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ENADE Comentado 2008: Pedagogia - pucrs

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<strong>ENADE</strong> COMENTADO <strong>2008</strong><br />

<strong>Pedagogia</strong>


Chanceler<br />

Dom Dadeus Grings<br />

Reitor<br />

Joaquim Clotet<br />

Vice-Reitor<br />

Evilázio Teixeira<br />

Conselho Editorial<br />

Ana Maria Lisboa de Mello<br />

Bettina Steren dos Santos<br />

Eduardo Campos Pellanda<br />

Elaine Turk Faria<br />

Érico João Hammes<br />

Gilberto Keller de Andrade<br />

Helenita Rosa Franco<br />

Ir. Armando Bortolini<br />

Jane Rita Caetano da Silveira<br />

Jorge Luis Nicolas Audy – Presidente<br />

Jurandir Malerba<br />

Lauro Kopper Filho<br />

Luciano Klöckner<br />

Marília Costa Morosini<br />

Nuncia Maria S. de Constantino<br />

Renato Tetelbom Stein<br />

Ruth Maria Chittó Gauer<br />

EDIPUCRS<br />

Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor<br />

Jorge Campos da Costa – Editor-Chefe


Elaine Turk Faria<br />

Maria Conceição Pillon Christofoli<br />

(Organizadores)<br />

<strong>ENADE</strong> COMENTADO <strong>2008</strong><br />

<strong>Pedagogia</strong><br />

Porto Alegre<br />

2011


© EDIPUCRS, 2011<br />

CAPA Rodrigo Valls<br />

REVISÃO TEXTUAL Patrícia Aragão<br />

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Gabriela Viale Pereira<br />

Edição revisada segundo o novo Acordo Ortográfico.<br />

Questões retiradas da prova do <strong>ENADE</strong> <strong>2008</strong> da <strong>Pedagogia</strong>.<br />

EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS<br />

Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 33<br />

Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900<br />

Porto Alegre – RS – Brasil<br />

Fone/fax: (51) 3320 3711<br />

e-mail: edi<strong>pucrs</strong>@<strong>pucrs</strong>.br - www.<strong>pucrs</strong>.br/edi<strong>pucrs</strong><br />

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)<br />

Q5 <strong>ENADE</strong> comentado <strong>2008</strong>: pedagogia [recurso eletrônico] /<br />

Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli<br />

(Organizadores). – Dados eletrônicos. – Porto<br />

Alegre : EDIPUCRS, 2011.<br />

79 p.<br />

ISBN 978-85-397-0121-6<br />

Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader<br />

Modo de Acesso: <br />

1. Ensino Superior – Brasil – Avaliação. 2. Exame<br />

Nacional de Cursos (Educação). 3. <strong>Pedagogia</strong> – Ensino<br />

Superior. I. Faria, Elaine Turk. II. Christofoli, Maria<br />

Conceição P.<br />

CDD 378.81<br />

Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.<br />

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos,<br />

microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de<br />

qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua<br />

editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com<br />

busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos direitos Autorais).


SUMÁRIO<br />

APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 7<br />

Marcos Villela Pereira<br />

QUESTÃO 11 ........................................................................................................... 10<br />

Maria Helena Camara Bastos<br />

QUESTÃO 12 ........................................................................................................... 13<br />

Nadja Hermann<br />

QUESTÃO 13 ........................................................................................................... 15<br />

Maria Waleska Cruz<br />

QUESTÃO 14 ........................................................................................................... 18<br />

Marcos Villela Pereira<br />

QUESTÃO 15 ........................................................................................................... 21<br />

Patricia Pinto Wolffenbuttel<br />

QUESTÃO 16 ........................................................................................................... 23<br />

Ana Lúcia Souza de Freitas<br />

QUESTÃO 17 ........................................................................................................... 27<br />

Jussara Margareth de Paula Loch<br />

QUESTÃO 18 ........................................................................................................... 29<br />

Zuleica Almeida Rangel<br />

QUESTÃO 19 ........................................................................................................... 31<br />

Zuleica Almeida Rangel<br />

QUESTÃO 20 ........................................................................................................... 33<br />

Elaine Turk Faria<br />

QUESTÃO 21 ........................................................................................................... 36<br />

Marcos Villela Pereira<br />

QUESTÃO 22 ........................................................................................................... 40<br />

Helena Sporleder Côrtes<br />

QUESTÃO 23 ........................................................................................................... 43<br />

Beatriz Kulisz<br />

QUESTÃO 24 ........................................................................................................... 50<br />

Maria Conceição Pillon Christofoli<br />

QUESTÃO 25 ........................................................................................................... 52<br />

Maria Conceição Pillon Christofoli<br />

QUESTÃO 26 ........................................................................................................... 55<br />

Rosana Maria Gessinger e Rosane da Conceição Vargas<br />

QUESTÃO 27 ........................................................................................................... 57<br />

Rosane da Conceição Vargas e Rosana Maria Gessinger


QUESTÃO 28 ........................................................................................................... 59<br />

Maria Conceição Pillon Christofoli e Maria Inês Côrte Vitoria<br />

QUESTÃO 29 - ANULADA ...................................................................................... 62<br />

QUESTÃO 30 ........................................................................................................... 63<br />

Isabel Cristina de Moura Carvalho<br />

QUESTÃO 31 ........................................................................................................... 65<br />

Jussara Margareth de Paula Loch<br />

QUESTÃO 32 ........................................................................................................... 67<br />

Zuleica Almeida Rangel<br />

QUESTÃO 33 ........................................................................................................... 69<br />

Jussara Margareth de Paula Loch<br />

QUESTÃO 34 ........................................................................................................... 71<br />

Afonso Strehl<br />

QUESTÃO 35 ........................................................................................................... 73<br />

Afonso Strehl<br />

QUESTÃO 36 ........................................................................................................... 76<br />

Zuleica Almeida Rangel e Leunice Martins de Oliveira<br />

QUESTÃO 37 ........................................................................................................... 78<br />

Jussara Margareth de Paula Loch<br />

LISTA DE CONTRIBUINTES ................................................................................... 79


APRESENTAÇÃO<br />

O <strong>ENADE</strong>, Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, é um importante<br />

instrumento de avaliação para pensarmos a Educação Superior contemporânea.<br />

Muito mais do que uma simples prova, essas questões pretendem fornecer<br />

um diagnóstico do estado de conhecimento da formação geral e específico nas<br />

diferentes carreiras de graduação.<br />

Articulado a outros instrumentos, ele integra o complexo do SINAES (Sistema<br />

Nacional de Avaliação da Educação Superior) e funciona como um indicador de<br />

qualidade dos diferentes cursos.<br />

Suas questões não se atêm apenas aos conteúdos programáticos, mas,<br />

seguindo o espírito do modelo das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os<br />

Cursos de Graduação, se propõe a avaliar diferentes competências e habilidades<br />

que os estudantes, de modo geral, devem ter desenvolvido ao longo dos anos de<br />

passagem pela universidade.<br />

A iniciativa da PUCRS em produzir a Coleção Eletrônica <strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong><br />

denota a preocupação institucional com essa instância formativa e revela mais uma<br />

medida de cuidado e atenção com seus alunos: a prova não é assunto de interesse<br />

individual, que cada um toma conta e resolve por si. Ao contrário: essa iniciativa<br />

confirma o compromisso de todo o coletivo implicado no Mundo PUCRS com os<br />

percursos formativos dos estudantes.<br />

Os docentes da Faculdade de Educação, apoiados pela Pró-Reitoria de<br />

Graduação e sob a coordenação das professoras Elaine Turk Faria e Maria<br />

Conceição Pillon Christofoli, dedicaram-se a comentar cada uma das questões com<br />

a tarefa de analisar desde sua formulação até os mínimos detalhes das alternativas<br />

de resposta.<br />

Nosso propósito é fornecer subsídios para que os alunos aperfeiçoem sua<br />

competência analítica das questões e exercitem, uma vez mais, a articulação de<br />

importantes temas pertinentes à sua formação com diferentes modos de<br />

problematização.<br />

Se considerarmos que formar também é formar-se, podemos dizer que o<br />

exercício permanente da avaliação representa um importante expediente do<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 7


percurso na direção da autonomia do próprio pensamento. A apropriação crítica de<br />

um processo avaliativo é, talvez, a principal conquista da formação ao longo da vida,<br />

tornando a experiência autoformativa uma atitude responsável e compromissada<br />

com as próximas gerações.<br />

8 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)<br />

Marcos Villela Pereira<br />

Diretor da Faculdade de Educação<br />

PUCRS


COMPONENTE ESPECÍFICO


QUESTÃO 11<br />

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi publicado em 1932 e assinado por<br />

26 educadores brasileiros, entre eles Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e<br />

Lourenço Filho.<br />

Nos trechos a seguir, aparecem algumas de suas principais idéias. Mas, do direito<br />

de cada indivíduo à sua educação integral, decorre logicamente para o Estado que o<br />

reconhece e o proclama, o dever de considerar a educação, na variedade de seus<br />

graus e manifestações, como uma função social e eminentemente pública, que ele é<br />

chamado a realizar, com a cooperação de todas as instituições sociais.<br />

A consciência desses princípios fundamentais da laicidade, gratuidade e<br />

obrigatoriedade, consagrados na legislação universal, já penetrou profundamente os<br />

espíritos, como condições essenciais à organização de um regime escolar, lançado,<br />

em harmonia com os direitos do indivíduo, sobre as bases da unificação do ensino,<br />

com todas as suas conseqüências.<br />

Com base nesses trechos, conclui-se que, em seu contexto histórico, o Manifesto era<br />

(A) libertário, pois pregava o fim do Estado.<br />

(B) autoritário, já que defendia a obrigatoriedade escolar.<br />

(C) elitista, porque pregava a dualidade do sistema de ensino.<br />

(D) inovador, pois compreendia a educação como um direito social.<br />

(E) conservador, na medida em que entendia a educação pública como privilégio.<br />

Tipo de questão: escolha simples com indicação da resposta correta.<br />

Conteúdo avaliado: a educação, no período de 1930-1945, articulada com a política<br />

de “reconstrução nacional” pós-Revolução de 1930, no governo de Getúlio Vargas.<br />

Autor: Maria Helena Camara Bastos<br />

Alternativa correta: D<br />

Comentários:<br />

O direito do cidadão à educação integral laica, com gratuidade obrigatória, é a<br />

premissa básica da instrução pública, segundo os princípios de um projeto<br />

democrático de sociedade. Democracia e liberalismo assumiram características<br />

complementares. O liberalismo tem um caráter econômico e político, calcado na ideia<br />

10 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


de liberdade individual e de escolha pública. O ideário liberal em educação<br />

caracteriza-se por quatro aspectos: a igualdade de oportunidades e democratização<br />

da sociedade via escola; a nação de escola ativa; a distribuição hierárquica dos jovens<br />

no mercado de trabalho por meio de uma hierarquia de competências; e a proposta da<br />

escola como posto de assistência social (GHIRALDELLI Jr., 2006, p. 55-56).<br />

No Brasil, a partir da proclamação da República (1889) e, especialmente, da<br />

década de 1920, a educação passa a ser considerada cada vez mais uma tarefa<br />

do Estado, como função social que visa preparar crianças e adolescentes para<br />

viver em sociedade.<br />

A política de “reconstrução nacional” voltada para a reordenação da<br />

sociedade e do Estado, apostava na modernização cultural e institucional do país e<br />

contava com a escola como agência de difusão e propaganda de normas de<br />

convivência social, visando à formação do “novo” homem, isto é, preparar o homem<br />

completo como pessoa, cidadão e trabalhador para servir à Nação. Essa proposta<br />

volta-se para todas as camadas da sociedade, mas especialmente às camadas<br />

populares, pois o processo de urbanização e industrialização crescente demanda a<br />

ampliação do acesso à escolaridade elementar. As reformas econômicas não<br />

poderiam estar dissociadas das reformas educacionais.<br />

Alternativa A: o anarquismo teve sua origem no século XIX e propugnava a<br />

possibilidade de construção de uma sociedade sem a ingerência do Estado, uma<br />

sociedade justa e igualitária. Os ideários do socialismo libertário deram muita<br />

importância à educação integral do homem. A pedagogia libertária defende um<br />

ensino antiautoritário (entendido como a passagem de uma etapa do<br />

desenvolvimento infantil caracterizada pela heteronomia a outra, com a autonomia<br />

como eixo central) e o ensino integral, com o objetivo de fazer cada sujeito um<br />

“homem livre”. Essa resposta é INCORRETA, porque não comunga com a<br />

intervenção do Estado, como o texto expõe, pois os libertários são contra qualquer<br />

poder institucionalizado, uma vez que a gestão da sociedade deve ser direta, isto é,<br />

deve haver autogestão.<br />

Alternativa B: resposta INCORRETA, pois a defesa da obrigatoriedade<br />

escolar decorre da necessidade de atender a um direito de todo cidadão, e é dever<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 11


do Estado garanti-lo. A obrigatoriedade só tem razão de ser acoplada com a<br />

gratuidade, pois como um direito deve ser garantido para todos.<br />

Alternativa C: o texto não dá pistas para essa dedução, mesmo que o<br />

Manifesto e as inúmeras análises realizadas sobre a educação no período assinalem<br />

o dualismo do sistema educacional brasileiro: uma escola para a elite e outra para o<br />

povo. Essa parte do texto do manifesto afirma a educação como um direito social<br />

para todos e não estabelece nenhuma diferenciação de escolas.<br />

Alternativa E: o texto não permite essa conclusão, pois em nenhum<br />

momento fala em privilégio.<br />

Referências bibliográficas:<br />

GHIRALDELLI Jr., Paulo. História da Educação Brasileira. São Paulo: Cortez, 2006.<br />

12 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 12<br />

Qual a contribuição da disciplina Filosofia da Educação para a formação do<br />

educador?<br />

(A) Atender à necessidade de organização do pensamento com vistas a um melhor<br />

desempenho didático-pedagógico.<br />

(B) Dominar o conhecimento historicamente produzido pela humanidade visando a<br />

uma cultura erudita.<br />

(C) Reunir informações sobre a existência humana para orientar a forma de<br />

organizar sua vida privada.<br />

(D) Contribuir para as soluções práticas exigidas pelo cotidiano, auxiliando na<br />

elaboração do planejamento escolar.<br />

(E) Ajudar o professor a identificar e interrogar os valores que estão subjacentes à<br />

ação e às concepções do humano.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: Filosofia da Educação.<br />

Autor: Nadja Hermann<br />

Alternativa correta: E<br />

Comentários:<br />

Pode-se considerar a questão 12 do <strong>ENADE</strong> de baixo grau de dificuldade,<br />

pois é possível eliminar alternativas por não pertenceram ao campo do<br />

conhecimento em questão. As alternativas erradas (A, B e D) apontam aspectos<br />

gerais de conteúdo didático, o que não permitiria responder à pergunta do<br />

enunciado. A alternativa C contém elementos parciais e imprecisos a respeito de<br />

possíveis entendimentos de uma assim chamada filosofia de vida, ou de certa<br />

capacidade em adotar posicionamento diante da vida. Todavia, é insuficiente para<br />

responder de modo correto a contribuição da Filosofia da Educação, tal como é<br />

solicitado no enunciado da questão. A alternativa E é a única que aponta para uma<br />

perspectiva mais plausível do papel da filosofia da educação na formação de<br />

professores. Identificar e interrogar valores constitui uma das abordagens mais<br />

persistentes da disciplina. Essa alternativa condensa parte da herança do<br />

pensamento ocidental que entende como relevante o constante questionamento e<br />

ponderação sobre nosso agir e sobre as orientações valorativas de tal agir.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 13


Nesse sentido, quando Platão pergunta se é possível ensinar a virtude<br />

(Menon), isso significa, em última instância, problematizar a possibilidade da<br />

educação 1<br />

, ou seja, como fazer uma transformação psíquica, que produza nos<br />

homens a própria formação de si e um novo ethos. A filosofia da educação pensa os<br />

problemas da educação, as relações éticas entre os homens, o sentido da formação<br />

humana. Em outras palavras, a aventura intelectual do mundo ocidental pensa a<br />

formação associada à ética.<br />

1 Ver SCOLNICOV, Samuel. Platão e o problema educacional. São Paulo: Edições Loyola, 2006<br />

14 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 13<br />

A dicotomia entre professores e especialistas marcou, ao longo da história, as<br />

discussões sobre a identidade do pedagogo. A partir dos anos 1990 uma<br />

determinada perspectiva sobre essa identidade foi fortalecida. Ela está nas<br />

Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em <strong>Pedagogia</strong>/Licenciatura,<br />

promulgadas em 2006.<br />

Qual destas afirmações expressa essa concepção?<br />

(A) A docência é a base identitária do pedagogo, além da gestão escolar, de<br />

sistemas e de programas não escolares.<br />

(B) A identidade do pedagogo se afirma por sua condição de especialista.<br />

(C) O planejamento e a avaliação dos sistemas educacionais cabem aos<br />

administradores e a gestão escolar, aos pedagogos.<br />

(D) A investigação educacional é tarefa das universidades e sua aplicação é papel<br />

dos pedagogos.<br />

(E) O pedagogo deve optar entre dedicar-se à docência das séries iniciais ou à<br />

gestão educacional.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: identidade do Pedagogo e Diretrizes Curriculares do curso de<br />

<strong>Pedagogia</strong>.<br />

Autor: Maria Waleska Cruz<br />

Alternativa correta: A<br />

Comentários:<br />

O artigo 4º da RESOLUÇÃO CNE/CP Nº. 1, DE 15 DE MAIO DE 2006, que<br />

institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em<br />

<strong>Pedagogia</strong>, licenciatura, coloca claramente que este curso destina-se à formação<br />

de professores na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental,<br />

nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na<br />

área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos<br />

conhecimentos pedagógicos, o que legitima que a docência é a base identitária do<br />

pedagogo. Este mesmo artigo, em seu parágrafo único, inciso II, diz que as<br />

atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão<br />

de sistemas e instituições de ensino, englobando planejamento, execução,<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 15


coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas<br />

não escolares 2<br />

[1].<br />

A resposta evidente a esta questão remete à alternativa A, em que há a<br />

referência à docência como base identitária do pedagogo, além de envolver sua<br />

participação na gestão escolar, de sistemas e de programas/experiências não<br />

escolares, como já justificamos anteriormente.<br />

As demais alternativas são descartadas porque contrariam os dispositivos<br />

legais das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em<br />

<strong>Pedagogia</strong>, licenciatura. A assertiva B coloca que “a identidade do pedagogo se<br />

afirma por sua condição de especialista”: ao contrário, a formação do pedagogo tem<br />

natureza generalista. O artigo 3º, das referidas Diretrizes, apregoa que um repertório<br />

de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e<br />

práticos caracteriza a formação do pedagogo. Essa colocação descaracteriza a<br />

condição de especialista.<br />

A alternativa C refere que o planejamento e a avaliação dos sistemas<br />

educacionais cabem aos administradores, e a gestão escolar, aos pedagogos. Essa<br />

afirmativa contrapõe-se ao que sustentam as Diretrizes, no que se refere à estrutura<br />

do curso de <strong>Pedagogia</strong> quando assegura, nesta estrutura, a articulação da<br />

observação, da análise, do planejamento e da avaliação de processos educativos e<br />

de experiências educacionais, em ambientes escolares e não escolares (Artigo 6º,<br />

inciso I, alínea c).<br />

A letra D sustenta que a investigação educacional é tarefa das universidades<br />

e sua aplicação é papel dos pedagogos. O pedagogo não é “massa de manobra”,<br />

ele é sujeito pensante, por isso, não é mero aplicador de valores, normas, diretrizes<br />

e decisões político-curriculares, ele é um intelectual que reelabora e produz novos<br />

saberes. A investigação educacional é tarefa do professor porque pesquisa, como<br />

coloca Demo (1993), é ao mesmo tempo princípio científico e educativo, e o que<br />

qualifica a educação é mediar-se pela produção científica, e vice-versa. Além disso,<br />

as Diretrizes para o Curso de <strong>Pedagogia</strong>, ao falarem sobre a estrutura do curso,<br />

destacam um núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos voltados às<br />

áreas de atuação profissionais priorizadas pelo projeto pedagógico das instituições e<br />

2[1] Grifo nosso.<br />

16 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


que, atendendo a diferentes demandas sociais, oportunizará, entre outras<br />

possibilidades, investigações sobre processos educativos e gestoriais, em diferentes<br />

situações institucionais: escolares, comunitárias, assistenciais, empresariais e<br />

outras, legitimando que o papel do pedagogo é também o de investigador (Artigo 6º,<br />

Inciso II, alínea a).<br />

A última hipótese, letra E, coloca que o pedagogo deve optar entre dedicar-se<br />

à docência das séries iniciais ou à gestão educacional. A conjunção alternativa “ou”<br />

colocada entre docência e gestão educacional comprometeu a afirmativa, pois de<br />

acordo com a legislação vigente a formação do pedagogo permite-lhe transitar tanto<br />

pela docência como pela gestão.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 17


QUESTÃO 14<br />

A relação entre educação escolar e desigualdade social vem sendo estudada pela<br />

Sociologia há mais de um século. Diferentes autores e diversas correntes de<br />

pensamento explicam os complexos mecanismos dessa relação. Mesmo<br />

considerando as grandes diferenças existentes entre países e épocas, a<br />

escolarização progressiva da população<br />

(A) vem acompanhada de um aumento das exigências educacionais do mercado<br />

de trabalho.<br />

(B) garante empregabilidade compatível com o nível de instrução.<br />

(C) proporciona acesso ao mercado de trabalho devido à diminuição da<br />

competitividade.<br />

(D) está relacionada às crises econômicas e favorece o desemprego.<br />

(E) gera equanimidade entre segmentos sociais e diminuição de conflitos culturais.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: educação escolar e desigualdade social.<br />

Autor: Marcos Villela Pereira<br />

Alternativa correta: A<br />

Comentários:<br />

Talvez aquilo que melhor defina a Sociologia da Educação como campo de<br />

conhecimento seja a relação entre a ação dos dispositivos e aparatos educacionais<br />

e as transformações da sociedade. A escola, sem dúvida, é a principal forma de<br />

institucionalização desse processo, atuando diretamente na formação individual e<br />

coletiva e articulando estratégias de ensino, instrução, formação, socialização e<br />

capacitação, entre tantos outros.<br />

Desde seu surgimento como disciplina, em meados do século XIX, no âmbito<br />

da sociedade europeia, um dos principais focos da Sociologia da Educação é a<br />

análise da implicação da educação escolar na produção, reprodução ou superação<br />

das desigualdades sociais e culturais da população.<br />

O enunciado da questão destaca esse aspecto, chamando a atenção para o<br />

fato de que diferentes correntes de pensamento, através da expressão de<br />

inumeráveis intelectuais, se preocupam com a investigação dos diferentes níveis,<br />

formas e naturezas dessa implicação. Cada um, orientado pela particularidade dos<br />

18 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


seus componentes teóricos e compreensivos acerca da realidade, formula suas<br />

explicações. Entretanto, a raiz da questão dá destaque para a ideia de que há<br />

unanimidade entre eles, a despeito de suas diferenças. A partícula “mesmo”, no<br />

início do período, suplanta o fator condicionante no sentido de significar “ainda que”,<br />

ou seja, no sentido de que para além das diferenças geográficas e históricas que<br />

contingenciam os postulados teóricos, algo há em comum entre eles.<br />

O foco proposto, como elemento de referência para esse ponto em comum, é<br />

apresentado na segunda oração da frase, “a escolarização progressiva da<br />

população”, a partir do que é solicitado ao respondente que complete o pensamento.<br />

A alternativa A é a única que se atém a um dado de realidade factível e,<br />

portanto, é a alternativa correta. Seu tom é prosaico e despretensioso, redundando<br />

em uma constatação óbvia e aparentemente sem importância. Há uma relação de<br />

continuidade, embora não determinista: “a escolarização progressiva da população<br />

vem acompanhada de um aumento das exigências educacionais do mercado de<br />

trabalho” e não postula o que vem antes ou depois, o que determina o que. A<br />

expressão “vem acompanhada” indica uma condição de indissociabilidade entre as<br />

premissas, ou seja, afirma que uma coisa (a escolarização progressiva) vem<br />

acompanhada da outra (o aumento das exigências educacionais). Por vezes, o<br />

aumento da complexidade no mundo do trabalho faz aumentarem as exigências<br />

educacionais para seu acesso e, em consequência, isso demanda um aumento da<br />

escolarização da população; por vezes, é a escolarização progressiva da população<br />

que vai empurrar o nível de exigência do mercado de trabalho.<br />

A segunda alternativa tenta forçar uma conclusão improvável, uma vez que a<br />

garantia da empregabilidade não deriva do aumento da escolaridade da população.<br />

De certa forma, considerando o argumento já destacado na alternativa anterior, até<br />

poderíamos dizer que esse aumento de escolarização vai fazer aumentar as<br />

exigências do mercado e exigir progressiva compatibilidade com o nível de<br />

instrução. Mas não é verdade que garanta empregabilidade em alguma instância.<br />

A alternativa (C) faz uma afirmação incorreta quando aponta a “diminuição da<br />

competitividade” como correlata à “escolarização progressiva da população”. Bem ao<br />

contrário: o aumento da escolarização aumenta a competitividade ao possibilitar acesso<br />

ao mercado de trabalho a cada vez mais pessoas com nível elevado de escolarização.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 19


A quarta alternativa, por sua vez, sugere dois aspectos que, embora<br />

relacionados entre si (as crises econômicas e o desemprego), não têm<br />

correspondência com a premissa inicial (a escolarização progressiva da população).<br />

Ao contrário, de modo geral é factível considerar que o aumento da escolaridade é<br />

um fator que favorece a autonomia laboral da população, independente das<br />

condições de oferta de empregos (aqui entendidos como postos formais de<br />

trabalho). Mas as condições de empregabilidade mantêm relações de dependência<br />

com inúmeros outros fatores que não apenas as condições objetivas da qualificação<br />

profissional do trabalhador. De modo geral as crises econômicas e o desemprego<br />

andam juntos, mas não há nenhuma relação evidente entre elas e a escolarização<br />

progressiva da população.<br />

Por fim, a última alternativa peca pela associação de duas assertivas que não<br />

mantêm correlação entre si (a equanimidade entre os segmentos sociais e a<br />

diminuição dos conflitos culturais) e pela pretensão de associá-las à escolaridade.<br />

Muito embora se pretenda que a escolarização progressiva contribua para a<br />

diminuição da desigualdade social através da equiparação das condições de acesso<br />

da população às mesmas benesses sociais, sabemos que isso não representa a<br />

equalização social idealizada. A escolarização progressiva da sociedade<br />

proporciona, talvez, uma relativa equilibração em termos do repertório das pessoas<br />

no nível do conhecimento disciplinar processado no âmbito da escola. Podemos até<br />

mesmo considerar que a escola viabiliza acesso às noções e habilidades<br />

necessárias para o exercício de competências laborais que permitem, em<br />

consequência, a geração das condições materiais necessárias para o aumento da<br />

qualidade de vida. Mas não podemos dizer que isso significa “equanimidade entre<br />

segmentos sociais”. Igualmente, não podemos afirmar que os conflitos culturais têm<br />

relação direta com a escolarização: as diferenças culturais existem antes e para<br />

além da homogeneização pretendida pela escolarização. Ainda que o aumento da<br />

escolaridade pretenda um aumento dos níveis de compreensão acerca da<br />

diversidade cultural e, dessa maneira, resulte em uma ampliação do espectro de<br />

tolerância, não existe uma condição automática e necessária de correspondência<br />

entre uma coisa e outra.<br />

20 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 15<br />

A professora afirmou que a baleia é um mamífero. Inconformado, Pedro<br />

argumentou: “Mamífero é vaca, gato, cachorro, cujos filhotes mamam. A baleia vive<br />

dentro d’água, tem nadadeiras, é um peixe”. A maioria dos colegas concordou com<br />

Pedro, mas todos começaram a mudar de idéia ao assistir a um filme em que<br />

apareciam baleias pequenas sendo amamentadas. Pedro começou a perceber que<br />

morar fora d’água não é algo que defina os mamíferos, e que ter rabo de peixe,<br />

nadadeiras e morar na água não são características apenas dos peixes.<br />

A aprendizagem de Pedro foi gerada, segundo a teoria piagetiana, pelo processo de<br />

(A) anulação do conhecimento anterior e substituição deste por conteúdos novos e<br />

diferentes.<br />

(B) associação de novos conteúdos àqueles que já faziam parte da sua estrutura<br />

cognitiva.<br />

(C) comparação entre informações contrastantes e o reforço do conhecimento<br />

anterior.<br />

(D) desequilíbrio, por conflito cognitivo, e acomodação do novo conhecimento ao<br />

anterior.<br />

(E) reforço positivo por parte da professora, dos colegas e da família.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: aprendizagem segundo Piaget.<br />

Autor: Patricia Pinto Wolffenbuttel<br />

Alternativa correta: D<br />

Comentários:<br />

O enunciado da questão já propõe que a mesma seja analisada a partir da<br />

teoria de Jean Piaget, assim, é possível observar que as opções A, B, C e E<br />

apresentam termos que as afastam das conclusões a que o teórico em questão<br />

chegou através de suas pesquisas. A opção correta é a D, pois refere conceitos<br />

essenciais da teoria de Piaget a fim de explicar o aprender das crianças diante da<br />

ideia que tinham sobre a baleia e os mamíferos, pois há um desequilíbrio ao serem<br />

confrontados com uma nova informação que provoca um conflito cognitivo em<br />

relação a uma aprendizagem anterior. No entanto, ao serem levadas a ter um<br />

contato com o novo conhecimento, no caso, através do filme, as crianças puderam<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 21


acrescentar informações e melhorar o que já sabiam. Dessa forma, a generalização<br />

anterior sobre os mamíferos teve que passar por uma ressignificação, enriquecida<br />

por novos conhecimentos, assim houve uma mudança qualitativa. Nesse sentido,<br />

não houve uma simples anulação do conhecimento anterior e substituição deste por<br />

novos, como afirma a opção A; tampouco foi um processo meramente associativo,<br />

como infere a opção B, pois as crianças tiveram a oportunidade de refletir sobre seu<br />

conflito e tirar conclusões através do que estavam observando. Da mesma forma,<br />

não é possível afirmar que houve qualquer tipo de reforço, pois o caminho percorrido<br />

para chegar à nova conclusão foi proporcionado pela vivência do conflito cognitivo,<br />

pela oportunidade de expressão desse conflito, pelo ensejo da argumentação, pela<br />

possibilidade de contato com a nova informação mostrada às crianças através do<br />

filme, ou seja, dinâmica que se opõe ao simples ato de reforçar verdades já<br />

construídas por outros; conforme opções C e E.<br />

22 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 16<br />

O pensamento pedagógico de Paulo Freire parte de alguns princípios que marcam,<br />

de forma clara e objetiva, o seu modo de entender o ato educativo.<br />

Considerando as características do pensamento desse autor, analise as afirmações<br />

que se seguem.<br />

I Ensinar é um ato que envolve a reflexão sobre a própria prática.<br />

II Modificar a cultura originária é parte do processo educativo.<br />

III Superar a consciência ingênua é tarefa da ação educativa.<br />

IV Educar é um ato que acontece em todos os espaços da vida.<br />

V Educar é transmitir o conhecimento erudito e universalmente reconhecido.<br />

Estão de acordo com o pensamento de Paulo Freire APENAS as afirmações<br />

(A) I e II<br />

(B) II e V<br />

(C) I, III e IV<br />

(D) I, IV e V<br />

(E) I, II, III e IV<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: o pensamento pedagógico de Paulo Freire.<br />

Autor: Ana Lúcia Souza de Freitas<br />

Alternativa correta: C<br />

Comentários:<br />

O pensamento pedagógico de Paulo Freire é um conteúdo recorrente nas<br />

questões apresentadas em processos avaliativos. Costumam ser elaboradas<br />

questões de dois tipos: as que abordam conceitos fundantes do pensamento do<br />

autor, como, por exemplo, o de “educação bancária”, e as que questionam, de um<br />

modo mais geral, os princípios que sustentam sua proposição acerca de uma<br />

“educação libertadora” (FREIRE, 1987), como é o caso da questão apresentada no<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>2008</strong>.<br />

A questão envolve o conceito de educação e de ensino no pensamento de<br />

Paulo Freire e exige do respondente um nível mais elaborado de compreensão, visto<br />

que a análise das afirmações apresentadas requer o conhecimento de outros<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 23


conceitos do mesmo autor. A <strong>Pedagogia</strong> do Oprimido e a <strong>Pedagogia</strong> da Autonomia<br />

são as obras em que podemos encontrar mais diretamente a fundamentação desta<br />

questão e cuja leitura se recomenda para um aprofundamento de estudos. Também<br />

é uma boa alternativa para estudo a leitura de alguns verbetes do Dicionário Paulo<br />

Freire (STRECK; REDIN; ZITKOSKI, 2010), indicados na continuidade do<br />

comentário para cada uma das afirmações.<br />

Afirmação I – CORRETA<br />

A afirmação traz implícita a compreensão do ato de ensinar na perspectiva da<br />

educação libertadora. Uma citação clássica a este respeito refere-se à compreensão<br />

de que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a<br />

sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p.25). Ou seja, significa<br />

reconhecer que ambos – educador e educandos – são sujeitos do processo de<br />

conhecer, do qual o ensinar e o aprender fazem parte. A reflexão sobre a prática<br />

decorre desta postura crítica do ensinar e do aprender e se apresenta, mais<br />

especificamente, nas obras escritas por Paulo Freire na década de noventa, em que<br />

tematiza a formação de professores (FREITAS, 2001). É o caso, por exemplo, da<br />

<strong>Pedagogia</strong> da Autonomia que, em seu capítulo primeiro, ao tratar da compreensão<br />

de que “não há docência sem discência”, um dos aspectos trabalhados é: “ensinar<br />

exige reflexão crítica sobre a prática”.<br />

Afirmação II - INCORRETA<br />

A afirmação apresenta uma compreensão inversa do que Paulo Freire<br />

propõe. O conceito de invasão cultural está implícito na formulação desta afirmativa<br />

e diz respeito exatamente à crítica feita pelo autor ao modo como a educação pode<br />

funcionar como processo de dominação de uma cultura sobre outras. O<br />

silenciamento dos sujeitos e a negação de seus saberes, inerentes ao processo de<br />

invasão cultural, contrariam a proposição de Paulo Freire no que se refere ao<br />

respeito à identidade cultural. Sobre o conceito de invasão cultural, é relevante a<br />

leitura do quarto capítulo da <strong>Pedagogia</strong> do Oprimido, que tematiza A teoria da ação<br />

antidialógica. No primeiro capítulo da <strong>Pedagogia</strong> da Autonomia, encontram-se os<br />

seguintes desdobramentos temáticos: “ensinar exige respeito aos saberes dos<br />

24 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


educandos” e “ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural”.<br />

No Dicionário Paulo Freire, os verbetes identidade cultural e invasão cultural são<br />

bastante elucidativos. As leituras sugeridas poderão aprofundar a compreensão do<br />

conteúdo desta afirmação.<br />

Afirmação III – CORRETA<br />

A conscientização como finalidade e método da educação libertadora é uma<br />

importante contribuição do legado de Paulo Freire à formação de professores<br />

(FREITAS, 2001). A criticização da consciência, tendo em vista a superação da<br />

ingenuidade nas relações consciência-mundo para que se efetive uma ação<br />

transformadora é um permanente desafio à prática educativa. O termo<br />

conscientização é ponto de muitas distorções e controvérsias em relação ao<br />

pensamento do autor. Embora tenha deixado de empregá-lo por algum tempo em<br />

seus escritos, na obra <strong>Pedagogia</strong> da Autonomia Paulo Freire ratifica sua<br />

compreensão de que “Contra toda a força do discurso fatalista neoliberal,<br />

pragmático e reacionário, insisto hoje, sem desvios idealistas, na necessidade da<br />

conscientização”. Insisto na sua atualização (p.60). Os verbetes consciência e<br />

conscientização se encontram no Dicionário Paulo Freire e contribuem para o<br />

aprofundamento desta compreensão.<br />

Afirmação IV – CORRETA<br />

A afirmação é bastante ampla, mas ratifica o pensamento do autor no que se<br />

refere à sua compreensão de que a educação tem na escola um lugar fundamental,<br />

mas não exclusivo. Um conceito relevante para esta compreensão é o saber de<br />

experiência feito. Ao referendar o valor epistemológico dos saberes de experiência<br />

feitos, Paulo Freire contribui para que possamos perceber a experiência cotidiana<br />

como lugar de fecundas aprendizagens. A valorização do senso comum, naquilo que<br />

ele tem de bom-senso é, na perspectiva do autor, um dos caminhos para a<br />

desdogmatização da ciência e para o fortalecimento da educação em diferentes<br />

contextos. Esta compreensão está presente nas obras <strong>Pedagogia</strong> do Oprimido e<br />

<strong>Pedagogia</strong> da Esperança, mas também pode ser estudada a partir dos verbetes<br />

presentes no Dicionário Paulo Freire, entre outros, saber e saber de experiência feito.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 25


Afirmação V – INCORRETA<br />

A afirmação utiliza o termo educação para referir-se ao ensino; contraria o<br />

pensamento de Paulo Freire em dois sentidos. “Educar é transmitir o conhecimento”<br />

corresponde à crítica feita pelo autor à educação tradicional, nomeada por ele de<br />

“educação bancária”. Sua compreensão sobre ensino, já comentada na primeira<br />

afirmação, apresenta-se como uma alternativa a esta compreensão. No que se<br />

refere aos conteúdos, igualmente a afirmação contraria o pensamento do autor, pois<br />

ao atribuir supremacia ao “conhecimento erudito e universalmente reconhecido”<br />

desconsidera os saberes de experiência feitos. O diálogo de saberes é a essência<br />

da educação libertadora e, segundo Paulo Freire, a dialogicidade inicia na busca do<br />

conteúdo programático. Esta discussão é o tema do capítulo terceiro da <strong>Pedagogia</strong><br />

do Oprimido, cuja referência é fundamental para a compreensão-ação da pesquisa<br />

como uma dimensão do ensino. No processo de investigação temática, proposto por<br />

Paulo Freire e recriado nas experiências que tomam a pesquisa como ponto de<br />

partida para a organização do ensino, o conteúdo, ao ser contextualizado, adquire<br />

função problematizadora e conscientizadora.<br />

Referências bibliográficas:<br />

FREIRE, Paulo. <strong>Pedagogia</strong> do Oprimido, 22ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,<br />

1987.<br />

______. <strong>Pedagogia</strong> da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São<br />

Paulo: Paz e Terra, 1996.<br />

FREITAS, Ana Lúcia. <strong>Pedagogia</strong> da Conscientização – Um legado de Paulo Freire<br />

à formação de professores. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.<br />

STRECK, Danilo; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime (orgs.). Dicionário Paulo<br />

Freire. Segunda edição revista e ampliada – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.<br />

26 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 17<br />

Considere as descrições que se seguem.<br />

Escola X: O currículo é desenvolvido em projetos de trabalho, com integração entre<br />

disciplinas, e os laboratórios de informática estão a serviço da pesquisa<br />

empreendida pelos alunos.<br />

Escola Y: Há uma delimitação clara entre as disciplinas, com horários e espaços<br />

bem definidos para as atividades, e os recursos tecnológicos dão suporte à<br />

transmissão de conhecimentos.<br />

Escola Z: Laboratórios de informática, telas digitalizadas e estúdios de produção<br />

audiovisual estão disponíveis aos professores, que são conduzidos a desenvolver<br />

um currículo em que os novos conhecimentos científicos sejam imediatamente<br />

incorporados.<br />

Qual das análises faz uma relação coerente entre concepções de currículo e uso da<br />

tecnologia, segundo as correntes teóricas a que se referem?<br />

(A) As escolas X e Y adotam uma concepção de currículo calcada no<br />

multiculturalismo, pois o tratamento dado ao uso de recursos tecnológicos está<br />

associado à diversidade.<br />

(B) Na escola X o currículo possui uma abordagem interdisciplinar, o que favorece<br />

o caráter investigativo do uso de recursos tecnológicos no contexto da<br />

metodologia de projetos.<br />

(C) Na escola Y a delimitação entre as disciplinas demonstra que o currículo é<br />

reflexo da pluralidade cultural contemporânea, ao passo que o modo como a<br />

tecnologia é adotada remete a um modelo tecnicista.<br />

(D) Na escola Z os diversos recursos tecnológicos usados indicam uma visão de<br />

currículo calcada na teoria póscrítica, pois os professores acompanham as<br />

inovações tecnológicas.<br />

(E) As escolas Y e Z trabalham segundo uma perspectiva curricular crítica, em que<br />

os recursos tecnológicos são utilizados para a formação continuada de alunos<br />

e professores.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: concepções de Currículo e metodologia de projetos.<br />

Autor: Jussara Margareth de Paula Loch<br />

Alternativa correta: B<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 27


Comentários:<br />

A análise que faz uma relação coerente entre concepções de currículo e uso da<br />

tecnologia é apontada na alternativa B. Foram eliminadas as alternativas A, C, D, E,<br />

pois na descrição da escola Y não há referência a um currículo calcado na diversidade<br />

e no multiculturalismo. O fato de segmentar o currículo em disciplinas e o uso dos<br />

recursos tecnológicos para a transmissão dos conhecimentos, numa visão do currículo<br />

como instrução, seguramente não atende à concepção de diversidade e de visão<br />

multiculturalista, já que estas estão mais relacionadas à visão crítica e pós-crítica do<br />

currículo, além de que “parece haver uma evidente continuidade entre a perspectiva<br />

multiculturalista e a tradição crítica do currículo” (SILVA, 1999, p. 90). Segundo o<br />

mesmo autor (1999) a tradição crítica inicial no currículo chama a atenção para as<br />

determinações de classe na definição das opções do tipo de conhecimento a ser<br />

contemplado no currículo enquanto o multiculturalismo aponta as questões de gênero,<br />

raça e sexualidade. Um currículo organizado a partir das concepções críticas e póscríticas<br />

de currículo deveria refletir as formas pelas quais a diferença é produzida, isto é,<br />

por relações sociais assimétricas implicadas em relações de poder e saber.<br />

Nesse sentido, a alternativa correta B envolve três questões fundamentais: 1)<br />

a abordagem interdisciplinar do conhecimento - têm sido publicadas experiências<br />

realizadas em SP, explicitadas no livro Ousadia do Diálogo: interdisciplinaridade na<br />

escola pública; no RS, sobre A Escola Cidadã e, em BH, sobre A Escola Plural, para<br />

citar apenas algumas; 2) o ensino como pesquisa - que caracteriza a metodologia de<br />

projetos; 3) a valorização do uso de recursos tecnológicos - a serviço da<br />

investigação e da pesquisa como meio moderno, atualizado e com amplas<br />

possibilidades de abordagens que propiciam a construção de conhecimentos<br />

significativos e que atendam aos interesses e necessidades dos alunos.<br />

Dessa forma, o trabalho educativo/pedagógico, ao tratar o conhecimento, não<br />

pode se restringir a transmitir o conhecimento ou a disponibilizá-lo.<br />

Referências bibliográficas:<br />

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documento de Identidade: uma introdução às teorias<br />

de currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.<br />

28 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 18<br />

A elaboração do projeto político-pedagógico é um processo de consolidação da<br />

democracia e da autonomia da escola, com vistas à construção de sua identidade. É<br />

uma ação intencional, com um compromisso definido coletivamente, que reflete a<br />

realidade, busca a superação do presente e aponta as possibilidades para o futuro.<br />

O projeto político-pedagógico é um documento que não se reduz à dimensão<br />

didático-pedagógica.<br />

Nesse texto, o projeto político-pedagógico se constitui como<br />

(A) instrumento legitimador das ações normativas da equipe gestora.<br />

(B) desenvolvimento de ações espontâneas da comunidade escolar.<br />

(C) definição de princípios e diretrizes que projetam o vir a ser da escola.<br />

(D) incorporação de múltiplas teorias pedagógicas, produzidas na<br />

contemporaneidade.<br />

(E) implementação de estrutura organizacional visando à administração interna da<br />

escola.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: Projeto Político-Pedagógico.<br />

Autor: Zuleica Almeida Rangel<br />

Alternativa correta: C<br />

Comentários:<br />

A - A alternativa é incorreta, uma vez que o texto explicita a constituição do<br />

Projeto Político-Pedagógico como um compromisso a ser assumido coletivamente e<br />

não apenas pela equipe gestora da escola.<br />

B - A alternativa B é incorreta na medida em que o Projeto Político-<br />

Pedagógico, de acordo com o texto, é uma ação intencional, com um compromisso<br />

definido coletivamente, o que inviabiliza o desenvolvimento de ações espontâneas<br />

da comunidade.<br />

C – A resposta correta é a alternativa C porque, ao construirmos o Projeto<br />

Político-Pedagógico (PPP) de nossa escola, expressamos nossa visão de homem,<br />

de escola e de sociedade, o que servirá de alicerce para definir o caminho a ser<br />

traçado e as metas que irão corporificar as próprias ações do PPP.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 29


D – A alternativa D é incorreta porque mais que a “incorporação de múltiplas<br />

teorias pedagógicas, produzidas na contemporaneidade”, o texto sinaliza que o PPP<br />

é um documento que não se reduz à dimensão didático-pedagógica. É preciso<br />

considerar que a elaboração do PPP pressupõe uma reflexão detalhada sobre as<br />

possibilidades de mudança e sobre a aproximação entre o que se faz e o que se<br />

deseja fazer, o que significa que “não serão as novas propostas, mesmo que bem<br />

elaboradas e que são produzidas pelas instâncias que pensam a escola que<br />

promoverão estas mudanças” (VEIGA, 2000, p.55). Nesta perspectiva, é a reflexão<br />

sobre a vida cotidiana da escola que fará emergir, na elaboração do PPP, o<br />

paradigma metodológico orientador do fazer educativo.<br />

E - A alternativa E é incorreta porque o PPP não se constitui como<br />

implementação de estrutura organizacional visando à administração interna da<br />

escola e sim como um documento norteador de todos os planos de ação dos seus<br />

diferentes setores, com vistas “à construção da identidade da escola, oferecendo<br />

subsídios para a consolidação da democracia e da autonomia da escola em<br />

consonância com seu contexto sociocultural, numa abertura ao processo<br />

participativo da comunidade”.<br />

Referência bibliográfica:<br />

VEIGA, Ilma Passos de Alencastro (org.). Projeto Político-Pedagógico da escola:<br />

uma construção possível. Campinas, SP: Papirus, 2000.<br />

30 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 19<br />

Uma professora propõe uma atividade em que as crianças devem escrever um<br />

bilhete para uma personagem. Ao longo da tarefa, a professora percorre todas as<br />

mesas, lê em voz alta ou silenciosamente alguns bilhetes, comenta as adequações e<br />

inadequações na escrita, leva as crianças a refletirem a partir dos erros ortográficos<br />

e pede que os bilhetes sejam reescritos em casa.<br />

De acordo com a descrição dessa situação, a prática avaliativa realizada pela<br />

professora é OPOSTA a qual das concepções e seus propósitos, apresentados no<br />

quadro abaixo?<br />

Concepção Propósito<br />

(A) Diagnóstica conhecer os conhecimentos já aprendidos pelas crianças.<br />

(B) Classificatória medir erros e acertos das aprendizagens das crianças em relação à escrita.<br />

(C) Formativa acompanhar o processo individual de aprendizagem das crianças.<br />

(D) Mediadora intervir nas aprendizagens realizadas pelas crianças.<br />

(E) Investigativa conhecer os indícios das aprendizagens realizadas pelas crianças.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: concepção de avaliação.<br />

Autor: Zuleica Almeida Rangel<br />

Alternativa correta: B<br />

Comentários:<br />

A resposta correta é a alternativa B, pois uma concepção classificatória de<br />

avaliação tem sua função centrada na valorização do produto, não sendo vista como<br />

elemento integrador entre o ensino e a aprendizagem. Foca-se na descrição do<br />

fenômeno do ponto de vista quantitativo, ficando restrita ao propósito de medir os<br />

resultados alcançados pelo aluno e sua função, portanto, se opõe a todas as ações<br />

da professora, descritas no enunciado da questão.<br />

As estratégias utilizadas pela professora por ocasião da realização da tarefa<br />

expressam uma intenção oposta a esses propósitos, quando acontecem várias<br />

intervenções em decorrência da análise sobre as atividades realizadas, o que<br />

evidencia uma concepção interacionista de avaliação, em que a professora assume<br />

um posicionamento de mediadora, buscando um significado para toda a relação que<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 31


estabelece com seu aluno, procedendo a um diálogo permanente na direção das<br />

possibilidades de construção de novos conhecimentos. Tal concepção pressupõe<br />

uma prática avaliativa que,<br />

em sua perspectiva mediadora, se destina assim a acompanhar,<br />

entender, favorecer a contínua progressão do aluno em termos<br />

destas etapas: mobilização, experiência educativa e expressão do<br />

conhecimento, alargando o ciclo que se configura no sentido de<br />

favorecer a abertura do aluno a novas possibilidades (HOFFMANN,<br />

2001, p.18)<br />

e não em apenas medir erros e acertos das aprendizagens das crianças, como diz a<br />

alternativa B.<br />

Referência bibliográfica:<br />

HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre:<br />

Mediação, 2001.<br />

32 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 20<br />

Leia a tabela que apresenta dados do Índice de Desenvolvimento<br />

Saeb e Censo Escolar<br />

Disponível em: http://www.inep.gov.br. Acesso em set. <strong>2008</strong>.<br />

Qual das afirmações faz uma análise coerente entre os dados da tabela e os fatores<br />

do Ideb?<br />

(A) Os dados sobre aprovação escolar e as médias totais de desempenho no Saeb<br />

e na Prova Brasil resultaram em índices que ultrapassaram as metas para o<br />

ensino fundamental em 2007.<br />

(B) Os índices observados no ano de 2007, mais elevados quanto maior a<br />

escolaridade, são ferramentas para o acompanhamento das metas de<br />

qualidade do Plano de Desenvolvimento da Educação.<br />

(C) O Ideb, que reúne, em um indicador, o fluxo escolar e as médias de<br />

desempenho nas avaliações, foi, no total de 2007, inferior à meta para o<br />

mesmo ano.<br />

(D) A superação das metas no ensino fundamental e no ensino médio foi um<br />

avanço, levando-se em consideração que a escala do Ideb vai de zero a seis.<br />

(E) A expectativa de avanço nas escolas estaduais é inferior àquela esperada para<br />

as escolas municipais, uma vez que o índice é comparável nacionalmente.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.<br />

Autor: Elaine Turk Faria<br />

Alternativa correta: A<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 33


Comentários:<br />

De acordo com os dados apresentados na tabela, verifica-se que os índices<br />

do Ensino Fundamental no IDEB em 2007 foram superiores às metas previstas para<br />

o mesmo ano:<br />

Ensino Fundamental – Anos Iniciais: 4,2, quando a meta proposta era 3,9.<br />

Ensino Fundamental – Anos Finais: 3,8, quando a meta proposta era 3,5.<br />

Observa-se que também no Ensino Médio a meta foi superada: a previsão era<br />

chegar a 3,4 em 2007, mas se chegou a 3,5.<br />

Apesar do avanço alcançado, cabe, no entanto, considerar que os índices do<br />

IDEB são extremamente baixos, considerando que o IDEB obedece a uma escala de<br />

zero a dez. Assim, os índices obtidos (4,2; 3,8 e 3,5) não atingem sequer a metade<br />

da escala, que seria 5,0. A indicação evidente é que nossos alunos ainda têm um<br />

longo caminho a percorrer para que atinjam um nível satisfatório de desempenho.<br />

Para conhecer mais dados acerca do IDEB, sugere-se uma consulta no site<br />

do INEP (www.inep.gov.br) ou no site do MEC (www.mec.gov.br) no qual estão<br />

apresentadas informações sobre o IDEB e os resultados das avaliações realizadas<br />

(http://portalideb.inep.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=47&Ite<br />

mid=57).<br />

Encontramos também informações sobre o IDEB no site do MEC que<br />

explicam que “o índice é medido a cada dois anos e o objetivo é que o país, a partir<br />

do alcance das metas municipais e estaduais, tenha nota 6 em 2022 – ano do<br />

bicentenário da independência – correspondente à qualidade do ensino em países<br />

desenvolvidos. É o mesmo que dizer que teremos uma educação compatível com<br />

países de primeiro mundo antes do previsto”<br />

(http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=336&id=180&option=com_content&view=<br />

article)<br />

As demais alternativas estão incorretas.<br />

A alternativa B é falsa quando afirma que os índices observados no ano de<br />

2007, mais elevados quanto maior a escolaridade, (...). A tabela apresenta<br />

justamente o contrário: o índice mais alto está nos Anos Iniciais do Ensino<br />

Fundamental (4,2), seguido pelos Anos Finais do Ensino Fundamental (3,8), ficando<br />

o Ensino Médio com o último lugar (apenas 3,5).<br />

34 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


A alternativa C também está incorreta, pois afirma que o IDEB foi, no total de<br />

2007, inferior à meta para o mesmo ano. Já vimos que, de fato, todos os índices de<br />

2007 foram superiores às metas estabelecidas.<br />

Já o início da frase está correto, pois conforme o site do MEC, o IDEB<br />

“sintetiza dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação:<br />

aprovação e média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e<br />

matemática. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar,<br />

obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do INEP, o<br />

SAEB e a Prova Brasil”.<br />

Na alternativa D o erro está na escala apresentada no final da questão,<br />

quando diz que a escala do IDEB vai de zero a seis. Na realidade vai de zero a dez,<br />

conforme expresso no site do MEC: “o indicador, que mede a qualidade da<br />

educação, foi pensado para facilitar o entendimento de todos e estabelecido numa<br />

escala que vai de zero a dez”.<br />

Na alternativa E é errôneo dizer que a expectativa de avanço nas escolas<br />

estaduais é inferior àquela esperada nas escolas municipais, pois “o IDEB foi criado<br />

para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino”. Cada sistema<br />

municipal, estadual e federal de ensino tem metas de qualidade a atingir. Isso<br />

significa que “cada sistema deve evoluir segundo pontos de partida distintos e com<br />

esforço maior daqueles que partem em pior situação, com um objetivo implícito de<br />

redução da desigualdade educacional. É importante esclarecer que o procedimento<br />

do cálculo dos esforços e metas intermediárias dos Estados, municípios e escolas,<br />

leva em consideração o IDEB inicial observado, fazendo com que cada rede obtenha<br />

uma trajetória diferente para o IDEB ao longo dos anos” (INEP).<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 35


QUESTÃO 21<br />

A racionalidade científica, forma dominante de pensar e de agir na Modernidade,<br />

transformou o homem e sua ação em objetos de investigação. Passaram a ser<br />

tratados da mesma forma que as “coisas” e os fenômenos da natureza, como<br />

“objetos” fixos, imutáveis.<br />

O historicismo veio a se opor a essa perspectiva positivista, chamando a atenção<br />

para a dimensão histórica da existência, do mundo e da sociedade. As vertentes da<br />

pesquisa em educação que acompanharam essa discussão incorporaram idéias do<br />

historicismo e trouxeram para a prática da investigação o pressuposto de que<br />

(A) a pesquisa educacional supõe a existência de métodos previamente definidos.<br />

(B) a objetividade e a universalidade do conhecimento são garantidas pelos<br />

métodos de pesquisa.<br />

(C) a metodologia da pesquisa determina a produção dos conhecimentos históricoeducacionais.<br />

(D) o conhecimento da realidade só é possível por meio do controle do fenômeno<br />

educacional.<br />

(E) o conhecimento educacional depende da compreensão dos processos sóciohistóricos.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: racionalidade científica e investigação científica.<br />

Autor: Marcos Villela Pereira<br />

Alternativa correta: E<br />

Comentários:<br />

A questão pauta um confronto bastante conhecido no âmbito da teoria da<br />

ciência e da história da filosofia. O corpo do enunciado inicia por caracterizar uma<br />

vertente dessa polarização, o Positivismo. Logo após, apresenta o contraponto<br />

historicista e, no último período da raiz, formula uma sentença inconclusa que<br />

deverá ser completada com o trecho expresso em alguma das alternativas<br />

elencadas abaixo. Vejamos alguns supostos que compõem o corolário da questão.<br />

Após a derrocada do cosmocentrismo (característico da antiguidade clássica)<br />

e do teocentrismo (característico da Idade Média), podemos acompanhar a<br />

ascensão do antropocentrismo, no âmbito da civilização ocidental. O homem coloca-<br />

36 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


se no centro do mundo e dos processos de conhecimento, articulando sua razão<br />

com a empiria para produzir as verdades necessárias para sua vida, individual e<br />

coletiva. O advento das Ciências acompanha esse agenciamento entre a razão e o<br />

mundo empírico, provocando a reabilitação de um interminável questionamento<br />

acerca da verdade, oscilando entre uma visão racionalista (de que a verdade reside<br />

no sujeito) e uma visão empirista (de que a verdade reside no objeto).<br />

Quando se produz um deslocamento epistemológico e o sujeito que conhece<br />

também ocupa o lugar de objeto a ser conhecido, trava-se um grande embate entre<br />

os pensadores acerca de como deve ser objetivada essa forma de conhecimento.<br />

No decorrer da modernidade clássica, presenciamos a consolidação do<br />

Positivismo que, num impulso de apreensão de verdades universais acerca do<br />

homem e da sociedade, busca submetê-los às mesmas condições de controle que<br />

as coisas e os fenômenos da natureza. E as ciências humanas – mais notadamente<br />

a sociologia – emergem aí como uma espécie de física social, tentando replicar o<br />

modelo da física no estudo do homem e suas relações. Para poder suportar a<br />

aplicação do método científico tradicional, entretanto, esse objeto precisou ser<br />

considerado como de natureza fixa e imutável, a exemplo dos objetos de<br />

conhecimento das ciências naturais.<br />

Essa visão, entretanto, começa a ser contestada e confrontada pelos<br />

pensadores que pautam o entendimento na dimensão histórica da realidade, ou<br />

seja, por aqueles que reconhecem que cada lugar ou cada época, tomados como<br />

referência para uma leitura da realidade, produz uma perspectiva diferente. Dessa<br />

maneira, fragiliza-se a hipótese de que possa haver “uma” verdade, universal e<br />

absoluta, acerca da realidade humana e social. Cada vez mais eles reforçam a<br />

noção de que há tantas verdades quantas são as posições que o sujeito<br />

cognoscente ocupa em sua trajetória investigativa. Dessa maneira, também a<br />

universalidade do método (próprio daquele modelo anterior) perde sua condição<br />

determinante. A forma como a realidade será abordada também obedece a alguma<br />

relativização histórica.<br />

A formulação dessa Questão 21, então, toma como mote principal essa<br />

segunda perspectiva, articulando-a com a pesquisa educacional. A questão,<br />

propriamente dita, solicita que se identifique qual, dentre as cinco alternativas, é<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 37


aquela que expressa a contribuição do historicismo para as vertentes da pesquisa<br />

aplicada à educação que se alinham a esse modelo.<br />

A primeira alternativa, em que se afirma que “a pesquisa educacional supõe a<br />

existência de métodos previamente definidos”, remete a um importante postulado<br />

positivista, de que o método deve ser estabelecido a priori para que seja assegurada<br />

a objetividade da investigação. O argumento, nesse caso, se aproxima da ideia de<br />

neutralidade, na medida em que se supõe que o método independe do objeto ou dos<br />

propósitos da pesquisa. A segunda alternativa praticamente repete a primeira ao<br />

propor que “a objetividade e a universalidade do conhecimento são garantidas pelos<br />

métodos de pesquisa”, reiterando o mesmo princípio já mencionado. A terceira<br />

alternativa – “a metodologia da pesquisa determina a produção dos conhecimentos<br />

histórico-educacionais” – apresenta uma pequena variação. Um pouco maliciosa,<br />

uma vez que introduz na formulação a expressão “conhecimentos históricoeducacionais”<br />

e suscita alguma suspeita de que seu teor se alinha com a proposição<br />

do enunciado. Entretanto, se analisarmos o período, observamos que a ênfase dada<br />

ao sujeito (a metodologia) e ao verbo (determina) levam novamente ao mesmo lugar<br />

já identificado nas duas alternativas anteriores, ou seja, de que a atitude de pesquisa<br />

é um expediente neutro, independente do objeto a ser conhecido, e que o método<br />

deve ser estabelecido a priori.<br />

A quarta alternativa, que diz que “o conhecimento da realidade só é possível<br />

por meio do controle do fenômeno educacional”, nos oferece duas pistas para<br />

interpretação. A primeira é a partícula “só”: essa partícula restringe a possibilidade de<br />

entendermos o processo cognitivo a uma única via, caracterizando uma concepção<br />

universal e absoluta do ato de conhecer. A segunda é a noção de “controle”, que<br />

supõe e reitera aquela noção já apresentada na raiz da questão, relativa ao<br />

Positivismo, que considera que o homem e sua ação devem ser considerados como<br />

coisas ou como fenômenos da natureza, sendo passíveis de controle.<br />

A última alternativa, que diz que “o conhecimento educacional depende da<br />

compreensão dos processos sócio-históricos”, é a correta. Não apenas por<br />

exclusão. Há também duas pistas em sua formulação que nos ajudam a chegar a<br />

essa conclusão. A primeira é a ideia de dependência: o conhecimento depende da<br />

compreensão, ou seja, não se verifica o pressuposto de uma verdade única e<br />

38 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


absoluta, mas a existência de diferentes possibilidades de leitura do mundo e,<br />

portanto, de produção de verdades. A segunda é a noção de compreensão, ou seja,<br />

a ideia de que o conhecimento resulta não de uma descoberta ou revelação mas de<br />

uma compreensão. O sujeito cognoscente compreende porque articula a<br />

contingência de seus saberes prévios, da situação histórica em que se encontra e da<br />

perspectiva produzida a partir da posição que ocupa, produzindo assim uma verdade<br />

que é histórica e social.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 39


QUESTÃO 22<br />

Há uma discussão do “ser” professor que envolve a diferenciação entre a pedagogia<br />

do professor e a pedagogia do mestre. A função do professor é ensinar a todos a<br />

mesma coisa e a do mestre, anunciar, a cada um, uma verdade particular, uma<br />

resposta singular e uma realização. Nesse sentido, o mestre é o condutor do<br />

discípulo até si mesmo, um agente de seu processo de individuação. O discípulo<br />

confia no mestre para que o instrua e o conduza enquanto ele não for capaz de se<br />

conduzir sozinho, entendendo que a condição de discípulo é provisória. Assim, a<br />

experiência do mestre, adquirida através da prática e da sagacidade, é, na verdade,<br />

a capacidade de discernimento dos espíritos que, ao pressentir as possibilidades de<br />

cada um, propõe-lhes fins ao seu alcance, assim como os meios de alcançá-los,<br />

através da utilização das suas capacidades.<br />

As idéias do texto afirmam:<br />

I a confiança do discípulo na figura do mestre;<br />

II a busca de padrões nos processos de individuação;<br />

III o entendimento das limitações e possibilidades de mestres e discípulos;<br />

IV a percepção do mestre como condutor às verdades.<br />

De acordo com o texto, é(são) correta(s) APENAS a(s) idéia(s)<br />

(A) II<br />

(B) IV<br />

(C) I e II<br />

(D) I e III<br />

(E) I, II e III<br />

Tipo de questão: escolha múltipla com mais de uma alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: <strong>Pedagogia</strong> do Professor e <strong>Pedagogia</strong> do Mestre.<br />

Autor: Helena Sporleder Côrtes<br />

Alternativa correta: D<br />

Comentários:<br />

Ainda que, sob o ponto de vista teórico-metodológico, realmente consideremos<br />

discutível a distinção entre ‘professor’ e ‘mestre’, há que reconhecer que o senso<br />

40 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


comum – e, mesmo, a produção literária, em geral – de certo modo, já consagrou, no<br />

imaginário coletivo, essa diferenciação proposta pela questão em pauta.<br />

Assim, o ‘mestre’ é ‘quem, de repente, aprende’ (no sentido de que os<br />

processos de ensinar e aprender, embora distintos, não são exclusivos, em relação<br />

à função específica dos atores envolvidos: o professor, que, por ofício, ensina,<br />

também aprende com o aluno (tanto quanto este, que chega à escola para<br />

‘aprender’, também ensina àquele os saberes que construiu ao longo de sua<br />

experiência anterior), num movimento permanente de troca de papéis e<br />

competências diferenciadas. ‘Mestre’, então, sob esse enfoque não acadêmico, seria<br />

o professor mais ‘qualificado’, mais ‘sensível’, capaz de reconhecer a importância<br />

dos demais saberes – definido a partir do senso comum, da experiência cotidiana,<br />

da percepção mágica, entre outros – e usá-los como ponto de partida para a<br />

organização de estratégias didáticas que permitam sua articulação ao conhecimento<br />

científico com o qual lhe cabe trabalhar.<br />

Além disso, tal ‘sensibilidade’ também conferiria ao professor um<br />

conhecimento mais aprofundado de seus alunos, de modo a avaliar com mais<br />

critério suas efetivas condições e possibilidades de aprendizagem – conhecer a<br />

realidade dos diferentes ‘pontos de partida’ permite projetar mais consistentemente<br />

os possíveis ‘pontos de chegada’...<br />

Estabelecidas essas considerações introdutórias como referências para a<br />

análise da questão 22, observem-se as razões que direcionam a resposta correta à<br />

alternativa (D):<br />

- a alternativa A, que contém apenas uma afirmação – a busca de padrões<br />

nos processos de individuação – não pode ser aceita, na medida em que o processo<br />

de construção da individualidade não obedece apenas a ‘padrões’ predefinidos,<br />

sendo caracteristicamente subjetivo e dependente da interação singular de cada<br />

indivíduo com o meio circundante;<br />

- a alternativa B, também apenas com uma afirmação – a percepção do<br />

mestre como condutor às verdades – igualmente não há de ser correta, pois esta<br />

não deve ser a proposta do ensino: ao mestre/professor não cabe ‘conduzir às<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 41


verdades’, senão que estabelecer as condições favoráveis para que as verdades<br />

(sempre provisórias) de cada um possam ser consistente, individual e coletivamente<br />

construídas na interação com o mundo e com o outro;<br />

- a alternativa C, embora proponha a confiança do discípulo na figura do<br />

mestre – fator necessário à relação professor-aluno – também envolve a afirmação<br />

II, já analisada como incorreta, o que a desqualifica como resposta certa;<br />

- a alternativa E, por reunir a afirmação I (correta), às afirmações II e III, que já<br />

se mostraram inconsistentes (portanto, incorretas), igualmente não pode ser<br />

escolhida;<br />

- a alternativa D, por consequência, que reúne as afirmações I e III, passa a<br />

ser a necessária opção: não só é fundamental, na relação entre ensino e<br />

aprendizagem, a confiança do discípulo (aluno) na figura do mestre (professor),<br />

como o entendimento das limitações e possibilidades de mestres e discípulos é<br />

parte central das condições propícias para que esta confiança possa ser<br />

estabelecida. Assim, ao enfatizar que “a experiência do mestre, adquirida através da<br />

prática e da sagacidade, é, na verdade, a capacidade de discernimento dos espíritos<br />

que, ao pressentir as possibilidades de cada um, propõe-lhes fins ao seu alcance,<br />

assim como os meios de alcançá-los, através da utilização das suas capacidades”, o<br />

texto alude a essa concepção empírica que confere ao ‘mestre’ uma ‘fluida<br />

competência’ que o distingue do ‘professor’ – nesta perspectiva, o verdadeiro mestre<br />

é o professor experiente, capaz de conhecer-se e sensibilizar-se ante as<br />

características individuais de seus alunos, conhecendo e avaliando suas efetivas<br />

capacidades, para fornecer-lhes, com seu ensino, o alcance das aprendizagens que<br />

lhes são possíveis.<br />

42 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 23<br />

As Diretrizes Curriculares da Educação Infantil e os Referenciais Curriculares<br />

propõem a educação infantil como espaço de cuidar e educar. Essa concepção<br />

também se estende às creches, sobre as quais afirma-se:<br />

I as creches são lugar de proteção e de cuidados com a saúde, bem como de<br />

educação para as crianças;<br />

II o ambiente escolar da creche se constitui como espaço assistencialista às<br />

crianças;<br />

III o processo educativo na creche promove o desenvolvimento afetivo, cognitivo<br />

e social;<br />

IV como espaço de guarda e tutela, a creche tem especial cuidado com a saúde e<br />

a higiene das crianças.<br />

São afirmações adequadas à concepção de creche, expressas nos documentos<br />

citados, APENAS<br />

(A) I e II<br />

(B) I e III<br />

(C) II e III<br />

(D) II e IV<br />

(E) III e IV<br />

Tipo de questão: escolha múltipla com mais de uma alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: Diretrizes Curriculares e Referenciais Curriculares da<br />

Educação Infantil.<br />

Autor: Beatriz Kulisz<br />

Alternativa correta: B<br />

Comentários:<br />

Não podemos deixar de reconhecer os grandes avanços no campo da<br />

legislação, fruto de intensa mobilização popular, desde a promulgação da<br />

Constituição de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1988, e da<br />

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996. Na Constituição, a<br />

educação das crianças de 0 a 6 anos, anteriormente concebida, muitas vezes, como<br />

amparo e assistência, passou a figurar como direito do cidadão e dever do Estado,<br />

numa perspectiva educacional, em resposta aos movimentos sociais na defesa dos<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 43


direitos das crianças. Na LDB, a Educação Infantil constitui a primeira etapa da<br />

Educação Básica, tendo como objetivo o desenvolvimento integral da criança até os<br />

6 anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, em<br />

complementação à ação da família e da comunidade. A subordinação do<br />

atendimento em creches e pré-escolas à área da Educação Infantil representa, no<br />

texto constitucional, conforme Campos (1995), um grande passo na direção da<br />

superação do caráter assistencialista predominante nos anos anteriores à<br />

Constituição. No caso especifico das creches, tradicionalmente vinculadas às áreas<br />

de assistência social, essa mudança foi bastante significativa para a integração entre<br />

creches e pré-escolas, entre o cuidar e o educar.<br />

É na Educação Infantil que se estabelecem as bases da personalidade<br />

humana, da inteligência, da vida emocional e da socialização, as primeiras<br />

experiências da vida são as que marcam mais profundamente a pessoa. Assim<br />

definida como a primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil passou a<br />

ser parte intrínseca do processo educacional e, consequentemente, do sistema de<br />

ensino, tendo sua atenção à primeira etapa daquela que deve ser a base da<br />

Educação Infantil. Para atender às inúmeras necessidades da criança, a creche e a<br />

pré-escola têm que integrar, no educar, a dimensão do cuidar, sem hierarquizar<br />

funções. A Educação Infantil, embora tenha mais de um século de história como<br />

cuidado e educação extradomiciliar (KRAMER, 1994), somente nos últimos anos foi<br />

reconhecida como direito da criança, das famílias, como dever do Estado e como a<br />

primeira etapa da Educação Básica.<br />

A creche, segundo Faria (2007), como primeira etapa da Educação Básica,<br />

conforme a LDB, constitui um espaço de educação, quando pais e profissionais<br />

entendem que o processo de desenvolvimento de uma criança até os 3 anos<br />

envolve cuidados com saúde, nutrição e higiene, além das aprendizagens que ela<br />

realiza nas interações com os adultos, com as outras crianças e os objetos<br />

presentes do meio físico e social. A creche tem uma ação complementar, e não<br />

substituta à da família, compreendendo assim o significado e o valor do trabalho<br />

com crianças, criando condições para um relacionamento de confiança e respeito<br />

em que a criança vai encontrar espaço para crescer, aprender e se desenvolver.<br />

Essa instituição deve dar sentido à vida da criança, segurar e realizar a fusão do<br />

44 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


imaginário de seus pais com a criança real que se constrói como sujeito, único, com<br />

um lugar na história. É preciso então garantir a creche como uma instituição de<br />

educação, em que o cuidar e o educar façam parte do atendimento a todas as<br />

crianças e suas respectivas famílias.<br />

Desse modo, a Educação Infantil tem vivenciado nestes últimos anos alguns<br />

avanços não somente no que tange aos aspectos legais como também ao<br />

desenvolvimento de programas que procuram estabelecer em creches e escolas<br />

infantis a integração entre cuidar e educar. Nesses programas, busca-se superar a<br />

ideia de que cuidado e educação são momentos separados no cotidiano da criança.<br />

Como afirma Kuhlmann (1998), os objetivos educacionais estiveram presentes no<br />

trabalho das instituições de atendimento às crianças de zero a seis anos, desde as<br />

primeiras vivências. A Educação Infantil deve proporcionar experiências e interações<br />

com o mundo social e físico, focalizadas no desenvolvimento global das crianças em<br />

todos os grupos de idade, tendo consciência cada vez mais acentuada de que<br />

educação e cuidado são conceitos inseparáveis que, necessariamente, deverão ser<br />

levados em consideração nos serviços de qualidade destinados às crianças.<br />

A ideia (...) do funcionamento didático da escola infantil não é a de<br />

antecipar as aprendizagens mais tipicamente escolares, mas a de<br />

“enriquecer os âmbitos da experiência das crianças que a<br />

frequentam”. Trata-se de aproveitar o amplo repertório de recursos<br />

(linguísticos, comportamentais, vivenciais, etc.) com que os sujeitos<br />

chegam à escola e utilizá-los para complementar o arco de<br />

experiências desejáveis para essa idade (ZABALZA, 1998, p.17).<br />

As propostas educacionais das escolas infantis, embora priorizando a<br />

educação, também atendem as funções vinculadas à guarda e assistência das<br />

crianças. É necessário compreender que cada ação na Educação Infantil é,<br />

intrinsecamente, cuidado e educação. Na medida em que a higiene, a alimentação,<br />

o sono fazem parte de toda uma vivência cultural própria de grupo social, toda<br />

interação com as crianças e as famílias sobre esses aspectos estará desenvolvendo<br />

aprendizagens e construção de novos conhecimentos entre todos os envolvidos.<br />

Sabe-se que nas instituições que apresentam um bom atendimento, é possível<br />

constatar nas atividades e vivências pedagógicas com as crianças a aquisição de<br />

novos conhecimentos por meio do brincar, além dos cuidados necessários para o<br />

desenvolvimento físico e emocional dos mesmos, através da ação de professores<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 45


qualificados que exercem um papel socioeducativo fundamental no processo<br />

educativo. Dessa forma, afirma Gandini (2002), o trabalho pedagógico busca<br />

atender às necessidades determinadas pela especificidade da faixa etária,<br />

superando a visão adultocêntrica em que a criança é concebida como vir a ser,<br />

portanto, necessita ser “preparada para”.<br />

As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, como uma proposta<br />

pedagógica, defendem alguns princípios norteadores para a formação da criança<br />

(como ética, autonomia, solidariedade, respeito, entre outros), além de utilizar as<br />

práticas cotidianas para influenciar no seu desenvolvimento integral. Desse modo,<br />

educar e cuidar, um princípio indissociável e norteador do trabalho pedagógico nas<br />

instituições voltadas para as crianças de 0 a 6 anos, conforme estabelecem as<br />

Diretrizes Curriculares da Educação Infantil, quando defendem que as<br />

Propostas Pedagógicas para as instituições de Educação Infantil<br />

devem promover em suas práticas de educação e cuidados, a<br />

integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/<br />

linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser total,<br />

completo e indivisível. Desta forma ser, sentir, brincar, expressar-se,<br />

relacionar-se, mover-se, organizar-se, cuidar-se, agir e<br />

responsabilizar-se são partes do todo de cada indivíduo, menino ou<br />

menina, que desde bebês vão, gradual e articuladamente,<br />

aperfeiçoando estes processos nos contatos consigo próprios, com<br />

as pessoas, coisas e o ambiente em geral (BRASIL, 1999).<br />

Em 1998 foi elaborado o Referencial Curricular Nacional para a Educação<br />

Infantil (RCNEI), no contexto da definição dos Parâmetros Curriculares Nacionais no<br />

atendimento ao que está estabelecido no art. 26 da LDB em relação à necessidade<br />

de uma base nacional comum para os currículos. Visa, também, contribuir para que<br />

possa realizar, nas instituições, a socialização dessa etapa educacional, em<br />

ambientes que propiciem o acesso e a ampliação, pelas crianças, dos<br />

conhecimentos da realidade social e cultural. Esse documento de referência que<br />

apresenta orientações pedagógicas para superar a dicotomia entre creche e préescola,<br />

cuidado e educação, assistência e desenvolvimento/aprendizagem, faz<br />

distinção do que é cuidar e do que é educar. Salienta a indissociabilidade desses<br />

dois termos na Educação Infantil como também aponta metas de qualidade que<br />

contribuam para que as crianças tenham um desenvolvimento integral de suas<br />

identidades, capazes de crescerem como cidadãos de direitos à infância. Na<br />

46 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


perspectiva da integração de cuidados e educação, o Referencial Curricular definiu o<br />

educar da seguinte maneira:<br />

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados,<br />

brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que<br />

possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis<br />

de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude<br />

básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas<br />

crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e<br />

cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o<br />

desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento<br />

das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e<br />

éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças<br />

felizes e saudáveis (BRASIL, 1998, p. 23).<br />

Nesse mesmo documento citado anteriormente, que possui um caráter<br />

instrumental e didático, é defendida a ideia de que os professores devem ter a<br />

consciência, em sua prática educativa, de que a construção de conhecimentos se dá<br />

de maneira integrada e global, sem esquecer-se da necessidade da integração do<br />

cuidar e do educar no atendimento das crianças de 0 a 6 anos. Nessa perspectiva, o<br />

Referencial tem como base o desenvolvimento das capacidades cognitivas do<br />

pensamento humano através de uma estreita relação com o processo das<br />

aprendizagens específicas que as experiências educacionais podem proporcionar.<br />

Assim define o cuidar como:<br />

‘[...] valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um<br />

ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão<br />

expressiva e implica procedimentos específicos.’ (...) Para se atingir<br />

os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o<br />

desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as<br />

atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimentos<br />

específicos sobre o desenvolvimento biológico, emocional, e<br />

intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes<br />

realidades socioculturais (BRASIL, 1998, p.24-25).<br />

A integração entre o cuidar e educação precisa então permear todo o projeto<br />

pedagógico de uma creche, pré-escola ou escola, em um planejamento em que o<br />

cuidado e a aprendizagem sejam mais efetivos e prazerosos, com sintonia entre<br />

quem cuida e quem é cuidado, entre quem ensina e quem aprende, em que o<br />

professor educador é capaz de respeitar o momento da criança, proporcionando<br />

condições que a acolham e assegurem o atendimento integral, considerando seus<br />

aspectos físico, afetivo, cognitivo/linguístico, sociocultural, bem como as dimensões<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 47


lúdicas, artística e imaginária (FORMOSINHO, 2007). O acesso das crianças à<br />

educação e ao cuidado de qualidade tem, antes de tudo, a missão de acolher, de ser<br />

o lugar do encontro e de estar aberto para o novo, o original, o criativo.<br />

Referências bibliográficas:<br />

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9.394, de 20 de<br />

dezembro de 1996.<br />

Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.<br />

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF,<br />

1998.<br />

Resolução CEB nº. 1, de 7 de abril de 1999. Institui as Diretrizes Curriculares<br />

Nacionais para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 de abril<br />

de 1999.<br />

CAMPOS, Maria Malta; ROSEMBERG, Fúlvia; FERREIRA, Isabel M. Creches e<br />

pré-escolas no Brasil. São Paulo: Cortez, 1995.<br />

GANDINI, L.; EDWARDS, C. Bambini. A abordagem Italiana à Educação Infantil.<br />

Porto Alegre: Artmed, 2002.<br />

FARIA, Ana Lucia Goulart de. O coletivo infantil em creches e pré-escolas –<br />

fazeres e saberes. São Paulo: Cortez, 2007.<br />

FORMOSINHO, Júlia Oliveira (org.) <strong>Pedagogia</strong>(s) da Infância: Dialogando com o<br />

Passado: Construindo o Futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007.<br />

KRAMER, Sonia. A política do pré-escolar no Brasil: A arte do disfarce. São<br />

Paulo: Cortez, 1994.<br />

KUHLMANN JÚNIOR, Moysés. Infância e Educação Infantil: uma abordagem<br />

histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.<br />

ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Tradução. Beatriz Affonso<br />

Neves. Porto Alegre: Artmed, 1998<br />

Outras sugestões de bibliografias:<br />

ÀRIES, Philipe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LCT, 1978.<br />

BRASIL. Educação e cuidado na primeira infância: grandes desafios. Brasília:<br />

UNESCO Brasil, 2002.<br />

EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George. As cem linguagens da<br />

criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira Infância. Porto<br />

Alegre: Artmed, 1999.<br />

FARIA Ana Lucia Goulart de. Educação pré-escolar e cultura. Campinas: Cortez,<br />

1999.<br />

KINNEY, Linda. Tornando visível a aprendizagem das crianças: Educação Infantil<br />

em Reggio Emilia. Porto Alegre: Artmed, 2009.<br />

48 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


KRAMER, Sonia e NUNES, Maria Isabel. Infância: Fios e desafios da pesquisa. Rio<br />

de Janeiro: Papirus, 1996.<br />

TIRIBA, Lea. Educar e cuidar: buscando a teoria para compreender discursos e<br />

práticas. Rio de Janeiro: Ática, 2005.<br />

SANCHES, Emilia Cipriano. Creche: realidade e ambiguidades. Petrópolis: Vozes,<br />

2004.<br />

ZABALZA, Miguel. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento<br />

profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 49


QUESTÃO 24<br />

50 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)<br />

Jornal do Brasil. Rio de Janeiro.<br />

A tirinha de Ziraldo apresenta-nos uma situação corriqueira. De um modo geral, tem-<br />

se a concepção de que as crianças aprenderão os conhecimentos em um único dia<br />

e de uma única forma. Essa concepção perde o sentido quando se pensa, por<br />

exemplo, nos ciclos básicos de alfabetização, pois os mesmos pressupõem que a<br />

alfabetização é<br />

(A) marcada por estágios.<br />

(B) linearmente construída.<br />

(C) construída em processo.<br />

(D) elaborada sem interrupções.<br />

(E) aprendida por etapas sucessivas.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: ciclos básicos da alfabetização.<br />

Autor: Maria Conceição Pillon Christofoli<br />

Alternativa correta: C<br />

Comentários:<br />

A tirinha de Ziraldo ilustra a questão 24, abordando a temática da<br />

aprendizagem escolar, mais especificamente uma aprendizagem focada no<br />

aprender a ler e a escrever: a alfabetização. Nesse sentido, a alfabetização é uma<br />

aprendizagem que está sob responsabilidade da escola, sendo que até a aprovação<br />

do Plano Nacional de Educação de 2001, Lei nº 10.172, a alfabetização deveria<br />

ocorrer no primeiro ano do Ensino Fundamental. A instituição dos ciclos básicos de<br />

alfabetização vem assegurar um direito das crianças de terem um tempo maior para<br />

a aprendizagem da escritura. As crianças que têm contato com a língua escrita, por


exemplo, as que escutam histórias lidas por adultos, as que assistem a diferentes<br />

atos de leitura e escrita, as que começam desde muito cedo a construir hipóteses<br />

sobre a língua escrita, provavelmente se alfabetizem ao final de um ano de estudos.<br />

Considera-se, entretanto, que as crianças que não têm oportunidades de interação<br />

com a língua escrita contem somente com a escola como forma de enriquecer seus<br />

conhecimentos sobre a língua escrita. Daí a necessidade de uma escola que<br />

promova situações que oportunizem aprendizagens e que favoreçam a<br />

compreensão de que a escrita é um processo de representação. Cabe ressaltar que,<br />

embora fique sob a responsabilidade da escola esse tipo de aprendizado, se sabe<br />

que antes mesmo de nela ingressar todas as crianças começam a pensar e a<br />

construir ideias sobre o funcionamento da escrita. Como afirma Ferreiro (2000, p.65),<br />

As crianças de todas as épocas e de todos os países ignoram a<br />

restrição de que para aprender precisam ingressar na escola. Nunca<br />

esperaram ter 6 anos e ter uma professora à sua frente para<br />

começarem a aprender. No esforço de compreender o mundo que as<br />

rodeia, levantam problemas muito difíceis e abstratos e tratam, por si<br />

próprias, de descobrir respostas para eles. Estão construindo objetos<br />

complexos de conhecimento e o sistema de escrita é um deles.<br />

Como é processo, a alfabetização precisa de tempo e de experiências ricas<br />

de interação com a leitura e a escrita, portanto a resposta correta é a letra C.<br />

A alternativa A, “marcada por estágios”, não é totalmente incorreta, mas não<br />

se refere a que estágios. Da mesma forma a alternativa E “aprendida por etapas<br />

sucessivas” também não refere quais etapas são essas e a que se referem. A<br />

alternativa B “linearmente construída” é incorreta, pois a alfabetização, por ser um<br />

processo, não é linear e não tem um método a ser seguido, como era a concepção<br />

que norteava as práticas pedagógicas de alfabetização da escola tradicional. A<br />

alternativa D “elaborada sem interrupções” é semelhante à alternativa B, a escola<br />

tradicional considerava que a alfabetização deveria seguir um método, com<br />

sequências preestabelecidas e não considerava que conhecimentos sobre a língua<br />

escrita as crianças possuíam.<br />

Referências bibliográficas:<br />

FERREIRO, Emilia. O passado e o presente dos verbos ler e escrever. São<br />

Paulo: Cortez, 2000.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 51


QUESTÃO 25<br />

Numa sala de aula de terceiro ano do ensino fundamental, com crianças oriundas de<br />

várias regiões do Brasil, um aluno pronunciou a palavra olho como [oio]. Outra<br />

criança da turma chamou-lhe a atenção, corrigindo-lhe a fala. A professora<br />

aproveitou a oportunidade e pediu a todos para que, a partir dali, falassem sempre<br />

como se escreve, ou seja: os que falassem [sau] deveriam sempre falar [sal]; os que<br />

falassem [viage] deveriam sempre falar [viagem]; os que falassem [bodi] deveriam<br />

sempre falar [bode]; os que falassem [cantano] deveriam sempre falar [cantando].<br />

Rapidamente as crianças perceberam que ficou muito difícil falar e que seria<br />

impossível falar sempre exatamente como se escreve. A professora aproveitou para<br />

explicar que ninguém fala exatamente como se escreve.<br />

Essa professora sabe que<br />

(A) as relações arbitrárias e não perfeitas entre sons e letras são raras.<br />

(B) as variações dialetais de origem social e regional devem ser superadas.<br />

(C) as variações da língua falada têm significados afetivos e culturais.<br />

(D) a língua portuguesa escrita não é fonética.<br />

(E) a correspondência entre os sons da fala e a escrita fonética é invariável.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: variações da língua falada.<br />

Autor: Maria Conceição Pillon Christofoli<br />

Alternativa correta: C<br />

Comentários:<br />

A questão 25 aborda as variações linguísticas da fala. Sabemos que a língua<br />

evolui com o tempo e vai adquirindo características diferentes de acordo com sua<br />

comunidade social e cultural, do seu grupo de pertencimento. A linguagem oral,<br />

assim como a linguagem escrita, é aprendida na interação com os falantes da<br />

língua. Para Cagliari (2003) “os modos diferentes de falar acontecem porque as<br />

línguas se transformam ao longo do tempo, assumindo peculiaridades e<br />

características de grupos sociais diferentes, e os indivíduos aprendem a língua ou<br />

dialeto da comunidade em que vivem”. Ainda segundo o autor, as variações<br />

52 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


linguísticas são todas corretas e perfeitas, do ponto de vista estrutural linguístico.<br />

Entretanto, o que pode lhes outorgar maior ou menor prestígio são os valores sociais<br />

que cada sociedade atribui a seus membros. Uma variação linguística também se<br />

origina da carga de afeto porque é a marca de pertencimento a uma comunidade:<br />

um mineiro, um sergipano, um gaúcho (no próprio estado do RS: quem nasce em<br />

Uruguaiana, quem nasce em Feliz e quem nasce em Porto Alegre têm o seu modo<br />

de falar peculiar), enfim seja de que natureza for a variação linguística, importa<br />

ressaltar que não há nenhuma “melhor forma de falar”, o que há são variações e<br />

diferenças que não significam desigualdade.<br />

A escola, de um modo geral, emprega os mesmos mecanismos da<br />

sociedade para a valorização - ou não - de determinadas variações linguísticas,<br />

quando deveria proceder como a professora da questão analisada, ou seja, propor<br />

situações para que os alunos reflitam sobre as variações linguísticas, para que<br />

percebam que não há uma forma melhor que outra, mas que uma língua abarca<br />

uma riqueza de variedades de acordo com as diferentes peculiaridades de seus<br />

grupos de falantes.<br />

A alternativa correta é a C, pois a professora sabe que as diferenças<br />

linguísticas são as marcas de diferentes grupos sociais e que não há uma melhor do<br />

que a outra, não há apenas uma correta e mais perfeita, já que todas são corretas.<br />

A alternativa A é incorreta, pois não é raro termos relações arbitrárias e<br />

imperfeitas entre letras e sons, por exemplo, a letra “e” das palavras leite, contente,<br />

quente, tem o som de [i]. Da mesma forma, a letra “o” nas palavras aluno, barco,<br />

quadro, muitas vezes assume o som de [u], bem como a letra “l” nas palavras<br />

cálculo, jornal, sol, assume o som de [u],portanto não são raras, mas sim frequentes<br />

as relações imperfeitas entre som e letra.<br />

A alternativa B que trata das “variações dialetais de origem regional e social<br />

[que] devem ser superadas” está incorreta, pois a riqueza de uma língua está na sua<br />

diversidade, portanto anulá-la significa dizer que só há uma única e correta forma de<br />

falar, sendo que a língua é dinâmica, viva, e sofre alterações no tempo e no espaço<br />

em que é falada.<br />

A alternativa D, “a Língua Portuguesa não é fonética”, é igualmente incorreta,<br />

pois a língua é constituída de fonemas - unidades mínimas de sons da fala. Dessa<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 53


forma, dizer que a Língua Portuguesa não é fonética seria o mesmo que dizermos<br />

que nossa língua não tem som.<br />

A última alternativa da questão, “A correspondência entre os sons da fala e a<br />

transcrição fonética é invariável”, também está incorreta, pois a transcrição fonética<br />

é dependente de inúmeras variáveis.<br />

Referências bibliográficas:<br />

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione,2003.<br />

54 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 26<br />

A professora Inês, interessada em integrar matemática e artes plásticas, propôs aos<br />

seus alunos uma pesquisa da obra do artista plástico Piet Mondrian (1872-1944),<br />

que consistiu na observação dos quadros reproduzidos abaixo.<br />

Composição com Vermelho, Azul e Amarelo - 1930 Composição com Amarelo, Azul e Vermelho - 1939<br />

Disponível em: http://www.artcyclopedia.com/artists/mondrian_piet.html<br />

A qual objetivo da educação matemática para o ensino fundamental, presente nos<br />

PCN, atende a proposta da professora, de observação dos quadros de Mondrian?<br />

(A) Identificar formas geométricas e reproduzi-las segundo categorias artísticas<br />

miméticas, a fim de apurar o gosto estético.<br />

(B) Estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes campos e entre<br />

esses temas e conhecimentos de outras áreas curriculares.<br />

(C) Descrever resultados com precisão e argumentar sobre suas conjecturas,<br />

estabelecendo relações entre matemática e linguagem oral.<br />

(D) Resolver situações-problema para validar estratégias e resultados,<br />

identificando os ângulos obtuso, agudo e reto entre as formas geométricas.<br />

(E) Apurar a percepção da forma e estimular a sua criação, por meio da<br />

cooperação, tendo em vista a solução de problemas numéricos propostos.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: conhecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais de<br />

Matemática referentes às quatro primeiras séries da Educação Fundamental.<br />

Autor: Rosana Maria Gessinger e Rosane da Conceição Vargas<br />

Alternativa correta: B<br />

Comentários:<br />

No enunciado da questão 26 é apresentada a intenção da professora de<br />

integrar matemática e artes plásticas, duas áreas curriculares distintas. Para isso,<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 55


ela propõe aos alunos uma pesquisa sobre a obra do artista plástico Mondrian.<br />

Assim, busca estabelecer conexões entre a geometria, que é um campo da<br />

matemática, com a arte. A proposta da professora contempla o objetivo expresso na<br />

página 37 dos PCN, de “estabelecer conexões entre temas matemáticos de<br />

diferentes campos e entre esses temas e conhecimentos de outras áreas<br />

curriculares”, que corresponde à alternativa B.<br />

As alternativas A e E estão incorretas, pois não expressam os objetivos da<br />

educação matemática presentes nos PCN, conforme solicitado no enunciado da questão.<br />

A alternativa C está incorreta, pois apresenta parte de um objetivo da<br />

educação matemática para o Ensino Fundamental presente nos PCN, “comunicar-se<br />

matematicamente, ou seja, descrever, representar e apresentar resultados com<br />

precisão e argumentar sobre suas conjecturas, fazendo uso da linguagem oral e<br />

estabelecendo relações entre ela e diferentes representações matemáticas”. No<br />

entanto, a atividade proposta pela professora não dá conta de tal objetivo.<br />

A alternativa D está incorreta, pois coincide em parte com um dos objetivos<br />

expressos nos PCN, qual seja,<br />

resolver situações-problema, sabendo validar estratégias e<br />

resultados, desenvolvendo formas de raciocínio e processos, como<br />

dedução, indução, intuição, analogia, estimativa, e utilizando<br />

conceitos e procedimentos matemáticos, bem como instrumentos<br />

tecnológicos disponíveis (BRASIL, 1998).<br />

No entanto, os PCN não fazem referência explícita a conteúdos específicos como a<br />

identificação de ângulos referida na alternativa D. Tampouco a atividade proposta<br />

pela professora contempla o objetivo referido.<br />

Referência bibliográfica:<br />

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares<br />

nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

56 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 27<br />

Observe a ilustração abaixo.<br />

A fala do menino permite os comentários a seguir.<br />

I Quando o menino diz “e vão quatro”, utiliza-se de um mecanismo que não reflete<br />

o valor posicional do algarismo, realizando a operação de forma mecânica.<br />

II Expressões como “e vão quatro” ou “desce um” estão relacionadas à “troca”<br />

que ocorre na base 10, no sistema de numeração decimal, no entendimento de<br />

sua estrutura lógico-matemática.<br />

III O ensino de regras destituídas de significados pode estar na origem das<br />

dificuldades apresentadas por crianças, ao tentarem utilizar os algoritmos na<br />

resolução de problemas.<br />

IV A compreensão do valor posicional de um algarismo é favorecida quando a<br />

criança opera com materiais concretos em que pode agrupar elementos de dez<br />

em dez ou de cem em cem, por exemplo.<br />

São corretos os comentários<br />

(A) I e II, apenas.<br />

(B) I e III, apenas.<br />

(C) II e III, apenas.<br />

(D) II, III e IV, apenas.<br />

(E) I, II, III e IV.<br />

Tipo de questão: escolha múltipla com mais de uma alternativa correta.<br />

Conteúdos avaliados: resolução de problemas matemáticos, sistema de<br />

numeração decimal e valor posicional do número.<br />

Autor: Rosane da Conceição Vargas e Rosana Maria Gessinger<br />

Alternativa Correta: E<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 57


Comentários:<br />

As afirmativas I e II estão interligadas, portanto serão analisadas em conjunto.<br />

É necessário destacar que o sistema de numeração decimal, como seu nome<br />

expressa, é de base dez, ou seja, possui uma estrutura organizada de dez em dez.<br />

Além disso, é um sistema posicional, pois o valor dos algarismos depende da<br />

posição em que se encontram.<br />

As crianças, ao realizarem uma operação de multiplicação de unidade pela<br />

dezena (caso do menino da questão), devem compreender que o resultado da<br />

multiplicação sempre terá como resposta um numeral representando as dezenas.<br />

Quando a criança diz: “e vão quatro”, está demonstrando que pode não ter<br />

compreendido o valor posicional deste número, que neste caso é quarenta,<br />

mostrando desta forma, uma aprendizagem calcada na resolução direta do<br />

algoritmo, sem compreensão do valor relativo e absoluto do número e sem fazer as<br />

relações numéricas com o significado das operações.<br />

A afirmativa III está correta, pois o ensino da matemática deve se valer da<br />

resolução de problemas, ou seja, de situações significativas que criam desafios a<br />

serem vencidos, possibilitando o uso de conhecimentos prévios e de diferentes<br />

estratégias, sem dispor de procedimentos automáticos para chegar à solução,<br />

diferenciando-se assim dos meros exercícios repetitivos (POZO, 1998).<br />

A afirmativa IV está correta, pois reitera a ideia de que o conhecimento do<br />

valor posicional do número pode ser facilitado pelo uso de materiais concretos que<br />

permitam realizar agrupamentos de dez em dez, que irá facilitar ao aluno a<br />

realização das “trocas” a cada dez unidades. O esquema simbólico que usamos<br />

para representar os números deve ser coordenado com o esquema de<br />

agrupamento.<br />

Referência bibliográfica:<br />

POZO, Juan Ignácio (Org.). A solução de Problemas. Aprender a resolver, resolver<br />

para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998.<br />

58 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 28<br />

O menino que carregava água na peneira<br />

Tenho um livro sobre águas e meninos.<br />

Gostei mais de um menino<br />

que carregava água na peneira.<br />

A mãe disse<br />

que carregar água na peneira<br />

Era o mesmo que roubar um vento e sair correndo<br />

com ele pra mostrar aos irmãos.<br />

A mãe disse que era o mesmo que<br />

catar espinhos na água<br />

O mesmo que criar peixe no bolso.<br />

O menino era ligado em<br />

Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.<br />

A mãe reparou que o menino<br />

Gostava mais do vazio<br />

Do que do cheio.<br />

Falava que os vazios são maiores<br />

E até infinitos.<br />

Com o tempo aquele menino<br />

Que era cismado e esquisito<br />

Porque gostava de carregar água na peneira<br />

Manoel de Barros<br />

BARROS, M. de. Exercício de ser criança / bordados de Antônia<br />

Zulma Diniz, Ângela Marilu e Sávia Dumont sobre desenhos de<br />

Demóstenes Vargas. Rio de Janeiro: Salamandra, 1999.(fragmento)<br />

O texto e os bordados inventam uma realidade mágica e uma estética do corpo em<br />

movimento. Esses elementos expressivos mostram algumas características de<br />

linguagem:<br />

I possibilidades plásticas da linguagem escrita;<br />

II aproximação do mundo mágico com o mundo real pela metáfora da água na<br />

peneira;<br />

III literatura e arte visual como expressões dos conhecimentos que caracterizam o<br />

mundo infanto-juvenil;<br />

IV hegemonia dos aspectos gramaticais na criação dos textos literários.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 59


São características de linguagem evidenciadas no texto APENAS<br />

(A) I e II<br />

(B) II e III<br />

(C) III e IV<br />

(D) I, II e III<br />

(E) II, III e IV<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: características da linguagem e teoria da literatura.<br />

Autor: Maria Conceição Pillon Christofoli e Maria Inês Côrte Vitoria<br />

Alternativa correta: D<br />

Comentários:<br />

A questão 28 aborda, a partir do poema “O menino que carregava água na<br />

peneira”, alguns aspectos que merecem ser destacados. Nesse sentido, embora<br />

historicamente a constituição do gênero literário – diretamente vinculado à teoria da<br />

literatura – tenha se originado do impulso de contar histórias, da necessidade de<br />

comunicar aos outros alguma experiência, preservando íntima relação entre<br />

literatura e oralidade, a linguagem literária contemporânea se expande para além da<br />

oralidade, utiliza a palavra escrita e é rica em possibilidades plásticas oferecidas<br />

pela linguagem escrita. Cabe lembrar que as narrativas de caráter mágico e/ou<br />

fantasioso – difundidas e transmitidas pela oralidade – constituem-se como gênero<br />

literário durante o século XVII, com características próprias, pois decorre da<br />

ascensão da família burguesa, do novo "status" concedido à infância na sociedade e<br />

da reorganização da escola. Sua emergência deveu-se, antes de tudo, à sua<br />

associação com a <strong>Pedagogia</strong>, já que as histórias eram elaboradas para se<br />

converterem em instrumento didático. “O menino que carregava água na peneira” é<br />

um texto literário que, longe de priorizar os aspectos puramente gramaticais, se<br />

revela na dimensão estética, foge à prática corrente e (re)significa a linguagem de<br />

maneira peculiar, tanto na forma quanto no conteúdo.<br />

Dessa forma, pode-se dizer que a arte da linguagem explora todas as<br />

potencialidades do signo linguístico, conferindo-lhe um valor singular, ao combinar,<br />

de forma criativa, diferentes recursos. Considerando-se, portanto, a linguagem<br />

60 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


literária como manifestação estética da totalidade da experiência humana, não nos<br />

surpreende a constatação irrefutável de que não se conhece na história da<br />

humanidade nenhuma sociedade que não possua manifestação artística. Daí se<br />

dizer que a literatura é expressão do homem, do humano e meio privilegiado de<br />

comunicação, que se inicia com as primeiras experiências da criança com a<br />

linguagem: sons e ritmos aprendidos de maneira lúdica através das cantigas de<br />

ninar, das cantigas folclóricas, das cantigas de roda e dos jogos de palavras e<br />

fonemas. Nessa perspectiva, a leitura de poesias, contos, parlendas, peças de<br />

teatro, histórias em quadrinhos, crônicas, lendas, mitos, é a forma privilegiada de ler<br />

para nutrir e estimular o imaginário. Portanto a alternativa correta é a letra D, estão<br />

corretas as afirmações I, II e III.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 61


QUESTÃO 29<br />

Em uma Escola de Ensino Fundamental, a professora de crianças 1de 6 anos<br />

iniciará atividades para trabalhar o conceito de representação, importante para a<br />

alfabetização geográfica e desenvolvimento do pensamento histórico. Considerando<br />

as situações que contribuem para a construção do conceito em foco, analise as<br />

atividades apresentadas a seguir.<br />

I Os alunos devem trazer de casa suas fotos em idades diferentes, ordená-las<br />

cronologicamente e explicar as diferenças e semelhanças entre as imagens.<br />

II A professora apresenta quatro fotos de uma casa em tamanhos diferentes e<br />

pede para que os alunos as recortem e as ordenem da maior para a menor.<br />

III Os alunos observam pinturas famosas que retratam pessoas para reproduzi-las<br />

e destacar as que mais se aproximam das originais.<br />

IV A professora solicita que as crianças preencham com cores específicas as<br />

figuras geométricas previamente desenhadas por ela.<br />

As atividades que a professora deve trabalhar estão descritas APENAS em<br />

(A) I e II<br />

(B) I e III<br />

(C) II e III<br />

(D) II e IV<br />

(E) III e IV<br />

62 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 30<br />

Estudantes de 9 anos de uma Escola de Ensino Fundamental estudam a distribuição<br />

de água para a população.<br />

O professor inicia a atividade com perguntas como:<br />

• Toda água que sai da torneira é boa para beber?<br />

• A água suja pode se tornar limpa?<br />

• Existem casas sem água boa para beber?<br />

As respostas são discutidas. O professor realiza em sala atividades práticas como:<br />

• construção de uma maquete do sistema de distribuição de água da cidade;<br />

• experiência de decantação e filtração da água;<br />

• excursão à estação de tratamento de água da cidade.<br />

O trabalho é ampliado para o estudo da preservação ambiental e da situação da<br />

água potável da população, que não tem acesso à rede de abastecimento de água.<br />

Refletem sobre como o poder público cuida da qualidade da água e das questões<br />

ambientais e, ainda, sobre a responsabilidade social da população e dos<br />

governantes.<br />

A partir dessa descrição, considere as afirmações a seguir.<br />

I As perguntas iniciais respondidas pelos alunos permitem ao professor fazer o<br />

levantamento do conhecimento prévio dos alunos.<br />

II A contextualização dos temas ocorre durante as atividades, na inserção de<br />

aspectos do cotidiano dos alunos e da população.<br />

III O conhecimento científico desautoriza o conhecimento que os alunos trazem<br />

de suas experiências de vida, em relação ao meio ambiente.<br />

IV As crianças devem concluir que as questões relativas ao desmatamento<br />

próximo aos mananciais de água e a distribuição de água tratada a toda a<br />

população são de responsabilidade social exclusiva dos governos.<br />

De acordo com a descrição, são corretas APENAS as afirmações<br />

(A) I e II<br />

(B) I e III<br />

(C) I e IV<br />

(D) II e III<br />

(E) II e IV<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 63


Tipo de questão: escolha múltipla com mais de uma alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: Educação Ambiental.<br />

Autor: Isabel Cristina de Moura Carvalho<br />

Alternativa correta: A<br />

Comentários:<br />

A alternativa A é correta porque as afirmações I e II são claramente<br />

compatíveis com um trabalho de educação ambiental. A afirmação I mostra a<br />

estratégia pedagógica de problematização do tema discutido (água) a partir da<br />

realidade dos alunos e a realização de experimentos em sala de aula de modo a<br />

tornar mais concreta a compreensão dos processos da gestão da água e dos<br />

indicadores de qualidade da água, bem como inclui a visitação à estação de<br />

tratamento da água como um bom recurso de compreensão da realidade e<br />

sensibilização para a cidadania ambiental. A afirmação II completa esta estratégia<br />

destacando que a contextualização do tema ambiental trabalhado privilegiou a<br />

experiência cotidiana dos alunos, o contato crítico com a realidade e a tomada de<br />

consciência sobre a dimensão ambiental do cotidiano dos alunos e da população.<br />

A alternativa III é incorreta porque afirma o que se procura evitar num trabalho<br />

de educação ambiental, ou seja, o uso do conhecimento científico como<br />

desqualificador ou desautorizador do conhecimento que os alunos trazem de sua<br />

experiência de vida. O objetivo neste caso é a produção de um novo conhecimento<br />

que parta da experiência e avance com a formação científica, reconhecendo no<br />

diálogo de saberes entre a ciência e a experiência dos grupos sociais uma<br />

oportunidade de formação e não a desqualificação do saber da experiência.<br />

A alternativa IV é incorreta porque remete o diagnóstico dos problemas<br />

ambientais identificados a uma solução de exclusiva responsabilidade do poder<br />

público. A cidadania ambiental implica a corresponsabilidade de todos os setores<br />

sociais. Governo e população são responsáveis e deveriam ser parceiros na busca<br />

de soluções ambientalmente corretas. A responsabilização exclusiva dos governos<br />

é, assim como seu oposto, a culpabilizaçao dos indivíduos, um reducionismo que em<br />

nada contribui para a sustentabilidade social e ambiental.<br />

64 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 31<br />

Os alunos da EJA chegam à sala de aula com saberes construídos a partir de suas<br />

vivências em todos os contextos por onde circulam – familiar, profissional, de lazer<br />

ou religioso. Os professores devem trabalhar tais saberes por meio de atividades em<br />

que sejam<br />

(A) avaliados para uma compreeensão dos erros epistemológicos.<br />

(B) integrados aos conteúdos das diferentes áreas do conhecimento.<br />

(C) reconstruídos em torno de parâmetros de correção prévios.<br />

(D) relativizados por serem construídos fora do processo de escolarização.<br />

(E) esvaziados por sua associação ao fracasso escolar dos alunos.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: EJA e currículo.<br />

Autor: Jussara Margareth de Paula Loch<br />

Alternativa correta: B<br />

Comentários:<br />

A alternativa que responde corretamente à questão 31 é a B. Os alunos da<br />

EJA, ao longo da vida, aprendem e, portanto, detêm saberes que não podem ser<br />

ignorados, relativizados por serem construídos fora do processo de escolarização ou<br />

esvaziados por sua associação ao fracasso escolar dos alunos, já que é provável<br />

que um dos motivos deste fracasso, de não aprendizagem, de frustrações, seja<br />

justamente o fato de que seus saberes e suas culturas não foram considerados na<br />

organização curricular. Bernstein, ao tentar compreender quais as razões que<br />

poderiam estar na origem deste fracasso, bem como o papel das diferentes<br />

pedagogias no processo de reprodução cultural, desenvolve os conceitos de código<br />

elaborado – suposto pela escola e código restrito – das classes operárias/populares,<br />

afirmando que a criança da classe popular já entra em desvantagem na escola pelo<br />

tipo de código nela utilizado.<br />

Se considerarmos que conhecimento engloba a totalidade da experiência<br />

humana, partir sempre da experiência concreta dos indivíduos situados no seu grupo ou<br />

sociedade é um procedimento metodológico que decorre desta compreensão (Freire).<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 65


Na EJA, portanto, há que se considerar os interesses do jovem, adulto e idoso<br />

trabalhador com seus conhecimentos socialmente constituídos e integrá-los aos<br />

conteúdos das diferentes áreas do conhecimento, já que, ao partir dos<br />

conhecimentos dos educandos e das suas relações com o mundo, e ao integrá-los<br />

aos conteúdos das diferentes áreas, estes conhecimentos vão sendo desvelados,<br />

ampliados e aprofundados. Para isto é necessária uma atitude permanente de<br />

pesquisa na relação entre educador e educando na perspectiva de conhecer o que o<br />

aluno já construiu de conhecimentos, assim como o que está em construção e o que<br />

ele ainda não conhece. Esse entendimento permitirá, então, organizar o<br />

conhecimento a ser trabalhado através de atividades, estratégias pedagógicas ou<br />

situações de experiências para se aplicar o conhecimento em sua busca de<br />

construções de novas ações. Portanto, na concepção dialética da educação, o<br />

conhecimento nasce da prática social e, na escola, ao ser problematizado,<br />

sistematizado, volta a ela ressignificado.<br />

66 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 32<br />

A Escola Nova Fronteira apresentava altos índices de reprovação e de violência. Na<br />

avaliação dos professores, as práticas pedagógicas eram individualizadas e não<br />

havia articulação interna ou com a comunidade. A professora Clara foi eleita diretora<br />

e entendeu que os aspectos administrativos deveriam dar sustentação aos<br />

pedagógicos. Liderou um movimento de organização da escola em direção a uma<br />

instituição autônoma e democrática.<br />

Para isso, Clara considerou alguns dos princípios a seguir.<br />

I A implementação do projeto político-pedagógico constrói a identidade da<br />

instituição por meio de permanente reflexão e discussão.<br />

II A participação dos pais e da comunidade nas assembléias escolares é uma<br />

forma de aproximar a escola da sociedade.<br />

III A centralização das ações desburocratiza os processos de gestão e de<br />

organização.<br />

IV A gestão colegiada organiza o trabalho pedagógico, viabilizando a ampla<br />

participação.<br />

São princípios da gestão democrática, que devem ser considerados por essa<br />

professora APENAS<br />

(A) I e II<br />

(B) II e III<br />

(C) II e IV<br />

(D) I, II e IV<br />

(E) I, II, III e IV<br />

Tipo de questão: escolha múltipla com mais de uma alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: gestão escolar.<br />

Autor: Zuleica Almeida Rangel<br />

Alternativa correta: D<br />

Comentários:<br />

A alternativa D é a correta, tendo em vista que a equipe desempenha um<br />

papel de referência e que o desenvolvimento de práticas democráticas no interior da<br />

escola depende muito diretamente da postura assumida pela gestão. Ao considerar<br />

os princípios citados nas afirmativas I, II e IV, a diretora busca reforçar a<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 67


intencionalidade da mudança, explicitada no Projeto Político-Pedagógico,<br />

favorecendo o estabelecimento de uma linha comum de ação a partir de uma visão<br />

compartilhada de homem, de mundo e de educação; implementar a construção da<br />

identidade da escola, objetivando “fazer a escola funcionar pautada num projeto<br />

coletivo” (VASCONCELLOS, 2002, p.61); superar as práticas individualizadas,<br />

resgatando o diálogo entre sociedade e escola; e descentralizar o poder, que numa<br />

gestão colegiada flui entre todos os sujeitos envolvidos, na dimensão da autoridade<br />

de cada um.<br />

A alternativa III é incorreta porque sinaliza um princípio que não tem<br />

coerência com a concepção de uma gestão democrática.<br />

Referência bibliográfica:<br />

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do<br />

Projeto Político-Pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo; Libertad, 2002.<br />

68 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 33<br />

A partir dos anos 1990 foram realizadas várias reformas curriculares no âmbito das<br />

instituições educativas, dentre elas, as propostas de reorganização dos anos de<br />

escolaridade em ciclos, que trouxeram mudanças significativas para a estruturação<br />

curricular e a avaliação, com a implantação da progressão continuada. Tais<br />

experiências fizeram constatar que a implementação de novas propostas nas<br />

escolas necessita que as(os)<br />

(A) particularidades da implementação em cada escola sejam programadas pelos<br />

níveis centrais.<br />

(B) equipes diretoras aceitem a proposta e a desenvolvam com o apoio do<br />

coordenador pedagógico.<br />

(C) ações pedagógicas e administrativas sejam modificadas de forma coletiva e<br />

participativa.<br />

(D) projetos oficiais prescrevam com clareza as ações a serem executadas.<br />

(E) programas de formação continuada aconteçam depois do processo de<br />

implementação.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: planejamento participativo.<br />

Autor: Jussara Margareth de Paula Loch<br />

Alternativa correta: C<br />

Comentários:<br />

A alternativa que responde corretamente à questão 33 é a C. As alternativas<br />

A, B, D e E são incorretas, pois o planejamento não deverá ser verticalizado de cima<br />

para baixo, pelos níveis centrais, uma vez que os atores deste processo não<br />

poderão ser apenas executores de projetos oficiais mesmo que prescrevam com<br />

clareza as ações a serem executadas e que sejam constituídos programas de<br />

formação continuada depois do processo de implementação. Essas ações não são<br />

favorecedoras de processos de mudança.<br />

Dessa forma, a alternativa correta prevê que a implementação de novas<br />

propostas nas escolas necessita que as ações pedagógicas e administrativas sejam<br />

modificadas de forma coletiva e participativa. Equivale a dizer que os atores são<br />

protagonistas do planejamento, execução e avaliação dessa implementação.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 69


Reconfigurar currículos é tarefa de diálogo entre todos os segmentos da<br />

comunidade escolar.<br />

A modificação e o compromisso com a ação transformadora das práticas<br />

pedagógicas passam pelo planejamento coletivo e participativo, pois neste processo<br />

se garante a mobilização para a ação-discussão, debate de diferenças, às vezes<br />

contraditórias, concepções presentes no cotidiano das escolas; garante-se a<br />

organização dos grupos, tornando-os protagonistas das ações a serem<br />

implementadas, definindo responsáveis e cronogramas das ações; e ao mesmo<br />

tempo garante-se o caráter educativo e político de todos os grupos implicados nessas<br />

transformações. Nessa perspectiva, se tornam coconstrutores dessas novas<br />

propostas independentemente do nível em que venham a atuar e, portanto, diminuem<br />

os processos de resistência às mudanças encaminhadas sem o seu compromisso. É<br />

desafio coletivo, de gestão democrática, que exige pensar mais do que numa<br />

intervenção específica, mas numa organização de Projeto Político-Pedagógico em<br />

que a diversidade da sociedade esteja contemplada e, portanto, presente.<br />

O planejamento participativo se dá numa relação dialógica com o outro e com<br />

o mundo, portanto, a partir da realidade conhecida, desvelada propõem-se ações<br />

renovadas, solidárias e globais. O processo de ensino-aprendizagem é<br />

responsabilidade de todos e se constrói na contínua interação entre os sujeitos.<br />

70 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 34<br />

Uma organização social com foco no trabalho com crianças e adolescentes em<br />

situação de risco está tendo problemas de evasão dos participantes do projeto de<br />

iniciação musical e profissionalização. Os gestores ficaram preocupados, pois o<br />

projeto conta com músicos experientes, recursos e equipamentos adequados.<br />

Considerando os princípios da gestão, qual o primeiro procedimento para tentar<br />

resolver o problema?<br />

(A) Disponibilizar recursos financeiros.<br />

(B) Investir na formação docente.<br />

(C) Fazer diagnóstico sobre a situação.<br />

(D) Promover ações que envolvam a comunidade.<br />

(E) Reorganizar a gestão de pessoas.<br />

Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: gestão do ensino não formal.<br />

Autor: Afonso Strehl<br />

Alternativa correta: C<br />

Comentários:<br />

O tema desta questão focaliza o campo da gestão do ensino não formal,<br />

abordando o problema da evasão num projeto de iniciação musical e profissional<br />

para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.<br />

A gestão do ensino, tanto em espaços educativos formais (escolas) quanto em<br />

espaços não formais (outras organizações sociais), requer conhecimentos específicos<br />

e habilidades gerenciais por partes. A administração de uma organização social com<br />

escopo educativo possui similaridade com uma empresa no que se refere à gestão de<br />

problemas. Perante uma situação desafiadora como a descrita na questão 34 (a<br />

evasão), cabe adotar os seguintes passos para a busca de solução:<br />

a) análise da situação atual a partir de um levantamento de dados sobre o<br />

problema, com vistas a identificar suas causas e condições, possibilitando o<br />

estabelecimento de um diagnóstico fundamentado;<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 71


) definição de objetivos a serem atingidos, mediante a proposição da<br />

situação ideal à que se pretende chegar, com metas claramente explicitadas;<br />

c) apresentação de estratégias para enfrentar as causas do problema,<br />

definindo os passos a serem percorridos para alcançar os objetivos propostos (a<br />

solução do problema);<br />

c) implementação das estratégias por meio da execução de ações que<br />

conduzam ao cumprimento das metas propostas para a superação do problema;<br />

d) acompanhamento e avaliação das atividades realizadas, mediante<br />

monitoramento, controle e feedback.<br />

A análise dos diferentes passos elencados para a solução de problemas<br />

evidencia que o primeiro procedimento é a realização de um diagnóstico que permita<br />

uma análise precisa da situação existente. Portanto, a alternativa correta é a C.<br />

72 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


QUESTÃO 35<br />

A Escola Municipal Maíra vem modificando as características de sua gestão.<br />

Ampliou as ligações com a comunidade em seu entorno e fortaleceu o conselho<br />

escolar, que tem acompanhado a freqüência e o desempenho dos alunos. Quando<br />

surgem problemas, os membros do conselho, formado por professores, alunos, pais,<br />

funcionários e representantes da comunidade, conversam entre si, com os<br />

professores e a família do aluno. Além disso, o conselho participa das decisões<br />

pedagógicas e administrativas, inclusive no que tange ao uso dos recursos<br />

financeiros da escola, seja para obras de manutenção, para passeios educativos ou<br />

para a compra de materiais didáticos.<br />

De acordo com a regulamentação municipal, haverá novas eleições para o conselho<br />

escolar no próximo ano.<br />

A escola apresentada nesse texto está atuando<br />

I de forma equivocada, pois envolve os alunos nas decisões pedagógicas e<br />

administrativas;<br />

II em consonância com as concepções democráticas de gestão, pois redefine os<br />

membros do conselho por meio de eleições periódicas;<br />

III em desacordo com a LDBEN 9.394/1996, pois permite que pessoas de fora da<br />

escola interfiram em sua gestão;<br />

IV de acordo com a LDBEN 9.394/1996, pois tem um conselho escolar atuante,<br />

com participação comunitária.<br />

Está(ão) correta(s) APENAS a(s) afirmação(ões)<br />

(A) II<br />

(B) III<br />

(C) IV<br />

(D) I e III<br />

(E) II e IV<br />

Tipo de questão: escolha múltipla com mais de uma alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: gestão escolar.<br />

Autor: Afonso Strehl<br />

Alternativa correta: E<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 73


Comentários:<br />

A LDB atual, preocupada com a gestão democrática, estabelece dois<br />

princípios a serem adotados pelos sistemas públicos de ensino na administração de<br />

suas escolas: a) “participação dos profissionais da educação na elaboração do<br />

projeto pedagógico da escola; b) participação das comunidades escolar e local em<br />

conselhos escolares”<br />

(Lei nº 9.394/96, art. 14).<br />

O princípio apontado na alínea “b” indica a opção por uma política de<br />

integração de esforços da família, da comunidade e da escola em prol de melhor<br />

formação a ser proporcionada aos alunos.<br />

A experiência de diversos países onde a família atua em sintonia com a<br />

escola, participando ativamente do enfrentamento dos desafios a que a escola está<br />

submetida, comprova que existe uma relação direta entre o nível de participação da<br />

comunidade na vida escolar e o desempenho apresentado pelos estudantes.<br />

No Rio Grande do Sul, a Lei nº 10.576/95, alterada pela Lei nº 11.695/2001,<br />

que dispõe sobre a Gestão Democrática do Ensino Público, prevê, dentre outras, as<br />

seguintes atribuições do Conselho Escolar:<br />

a) “aprovar o Plano Integrado da Escola;<br />

b) aprovar o plano de aplicação financeira da escola;<br />

c) apreciar a prestação de contas do Diretor;<br />

d) coordenar, em conjunto com a direção da escola, o processo de discussão,<br />

elaboração ou alteração do Regimento Escolar;<br />

e) encaminhar, quando for o caso, à autoridade competente, proposta de<br />

instauração de sindicância para os fins de destituição de Diretor da escola [...];<br />

f) analisar os resultados da avaliação interna e externa da escola (exemplos:<br />

ENEM, SAEB, Prova Brasil, IDEB), propondo alternativas para a melhoria do seu<br />

desempenho;<br />

g) analisar e apreciar as questões de interesse da escola a ele<br />

encaminhadas” (Lei nº 10.576/95, art. 42).<br />

No enunciado da questão 35, estão descritas importantes características de<br />

uma gestão de cunho democrático:<br />

a) estreita ligação da escola com a comunidade em seu entorno;<br />

74 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


) existência de um conselho escolar, integrado por professores, alunos, pais,<br />

funcionários, gestores e representantes da comunidade;<br />

c) diálogo entre os representantes dos diversos segmentos representativos da<br />

comunidade escolar;<br />

d) acompanhamento do desempenho e da assiduidade dos alunos pelo<br />

conselho escolar;<br />

e) participação efetiva do conselho escolar nas decisões estratégicas da<br />

escola, envolvendo aplicação de verbas na manutenção do estabelecimento de<br />

ensino, na realização de passeios e na compra de materiais didáticos necessários<br />

ao desenvolvimento das atividades da escola;<br />

f) realização periódica de eleições para a composição do conselho escolar.<br />

De acordo com as características de gestão adotadas na Escola Municipal<br />

Maíra e apresentadas no enunciado da questão, podemos afirmar com segurança<br />

que estão corretas as afirmações contidas no item II (previsão de eleições periódicas<br />

para o conselho escolar) e no item IV (conselho escolar atuante, com participação<br />

de diversos segmentos da comunidade), uma vez que tais características mantêm<br />

perfeita sintonia com a legislação exposta.<br />

Portanto, a alternativa correta é a E.<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 75


QUESTÃO 36<br />

Considere os depoimentos para responder à questão.<br />

Qual das afirmações abaixo analisa corretamente um ou mais dos depoimentos<br />

desses coordenadores pedagógicos?<br />

(A) Lucas e Henrique possuem uma concepção de coordenação proveniente da<br />

pedagogia renovada, já que enfatizam um posicionamento crítico, voltado às<br />

questões sociais.<br />

(B) Lucas e Ely demonstram ser técnicos normatizadores, pois seus procedimentos<br />

estão voltados à manutenção da ordem e às questões administrativas.<br />

(C) A visão de Ely sobre coordenação pedagógica está calcada em um modelo de<br />

gestão técnico-científico, pois se preocupa com o desenvolvimento profissional<br />

dos docentes.<br />

(D) A atividade proposta por Maria reflete um modelo de gestão participativa, na medida<br />

em que corresponde a uma prática passível de ser controlada em detalhes.<br />

(E) O depoimento de Henrique revela uma visão de coordenação que privilegia a<br />

técnica, voltada para o controle do comportamento, para o desempenho e para<br />

os resultados.<br />

76 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


Tipo de questão: escolha simples, com indicação da alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: coordenação pedagógica.<br />

Autor: Zuleica Almeida Rangel e Leunice Martins de Oliveira<br />

Alternativa correta: E<br />

Comentários:<br />

A alternativa A é incorreta, pois somente Lucas possui uma concepção<br />

proveniente da <strong>Pedagogia</strong> Renovada, que considera a educação como parte da própria<br />

experiência humana. A escola renovada propõe um ensino que valorize a<br />

autoeducação (o aluno como sujeito do conhecimento), ou seja, a vivência da<br />

experiência direta do meio pela atividade. Já Henrique demonstra a preocupação com<br />

procedimentos e técnicas necessárias ao arranjo do controle das condições ambientais,<br />

utilizando-se da aplicação sistemática de princípios científicos comportamentais e<br />

tecnológicos, sem demonstrar preocupação com os problemas educacionais.<br />

A alternativa B é incorreta porque somente Ely demonstra ser técnico<br />

normatizador, modelo em que os indivíduos adaptam-se aos valores e às normas<br />

vigentes. Para Lucas, cabe à escola suprir as experiências que permitam ao aluno<br />

educar-se, num processo ativo de construção e reconstrução do objeto.<br />

A alternativa C é incorreta, pois no modelo de gestão em que Ely se baseia, a<br />

preocupação se atém ao alcance de resultados e não com o processo, não sendo,<br />

portanto, necessário investir no desenvolvimento profissional dos professores.<br />

A alternativa D também é incorreta, uma vez que a ação de Maria reflete um<br />

modelo de gestão compartilhada, a qual supõe uma prática interativa e dialógica,<br />

com o acompanhamento e a avaliação de todos os partícipes do processo.<br />

A alternativa E é a correta, considerando-se que Henrique revela uma visão de<br />

coordenação que privilegia a técnica, em que a escola funciona como modeladora do<br />

comportamento humano, e compete à educação organizar o processo de aquisição de<br />

habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os<br />

indivíduos se integrem na máquina do sistema social global. A escola atua, assim, no<br />

aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista).<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 77


QUESTÃO 37<br />

O ano de <strong>2008</strong> foi repleto de atividades e comemorações na Escola Machado de<br />

Assis, devido ao centenário de morte do grande escritor brasileiro. O resultado<br />

desse processo necessitava ser sistematizado e socializado. Para isso, considerouse<br />

a possibilidade de desenvolver as seguintes atividades:<br />

I organizar reuniões com docentes das escolas vizinhas para que os mesmos<br />

procedimentos fossem adotados pelas demais;<br />

II publicar as produções de alunos e professores, visando à valorização e difusão<br />

do conhecimento;<br />

III convidar um especialista no tema para ratificar a qualidade das produções dos<br />

alunos e legitimar os conhecimentos construídos;<br />

IV realizar um período de culminância das atividades, com exposições,<br />

apresentações artísticas e demonstrações para a comunidade.<br />

A(s) atividade(s) coerente(s) como uma concepção da escola como produtora de<br />

conhecimento e de vivências democráticas é(são) APENAS<br />

(A) I<br />

(B) II<br />

(C) II e III<br />

(D) II e IV<br />

(E) III e IV<br />

Tipo de questão: escolha múltipla com mais de uma alternativa correta.<br />

Conteúdo avaliado: publicação das produções de alunos e professores.<br />

Autor: Jussara Margareth de Paula Loch<br />

Alternativa correta: D<br />

Comentários:<br />

A alternativa que responde corretamente à questão 37 é a D. A publicação das<br />

produções de alunos e professores, visando à valorização e difusão do conhecimento,<br />

e a realização de um período de culminância das atividades, com exposições,<br />

apresentações artísticas e demonstrações para a comunidade são formas de<br />

proporcionar a publicização das produções realizadas, assim como de qualificar o<br />

conhecimento construído em determinado período sobre determinado tema. A relação<br />

dialética da construção do conhecimento prevê, segundo Freire, três momentos: ação<br />

X reflexão X ação. Nesta perspectiva, a sistematização e a socialização irão contribuir<br />

para a qualificação do processo de aprendizagem, na medida em que haverá partilha<br />

entre diferentes conhecimentos, visões e perspectivas.<br />

78 Elaine Turk Faria, Maria Conceição Pillon Christofoli (Orgs.)


Afonso Strehl<br />

Ana Lúcia Souza de Freitas<br />

Beatriz Kulisz<br />

Elaine Turk Faria<br />

Helena Sporleder Côrtes<br />

Isabel Cristina de Moura Carvalho<br />

Jussara Margareth de Paula Loch<br />

Leunice Martins de Oliveira<br />

Marcos Villela Pereira<br />

Maria Conceição Pillon Christofoli<br />

Maria Helena Camara Bastos<br />

Maria Inês Côrte Vitoria<br />

Maria Waleska Cruz<br />

Nadja Hermann<br />

Patricia Pinto Wolffenbuttel<br />

Rosana Maria Gessinger<br />

Rosane da Conceição Vargas<br />

Zuleica Almeida Rangel<br />

LISTA DE CONTRIBUINTES<br />

<strong>ENADE</strong> <strong>Comentado</strong> <strong>2008</strong>: <strong>Pedagogia</strong> 79

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