Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

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27.04.2013 Views

Nesse ponto, podem sentir a situação de todo um grupo, como os pobres, os oprimidos os marginalizados. Essa compreensão, na adolescência, esteia convicções centradas na vontade de aliviar o infortúnio e a injustiça. A empatia está por trás de muitas facetas de julgamento e ação morais. Uma delas é a "raiva empática", que John Stuart Mill descreveu como "o sentimento natural de retaliação... tornado pelo intelecto e a simpatla aplicável a... aqueles sofrimentos que nos ferem por ferir outros"; Mill chamou isso de "guardião da justiça Outro exemplo em que a empatia conduz à ação moral é quando um circunstante é levado a intervir em favor de uma vítima; a pesquisa mostra que, quanto mais empatia ele sentir pela vítima, mais provável será que intervenha. Há algum indício de que o nível de empatia que as pessoas sentem também afeta seus julgamentos morais. Por exemplo, estudos na Alemanha e nos Estados Unidos constataram que, quanto mais empáticas as pessoas, mais favorecem o prinapio moral de que os recursos devem ser distribuídos segundo a necessidade das pessoas. A VIDA SEM EMPATIA: A MENTE DO MOLESTADOR, A MORAL DO SOCIOPATA Eric Eckardt envolveu-se num crime infame: guarda-costas da patinadora Tonya Harding, mandou vagabundos atacarem Nancy Kerrigan, arqui-rival de Tonya pela medalha de ouro de patinação feminina nas Olirnpíadas de 1994. No ataque, o joelho de Tonya foi machucado, deixando-a de fora durante seus meses cruciais de treinamento. Mas quando Eckardt viu a imagem dela chorando na televisão, teve uma súbita onda de remorso e procurou um amigo para revelar seu segredo, iniciando a seqüência que levou à prisão dos atacantes. Tal é o poder da empatia. Mas ela está tipicamente, e tragicamente, ausente naqueles que cometem os crimes mais malignos. Uma linha de falha psicológica é comum em estupradores, molestadores de crianças e muitos perpetradores de violência familiar: são incapazes de empatia. Essa incapacidade de sentir a dor das vítimas Ihes permite dizer a si mesmos mentiras que encorajam o seu crime. Para os estupradores, a mentira inclui " As mulheres na verdade querem ser estupradas", ou "Se ela resiste é só para bancar a difícil para os molestadores, Não estou machucando a criança, só demonstrando amor", ou Isto é apenas mais uma forma de afeto"; para os pais violentos, Isto é só boa disciplina. Todas essas autojustificações foram recolhidas do que pessoas em tratamento por causa desses problemas dizem ter dito a si mesmas quando brutalizavam suas vítimas, ou se preparavam para fazê-lo. O apagamento da empatia quando essas pessoas infligem dano a vítimas é quase sempre parte de um ciclo emocional que precipita seus atos cruéis. É só ver a sequência emocional que leva tipicamente a um crime sexual como molestar crianças. 0 ciclo começa com o molestador sentindose perturbado: irado, deprimido, solitário Esses sentimentos podem ser provocados, digamos, vendo casais felizes na TV, e depois sentindo-se deprimido por estar só. O molestador então busca consolo numa fantasia preferida, tipicamente sobre uma cálida amizade com uma criança; a fantasia torna-se sexual e acaba em masturbação.Depois,o molestador sente um alívio temporário da tristeza, mas esse alívio tem vida breve; a depressão e a solidão retornam ainda mais fortes. O molestador começa a pensar em realizar a fantasia, dando-se justificações como "Não estou fazendo nenhum mal de fato se a criança não for psicologicamente atingida', e "Se uma criança não quisesse mesmo fazer sexo comigo, ela pararia". Nessa altura, o molestador está vendo a criança pela lente da fantasia pervertida, não com empatia pelo que a criança real sentiria na situação. Esse desligamento emocional caracteriza tudo que vem a seguir, desde o resultante plano de pegar a criança sozinha até o cuidadoso ensaio do que vai acontecer e a execução do plano. Tudo se segue como se a criança envolvida não tivesse

sentimentos próprios; ao contrário, o molestador projeta nela a atitude cooperativa da criança de sua fantasia. Os sentimentos dela repuLsa, medo, nojo não são registrados. Se fossem, "estragariam" tudo para o molestador. Essa absoluta falta de empatia pelas vítimas é um dos principais focos de novos tratamentos em elaboração para molestadores de crianças e outros criminosos semelhantes. Num dos mais promissores programas de treinamento, os criminosos lêem dilacerantes histórias de crimes como os seus, contadas da perspectiva da vítima. Também vêem videoteipes de vítimas contando em lágrimas o que é ser molestado. Os criminosos então escrevem sobre seu próprio crime do ponto de vista da vítima, imaginando o que ela sentiu. Lêem essa história para um grupo po de terapia, e tentam responder às perguntas sobre o ataque do ponto de vista da vítima. Finalmente, o criminoso passa por uma reencenação simulada do crime, desta vez fazendo o papel da vítima. William Pithers, psicólogo da prisão de Vermont que desenvolveu essa terapia de adoção de perspectiva, me disse: - A empatia com a vítima muda a percepção de tal modo que é difícil a negação da dor, mesmo em nossas fantasias. E com isso fortalece a motivação dos homens para combater seus impulsos sexuais perversos. Os criminosos sexuais que passaram pelo programa na prisão tiveram apenas metade da taxa de crimes posteriores após a libertação, comparados com os que não tiveram esse tratamento. Sem essa motivação inicial inspirada pela empatia, nada do resto do tratamento dará certo. Enquanto pode haver uma pequena esperança de instilar um senso de empatia em criminosos como os molestadores de crianças, há muito menos para outro tipo criminoso, o psicopata (mais recentemente chamado de sociopata na diagnose psiquiátrica). Os psicopatas são notórios por serem ao mesmo tempo encantadores e completamente desprovidos de remorso, mesmo pelos atos mais cruéis e desapiedados. A psicopatia, incapacidade de sentir qualquer tipo de empatia ou piedade, ou o mínimo problema de consciência, é um dos defeitc emocionais mais intrigantes. O núcleo da frieza do psicopata parece estar n incapaddade de ir além das mais tênues ligações emocionais. Os mais cruéis criminosos como os sádicos assassinos em série que se deliciam com o sofrimento de suas vítimas antes de morrerem, são o epítome da psicopatia. Os psicopatas são também deslavados mentirosos, prontos a dizer qualquer coisa para conseguir o que querem, e manipulam as emoções das vítimas con o mesmo cinismo. Vejam o desempenho de Faro, garoto de dezessete anos e membro de uma gangue de Los Angeles que aleijou uma mãe e seu bebê disparando de um carro em movimento, o que ele descreveu com mais orgulho do que remorso. Num carro com Leon Bing, que escrevia um livro sobre as gangues Crips e Blocks, de Los Angeles, Faro quer se exibir. Diz a Bing que "vai dar uma de doido" com os "dois panacas" no carro ao lado. Bing conta intercâmbio: O motorista, sentindo que alguém está olhando-o, dá uma olhada no meu carro. Seus olhos encontram os de Earo e arregalam-se por um instante. Depois ele desfaz o contato, baixa os olhos, desvia os olhos. E não há como entender errado o que vi ali nos olhos dele. Era medo. Faro demonstra o olhar que lançou ao carro ao lado para Bing: Ele olha direto para mim e tudo em seu rosto muda e se transforma, como por um truque de fotografia de tempo. Toma-se uma cara de pesadelo, apavorante de se ver. Diz à gente que se a gente retribuir o olhar dele, se desafiar esse garoto melhor poder se garantir. o olhar dele diz que ele não está dando a mínima para coisa alguma, nem a vida da gente nem a dele.

Nesse ponto, podem sentir a situação de todo um grupo, como os pobres, os oprimidos os<br />

marginalizados. Essa compreensão, na adolescência, esteia convicções centradas na vontade de<br />

aliviar o infortúnio e a injustiça.<br />

A empatia está por trás de muitas facetas de julgamento e ação morais. Uma delas é a "raiva<br />

empática", que John Stuart Mill descreveu como "o sentimento natural de retaliação... tornado pelo<br />

intelecto e a simpatla aplicável a...<br />

aqueles sofrimentos que nos ferem por ferir outros"; Mill chamou isso de "guardião da justiça Outro<br />

exemplo em que a empatia conduz à ação moral é quando um circunstante é levado a intervir em<br />

favor de uma vítima; a pesquisa mostra que, quanto mais empatia ele sentir pela vítima, mais<br />

provável será que intervenha.<br />

Há algum indício de que o nível de empatia que as pessoas sentem também afeta seus julgamentos<br />

morais. Por exemplo, estudos na Alemanha e nos Estados Unidos constataram que, quanto mais<br />

empáticas as pessoas, mais favorecem o prinapio moral de que os recursos devem ser distribuídos<br />

segundo a necessidade das pessoas.<br />

A VIDA SEM EMPATIA: A MENTE DO MOLESTADOR, A MORAL DO SOCIOPATA<br />

Eric Eckardt envolveu-se num crime infame: guarda-costas da patinadora Tonya Harding, mandou<br />

vagabundos atacarem Nancy Kerrigan, arqui-rival de Tonya pela medalha de ouro de patinação<br />

feminina nas Olirnpíadas de 1994. No ataque, o joelho de Tonya foi machucado, deixando-a de fora<br />

durante seus meses cruciais de treinamento. Mas quando Eckardt viu a imagem dela chorando na<br />

televisão, teve uma súbita onda de remorso e procurou um amigo para revelar seu segredo,<br />

iniciando a seqüência que levou à prisão dos atacantes. Tal é o poder da empatia.<br />

Mas ela está tipicamente, e tragicamente, ausente naqueles que cometem os crimes mais malignos.<br />

Uma linha de falha psicológica é comum em estupradores, molestadores de crianças e muitos<br />

perpetradores de violência familiar: são incapazes de empatia. Essa incapacidade de sentir a dor das<br />

vítimas Ihes permite dizer a si mesmos mentiras que encorajam o seu crime. Para os estupradores, a<br />

mentira inclui " As mulheres na verdade querem ser estupradas", ou "Se ela resiste é só para bancar<br />

a difícil para os molestadores, Não estou machucando a criança, só demonstrando amor", ou Isto é<br />

apenas mais uma forma de afeto"; para os pais violentos, Isto é só boa disciplina. Todas essas<br />

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ter dito a si mesmas quando brutalizavam suas vítimas, ou se preparavam para fazê-lo.<br />

O apagamento da empatia quando essas pessoas infligem dano a vítimas é quase sempre parte de<br />

um ciclo emocional que precipita seus atos cruéis. É só ver a sequência emocional que leva<br />

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casais felizes na TV, e depois sentindo-se deprimido por estar só. O molestador então busca consolo<br />

numa fantasia preferida, tipicamente sobre uma cálida amizade com uma criança; a fantasia torna-se<br />

sexual e acaba em masturbação.Depois,o molestador sente um alívio temporário da tristeza, mas<br />

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começa a pensar em realizar a fantasia, dando-se justificações como "Não estou fazendo nenhum<br />

mal de fato se a criança não for psicologicamente atingida', e "Se uma criança não quisesse mesmo<br />

fazer sexo comigo, ela pararia".<br />

Nessa altura, o molestador está vendo a criança pela lente da fantasia pervertida, não com empatia<br />

pelo que a criança real sentiria na situação. Esse desligamento emocional caracteriza tudo que vem<br />

a seguir, desde o resultante plano de pegar a criança sozinha até o cuidadoso ensaio do que vai<br />

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