Daniel Goleman - Inteligencia Emocional
Daniel Goleman - Inteligencia Emocional
Daniel Goleman - Inteligencia Emocional
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
sentimentos próprios; ao contrário, o molestador projeta nela a atitude cooperativa da criança de sua<br />
fantasia. Os sentimentos dela repuLsa, medo, nojo não são registrados. Se fossem, "estragariam"<br />
tudo para o molestador.<br />
Essa absoluta falta de empatia pelas vítimas é um dos principais focos de novos tratamentos em<br />
elaboração para molestadores de crianças e outros criminosos semelhantes. Num dos mais<br />
promissores programas de treinamento, os criminosos lêem dilacerantes histórias de crimes como os<br />
seus, contadas da perspectiva da vítima. Também vêem videoteipes de vítimas contando em<br />
lágrimas o que é ser molestado. Os criminosos então escrevem sobre seu próprio crime do ponto de<br />
vista da vítima, imaginando o que ela sentiu. Lêem essa história para um grupo po de terapia, e<br />
tentam responder às perguntas sobre o ataque do ponto de vista da vítima. Finalmente, o criminoso<br />
passa por uma reencenação simulada do crime, desta vez fazendo o papel da vítima.<br />
William Pithers, psicólogo da prisão de Vermont que desenvolveu essa terapia de adoção de<br />
perspectiva, me disse:<br />
- A empatia com a vítima muda a percepção de tal modo que é difícil a negação da dor, mesmo em<br />
nossas fantasias.<br />
E com isso fortalece a motivação dos homens para combater seus impulsos sexuais perversos. Os<br />
criminosos sexuais que passaram pelo programa na prisão tiveram apenas metade da taxa de crimes<br />
posteriores após a libertação, comparados com os que não tiveram esse tratamento. Sem essa<br />
motivação inicial inspirada pela empatia, nada do resto do tratamento dará certo.<br />
Enquanto pode haver uma pequena esperança de instilar um senso de empatia em criminosos como<br />
os molestadores de crianças, há muito menos para outro tipo criminoso, o psicopata (mais<br />
recentemente chamado de sociopata na diagnose psiquiátrica). Os psicopatas são notórios por serem<br />
ao mesmo tempo encantadores e completamente desprovidos de remorso, mesmo pelos atos mais<br />
cruéis e desapiedados. A psicopatia, incapacidade de sentir qualquer tipo de empatia ou piedade, ou<br />
o mínimo problema de consciência, é um dos defeitc emocionais mais intrigantes. O núcleo da<br />
frieza do psicopata parece estar n incapaddade de ir além das mais tênues ligações emocionais. Os<br />
mais cruéis criminosos como os sádicos assassinos em série que se deliciam com o sofrimento de<br />
suas vítimas antes de morrerem, são o epítome da psicopatia.<br />
Os psicopatas são também deslavados mentirosos, prontos a dizer qualquer coisa para conseguir o<br />
que querem, e manipulam as emoções das vítimas con o mesmo cinismo. Vejam o desempenho de<br />
Faro, garoto de dezessete anos e membro de uma gangue de Los Angeles que aleijou uma mãe e seu<br />
bebê disparando de um carro em movimento, o que ele descreveu com mais orgulho do que remorso.<br />
Num carro com Leon Bing, que escrevia um livro sobre as gangues Crips e Blocks, de Los Angeles,<br />
Faro quer se exibir. Diz a Bing que "vai dar uma de doido" com os "dois panacas" no carro ao lado.<br />
Bing conta intercâmbio:<br />
O motorista, sentindo que alguém está olhando-o, dá uma olhada no meu carro.<br />
Seus olhos encontram os de Earo e arregalam-se por um instante. Depois ele desfaz o contato, baixa<br />
os olhos, desvia os olhos. E não há como entender errado o que vi ali nos olhos dele. Era medo.<br />
Faro demonstra o olhar que lançou ao carro ao lado para Bing:<br />
Ele olha direto para mim e tudo em seu rosto muda e se transforma, como por um truque de<br />
fotografia de tempo. Toma-se uma cara de pesadelo, apavorante de se ver. Diz à gente que se a<br />
gente retribuir o olhar dele, se desafiar esse garoto melhor poder se garantir. o olhar dele diz que ele<br />
não está dando a mínima para coisa alguma, nem a vida da gente nem a dele.