementos<br />
caracterizadores. O facto da paisagem mudar bastante ao longo do ano faz com que o elemento<br />
core seja outro factor atractivo e diferenciador em relação a outras regiões de Portugal (por<br />
exemplo, o Alto Minho cuja paisagem verde se mantêm a mesma durante o ano). O Alentejo no<br />
4
Verão é totalmente diferente do Alentejo no Inverno ou na Primavera. Por essa razão, a nova<br />
campanha promocional do Alentejo, utiliza já este elemento como argumento de venda deste<br />
destino. Importa ainda referir que a flora e fauna é outro recurso natural valioso nesta região.<br />
Existem já locais no Alentejo que são destinos importantes para os “birdwatchers”, como o caso<br />
do projecto da Liga de Protecção da Natureza em Castro Verde.<br />
Para finalizar importa referir que não é suficiente para um destino possuir valiosos recursos<br />
culturais e naturais. É necessário uma aposta num aumento do seu grau de atractividade, pelo que<br />
a realização de eventos culturais e desportivos, a organização de actividades, a definição de rotas<br />
são factores que poderão converter o potencial turístico em realidade.<br />
c) Circuitos e rotas turísticas<br />
O Alentejo dispõe já de alguns recursos culturais e naturais organizados em circuitos/rotas, quer<br />
ao nível de informação disponibilizada, através da concepção de brochuras promocionais por<br />
parte das Câmaras Municipais, Regiões de Turismo, Agência de Promoção Turística do Alentejo<br />
e outros organismos (tome-se como exemplo a Rota do Megalitismo, a Rota dos Vinhos, a Rota<br />
do Azeite, Terras do Pão e Vinho, A Margem Esquerda do Guadiana, Hospitalários no Norte<br />
Alentejano, etc); quer ao nível de empresas turísticas, nomeadamente operadores turísticos e<br />
empresas de animação que comercializam já circuitos no Alentejo.<br />
Dada a riqueza dos seus recursos turísticos, o Alentejo apresenta um potencial muito interessante<br />
para a organização de circuitos, tanto mais que o PENT definiu o Turismo Cultural e Paisagístico<br />
como um produto de 1º nível para este destino, sendo por isso estratégico. Todavia, há ainda um<br />
trabalho a ser feito não só ao nível da estruturação e qualificação da oferta (recuperação de<br />
património imóvel, abertura de monumentos que se encontram ainda encerrados, mais formação<br />
para activos do sector, etc), mas acima de tudo na organização dessa mesma oferta, através da<br />
concepção, promoção e comercialização de circuitos turísticos junto do potencial turista. Para que<br />
surjam mais circuitos é necessário mais oferta de programas de animação turística disponibilizada<br />
por empresas com uma actuação profissional no mercado. Por outro lado, mais e melhor<br />
animação poderá vir a reflectir-se, futuramente, num aumento do indicador da estada média no<br />
Alentejo.<br />
5
D) Gastronomia/Enoturismo<br />
Estes são dois valiosos recursos turísticos que têm vindo a ganhar importância no Alentejo. Os<br />
turistas deslocam-se cada vez mais com o propósito de saborear gastronomia típica e provar o<br />
vinho alentejano. A gastronomia e o vinho, declarada a primeira como valor integrante do<br />
património cultural português desde 2000, assumem-se ou como motivação principal na escolha<br />
de um destino (tal acontece, por exemplo, com visitas ao Alentejo de grupos especialistas em<br />
vinhos) ou como recurso complementar na oferta de outros produtos, como o cultural, rural ou<br />
itinerante. No caso do Alentejo, todas as Regiões de Turismo promovem a gastronomia e os<br />
vinhos específicos da região que representam. A par da promoção/informação, têm surgido um<br />
conjunto de eventos (nomeadamente as semanas ou festivais gastronómicos, no caso deste<br />
recurso) que visam captar a atenção do turista e, consequentemente, motivar a sua deslocação. É<br />
o caso das Semanas Gastronómicas do Porco e Borrego ou o evento Alentejo à Mesa, promovidos<br />
pela Região de Turismo Planície Dourada e de Évora, respectivamente. Uma aposta na<br />
gastronomia como produto implica a existência de estabelecimentos de restauração de qualidade,<br />
não apenas nas ementas que disponibilizam, mas também no serviço que prestam. O Alentejo<br />
possui um conjunto de bons restaurantes, embora o sector careça ainda de pessoal com formação,<br />
quer ao nível de competências técnicas, quer ao nível do atendimento ao cliente com vista à<br />
qualificação da gastronomia como produto.<br />
Em relação ao enoturismo, o Alentejo dispõe de locais produtores de vinho que podem ser<br />
visitados, bem como algumas rotas turísticas promovidas pelo Instituto da Vinha e do Vinho.<br />
Numa perspectiva da actividade turística, dado o elevado potencial deste recurso, é todavia<br />
necessário que os produtores apostem quer numa melhoria das suas instalações, quer no serviço<br />
prestado ao cliente. Boas salas de prova, lojas de vinhos, programas devidamente organizados,<br />
visitas guiadas em várias línguas, boa promoção do produto, são alguns exemplos de<br />
componentes do enoturismo fundamentais. A par disso, o Alentejo apresenta um excelente<br />
potencial para organizar a oferta e melhorar as rotas turísticas que disponibiliza ao cliente. Ou<br />
seja, apostar futuramente nos vinhos como produto turístico.<br />
Em suma, esta região detém potencialidades turísticas bastante interessantes para o<br />
desenvolvimento desta actividade. Todavia, e tendo em conta que o turismo é uma actividade<br />
económica, a simples existência de recursos não é condição suficiente para gerar receitas e<br />
6
promover desenvolvimento numa região. Os recursos têm de dar lugar a produtos turísticos,<br />
devidamente organizados e capazes de atrair turistas e fidelizá-los.<br />
1.2. A Albufeira do Alqueva<br />
O Alentejo, região do país com uma superfície de água significativa que decorre das inúmeras<br />
albufeiras espalhadas pelo seu território, apresenta um potencial turístico bastante interessante<br />
neste domínio 4 . A albufeira do Alqueva, assume-se como um projecto estruturante e como um<br />
investimento âncora para o desenvolvimento regional. A EDIA 5 definiu como prioritária uma<br />
aposta em áreas como a produção de energia eólica e fotovoltaica, a produção de<br />
biocombustíveis, monitorização ambiental, certificação de produtos agro-industriais, turismo e<br />
ordenamento do território. O desenvolvimento turístico assume-se, hoje em dia, como uma<br />
prioridade do projecto, onde o recurso “água” surge como elemento central para o<br />
desenvolvimento desta actividade. A albufeira tem um comprimento de cerca de 83 Km que se<br />
entende pelos concelhos de Moura, Mourão, Portel, Reguengos de Monsaraz e Alandroal, cujas<br />
margens totalizam cerca de 1160 km. O lago tem uma superfície de 250 km2 e é considerado o<br />
maior lago artificial da Europa. Este enorme “espelho de água” como é denominado, constitui-se<br />
ele próprio como um elemento de atracção turística.<br />
O aproveitamento turístico em torno da albufeira conduziu à criação de um organismo - o<br />
Gestalqueva - estrutura vocacionada para a concepção, execução, gestão e promoção de projectos<br />
nas áreas do ambiente, qualidade urbana, turismo e património 6 . O espaço geográfico de acção<br />
desta sociedade centra-se nos concelhos limítrofes dos regolfos de Alqueva e de Pedrógão, área<br />
que passou a denominar-se de Terras do Grande Lago Alqueva. Em termos gerais a intervenção<br />
da Gestalqueva estrutura-se em cinco grandes domínios (Silva e Dias, 2005:126):<br />
4 Existem no Alentejo várias albufeiras que decorrem das seguintes barragens: Barragem de Stª Clara, no concelho de Odemira;<br />
Barragem de Odivelas, no concelho de Cuba; Barragem de Montargil, no concelho de Ponte de Sôr; Barragem da Tourega, no<br />
concelho de Évora, são apenas alguns dos muitos exemplos<br />
5 A EDIA- Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, S.A. foi criada em 1995. É uma sociedade anónima de<br />
capitais exclusivamente públicos que tem como objectivos conceber, executar, construir e explorar o Empreendimento de Fins<br />
Múltiplos de Alqueva (EFMA), contribuindo para a promoção do desenvolvimento económico e social da sua área de intervenção,<br />
a que correspondem total ou parcialmente 19 concelhos do Alto e Baixo Alentejo. A missão da EDIA é a de conceber e potenciar<br />
o Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva nas suas diversas vertentes numa perspectiva empresarial, não se limitando à<br />
região em que se insere o Empreendimento, mas tendo em vista a consolidação do projecto empresarial no contexto nacional. (in<br />
site oficial da EDIA)<br />
6 Sociedade de Aproveitamento das Potencialidades das Albufeiras de Alqueva e de Pedrógão. É uma sociedade anónima que<br />
agrega a EDIA, S.A (Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva) e as sete câmaras municipais que envolvem as<br />
albufeiras de Alqueva e Pedrógão (Alandroal, Moura, Portel, Reguengos de Monsaraz, Mourão, Serpa e Vidigueira)<br />
7
1. Desenvolvimento das Aldeias Ribeirinhas;<br />
2. Articulação do espelho de água com o território<br />
3. Utilização do plano de água<br />
4. Desenvolvimento do Núcleo da Barragem<br />
5. Informação, divulgação e marketing<br />
Como já foi referenciado neste trabalho, o PENT identifica claramente o Alqueva como um dos<br />
sete pólos de atracção a desenvolver nos próximos anos no nosso país. Este pólo deverá tornar-se<br />
num factor de dinamização do turismo nacional, numa perspectiva de dinamização do tecido<br />
económico regional. A albufeira do Alqueva surge neste Plano Estratégico como um factor<br />
distintivo da região do Alentejo que, como refere o próprio documento, “ tem condições para<br />
desenvolver uma oferta de qualidade de Touring, Resorts Integrados e Turismo Residencial<br />
(incluindo o Golfe) e Gastronomia e Vinhos, para além de actividades náuticas que o espelho de<br />
água proporciona ”.<br />
O governo definiu igualmente no PENT o Turismo Náutico como um dos 10 produtos<br />
estratégicos para o desenvolvimento do turismo em Portugal. O estudo sobre este produto<br />
encomendado pelo Governo constatou que o mercado da náutica de recreio cresce entre 8% a<br />
10%, especialmente nos produtos que introduzem inovações 7 . Seguindo este ritmo, em 10 anos,<br />
o volume do mercado europeu terá mais do que duplicado. Refere ainda o estudo que<br />
“…seguramente a Vela, em todas as suas vertentes, é o mercado com maiores oportunidades.<br />
Cruzeiros, vela ligeira, pranchas, navegação de lazer, armadores, tripulações, etc, integram uma<br />
diversidade de possibilidades pessoais, económicas, desportivas, etc, que tornam esta actividade<br />
numa das maiores possibilidades de futuro, sendo uma realidade já inegável.” (p.10). Estão<br />
assim criadas condições políticas para que surja investimento privado junto ao espelho de água,<br />
de forma a potenciar o desenvolvimento da barragem. Quanto à região do Alentejo propriamente<br />
dita, o Governo afirma que o modelo de desenvolvimento de curto prazo passa por um contraste<br />
entre um ambiente tranquilo e a oferta de actividades ao ar livre, pelo que o produto core do<br />
Alentejo é o Touring, secundado pelo Sol e Mar. O Golfe, o Turismo Náutico, a Saúde e Bem-<br />
Estar, os Resorts Integrados e Gastronomia e Vinhos constituem elementos diversificadores da<br />
oferta.<br />
7 Turismo Náutico: Estudo elaborado por THR (Asesores en Turismo Hotelaria y Recreation, SA) para o Turismo de Portugal.<br />
Disponível em http://www.iturismo.pt/proturismo.<br />
8
Um indicador importante e que nos permite igualmente avaliar o potencial turístico da região<br />
Alentejo em geral e o Alqueva, em particular, é o número de projectos PIN 8 (Projectos de<br />
Potencial Interesse Nacional) aprovados pelo Governo até ao momento. Dos PIN´s a nível<br />
nacional já aprovados, cerca de 13 localizam-se na região do Alentejo, 6 dos quais na zona<br />
envolvente ao Alqueva, conforme seguidamente se lista:<br />
- Parque Alqueva, Reguengos de Monsaraz, 940 milhões de euros, 2000 postos de trabalho<br />
- Herdade do Barrocal, Reguengos de Monsaraz, 90 milhões de euros, 105 postos de trabalho<br />
- Herdade do Mercado, Mourão, 55 milhões de euros, 200 postos de trabalho<br />
- Herdade dos Almendres, Évora, 181 milhões de euros, 288 postos de trabalho<br />
- Évora Resort, Évora, 208 milhões de euros, 430 postos de trabalho<br />
A par destes grandes investimentos em empreendimentos turísticos, destaca-se igualmente a<br />
recente inauguração da Amieira Marina situada na albufeira do Alqueva, na aldeia ribeirinha da<br />
Amieira, concelho de Portel. A Amieira Marina é um investimento da empresa Nautialqueva de<br />
capitais totalmente privados que, a par da construção da marina, dedica-se ao aluguer de barcos-<br />
casa, conceito novo em Portugal mas já com uma longa existência em outros países como os<br />
EUA, Canadá, França, Reino Unido, Bélgica, Holanda e Alemanha. Este projecto desenvolve-se<br />
em duas fases, estando prevista para a 2ª fase a construção de uma unidade hoteleira. Os<br />
montantes envolvidos são de 3 milhões de euros para a 1ª fase e 1,5 milhões de euros para a 2ª<br />
fase. Segundo o Secretário de Estado do Turismo, este projecto constitui uma importante<br />
alavanca para o desenvolvimento turístico do Alqueva e demonstra a sua capacidade de se<br />
afirmar como pólo estratégico do turismo português.<br />
Ainda em termos de investimentos estratégicos na região envolvente à albufeira do Alqueva, é de<br />
realçar a abertura do aeroporto de Beja ao tráfego de voos civis no 2º semestre de 2008, segundo<br />
previsões da EDAB (Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja SA). Esta infraestrutura<br />
situa-se a 170 Km de Lisboa e a 100Km do Algarve, dois dos principais destinos do fluxo<br />
turístico nacional. Encontra-se bem próximo da albufeira do Alqueva (cerca de 60 Km) e em<br />
termos de acessibilidades está servido pelas vias rodoviárias da A2 (Lisboa-Algarve), e pelo IP8<br />
8 Governo aprovou, por Resolução do Conselho de Ministros n.º 95/2005 de 5 de Maio de 2005, o Sistema de Reconhecimento e<br />
Acompanhamento de Projectos de Potencial Interesse Nacional (PIN), através do qual adopta novos mecanismos de<br />
acompanhamento e desenvolvimento processual dos projectos que sejam reconhecidos como sendo de potencial interesse<br />
nacional.<br />
9
(Sines-Beja-Espanha), o qual se prevê que seja alargado brevemente. O aeroporto de Beja está<br />
especialmente vocacionado para companhias “charters” e “Low Cost”, assumindo-se como uma<br />
infra-estrutura impulsionadora do desenvolvimento turístico da região.<br />
Embora não directamente relacionado com o sector do turismo, considera-se importante fazer<br />
uma chamada de atenção para a construção da Central Fotovoltaica de Moura. Trata-se da maior<br />
Central Fotovoltaica do mundo num investimento de cerca de 250 milhões de euros da empresa<br />
espanhola Acciona a construir no Concelho de Moura, bem próximo da albufeira. Está prevista a<br />
criação de uma unidade fabril de assemblagem de painéis solares, um programa social de<br />
desenvolvimento da região e a criação de condições para a implementação de empresas de<br />
investigação e desenvolvimento na área das energias renováveis e das tecnologias do hidrogénio.<br />
O próprio Tecnopólo Moura/Beja a construir no âmbito deste projecto estará vocacionado<br />
prioritariamente para as fileiras das energias Renováveis, Aeronáutica, Turismo e Agro-<br />
Alimentar e irá criar condições para tornar atractiva a opção de instalação de empresas na região<br />
e captar investimento que se traduzirá em oportunidades de negócio e postos de trabalho.<br />
Em síntese, veja-se algumas linhas de orientação para a região do Alentejo no geral, e mais<br />
especificamente para o pólo de Alqueva definidas no PENT:<br />
- Desenvolver oferta que reflictam o contraste entre o ambiente tranquilo do Alentejo e a<br />
possibilidade de realizar actividades saudáveis ao ar livre;<br />
- Requalificar a oferta de alojamento, apostando em resorts integrados, segundo um modelo<br />
sustentável;<br />
- Promover o desenvolvimento da oferta de animação, nomeadamente a concepção de rotas<br />
turísticas e desenvolvimento de actividades náuticas no pólo de Alqueva;<br />
- A Proposta Única de Valor do Alentejo (Unique Selling Proposition) deve assentar na ideia-<br />
chave de autenticidade.<br />
II. O “Turismo de Lagos” no Alqueva<br />
2.1. O “Turismo de Lagos”: Uma Primeira Abordagem<br />
O turismo é um sector económico que congrega a prestação de vários serviços turísticos,<br />
disponibilizando no mercado um produto único, mas compósito. O cliente quando adquire um<br />
10
produto turístico consome todo um conjunto de serviços que são prestados por vários agentes,<br />
desde o hotel, o restaurante, a visita ao museu, o passeio organizado, a viagem de avião ou até<br />
mesmo o atendimento prestado num posto de turismo. Estas “prestações de diversas empresas”<br />
traduzem-se no que se designa de componentes do produto em turismo que, por sua vez, têm<br />
como suporte um dado espaço geográfico – o destino turístico.<br />
Como Laws (1995) evidencia a propósito da evolução do conceito de destino, numa primeira fase<br />
o destino turístico era apenas entendido de forma muito simplista como um local onde as pessoas<br />
passam as suas férias. As definições posteriores concebem já o destino como um local onde as<br />
pessoas escolhem passar as suas férias e respectivos efeitos decorrentes da sua permanência.<br />
Verifica-se uma preocupação com a gestão da procura no sentido de minimizar os impactos no<br />
destino. Estes conceitos acompanham a emergência, nos anos 80, da noção de desenvolvimento<br />
sustentável consagrada no conhecido relatório de Brundtland de 1987, enunciando os cinco<br />
princípios de desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista do turismo, a Declaração de Manila<br />
sobre o Turismo Mundial de 1980 marcava já a preocupação na adopção de políticas de<br />
desenvolvimento sustentável nesta actividade. Por essa razão, os conceitos actuais de destino<br />
turístico, e como refere Laws, introduzem já pontos fundamentais como: o destino turístico<br />
resulta de uma multiplicidade de interesses; a discussão na comunidade sobre o tipo de<br />
desenvolvimento turístico preconizado; necessidade de coordenação entre o sector público e<br />
privado; gestão dos níveis de procura turística desejados; influência no comportamento de<br />
compra do turista; promoção da qualidade da experiência turística; implementação de políticas de<br />
desenvolvimento.<br />
Relativamente a definições de destino turístico e muitas poderiam ser identificadas sob as mais<br />
diversas perspectivas (Mill e Morrison, 1992; Cooper et al, 1999; Buhalis, 2000), veja-se a<br />
definição de destino turístico da OMT 9 que reflecte claramente as preocupações anteriormente<br />
enunciadas e presentes nos entendimentos mais recentes de destino. Para esta organização, “ um<br />
destino turístico é um espaço físico no qual um visitante permanece pelos menos uma noite.<br />
Inclui produtos turísticos, incluindo infraestruturas de suporte e atracções e recursos turísticos à<br />
distância de um dia de viagem de ida e volta. Possui delimitação física e administrativa que<br />
circunscreva a sua gestão e uma imagem e percepção definindo a sua competitividade no<br />
9 Organização Mundial de Turismo.<br />
11
mercado. Os destinos locais incorporam vários stakeholders, habitualmente uma comunidade de<br />
acolhimento, e podem associar-se em redes para constituir destinos de maior dimensão.”<br />
O conceito de destino turístico é central a todo e qualquer tipo de turismo, seja de natureza,<br />
cultural, sol e mar, negócios, gastronómico ou de “lagos”. A definição de destino da OMT é<br />
elucidativa para se perceber o que de facto se entende por “Turismo de Lagos”, como<br />
seguidamente se constará.<br />
Os grandes lagos, naturais ou artificiais, têm vindo a surgir como um recurso importante para a<br />
actividade turística (a Finlândia na Europa, ou o estado de Minnessota nos EUA, são apenas dois<br />
exemplos). Hoje em dia, quer do ponto de vista académico quer do ponto de vista de estruturação<br />
da actividade, a “água” já não é somente entendida e estudada como recurso turístico associada à<br />
ideia de “mar” e, como tal, de “litoral”, que está na base do produto “Sol e Praia”. Ao recurso<br />
“água” associa-se também a noção de “lago”, como elemento físico natural ou artificial, este<br />
último decorrente da construção de barragens. O elemento “água” surge, pois, como o recurso<br />
central/nuclear, em torno do qual poderão surgir outras formas de turismo: rural, cultural,<br />
desportivo, ambiental, náutico ou gastronómico (<strong>Rodrigues</strong>, 2006b)<br />
Do ponto de vista do turista (procura), a percepção de um “Lago” como destino resulta de uma<br />
imagem/ideia que este tem de um espaço físico que circunscreve um recurso natural ou artificial<br />
(no caso das albufeiras) que tem a “água” como recurso nuclear. Um destino de “Turismo de<br />
Lagos” apenas adquire existência se os turistas, após motivados por um conjunto de factores,<br />
decidirem viajar para esse local, gerando uma procura por um conjunto de componentes e<br />
serviços associados e localizados nesse espaço (Ryhanen, 2001). Antes dessa movimentação ter<br />
lugar, o “Lago” é apenas um recurso físico, com uma dimensão cultural e social na comunidade<br />
local, mas sem importância do ponto de vista de desenvolvimento da actividade turística. Do<br />
ponto de vista do destino em si (oferta), e conforme se constata na definição da OMT acima<br />
citada, um destino turístico para ser considerado como tal deve contemplar três elementos<br />
essenciais: delimitação territorial; definição do (s) organismo(s) de gestão do destino e definição<br />
de uma estratégia de marketing. Face esta assumpção, apenas é possível identificar um “Lago”<br />
como destino turístico se houver uma delimitação clara das fronteiras geográficas permitindo,<br />
posteriormente, que haja uma política e estratégia de actuação claramente definida. Dessa forma,<br />
12
torna-se essencial que exista um organismo (uma DMC 10 ) responsável pela gestão do destino,<br />
cujas funções sejam conhecidas e assumidas por todos os stakeholders envolvidos no processo de<br />
desenvolvimento do destino.<br />
Em suma, veja-se seguidamente as dimensões que um destino turístico deve conter e que deverão<br />
ser aplicadas a um “destino de Lago” (adaptado de Kokkonen, citado por Ryhanen, 2001):<br />
- Dimensão de recurso: o destino é visto como um recurso base constituído por recursos naturais,<br />
culturais, sociais com potencial para se transformarem em atracções turísticas;<br />
- Dimensão de representação: a criação de uma imagem deve ser uma preocupação fundamental<br />
do “Destino de Lagos”, baseada na sua identidade;<br />
- Dimensão social: o destino deve reflectir a sua realidade social, segundo um conceito mais<br />
dinâmico e menos estático;<br />
- Dimensão de oferta: o destino disponibiliza um conjunto de facilidades e serviços;<br />
- Dimensão organizacional: existência de um organismo responsável pela definição de<br />
estratégias e gestão do destino;<br />
- Dimensão logística: o destino visto segundo uma perspectiva de acessibilidade e ligação a<br />
outros pontos;<br />
- Dimensão espacial: a grande parte dos destinos é vista segundo uma perspectiva territorial.<br />
De acordo com um estudo realizado na Universidade de Joensuu, na Finlândia, contendo uma<br />
base de dados com informação referente a cerca de 100 “Destinos de Lago” na Europa<br />
distribuídos por cerca de 13 países, foram identificados um conjunto de factores relevantes para<br />
um “Destino de Lagos” (Ryhanen, 2001): (i) localização geográfica: este é um elemento com<br />
potencial de atracção considerável, uma vez que os turistas procuram este tipo de destinos pela<br />
sua própria localização e características naturais; (ii) recursos culturais e naturais: neste tipo de<br />
turismo assente na água como recurso nuclear, a qualidade da mesma é um factor fundamental<br />
associada ao património natural e cultural que caracteriza todo o espaço geográfico do destino.<br />
Estes recursos permitem acrescentar valor à oferta deste tipo de turismo, devendo ser<br />
devidamente organizados e dinamizados; (iii) oferta de facilidades e serviços: apesar da sua<br />
importância, a tranquilidade e água limpa não são os únicos factores importantes para o turista.<br />
Outras componentes deverão ser exploradas no sentido de complementar a oferta do “Lago”<br />
10 Destination Marketing Company.<br />
13
como recurso turístico: alojamento, rotas turísticas, actividades de natureza, congressos e<br />
incentivos.<br />
2.2. Oportunidades, Constrangimentos e Desafios<br />
A albufeira do Alqueva como já foi referenciado neste trabalho, representa hoje para Portugal um<br />
pólo estratégico de desenvolvimento turístico. Tendo em conta o que foi referido no capítulo<br />
anterior este “Lago”, embora não sendo natural, pretende assumir-se como um destino turístico<br />
de Portugal e, mais particularmente, da região do Alentejo. O espaço geográfico deste destino<br />
corresponde a dezasseis aldeias localizadas nos sete concelhos que envolvem as albufeiras do<br />
Pedrógão e Alqueva, denominadas de”Aldeias Ribeirinhas” 11 . Estas povoações formam no seu<br />
conjunto uma rede urbana ribeirinha que, num futuro próximo, deverá oferecer condições para o<br />
usufruto do plano de água ao disponibilizar infra-estruturas de apoio à dinamização da oferta<br />
turística (alojamento, animação, restauração). Actualmente existe já uma marca Terras do<br />
Grande Lago Alqueva, tendo sido já criado um logótipo que funciona como elemento simbólico<br />
aglutinador e identificativo do novo destino. Em suma, o grande lago do Alqueva e as 16 Aldeias<br />
Ribeirinhas são os dois elementos que permitem delimitar o Alqueva como destino turístico, a<br />
comercializar sob a marca Terras do Grande Lago Alqueva.<br />
O destino turístico que agora emerge - As Terras do Grande Lago Alqueva - encontra-se numa<br />
fase inicial de ciclo de vida do destino, embora sejam necessários estudos científicos que o<br />
demonstrem. De acordo com Butler (1980), verifica-se que este “Destino de Lago” está ainda<br />
numa fase de introdução no mercado. Todavia, a albufeira do Alqueva é um recurso<br />
relativamente recente (cerca de 3/4 anos) que apresenta agora uma oportunidade única para a<br />
criação e consolidação de um novo destino turístico em torno da água como recurso. Dois<br />
aspectos importantes deverão ser tidos em consideração num futuro próximo: (i) a estruturação e<br />
qualificação do destino; (ii) dimensão organizacional e estratégica do destino. Seguidamente<br />
apresentam-se algumas reflexões sobre estes dois pontos:<br />
11 Seguidamente apresentam-se as 16 aldeias ribeirinhas distribuídas pelos concelhos correspondentes: Alandroal (Capelins e<br />
Juromenha); Moura (Póvoa de S.Miguel e Estrela); Mourão (Luz e Granja); Portel (Alqueva, Amieira e Monte do Trigo);<br />
Reguengos de Monsaraz (S. Marcos do Campo, Campinho, Monsaraz, Telheiro); Serpa (Mina da Orada); Vidigueira (Marmelar e<br />
Pedrógão)<br />
14
(i) Estruturação e qualificação do destino<br />
Dada a fase de vida em que este destino se encontra e tendo em conta que a competitividade entre<br />
destinos hoje em dia e no futuro se baseará, não propriamente em políticas de preços, mas em<br />
qualidade dos serviços prestados, torna-se fulcral que o Alqueva introduza desde já no seu<br />
processo de desenvolvimento sistemas de gestão baseados no conceito de qualidade. A estratégia<br />
de competitividade dos destinos deverá, cada vez mais, incluir um plano de qualidade centrado na<br />
criação de vantagens competitivas sempre numa perspectiva de melhoria contínua. Todavia, o<br />
conceito de qualidade aplicado aos destinos turísticos é algo relativamente recente e complexo.<br />
Se a um nível mais micro, em termos de serviços/empresas turísticas, a implementação do<br />
conceito de qualidade é mais fácil pois a realidade é apenas uma, o mesmo já não sucede a um<br />
nível mais macro, onde intervêm múltiplas entidades com interesses, papéis e responsabilidades<br />
diferentes (turistas, população local, organismos oficiais, empresas).<br />
Uma avaliação da qualidade do destino deverá incidir sobre duas grandes componentes de<br />
análise: a qualidade do destino e a qualidade do produto turístico 12 . Esta abordagem permite<br />
avaliar um conjunto de indicadores essenciais ao desenvolvimento de um destino, neste caso<br />
aplicado à realidade específica de um “Destino de Lago” (1ª componente de análise); incidir<br />
sobre um conjunto concreto de elementos/componentes que permitem organizar a oferta do<br />
destino já em produto (2ª componente de análise). Estas duas componentes de análise<br />
complementam-se na medida em ambas são necessárias ao desenvolvimento de um destino<br />
turístico. Por um lado, o produto turístico é o resultado da organização da oferta turística que, por<br />
sua vez, só é passível de ser estruturada se de facto o destino apresentar níveis de qualidade<br />
satisfatórios; por outro, não é suficiente a existência de um destino, uma vez que a sua oferta deve<br />
dar lugar produtos, pois é a existência destes que determina a comercialização do destino junto<br />
dos mercados. Trata-se de uma relação de interdependência entre duas componentes<br />
fundamentais num exercício de avaliação global do destino.<br />
Como se verificou anteriormente, a estruturação do Alqueva como destino está ainda numa fase<br />
de introdução no mercado. Embora haja já alguma oferta turística nos concelhos abrangidos pela<br />
12 Esta classificação em componentes de análise tem como base uma ferramenta de avaliação de qualidade de<br />
destinos publicada pela Comissão Europeia (2003) - a QUALITEST. Manual disponível em<br />
http://ec.europa.eu/enterprise/services/tourism/doc/studies/evaluating_quality_performance/qualitest_manual.pdf<br />
15
albufeira (alojamento, restauração, postos de informação turística), é de referir que esta está longe<br />
de apresentar níveis de qualidade exigidos por um mercado cada vez mais competitivo. Face à<br />
própria estratégia definida pelo Governo através do PENT, torna-se crucial apostar em acções e<br />
projectos que de facto permitam que o Alqueva se venha a constituir como um pólo de atracção<br />
turística nos próximos anos. Se nada for feito em termos de qualificação da oferta, este destino<br />
corre o risco de ter divulgado uma marca no mercado, mas sem disponibilizar um produto<br />
turístico organizado e qualificado.<br />
Numa avaliação do Alqueva seria provável que os indicadores relativamente à qualidade do<br />
destino fossem positivos (nomeadamente em indicadores como a “qualidade do ambiente”,<br />
“segurança”), mas que, no caso do produto turístico, fossem já detectadas fragilidades<br />
consideráveis (nomeadamente os indicadores de “informação”, “qualidade da água” ou<br />
“restauração”) 13 . Na Tabela 1 apresenta-se uma reflexão sobre algumas das componentes da<br />
oferta do Alqueva como “Destino de Lago” e que deverão ser tidas em consideração no futuro<br />
processo de desenvolvimento turístico.<br />
(ii) Dimensão organizacional e estratégica do destino<br />
Um outro elemento importante a ter em consideração num futuro próximo e que está presente na<br />
própria definição de destino é a necessidade de definição do (s) organismo(s) de gestão do<br />
destino e a definição de uma estratégia de marketing.<br />
Embora a EDIA tenha criado de imediato, após o enchimento da barragem, um organismo<br />
específico com responsabilidade na gestão do Alqueva como destino turístico - a Gestalqueva,<br />
considera-se que as suas funções até ao presente momento são parcas em termos estratégicos.<br />
Não é ainda conhecida qualquer linha de orientação estratégica para o destino que representa e o<br />
seu papel tem incidido, sobretudo, na criação da marca Terras do Grande Lago Alqueva,<br />
promoção através de pequenos eventos e participação em feiras e algumas propostas de acção em<br />
termos de estruturação da oferta, mas sem estar alicerçado num planeamento consistente e<br />
fundamentado enquanto tal. Deverá ocorrer brevemente uma profunda alteração neste organismo<br />
não só em termos financeiros e humanos mas, acima de tudo, em termos políticos através do<br />
13 Esta afirmação resulta apenas de uma opinião pessoal com base em exercícios de reflexão sobre esta temática. Numa próxima<br />
fase seria importante avançar-se com resultados fundamentados já em bases científicas, através da aplicação de ferramentas como<br />
o Qualitest, por exemplo.<br />
16
econhecimento da importância da sua acção no desenvolvimento turístico do Alqueva. Por outro<br />
lado, a mentalidade e postura em termos turísticos necessitaria igualmente de uma mudança.<br />
Torna-se fundamental uma articulação forte (sobretudo em termos estratégicos) entre a<br />
Gestalqueva e a ARTA. É de relembrar que é da competência da ARTA, como Agência Regional<br />
de Promoção Turística do Alentejo, definir a estratégia promocional anualmente para o Alentejo<br />
destino à escala regional onde se situa o Alqueva.<br />
CONCLUSÃO<br />
Este trabalho apresenta uma reflexão teórica sobre o desenvolvimento de um tipo de turismo<br />
denominado de “Turismo de Lagos”, tendo por base um importante recurso neste domínio<br />
localizado na região do Alentejo – a albufeira do Alqueva. Conforme se verificou, este novo<br />
recurso pretende assumir-se como um novo pólo de desenvolvimento turístico, onde a “água”<br />
surge como o recurso nuclear e o principal ponto de atracção. Em torno deste recurso deverão ser<br />
desenvolvidas outras formas de turismo como o cultural, de natureza, gastronómico ou de vinhos,<br />
tendo por base a realidade envolvente à albufeira, e que deverão materializar-se em produtos<br />
turísticos organizados e comercializados no mercado com capacidade de atrair turistas a este<br />
destino. Em suma, o destino Terras do Grande Lago do Alqueva encontra-se numa fase muito<br />
inicial do ciclo de vida, pelo que novas oportunidades e desafios se colocam quanto ao modelo de<br />
desenvolvimento que deverá ser seguida. Constata-se igualmente que para tal, será necessário<br />
apostar em políticas de qualidade, estratégias consistentes apenas possíveis se existir um<br />
organismo responsável pela gestão do destino forte, competente e com uma actuação no mercado<br />
clara e assumida por todos.<br />
Referências Bibliográficas:<br />
BUHALIS, Dimitrios (2000), Marketing the Competitive Destination of the Future, in Tourism<br />
Management, (21), pp. 97-116.<br />
BUTLER, R. (1980), The Concept of a Tourism Area Cycle of Evolution: Implications and<br />
Resources, Canadian Geographer, 24 (1), pp.5-12<br />
COOPER, C.; FLETCHER, J.; GILBERT, D.; WANHILL, S. (1998), Tourism Principles and<br />
Practise, 2ª ed. Addison Wesley Longman Limited: Londres<br />
LAWS, Eric (1995), Tourist Destination Management, Routledge: Londres e USA<br />
17
MILL, R.; MORRISON (1992), The Tourism System: an Introductory Text, 2ª ed. Prentice-Hall:<br />
New Jersey<br />
SILVA, Carlos; DIAS, Paula (2005), Uma Estratégia para o Desenvolvimento Turístico da<br />
Envolvente da Albufeira do Alqueva, in Revista Turismo e Desenvolvimento, vol.II, nº2,<br />
Universidade de Aveiro<br />
RODRIGUES, <strong>Ana</strong> (2006a.10.31), Estruturas de Promoção do Turismo Cultural, comunicação<br />
apresentada no 2º Encontro da Rota do Fresco a convite da Comissão Organizadora, sob o tema<br />
“Património e Desenvolvimento Sustentável”, Alvito, com artigo publicado nas actas do<br />
Encontro<br />
(2006b), “Alqueva: Oportunidade para o Alentejo?”, in Revista Economia<br />
Pura, Ano VIII, nº75, Fevereiro/Março 2006<br />
RYHANEN, Hannan (2001), The Touristic Profile and Potential of European Lake Destinations,<br />
comunicação apresentada na 10ª Conferência do ATLAS, 4/6 de Outubro, Dublin<br />
Fontes electrónicas:<br />
Comissão Europeia (2003), A Manual for Evaluating the Quality Performance of Tourist<br />
Destinations and Services/Qualitest, Enterprise DG Publication. [site acedido em 15/10/2007].<br />
Disponível em<br />
http://ec.europa.eu/enterprise/services/tourism/doc/studies/evaluating_quality_performance/qualit<br />
est_manual.pdf<br />
EDIA, Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, S.A. [site oficial, acedido em<br />
12/10/2007]. Disponível em http://www.edia.pt/<br />
GESTALQUEVA, Sociedade de Aproveitamento das Potencialidades das Albufeiras de Alqueva<br />
e de Pedrógão [site oficial, acedido em 12/10/2007]. Disponível em http://www.gestalqueva.pt/<br />
Ministério da Economia e Inovação, Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT), 2007 [site<br />
oficial, acedido em 13/10/2007]. Disponível em http:// www.turismodeportugal.pt<br />
Rede Internacional de Informação Lake Tourism, [site oficial, acedido em 16/10/2007].<br />
Disponível em www.laketourism.org<br />
Turismo de Portugal, ip (2006), “10 Produtos Estratégicos para o Desenvolvimento do Turismo<br />
em Portugal: Turismo Náutico, estudo realizados pela THR, Asesores en Turismo Hotelaría y<br />
Recreatión, S.A. [site oficial, acedido em 15/10/2007]. Disponível em http://<br />
www.turismodeportugal.pt<br />
18
Tabela 1: Observações relativas a algumas das componentes do destino Alqueva<br />
Componentes Observações<br />
Organização<br />
turística local<br />
Marketing/Promoção<br />
turística e<br />
comunicação prévisita<br />
Hospitalidade<br />
Acessibilidade<br />
Transporte<br />
Alojamento<br />
Informação<br />
Excelente ponto de partida para criar uma “cultura de destino e qualidade”, baseada num esforço conjunto entre várias<br />
entidades. A realização de fóruns locais permitiria sensibilizar os vários stakeholders para a importância de um trabalho feito<br />
em parcerias. Não existe no Alqueva qualquer cultura de partenariado, embora autores em turismo identifiquem o partnership<br />
como uma variável do marketing específica do turismo. Todavia é de salientar algum trabalho que está a ser feito a este nível,<br />
como o caso da associação “Heranças do Alentejo” ou a “Rede Europeia das Aldeias Históricas” que algumas vilas/aldeias<br />
alentejanas integram<br />
Esta componente reflecte a necessidade de definição de uma estratégia de marketing para o destino Alqueva que não existe,<br />
pelo que também seria difícil neste momento obter um valor certo dos custos em promoção turística. O que actualmente está<br />
disponível é a estratégia de marketing do Alentejo como um todo sob a responsabilidade da ARTA e respectivos custos de<br />
promoção turística por ano<br />
Será sempre um indicador relevante em estudos de avaliação da qualidade de um destino. Face ao ciclo de vida em que o<br />
Alqueva se encontra como destino, é premente a envolvência da população no processo de desenvolvimento turístico<br />
Demonstra uma preocupação que todos os destinos turísticos deveriam ter. O Alqueva, uma vez que está numa fase inicial,<br />
poderia apostar neste elemento como forma de acrescentar valor aos seus produtos e assim diferenciar-se da concorrência<br />
Indicador particularmente importante, uma vez que o destino Alqueva apresenta graves lacunas nesta componente do produto<br />
turístico. A rede de transportes públicos nesta região é deficitária para a população local e, embora grande parte dos turistas<br />
utilizem transporte próprio não irá, concerteza, ao encontro das necessidades dos turistas<br />
A avaliação de qualidade trabalha com o nº de unidades certificadas ao nível da ISO 9001 e 14001. Os resultados neste caso<br />
seriam pouco significativos, uma vez que o processo de certificação é ainda uma realidade relativamente recente em Portugal,<br />
Alentejo e mais ainda nesta região. Todavia, seria um ponto de partida e um incremento para que a componente do alojamento<br />
avançasse nesta direcção. Há a referir um dado importante: a maior parte das unidades de alojamento são micro e pequenas<br />
empresas no âmbito das várias modalidades de TER o que torna ainda o processo de certificação algo distante das suas<br />
preocupações, não apenas por falta de uma “cultura de qualidade”, mas também por razões estruturais e financeiras<br />
Remete para a extrema importância dos postos de turismo. Estes pontos de informação são responsáveis, na grande maioria das<br />
vezes, pela formação da primeira impressão do turista sobre o destino. Considera-se que existe ainda um trabalho importante a<br />
ser feito nesta área, sobretudo em termos de qualificação dos recursos humanos, sem esquecer a aposta em elementos como a<br />
qualidade edifícios, localização, tecnologia e material promocional adequado às necessidades 14 .<br />
14 Relativamente a este aspecto há a referir um dado importante que mostra o que está a ser feito em termos de qualificação dos postos de turismo. Segundo o Jornal Turisver de<br />
28/02/07, a Região de Turismo do Algarve irá implementar um sistema de certificação de qualidade (norma EP EN 90001:2000) em todos os Postos de Turismo da região até ao<br />
final de 2007.<br />
19
Indicador Observações<br />
Incide sobre uma componente do produto turístico extremamente importante nesta região: a restauração. O Turismo<br />
gastronómico é de facto um dos principais produtos que o Alqueva deverá apostar futuramente como destino. Embora seja<br />
Restauração possível encontrar estabelecimentos com relativa qualidade, na realidade este sub-sector do turismo padece ainda de falta de<br />
qualificação a vários níveis (serviço de mesa, cozinha, segurança e higiene), sobretudo nesta região do Alentejo. Este é, sem<br />
dúvida, uma das componentes do produto que o destino Alqueva necessitará de melhorar se pretender ser mais competitivo no<br />
mercado<br />
Avalia igualmente aquele que é já um sub-sector fulcral para o sucesso de um destino: a animação turística. A par do<br />
alojamento, os turistas procuram cada vez mais entretenimento, diversão, conhecimento, aprendizagem, contemplação, ou seja,<br />
actividades de animação nas mais diversas formas. Esta é uma das componentes que o destino Alqueva deverá apostar<br />
fortemente alicerçadas em recursos como os culturais, ambientais, históricos. Considera-se que dentro de uma adaptação que<br />
deve ser feita do Qualitest ao destino em estudo, deverá surgir um indicador mais específico de animação: a animação náutica.<br />
Actividades Sendo o Grande Lago do Alqueva o principal recurso do destino, deverão existir necessariamente propostas que incidam em<br />
actividades náuticas. Existem neste momento no Alqueva três empresas licenciadas como Operadores Marítimo-Turísticos e<br />
conhecem-se alguns projectos futuros nesta área. De acrescentar também a existência de uma Marina, infra-estutura<br />
fundamental ao Turismo Náutico. No entanto, será importante continuar a apostar na melhoria e qualificação dos vários cais<br />
situados nas aldeias ribeirinhas do Alqueva, alguns deles ainda em estado deficitário e sem qualidade mínima<br />
Deverá ser adaptado ao destino Alqueva. Ou seja, a avaliação da qualidade da água deve ser feita aplicada a albufeiras e não a<br />
Qualidade da água zonas costeiras. Os parâmetros de avaliação não deverão apenas considerar o uso para banhos, mas sim todas as outras<br />
valências que um Lago pode ter (desportos de água, preservação da biodiversidade, aspecto estético, etc)<br />
Nota: Indicadores extraídos do Manual de Avaliação de Qualidade de Destinos e Serviços Turísticos (QUALITEST) com reflexão própria.<br />
20