Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

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27.04.2013 Views

Nesse momento, a bebezinha no carrinho de compras da mãe deixou cair o pote de geléia que tinha na boca. Quando o vidro se espatifou no chão, a mãe berrou: - Chega! E, num ataque de fúria, deu um tapa na bebê, tomou a caixa do menino e enfiou-a na prateleira mais próxima, pegou-o pela cintura e saiu disparada pelo corredor, o carrinho de compras trepidando perigosamente na frente, a bebê chorando, o moleque espemeando, aos berros: - Me ponha no chão, me ponha no chão! Zillmann constatou que quando o corpo já se acha em estado de irritação, como o da mãe, e alguma coisa dispara um seqüestro emocional, a emoção posterior, de ira ou ansiedade, é de intensidade especialmente grande. Essa dinâmica atua quando alguém se zanga. Zillmann vê a escalada da ira como "uma seqüência de provocações, cada uma disparando uma reação excitatória que demora a dissipar-se". Nessa seqüência, cada pensamento ou percepção causador de ira toma-se um minigatilho de surtos amigdalíticos de catecolaminas, cada um alimentando-se do impulso homonal do anterior. Um segundo vem depois que passou o primeiro, e um terceiro, depois destes, e assim por diante; cada onda vem na esteira das anteriores, elevando rapidamente o nível de estimulação fisiológica do corpo. Um pensamento que venha depois nessa acumulação provoca uma intensidade de ira muito maior que um que venha no inicio. A ira se alimenta da ira; o cérebro emocional esquenta. A essa altura, a ira, não tolhida pela razão, facilmente explode em violência. Nesse ponto, as pessoas não perdoam e estão além do alcance da razão; seus pensamentos giram em tomo de vingança e represália, indiferentes às conseqüências. Esse alto nível de excitação, diz Zillmann, "promove uma ilusão de poder e invulnerabilidade que inspira e facilita a agressão", à medida que a pessoa irada, sem orientação cognitiva", recai na mais primitiva das reações. O surto límbico está em ascensão; as mais cruas lições da brutalidade da vida tomam-se guias para a ação. Bálsamo para a raiva Diante dessa análise da anatomia da ira, Zillmann vê duas maneiras de intervir. Uma maneira de desarmá-la é avaliar e contestar as idéias que disparam o seu surto, uma vez que é a avaliação original de uma interação que confirma e encoraja a primeira explosão de ira, e as avaliações posteriores que atiçam as chamas. A cronologia conta; quanto mais cedo no ciclo da ira, mais efetivo. Na verdade, a ira pode ser completamente interrompida se a infommação mitigante vier antes que se dê vazão a ela. O poder da compreensão para desinflar a ira fica claro em outra das experiências de Zillmann, em que um rude auxiliar (um cúmplice) insultou e provocou voluntários que pedalavam uma bicicleta de ginástica. Quando se deu aos voluntários a oportunidade de retaliar contra o rude sujeito (mais uma vez, fazendo uma avaliação que eles julgavam seria usada para decidir sua candidatura a um emprego), eles o fizeram com furiosa alegria. Mas numa versão da experiência outra cúmplice entrou depois que os voluntários haviam sido provocados, e pouco antes da oportunidade de retaliação; ela disse ao cúmplice provocador que o estavam chamando ao telefone no fim do corredor. Ao sair ele dirigiu uma observação sarcástica a ela também. Mas ela levou a coisa numa boa, explicando, depois que o homem saiu, que ele se achava sob uma terrível pressão, perturbado por seus próximos exames orais. Depois disso, os irados voluntários, quando tiveram a oportunidade de retaliar contra o rude sujeito preferiram não fazê-lo; em vez disso, manifestaram solidariedade com sua dificuldade.

Essa infommação mitigante permite uma reavaliação dos fatos que provocam ira. Mas há uma janela de oportunidade específica para essa desescalada. Zillmann constata que funciona bem em níveis moderados de ira; em níveis altos, não faz diferença, por causa do que ele chama de "incapacitação cognitiva"-em outras palavras, as pessoas não mais podem pensar direito. Depois que já estão altamente iradas, descartam a informação mitigante com "Mas que pena!” ou "as mais fortes vulgaridades que a língua inglesa tem a oferecer", como observou delicadamente o pesquisador. Esfriando Certa vez, quando eu tinha uns treze anos, num acesso de raiva, saí de casa jurando que jamais voltaria. Era um belo dia de verão e fui muito longe por entre belas alamedas até que aos poucos a quietude e a beleza me acalmaram e tranqüilizaram, e após algumas horas voltei arrependido e quase derretido. Desde então, quando estou furioso, faço isso se posso, e acho a melhor cura. A história é de um participante de um dos primeiros estudos científicos da ira, feito em 1899. Ainda permanece como um modelo da segunda maneira de desescalar a ira: esfriar psicologicamente, esperando que passe o surto adrenal, num cenário não provável de alimentar mais a ira. Numa discussão, por exemplo, isso significa afastar-se da outra pessoa no momento. No período de esfriamento, a pessoa irada pode aplicar o freio no ciclo de crescente pensamento hostil, buscando distrações. Zillmann constata que a distração é um poderosíssimo artifício moderador do estado de espírito, por um simples motivo: é difícil continuar zangado quando estamos nos divertindo. O segredo, claro, é fazer a ira esfriar a ponto de a pessoa poder divertir-se, em primeiro lugar. A análise de Zillmann das maneiras como a ira aumenta e diminui explica muito das constatações de Diane Tice sobre as estratégias que as pessoas comumente dizem usar para aliviar a ira. Uma dessas estratégias, bastante eficaz, é sair para ficar só, enquanto esfria. Uma grande proporção de homens traduz isso como sair para dar uma volta de carro - uma constatação que nos faz parar para pensar quando dirigindo (e que, disse-me Diane, a inspirou a dirigir mais defensivamente). Talvez uma alternativa mais segura seja sair para uma longa caminhada; o exercício ativo também ajuda em casos de ira. O mesmo fazem métodos de relaxamento como inspirar fundo e relaxamento muscular, talvez porque mudam a fisiologia do corpo, da alta estimulação da ira para um estado de baixa estimulação, e talvez também porque distraem do que quer que tenha provocado a ira. O exercício ativo pode esfriar a ira por algo do mesmo motivo: após altos níveis de ativação fisiológica durante o exercício, o corpo recai para um baixo nível assim que pára. Mas um período de esfriamento não funcionará se esse tempo for usado para seguir o trem de pensamento indutor da ira, uma vez que cada um desses pensamentos é em si um disparador menor de outras cascatas de ira. O poder de distração está em parar esse trem de pensamento irado. Em sua pesquisa sobre as estratégias das pessoas para controlar a ira, Diane Tice constatou que as distrações em geral ajudam a acalmá-la: TV, cinema, leitura e coisas assim irterferem com os pensamentos furiosos que alimentam a ira. Mas ela constatou que entregar-Se a prazeres como fazer compras para si e comer não tem muito efeito; é demasiado fácil continuar com um trem de pensamento indignado enquanto se cruza um shopping center ou se devora uma fatia de bolo de chocolate.

Essa infommação mitigante permite uma reavaliação dos fatos que provocam ira. Mas há uma<br />

janela de oportunidade específica para essa desescalada.<br />

Zillmann constata que funciona bem em níveis moderados de ira; em níveis altos, não faz diferença,<br />

por causa do que ele chama de "incapacitação cognitiva"-em outras palavras, as pessoas não mais<br />

podem pensar direito. Depois que já estão altamente iradas, descartam a informação mitigante com<br />

"Mas que pena!”<br />

ou "as mais fortes vulgaridades que a língua inglesa tem a oferecer", como observou delicadamente<br />

o pesquisador.<br />

Esfriando<br />

Certa vez, quando eu tinha uns treze anos, num acesso de raiva, saí de casa jurando que jamais<br />

voltaria.<br />

Era um belo dia de verão e fui muito longe por entre belas alamedas até que aos poucos a quietude e<br />

a beleza me acalmaram e tranqüilizaram, e após algumas horas voltei arrependido e quase derretido.<br />

Desde então, quando estou furioso, faço isso se posso, e acho a melhor cura.<br />

A história é de um participante de um dos primeiros estudos científicos da ira, feito em 1899. Ainda<br />

permanece como um modelo da segunda maneira de desescalar a ira: esfriar psicologicamente,<br />

esperando que passe o surto adrenal, num cenário não provável de alimentar mais a ira. Numa<br />

discussão, por exemplo, isso significa afastar-se da outra pessoa no momento. No período de<br />

esfriamento, a pessoa irada pode aplicar o freio no ciclo de crescente pensamento hostil, buscando<br />

distrações. Zillmann constata que a distração é um poderosíssimo artifício moderador do estado de<br />

espírito, por um simples motivo: é difícil continuar zangado quando estamos nos divertindo. O<br />

segredo, claro, é fazer a ira esfriar a ponto de a pessoa poder divertir-se, em primeiro lugar.<br />

A análise de Zillmann das maneiras como a ira aumenta e diminui explica muito das constatações<br />

de Diane Tice sobre as estratégias que as pessoas comumente dizem usar para aliviar a ira. Uma<br />

dessas estratégias, bastante<br />

eficaz, é sair para ficar só, enquanto esfria. Uma grande proporção de homens traduz isso como sair<br />

para dar uma volta de carro - uma constatação que nos faz parar para pensar quando dirigindo (e<br />

que, disse-me Diane, a inspirou a dirigir mais defensivamente). Talvez uma alternativa mais segura<br />

seja sair para uma longa caminhada; o exercício ativo também ajuda em casos de ira. O mesmo<br />

fazem métodos de relaxamento como inspirar fundo e relaxamento muscular, talvez porque mudam<br />

a fisiologia do corpo, da alta estimulação da ira para um estado de baixa estimulação, e talvez<br />

também porque distraem do que quer que tenha provocado a ira. O exercício ativo pode esfriar a ira<br />

por algo do mesmo motivo:<br />

após altos níveis de ativação fisiológica durante o exercício, o corpo recai para um baixo nível<br />

assim que pára.<br />

Mas um período de esfriamento não funcionará se esse tempo for usado para seguir o trem de<br />

pensamento indutor da ira, uma vez que cada um desses pensamentos é em si um disparador menor<br />

de outras cascatas de ira. O poder de distração está em parar esse trem de pensamento irado. Em sua<br />

pesquisa sobre as estratégias das pessoas para controlar a ira, Diane Tice constatou que as distrações<br />

em geral ajudam a acalmá-la: TV, cinema, leitura e coisas assim irterferem com os pensamentos<br />

furiosos que alimentam a ira. Mas ela constatou que entregar-Se a prazeres como fazer compras<br />

para si e comer não tem muito efeito; é demasiado fácil continuar com um trem de pensamento<br />

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