27.04.2013 Views

Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Havia um padrão intrigante no problema de Elliot. Intelectualmente, ele continuava brilhante como<br />

sempre, mas empregava seu tempo de uma maneira terrível perdendo-se em detalhes sem<br />

importância; parecia ter perdido todo senso de prioridade. As censuras não faziam diferença; foi<br />

despedido de uma Sucessão de empregos legais. Embora extensos testes intelectuais nada<br />

constatassem de errado com suas faculdades mentais, ele mesmo assim foi procurar um neurologista<br />

esperando que a descoberta de um problema neurológico Ihe obtivesse os benefícios de invalidez a<br />

que se julgava com direito. De outro modo a conclusão parecia ser de que era apenas alguém se<br />

fingindo de doente para não ter de trabalhar.<br />

Antonio Damasio, o neurologista a quem Elliot consultou, ficou impressionado com um elemento<br />

ausente no repertório mental dele: embora não houvesse problema algum com sua lógica, memória,<br />

atenção ou qualquer outra capacidade cognitiva, Elliot era praticamente indiferente ao que sentia em<br />

relação ao que Ihe acontecia. Mais impressionante ainda, podia narrar os fatos trágicos de sua vida<br />

com total frieza, como se fosse um observador externo das perdas e fracassos de seu passado sem o<br />

menor tom de pesar ou tristeza, frustração ou raiva, com a injustiça da vida. Sua própria tragédia<br />

não Ihe causava sofrimento; Damasio sentia-se mais perturbado com a história dele do que ele<br />

próprio.<br />

A origem dessa inconsciência emocional, concluiu Damasio, fora a remoção, junto com o tumor no<br />

cérebro, de parte dos lobos pré-frontais de Elliot. Na verdade, a cirurgia cortara várias ligações entre<br />

os centros inferiores do cérebro bro emocional, sobretudo a amígdala e circuitos relacionados, e as<br />

capacidades de pensar do neocórtex. O pensamento de Elliot tornara-se igual ao de um computador,<br />

capaz de executar todas as etapas no cálculo de uma decisão, mas incapaz de atribuir valores às<br />

diferentes possibilidades. Toda opção era neutra.<br />

E esse raciocínio absolutamente desapaixonado, suspeitava Damasio, era o núcleo do problema de<br />

Elliot: a demasiado pouca consciência dos próprios sentimentos em relação às coisas tornava falho<br />

o seu raciocínio.<br />

A incapacitação se revelava mesmo em decisões mundanas. Quando Damasio tentou marcar uma<br />

data e hora para a próxima consulta com Elliot, o resultado foi uma confusão de indecisão. Elliot<br />

encontrava argumentos contra e a favor de toda data e hora que Damasio sugeria, mas não<br />

conseguia escolher nenhuma delas. No nível racional, havia razões perfeitamente válidas para<br />

recusar ou aceitar quase todos os horários possíveis para a consulta. Mas faltava a Elliot qualquer<br />

noção do que sentia em relação a qualquer deles. Sem essa consciência de seus sentimentos, não<br />

tinha qualquer preferência.<br />

Uma das lições da indecisão de Elliot é o papel crucial do sentimento na navegação pela<br />

interminável corrente das decisões pessoais da vida. Embora sentimentos fortes possam causar<br />

devastações no raciocínio, a falta de consciência do sentimento também pode ser destrutiva,<br />

sobretudo ao avaliar decisões das quais depende em grande parte o nosso destino: que carreira<br />

seguir, se ficar num emprego seguro ou passar para outro mais arriscado porém mais interessante,<br />

com quem namorar ou casar, onde viver, que apartamento alugar ou que casa comprar sempre e<br />

sempre, pela vida afora. Essas decisões não podem ser bem tomadas por pura racionalidade; exigem<br />

intuição e a sabedoria emocional acumulada de experiências passadas. A lógica formal, por si só,<br />

jamais pode servir de base para decidir com quem se casar ou em quem confiar, ou mesmo que<br />

emprego pegar; são domínios onde a razão, sem o sentimento, é cega.<br />

Os sinais intuitivos que nos orientam nesses momentos vêm em forma de impulsos límbicos das<br />

vísceras que Damasio chama de "marcadores somáticos”<br />

literalmente, intuições. O marcador somático é uma espécie de alarme automático tipicamente<br />

chamando a atenção para o perigo potencial de uma determinada linha de ação. Na maioria das

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!