28.04.2013 Views

UM DESFILE ATÉ AO TOPO - Diário Económico - Sapo

UM DESFILE ATÉ AO TOPO - Diário Económico - Sapo

UM DESFILE ATÉ AO TOPO - Diário Económico - Sapo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Norman. Nem só de Twitter se faz a “cultura das recomendações”.<br />

A Internet está repleta de blogues dedicados ao prazer<br />

da mesa. Esta massa de informação, longe de ser<br />

amorfa, é uma rede que assume crescente importância<br />

nas opções de quem navega na Net. A credibilidade<br />

destes ‘sites’ tem crescido e a sua reputação<br />

está hoje mais consolidada. O ‘site’ britânico<br />

Urbanspoon.com, por exemplo, dedica-se a elaborar<br />

‘rankings’ dos blogues pessoais que existem sobre a<br />

matéria. As vantagens são muitas. Como os bloguistas<br />

têm o hábito de cruzar informação e referências,<br />

basta uns cliques para descobrir os mais credíveis<br />

e respeitados.<br />

Contrariamente aos críticos que escrevem para<br />

guias, jornais e revistas, os bloguistas dedicados à<br />

“boa mesa” colocam nos blogues fotografias dos<br />

restaurantes e pratos que mais apreciam. É uma<br />

questão de olhar para elas e decidir se o que vêem<br />

os inspira. Depois, é só ligar e reservar uma mesa.<br />

“Foi assim que descobri um dos meus restaurantes<br />

preferidos”, diz Niamh Shields, mentora do infl uente<br />

blogue Eatlikeagirl.com. “Houve uma pessoa que<br />

colocou no ‘site’ uma fotografi a do Ledbury e foi assim<br />

que comecei a frequentar o restaurante”. Ironicamente,<br />

o Ledbury, em Nothing Hill, um dos bairros<br />

mais ‘in’ de Londres, tem duas estrelas Michelin,<br />

mas Shields diz que nunca iria lá unicamente por<br />

isso. “É um pormenor, nada mais”.<br />

Além dos blogues dedicados à boa mesa, há outros como<br />

o Viewlondon e o Yelp que funcionam à base dos<br />

comentários dos utilizadores, à semelhança do que<br />

faz o TripAdvisor, onde se pode aprender com os erros<br />

e recomendações alheias. Estes fóruns encorajam os<br />

utilizadores a escolher um restaurante com base na<br />

experiência e nas impressões de terceiros. O veredicto,<br />

ao contrário dos blogues e das recomendações no<br />

Twitter, provém de entidades desconhecidas. “É por<br />

isso que não uso esses ‘sites’. Prefi ro sugestões de pessoas<br />

que conheço”, realça Shields.<br />

Talvez seja por esta razão que a crítica gastronómica<br />

continua a seduzir os mais diversos públicos. As recomendações<br />

destas “quase vedetas” funcionam, na<br />

prática, como a recomendação de um amigo – a única<br />

diferença é que estão por dentro e bem informados.<br />

“Normalmente, as pessoas consultam as críticas<br />

A EXPERIÊNCIA<br />

DE <strong>UM</strong> CRÍTICO É EM<br />

TUDO DIFERENTE<br />

DA QUE AS PESSOAS<br />

PROCURAM QUANDO<br />

VÃO JANTAR FORA. SERÁ<br />

ASSIM QUE QUEREMOS<br />

QUE NOS RECOMENDEM<br />

<strong>UM</strong> RESTAURANTE?<br />

de alguém em quem confi am. No fundo, respeitam a<br />

sua opinião”, refere Sitwell.<br />

Os inspectores do Guia Michelin, pelo contrário, são seres<br />

anónimos. A primeira vez que um deles foi entrevistado,<br />

em 2009, recusou-se a revelar a identidade. Apenas<br />

fi cámos a saber que é mulher e que usa um método de<br />

avaliação deveras peculiar: as refeições não são para desfrutar,<br />

isto é, prova apenas cada um dos pratos sem os<br />

degustar verdadeiramente. E fá-lo sozinha. Companhia,<br />

zero. Em suma, uma experiência em tudo diferente daquela<br />

que a maior parte das pessoas procura quando vai<br />

jantar fora. Sitwell questiona a abordagem – ou o método:<br />

“Será este o tipo de pessoa que queremos que nos<br />

recomende um restaurante? Não me parece”.<br />

Para todos os efeitos, importa dizer que a resposta do<br />

público é cada vez mais um rotundo “não”. A decisão<br />

de lançar um Guia de Tóquio foi muito criticada,<br />

em parte por ter cada vez menos infl uência no país e<br />

continente de origem. A publicação do Michelin dá<br />

sempre que falar, mas a última edição, que no Reino<br />

Unido coincidiu com o nº100, passou algo despercebida<br />

pela primeira vez na sua longa história. “Ninguém<br />

lhe deu particular atenção. Os mexericos que<br />

as pessoas gostam de comentar não vêm no guia. Só<br />

serve para saber se Gordon Ramsey manteve, ou não,<br />

as suas estrelas. Nada de novo. Igualzinho ao ano passado”,<br />

explica Sitwell.<br />

Numa época em que as alternativas estão à mão de<br />

semear, seja nos jornais, nas revistas ou na Internet,<br />

a auto-intitulada “bíblia dos gastrónomos” parece ter<br />

perdido o brilho de outros tempos.<br />

Março 2011 Fora de Série 51

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!