Daniel Goleman - Inteligencia Emocional
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O efeito líquido dessas atitudes angustiantes é criar crises incessantes, porque provocam seqüestros emocionais com mais freqüência e tomam mais difícil recuperar-se da dor e fúria resultantes. Gottman emprega o termo apropriado inundaçao para essa susceptibilidade a freqüentes angústias emocionais; os maridos ou esposas inundados ficam tão esmagados pela negatividade do cônjuge e sua própria reação a ela que se vêem alagados por sentimentos pavorosos e descontrolados. As pessoas inundadas não ouvem sem distorção nem respondem com lucidez; acham difícil organizar os pensamentos e recaem em reações primitivas. Querem que tudo pare, ou desejam fugir, ou, às vezes, revidar. A inundação é um seqüestro emocional que se autoperpetua. Algumas pessoas têm altos limiares de inundação, suportando com facilidade a ira e o desprezo, enquanto outras são provocadas assim que os cônjuges fazem uma crítica leve. A descrição técnica da inundação é em termos de elevação de batimentos cardíacos a partir de níveis calmos. Em repouso, os batimentos cardíacos das mulheres são cerca de 82 por minuto, os dos homens, cerca de 72 (a taxa específica varia de acordo com as dimensões do corpo). A inundação começa em cerca de 10 batidas acima da taxa da pessoa em repouso; se chega a 100 batidas por minuto (como acontece facilmente em momentos de ira ou pranto), o corpo está bombeando adrenalina e outros hormônios que mantêm a perturbação alta por algum tempo. O momento de seqüestro emocional é visível pelo ritmo cardíaco: pode subir 10, 20 ou mesmo até 30 batidas por minuto no espaço de uma única batida. Os músculos ficam tensos; a respiração opressa. Vem uma inundação de pensamentos tóxicos, uma desagradável onda de medo e ira que parece inevitável e, subjetivamente, dura "uma etemidade" para passar. Nesse ponto pleno seqüestro , as emoções da pessoa são tão intensas, sua perspectiva tão estreita e seus pensamentos tão confusos, que não há esperança de adotar o ponto de vista do outro ou resolver o assunto de uma maneira nacional. Claro, a maioria dos maridos e esposas tem esses momentos intensos de vez em quando, quando brigam é muito natural. O problema para um casamento começa quando um ou outro dos cônjuges se sente inundado quase continuamente. Aí se sente esmagado pelo outro, vive em guarda contra um ataque ou injustiça emocionais, toma-se hipervigilante para algum sinal de ataque, insulto ou queixa, e com certeza reagirá mesmo ao menor sinal. Se um marido se acha nesse estado, o fato de a esposa dizer "Querido, a gente precisa ter uma conversa" desperta o pensamento reativo "Está puxando briga de novo", e com isso dispara a inundação. Torna-se cada vez mais difícil recuperar-se da estimulação fisiológica, o que por sua vez torna mais fácil fazer com que diálogos inócuos sejam vistos a uma luz sinistra, disparando de novo toda a inundação. Esse é talvez o ponto crítico mais perigoso para o casamento, uma mudança catastrófica no relacionamento. O cônjuge inundado passou a pensar o pior do outro praticamente o tempo todo, vendo tudo que ele faz sob um aspecto negativo. Pequenas bobagens tomam-se grandes batalhas; os sentimentos são continuamente magoados. Com o tempo, o cônjuge começa a ver cada um e todos os problemas no casamento como sérios e impossíveis de sanar, uma vez que a própria inundação sabota qualquer tentativa de resolver as coisas. Com a continuação disso, começa a parecer inútil discuti-las, e os cônjuges tentam aliviar por si mesmos seus sentimentos perturbados. Começam a viver vidas paralelas, essencialmente isolados um do outro, e sentem-se sozinhos dentro do casamento. Gottman constata que com demasiada freqüência o passo seguinte é o divórcio. Nessa trajetória para o divórcio, as trágicas conseqüências dos déficits de aptidão emocional são evidentes por si mesmas. Quando o casal se vê apanhado no reverberante ciclo de crítica e desprezo,
defensividade e mutismo, pensamentos angustiantes e inundação emocional, o próprio ciclo reflete a desintegração da autoconsciência e do autocontrole emocional, da empatia e da capacidade de aliviar um ao outro e a si mesmo. HOMENS: O SEXO VULNERÁVEL Voltemos às diferenças de gênero na vida emocional, que se revelam um aguilhão oculto para os fracassos conjugais. Vejam esta constatação: mesmo após trinta e cinco anos ou mais de casamento, há uma distinção básica entre maridos e esposas na maneira de encararem choques emocionais. As mulheres, em média, nem de longe se incomodam tanto em mergulhar no dissabor de um bate-boca conjugal quanto os homens de suas vidas. Essa conclusão, a que chegou um estudo de Robert Levenson, da Universidade da Califómia, em Berkeley, se baseia no depoimento de 151 casais; todos em casamentos duradouros. Levenson constatou que os homens, unanimemente, achavam desagradável e eram mesmo aversos a irritar-se com uma disputa conjugal, enquanto suas mulheres não se incomodavam muito. Os homens são inclinados à inundação numa mais baixa intensidade de negatividade que suas esposas; mais homens que mulheres reagem à crítica do cônjuge com uma inundação. Uma vez inundados, os maridos secretam mais adrenalina na corrente sanguínea, e o fluxo de adrenalina é disparado por níveis mais baixos de negatividade da parte das esposas; os maridos levam mais tempo para recuperar-se fisiologicamente da inundação. Isso sugere a possibilidade de aquela estóica imperturbabilidade masculina, tipo Clint Eastvood, representar uma defesa contra a sensação de esmagamento emocional. Gottman sugere que o motivo para os homens terem tanta probabilidade de fechar-se em copas é proteger-se da inundação: sua pesquisa mostrou que assim que começavam a fechar-se, seus batimentos cardíacos caíam cerca de 10 por minuto, trazendo um subjetivo senso de alívio. Mas - e aí está um paradoxo - uma vez que eles começavam a emudecer, era nas esposas que o ritmo cardíaco disparava para níveis que assinalavam grande angústia. Esse tango límbico, com cada sexo buscando alívio em jogadas contrárias, leva a uma atitude muito diferente em relação ao confronto emocional: os homens querem evitá-los com o mesmo ardor com que as esposas se sentem obrigadas a buscá-los. Assim como os homens têm muito mais probabilidade de fechar-se em copas, as mulheres têm mais de criticar os maridos. Essa assimetria surge como resultado de as esposas cumprirem seu papel de administradoras de emoção. Enquanto elas tentam levantar e resolver discordâncias e queixas, os maridos relutam mais em meter-se no que vão ser discussões acaloradas. Quando a esposa vê o marido retirar-se da briga, aumenta o volume e intensidade da queixa, começando a criticá-lo. Enquanto ele se toma defensivo ou se fecha, ela se sen te frustrada e furiosa, e assim acrescenta desprezo para sublinhar a força de sua sua frustração Quando o marido se vê objeto da crítica e desprezo da esposa, começa a cair nos pensamentos de vítima inocente ou de justa indignação que provocam cada vez mais facilmente a inundação. Para proteger-se da inundação, torna-se cada vez mais defensivo ou simplesmente se fecha em copas por completo. Mas, Mas quando os maridos se fecham, lembrem, isso dispara a inundação nas esposas, que se sentem inteiramente barradas. E, à medida que o ciclo de brigas maritais cresce~ é demasiado fácil perder o controle. DELE E DELA CONSELHO CONJUGAL Em vista do triste resultado potencial das diferenças nas maneiras como homens e mulheres lidam com sentimentos perturbadores em seus relacionamentos, que podem fazer os casais para proteger o
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defensividade e mutismo, pensamentos angustiantes e inundação emocional, o próprio ciclo reflete<br />
a desintegração da autoconsciência e do autocontrole emocional, da empatia e da capacidade de<br />
aliviar um ao outro e a si mesmo.<br />
HOMENS: O SEXO VULNERÁVEL<br />
Voltemos às diferenças de gênero na vida emocional, que se revelam um aguilhão oculto para os<br />
fracassos conjugais. Vejam esta constatação: mesmo após trinta e cinco anos ou mais de casamento,<br />
há uma distinção básica entre maridos e esposas na maneira de encararem choques emocionais. As<br />
mulheres, em média, nem de longe se incomodam tanto em mergulhar no dissabor de um bate-boca<br />
conjugal quanto os homens de suas vidas. Essa conclusão, a que chegou um estudo de Robert<br />
Levenson, da Universidade da Califómia, em Berkeley, se baseia no depoimento de 151 casais;<br />
todos em casamentos duradouros. Levenson constatou que os homens, unanimemente, achavam<br />
desagradável e eram mesmo<br />
aversos a irritar-se com uma disputa conjugal, enquanto suas mulheres não se incomodavam muito.<br />
Os homens são inclinados à inundação numa mais baixa intensidade de negatividade que suas<br />
esposas; mais homens que mulheres reagem à crítica do cônjuge com uma inundação. Uma vez<br />
inundados, os maridos secretam mais adrenalina na corrente sanguínea, e o fluxo de adrenalina é<br />
disparado por níveis mais baixos de negatividade da parte das esposas; os maridos levam mais<br />
tempo para recuperar-se fisiologicamente da inundação. Isso sugere a possibilidade de aquela<br />
estóica imperturbabilidade masculina, tipo Clint Eastvood, representar uma defesa contra a<br />
sensação de esmagamento emocional.<br />
Gottman sugere que o motivo para os homens terem tanta probabilidade de fechar-se em copas é<br />
proteger-se da inundação: sua pesquisa mostrou que assim que começavam a fechar-se, seus<br />
batimentos cardíacos caíam cerca de 10 por minuto, trazendo um subjetivo senso de alívio. Mas - e<br />
aí está um paradoxo - uma vez que eles começavam a emudecer, era nas esposas que o ritmo<br />
cardíaco disparava para níveis que assinalavam grande angústia. Esse tango límbico, com cada sexo<br />
buscando alívio em jogadas contrárias, leva a uma atitude muito diferente em relação ao confronto<br />
emocional: os homens querem evitá-los com o mesmo ardor com que as esposas se sentem<br />
obrigadas a buscá-los.<br />
Assim como os homens têm muito mais probabilidade de fechar-se em copas, as mulheres têm mais<br />
de criticar os maridos. Essa assimetria surge como resultado de as esposas cumprirem seu papel de<br />
administradoras de emoção.<br />
Enquanto elas tentam levantar e resolver discordâncias e queixas, os maridos relutam mais em<br />
meter-se no que vão ser discussões acaloradas. Quando a esposa vê o marido retirar-se da briga,<br />
aumenta o volume e intensidade da queixa, começando a criticá-lo. Enquanto ele se toma defensivo<br />
ou se fecha, ela se sen te frustrada e furiosa, e assim acrescenta desprezo para sublinhar a força de<br />
sua sua frustração Quando o marido se vê objeto da crítica e desprezo da esposa, começa a cair nos<br />
pensamentos de vítima inocente ou de justa indignação que provocam cada vez mais facilmente a<br />
inundação. Para proteger-se da inundação, torna-se cada vez mais defensivo ou simplesmente se<br />
fecha em copas por completo. Mas, Mas quando os maridos se fecham, lembrem, isso dispara a<br />
inundação nas esposas, que se sentem inteiramente barradas. E, à medida que o ciclo de brigas<br />
maritais cresce~ é demasiado fácil perder o controle.<br />
DELE E DELA CONSELHO CONJUGAL<br />
Em vista do triste resultado potencial das diferenças nas maneiras como homens e mulheres lidam<br />
com sentimentos perturbadores em seus relacionamentos, que podem fazer os casais para proteger o