Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

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27.04.2013 Views

O que leva ao estratagema final de Jay: assumindo a firmeza e a voz autoritária da mãe, ameaça: - Chora não, Len. Leva palmada! Esse microdrama revela a notável sofisticação emocional que uma criança de apenas dois anos e meio pode usar ao tentar lidar com as emoções de outra pessoa. Em suas urgentes tentativas de consolar o irmão, Jay pode recorrer a um grande repertório de táticas, que vão do simples pedido a buscar uma aliada na mãe (que não adianta), a consolá-lo fisicamente, a ajudá-lo, a distraí-lo, a ameaças e ordens diretas. Sem dúvida Jay se baseia num arsenal que foi tentado com ele em seus próprios momentos de aflição. Não importa. O que conta é que ele pode usá-los prontamente nessa tenríssima idade. Claro, como sabe todo pai de crianças pequenas, a demonstração de empatia e consolação de Jay não é de modo algum universal. Talvez seja igualmente provável que uma criança dessa idade veja a aflição de um irmão como uma oportunidade de vingança, e com isso faça o que for preciso para piorar mais ainda a aflição. As mesmas aptidões podem ser usadas para provocar ou atormentar um irmão. Mas mesmo essa maldade revela o surgimento de uma crucial aptidão: a capacidade de conhecer os sentimentos de outra pessoa e agir de maneira a moldar mais ainda esses sentimentos. Poder controlar as emoções de outro é o núcleo da arte de lidar com relacionamentos. Para manifestar esse poder interpessoal, as crianças pequenas primeiro têm de atingir um nível de autocontrole, os primórdios da capacidade de conter sua própria raiva e aflição, seus impulsos e excitação - mesmo que essa capacidade geralmente falhe. A sintonização com os outros exige um mínimo de calma em nós mesmos. Sinais hesitantes dessa capacidade de controlar as próprias emoções Surgem mais ou menos nesse mesmo período: as crianças começam a poder esperar sem chorar, a argumentar ou bajular para conseguir o que querem, em vez de usar a força bruta - mesmo que nem sempre prefiram usar essa aptidão A paciência surge como uma alternativa aos faniquitos, ao menos de vez em quando. E sinais de empatia surgem aos dois anos; foi a empatia de Jay, raiz da piedade, que o levou a tentar com tanto empenho animar o irmão em lágrimas Len. Portanto, controlar as emoções em outra pessoa -a bela arte dos relacionamentos - exige o amadurecimento de duas outras aptidões emocionais, o autocontrole e a empatia. Com essa base, amadurecem as "aptidões pessoais". São competências sociais que representam eficácia nas relações com os outros; os déficits, aqui, conduzem à inépcia no mundo social, ou a repetidos desastres. Na verdade é precisamente a falta dessas aptidões que pode fazer mesmo os de maior brilho intelectual naufragar em seus relacionamentos, parecendo arrogantes, nocivos ou insensíveis. Essas aptidões sociais nos permitem moldar um encontro, mobilizar e inspirar outros, vicejar em relações íntimas, convencer e influenciar, deixar os outros à vontade DEMONSTRE ALGUMA EMOÇÃO Uma competência-chave é como as pessoas expressam bem ou mal seus sentimentos. Paul Ekman usa o termo regras de exibição para o consenso social sobre quais sentimentos podem ser exibidos adequadamente e quando. Por exemplo, ele e colegas no Japão estudaram as reações faciais de estudantes a um horrorizante filme sobre circuncisão ritual em adolescentes aborígenes.Quando os estudantes japoneses viram o filme com uma figura de autoridade presente, seus rostos mostravam apenas os mais leves sinais de reação. Mas quando julgaram que estavam sós (embora estivessem sendo filmados em videoteipe por uma câmera secreta), os rostos contorciam-se em vívidas misturas de angustiada aflição, pavor e nojo.

Há vários tipos básicos de regras de exibição. Uma é minimizar a demonstração de emoção - é a norma japonesa para sentimentos de aflição na presença de alguma autoridade, que os estudantes seguiam quando disfarçaram sua perturbação com um rosto impassível. Outra é exageraro que estamos sentindo, ampliando a expressão emocional: é o truque usado pela adolescente de dezesseis anos que contorce dramaticamente o rosto quando corre a queixar-se à mãe de que foi provocada pelo irmão mais velho. Uma terceira é substituir um sentimento por outro; isso entra em jogo em algumas culturas asiáticas, onde é impolido dizer não, e se dão ao contrário garantias positivas (mas falsas). A medida que alguém emprega nessas estratégias, e sabe quando fazê-lo, é um dos fatores na inteliência emocional. Nós aprendemos muito cedo essas regras de exibição, em parte por instruções explícitas. Damos uma educação em regras de exibição quando instruímos uma criança a não parecer decepcionada, mas ao contrário sorrir e agradecer, quando o vovô traz um presente horrível mas bem-intencionado. Essa educação em regras de exibição, no entanto, se dá com mais freqüência pelo modelo: as crianças aprendem a fazer o que vêem fazer. Ao educar os sentimentos, as emoções são ao mesmo tempo o meio e a mensagem. Se a criança recebe a ordem de "sorrir e dizer obrigado" de um dos pais que nesse momento se mostra duro, exigente e frio - que sibila a mensagem em vez de sussurrar amavelmente - é mais provável que aprenda uma lição bem diferente, e na verdade responda ao Vovô com uma carranca e um sucinto e lacônico "Obrigado". O efeito sobre o vovô é muito diferente: no primeiro caso, fica feliz (embora enganado); no segundo, fica magoado pela mensagem confusa. As demonstrações de emoção, claro, têm conseqüências imediatas no impacto que causam na pessoa que as recebe. A regra aprendida pela criança é alguma coisa tipo "Disfarce seus verdadeiros sentimentos quando vão magoar alguém que você ama; mostre em vez disso um sentimento falso, porém menos of ensivo". Tais regras para expressar emoções são mais que parte do léxico de boas maneiras sociais; ditam como nossos sentimentos têm impacto em outra pessoa. Seguir bem essas regras é ter um impacto ideal; fazê-lo mal é fomentar devastação emocional. Os atores, claro, são artistas da demonstração emocional; é a expressividade deles que evoca reação na platéia. E, sem dúvida, alguns de nós nascemos como atores naturais. Mas em parte porque as lições que aprendemos sobre as regras de exibição variam segundo os modelos que tivemos, as pessoas diferem muito em aptidão. EXPRESSIVIDADE E CONTATO SOCIAL Era no início da Guerra do Vietnã, e um pelotão americano estava escondido nuns campos de plantação de arroz, no calor de um tiroteio com os vietcongues. De repente uma fila de seis monges começou a passar por uma das bermas que separavam um campo de outro. Perfeitamente calmos e equilibrados, dirigiam-se para a linha de fogo. - Não olharam nem para um lado nem para outro. Passaram direto - lembra David Busch, urn dos soldados americanos. - Foi realmente estranho, porque ninguém atirou neles. E depois que passaram pela berma, de repente todo o calor tinha me abandonado. Simplesmente achei que não queria continuar fazendo aquilo, pelo menos naquele dia. Deve ter acontecido o mesmo com todo mundo, porque todo mundo desistiu. Deixamos de combater. O poder da tranqüila e corajosa calma dos monges para pacificar soldados no calor de um combate ilustra um princípio básico de vida social: as emoções são contagiosas. Claro, essa história assinala um extremo. A maior parte do contágio emocional é muito mais sutil, parte de um tácito

Há vários tipos básicos de regras de exibição. Uma é minimizar a demonstração de emoção - é a<br />

norma japonesa para sentimentos de aflição na presença de alguma autoridade, que os estudantes<br />

seguiam quando disfarçaram sua perturbação com um rosto impassível. Outra é exageraro que<br />

estamos sentindo, ampliando a expressão emocional: é o truque usado pela adolescente de dezesseis<br />

anos que contorce dramaticamente o rosto quando corre a queixar-se à mãe de que foi provocada<br />

pelo irmão mais velho. Uma terceira é substituir um sentimento por outro; isso entra em jogo em<br />

algumas culturas asiáticas, onde é impolido dizer não, e se dão ao contrário garantias positivas (mas<br />

falsas). A medida que alguém emprega nessas estratégias, e sabe quando fazê-lo, é um dos fatores<br />

na inteliência emocional.<br />

Nós aprendemos muito cedo essas regras de exibição, em parte por instruções explícitas. Damos<br />

uma educação em regras de exibição quando instruímos uma criança a não parecer decepcionada,<br />

mas ao contrário sorrir e agradecer, quando o vovô traz um presente horrível mas bem-intencionado.<br />

Essa educação em regras de exibição, no entanto, se dá com mais freqüência pelo modelo: as<br />

crianças aprendem a fazer o que vêem fazer. Ao educar os sentimentos, as emoções são ao mesmo<br />

tempo o meio e a mensagem. Se a criança recebe a ordem de "sorrir e dizer obrigado" de um dos<br />

pais que nesse momento se mostra duro, exigente e frio - que sibila a mensagem em vez de<br />

sussurrar amavelmente - é mais provável que aprenda uma lição bem diferente, e na verdade<br />

responda ao Vovô com uma carranca e um sucinto e lacônico "Obrigado". O efeito sobre o vovô é<br />

muito diferente: no primeiro caso, fica feliz (embora enganado); no segundo, fica magoado pela<br />

mensagem confusa.<br />

As demonstrações de emoção, claro, têm conseqüências imediatas no impacto que causam na<br />

pessoa que as recebe. A regra aprendida pela criança é alguma coisa tipo "Disfarce seus verdadeiros<br />

sentimentos quando vão magoar alguém que você ama; mostre em vez disso um sentimento falso,<br />

porém menos of ensivo".<br />

Tais regras para expressar emoções são mais que parte do léxico de boas maneiras sociais; ditam<br />

como nossos sentimentos têm impacto em outra pessoa. Seguir bem essas regras é ter um impacto<br />

ideal; fazê-lo mal é fomentar devastação emocional.<br />

Os atores, claro, são artistas da demonstração emocional; é a expressividade deles que evoca reação<br />

na platéia. E, sem dúvida, alguns de nós nascemos como atores naturais. Mas em parte porque as<br />

lições que aprendemos sobre as regras de exibição variam segundo os modelos que tivemos, as<br />

pessoas diferem muito em aptidão.<br />

EXPRESSIVIDADE E CONTATO SOCIAL<br />

Era no início da Guerra do Vietnã, e um pelotão americano estava escondido nuns campos de<br />

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De repente uma fila de seis monges começou a passar por uma das bermas que separavam um<br />

campo de outro. Perfeitamente calmos e equilibrados, dirigiam-se para a linha de fogo.<br />

- Não olharam nem para um lado nem para outro. Passaram direto - lembra David Busch, urn dos<br />

soldados americanos. - Foi realmente estranho, porque ninguém atirou neles. E depois que passaram<br />

pela berma, de repente todo o calor tinha me abandonado. Simplesmente achei que não queria<br />

continuar fazendo aquilo, pelo menos naquele dia. Deve ter acontecido o mesmo com todo mundo,<br />

porque todo mundo desistiu. Deixamos de combater.<br />

O poder da tranqüila e corajosa calma dos monges para pacificar soldados no calor de um combate<br />

ilustra um princípio básico de vida social: as emoções são contagiosas. Claro, essa história assinala<br />

um extremo. A maior parte do contágio emocional é muito mais sutil, parte de um tácito

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