UM DESFILE ATÉ AO TOPO - Diário Económico - Sapo

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28.04.2013 Views

Destaque apenas quatro anos. Hoje, são mais de 60% os consumidores que procuram luxo ou informação sobre os produtos através da Web. Uma forma de se manterem na vanguarda da moda mas também de contrariar a contrafacção. Esta é, aliás, mais uma dor de cabeça para as marcas. Os números estão a baixar mas o problema está longe de estar controlado. “A contrafacção é mesmo um problema, mas o governo chinês tem sabido agir e tomar medidas. Muito mais do que as que saem na imprensa”, diz Jiam Siano, da Montblanc. Só para se ter uma ideia, há três anos, um terço dos produtos de luxo que entrava na Europa era contrafeito na China. “Um sinal do sucesso das marcas no mercado”, acrescenta Siano. Apesar do consumo estar a crescer exponencialmente na China, 60% dos consumidores optam ainda por comprar fora do país, uma forma de ter garantia de autenticidade e de pagar menos impostos. Explica Tim King, da Dunhill, também citado no estudo da KPMG, que na China a mercadoria chega a custar mais 38% em taxas que em Hong Kong ou no resto do mundo. Mas as oportunidades continuam a ser muitas. “Os chineses estão mesmo virados para as compras e não vejo que O LUXO, ‘MADE IN CHINA’ Sedentos de luxo, os chineses sempre apreciaram os bons produtos, como a seda, a jade e até o chá, por isso, as grandes marcas ‘made in China’ teriam tudo para dar certo. Mas o mercado tem tido difi culdade em descolar e muito poucas marcas nacionais têm conseguido destacar-se. Dizem os analistas que, no que toca ao luxo, os chineses preferem investir fora do país porque acreditam que dá mais prestígio. Seguem-se as marcas de luxo chinesas de mais sucesso, de acordo com a Labbrand, uma consultora especializada em marcas, sediada em Xangai. NE TIGER Considerada um ícone nos produtos de pele, a NE Tiger nasceu em 1992. 16 Fora de Série Março 2011 É também o supra-sumo da altacostura chinesa e muito apreciada para fatos de casamentos ou galas. CHOW TAI FOOK Fundada em 1929, a Chow Tai Fook é uma das mais famosas marcas de jóias do país. KWEICHOW MAO TAI Símbolo da cultura culinária chinesa, a Kweichow Mao Tai é a marca do licor mais famoso do país. OMNIALUO Nasceu em 1998 e é muito popular entre as mulheres. Esta marca de roupa é uma espécie de Ralph Lauren chinesa. ERDOS CASHMERE Roupa e acessórios em caxemira, a funcionar desde 1979. isso vá mudar. As possibilidades são muito boas para nós (Dunhill) e para todas as outras marcas”, acrescenta Tim King. Até mesmo na Europa, as grandes marcas já se viraram para Oriente e é frequente ouvir falar mandarim atrás do balcão. A Burberry, por exemplo, fez saber que os seus maiores clientes são turistas chineses em muitas cidades como Londres, Paris ou Nova Iorque e o mesmo acontece com outras marcas. O estudo da Bain prevê que este ano, o mercado chinês cresça ainda 30% e que o sector das carteiras, sapatos, jóias e relógios continuem no topo da procura com um aumento de vendas na ordem dos 8%, logo seguido dos perfumes, cosméticos e roupa. Com todo este poder de compra devem ou não as marcas ceder de vez a esta infl uência da China? Até onde é que devem ir para não criar um impacto negativo em mercados como os Estados Unidos ou a Europa? Dizem alguns críticos que talvez o luxo se esteja a adaptar rápido demais ao gosto oriental, que a longo prazo os prejuízos poderão ser maiores que os benefícios, que há que manter a identidade e o poder dos ‘logos’. Mas o que fazer se para já é a China que está a dar? O Silk Alley Market, em Pequim, é famoso pelas réplicas perfeitas. É a contrafacção, muitas vezes, paredes meias com as marcas originais. WULIANGYE Especialista em Baijiu, licor chinês. CHANGYU Marca de vinhos, brandy, licor e vinho com gás. YUNNAN PU’ER TEA Em 2005, 500 gramas de Pu’er Tea com 64 anos foram vendidas num leilão por um milhão de yuan (mais de cem mil euros). E isto diz tudo. DORIAN HO Nome de um ‘designer’ de Hong Kong, a empresa oferece roupa de luxo, especialmente para festas. XIANGYUNSHA SILK Fabricante de seda, baseada em Shenzhen desde 2003. INSIDER FERNANDO CORREIA DE OLIVEIRA É jornalista e especializou-se na área dos relógios. Viveu em Pequim durante dois anos. “IMPERIAL E PATO LACADO É EM PEQUIM” Cidade preferida na China. Xangai. Hoje, tem um estilo de vida mais relaxado e mais vibrante. Vivi de 1988 a 1990 em Pequim, como primeiro correspondente acreditado com carácter de permanência na República Popular da China, ao serviço da Agência LUSA. Lugar que não se encontre nos guias turísticos. Existe em Pequim uma zona adjacente à Cidade Proibida, que poucos turistas frequentam. Uma das laterais do complexo, que está entre a Cidade Proibida propriamente dita e a nova Cidade Proibida. Passa por lá o canal que rodeia a Cidade Proibida e tem-se ainda vislumbres de alguns ‘hutong’, os bairros de que Pequim era feito e que desapareceram nos últimos anos, para dar lugar a construções modernas. É fácil de encontrar, a pé. Basta ir rodeando os muros principais da Cidade Proibida, seguindo pela primeira artéria à esquerda do retrato de Mao, e inflectir depois mais uma vez na primeira à direita. Restaurante que recomende. A cozinha de Pequim tem a imperial e o pato lacado como cartão de visita. O restaurante chinês do Hotel Peninsula (Wangfu Fandian, no distrito comercial de Wang Fujing) continua a ter um bom Pato à Pequim e também se pode provar a cozinha do Sichuan, especialmente para quem gosta de picante, como eu. Na zona do Templo do Céu (Tian Tan) há muitos restaurantes populares com Cozido Mongol (Mongolian Hot Pot), para quem goste de borrego. Em Xangai e na região, Suzhou e Hangzhou, todos os restaurantes servem a Galinha do Mendigo, um prato delicioso em que a ave é enrolada em folhas de couve e cozida a vapor. Se o luxo fosse um lugar era… Hong Kong! A população é das mais sofisticadas e cosmopolitas do mundo, o território continua a ser uma Nações Unidas de quadros expatriados, servidos por transportes públicos do melhor que há. Eficiência vibrante é a melhor definição que tenho. Um hábito local. Sentar de cócoras, especialmente os homens. Ficam assim horas a fio, a falar uns com os outros. É obrigatório visitar… O Templo do Céu (Tian Tan). É a estrutura mais elegante de Pequim e fica num parque gigantesco onde se pode ver o quotidiano de descanso dos chineses. Nunca passar perto de… Casas de banho públicas… Para comprar um relógio devemos ir… Pequim tem das maiores boutiques monomarca de relógios, desde Omega a Audemars Piguet. Xangai tem a maior boutique Rolex do mundo. Mas, para comprar relógios (verdadeiros), a China continental não é o sítio ideal, devido às taxas. Hong Kong ou Macau, sim. Em Macau, continua a haver casas de penhores com relógios muitas vezes a metade do preço e praticamente novos. Mas é preciso saber ver bem, pois também há falsificações muito boas. TEXTO DE ANA FILIPA AMARO FOTOGRAFIA DE PETER PARKS/GETTY IMAGES

Destaque<br />

apenas quatro anos. Hoje, são mais de 60% os consumidores<br />

que procuram luxo ou informação sobre os produtos<br />

através da Web. Uma forma de se manterem na<br />

vanguarda da moda mas também de contrariar a contrafacção.<br />

Esta é, aliás, mais uma dor de cabeça para as<br />

marcas. Os números estão a baixar mas o problema está<br />

longe de estar controlado. “A contrafacção é mesmo um<br />

problema, mas o governo chinês tem sabido agir e tomar<br />

medidas. Muito mais do que as que saem na imprensa”,<br />

diz Jiam Siano, da Montblanc. Só para se ter uma ideia,<br />

há três anos, um terço dos produtos de luxo que entrava<br />

na Europa era contrafeito na China. “Um sinal do sucesso<br />

das marcas no mercado”, acrescenta Siano.<br />

Apesar do consumo estar a crescer exponencialmente<br />

na China, 60% dos consumidores optam ainda por<br />

comprar fora do país, uma forma de ter garantia de autenticidade<br />

e de pagar menos impostos. Explica Tim<br />

King, da Dunhill, também citado no estudo da KPMG,<br />

que na China a mercadoria chega a custar mais 38% em<br />

taxas que em Hong Kong ou no resto do mundo. Mas as<br />

oportunidades continuam a ser muitas. “Os chineses<br />

estão mesmo virados para as compras e não vejo que<br />

O LUXO, ‘MADE IN CHINA’<br />

Sedentos de luxo, os chineses<br />

sempre apreciaram os bons<br />

produtos, como a seda, a jade e<br />

até o chá, por isso, as grandes<br />

marcas ‘made in China’ teriam<br />

tudo para dar certo. Mas o<br />

mercado tem tido difi culdade em<br />

descolar e muito poucas marcas<br />

nacionais têm conseguido destacar-se.<br />

Dizem os analistas que,<br />

no que toca ao luxo, os chineses<br />

preferem investir fora do país<br />

porque acreditam que dá mais<br />

prestígio. Seguem-se as marcas<br />

de luxo chinesas de mais sucesso,<br />

de acordo com a Labbrand, uma<br />

consultora especializada em marcas,<br />

sediada em Xangai.<br />

NE TIGER<br />

Considerada um ícone nos produtos<br />

de pele, a NE Tiger nasceu em 1992.<br />

16 Fora de Série Março 2011<br />

É também o supra-sumo da altacostura<br />

chinesa e muito apreciada<br />

para fatos de casamentos ou galas.<br />

CHOW TAI FOOK<br />

Fundada em 1929, a Chow Tai Fook<br />

é uma das mais famosas marcas de<br />

jóias do país.<br />

KWEICHOW M<strong>AO</strong> TAI<br />

Símbolo da cultura culinária chinesa,<br />

a Kweichow Mao Tai é a marca<br />

do licor mais famoso do país.<br />

OMNIALUO Nasceu em 1998 e é<br />

muito popular entre as mulheres.<br />

Esta marca de roupa é uma espécie<br />

de Ralph Lauren chinesa.<br />

ERDOS CASHMERE<br />

Roupa e acessórios em caxemira, a<br />

funcionar desde 1979.<br />

isso vá mudar. As possibilidades são muito boas para<br />

nós (Dunhill) e para todas as outras marcas”, acrescenta<br />

Tim King. Até mesmo na Europa, as grandes marcas já<br />

se viraram para Oriente e é frequente ouvir falar mandarim<br />

atrás do balcão. A Burberry, por exemplo, fez saber<br />

que os seus maiores clientes são turistas chineses<br />

em muitas cidades como Londres, Paris ou Nova Iorque<br />

e o mesmo acontece com outras marcas.<br />

O estudo da Bain prevê que este ano, o mercado chinês<br />

cresça ainda 30% e que o sector das carteiras, sapatos,<br />

jóias e relógios continuem no topo da procura com um<br />

aumento de vendas na ordem dos 8%, logo seguido dos<br />

perfumes, cosméticos e roupa. Com todo este poder de<br />

compra devem ou não as marcas ceder de vez a esta infl<br />

uência da China? Até onde é que devem ir para não<br />

criar um impacto negativo em mercados como os Estados<br />

Unidos ou a Europa? Dizem alguns críticos que<br />

talvez o luxo se esteja a adaptar rápido demais ao gosto<br />

oriental, que a longo prazo os prejuízos poderão ser<br />

maiores que os benefícios, que há que manter a identidade<br />

e o poder dos ‘logos’. Mas o que fazer se para já é a<br />

China que está a dar?<br />

O Silk Alley Market, em Pequim, é famoso pelas réplicas perfeitas. É a contrafacção, muitas vezes, paredes meias com as marcas originais.<br />

WULIANGYE<br />

Especialista em Baijiu, licor chinês.<br />

CHANGYU<br />

Marca de vinhos, brandy, licor e<br />

vinho com gás.<br />

YUNNAN PU’ER TEA<br />

Em 2005, 500 gramas de Pu’er<br />

Tea com 64 anos foram vendidas<br />

num leilão por um milhão<br />

de yuan (mais de cem mil euros).<br />

E isto diz tudo.<br />

DORIAN HO<br />

Nome de um ‘designer’ de Hong<br />

Kong, a empresa oferece roupa de<br />

luxo, especialmente para festas.<br />

XIANGYUNSHA SILK Fabricante<br />

de seda, baseada em Shenzhen<br />

desde 2003.<br />

INSIDER<br />

FERNANDO CORREIA DE OLIVEIRA<br />

É jornalista e especializou-se<br />

na área dos relógios. Viveu em Pequim<br />

durante dois anos.<br />

“IMPERIAL E PATO<br />

LACADO É EM PEQUIM”<br />

Cidade preferida na China.<br />

Xangai. Hoje, tem um estilo de vida mais relaxado e<br />

mais vibrante. Vivi de 1988 a 1990 em Pequim, como<br />

primeiro correspondente acreditado com carácter<br />

de permanência na República Popular da China, ao<br />

serviço da Agência LUSA.<br />

Lugar que não se encontre nos guias turísticos.<br />

Existe em Pequim uma zona adjacente à Cidade<br />

Proibida, que poucos turistas frequentam. Uma<br />

das laterais do complexo, que está entre a Cidade<br />

Proibida propriamente dita e a nova Cidade<br />

Proibida. Passa por lá o canal que rodeia a Cidade<br />

Proibida e tem-se ainda vislumbres de alguns<br />

‘hutong’, os bairros de que Pequim era feito e que<br />

desapareceram nos últimos anos, para dar lugar a<br />

construções modernas. É fácil de encontrar, a pé.<br />

Basta ir rodeando os muros principais da Cidade<br />

Proibida, seguindo pela primeira artéria à esquerda<br />

do retrato de Mao, e inflectir depois mais uma vez<br />

na primeira à direita.<br />

Restaurante que recomende.<br />

A cozinha de Pequim tem a imperial e o pato lacado<br />

como cartão de visita. O restaurante chinês do Hotel<br />

Peninsula (Wangfu Fandian, no distrito comercial<br />

de Wang Fujing) continua a ter um bom Pato à<br />

Pequim e também se pode provar a cozinha do<br />

Sichuan, especialmente para quem gosta de picante,<br />

como eu. Na zona do Templo do Céu (Tian Tan) há<br />

muitos restaurantes populares com Cozido Mongol<br />

(Mongolian Hot Pot), para quem goste de borrego.<br />

Em Xangai e na região, Suzhou e Hangzhou, todos<br />

os restaurantes servem a Galinha do Mendigo, um<br />

prato delicioso em que a ave é enrolada em folhas<br />

de couve e cozida a vapor.<br />

Se o luxo fosse um lugar era…<br />

Hong Kong! A população é das mais sofisticadas<br />

e cosmopolitas do mundo, o território continua a<br />

ser uma Nações Unidas de quadros expatriados,<br />

servidos por transportes públicos do melhor que há.<br />

Eficiência vibrante é a melhor definição que tenho.<br />

Um hábito local.<br />

Sentar de cócoras, especialmente os homens. Ficam<br />

assim horas a fio, a falar uns com os outros.<br />

É obrigatório visitar…<br />

O Templo do Céu (Tian Tan). É a estrutura mais<br />

elegante de Pequim e fica num parque gigantesco<br />

onde se pode ver o quotidiano de descanso dos<br />

chineses.<br />

Nunca passar perto de…<br />

Casas de banho públicas…<br />

Para comprar um relógio devemos ir…<br />

Pequim tem das maiores boutiques monomarca de<br />

relógios, desde Omega a Audemars Piguet. Xangai<br />

tem a maior boutique Rolex do mundo. Mas, para<br />

comprar relógios (verdadeiros), a China continental<br />

não é o sítio ideal, devido às taxas. Hong Kong ou<br />

Macau, sim. Em Macau, continua a haver casas de<br />

penhores com relógios muitas vezes a metade do<br />

preço e praticamente novos. Mas é preciso saber ver<br />

bem, pois também há falsificações muito boas.<br />

TEXTO DE ANA FILIPA AMARO<br />

FOTOGRAFIA DE PETER PARKS/GETTY IMAGES

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