Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

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27.04.2013 Views

ser que, ao ir buscar o extintor e voltar, ele andou em vez de correr. Motivo? Não achava que havia qualquer urgência. A história me foi contada por Edward Diener, psicólogo da Universidade de ILINOIS em Urbana, que estuda a intensidade com que as pessoas sentem suas emoções. 0 universitário figurava em sua coleção de estudos de casos como um dos menos intensos que ele já encontrara. Era, essencialmente, um homem sem paixões, uma pessoa que passa pela vida pouco ou nada sentindo, mesmo numa emergência como um incêndio. Em comparação, vejam a mulher no outro lado do espectro de Diener. Uma vez, quando perdeu uma caneta preferida, ficou perturbada durante dias. Outra vez, ficou tão excitada, ao ver o anúncio de uma grande liquidação de sapatos femininos numa loja cara, que largou o que estava fazendo, saltou no carro e dirigiu três horas até a loja em Chicago. Diener constata que as mulheres, em geral, sentem com mais força emoções positivas e negativas que os homens. E, diferenças de sexo à parte, a vida emocional é mais rica para os que observam mais. Entre outras coisas, essa maior sensibilidade emocional significa que, para tais pessoas, a menor provocação desencadeia vendavais emocionais paradisíacos ou infemais, enquanto as do outro mal experimentam qualquer sensação, mesmo nas circunstâncias mais angustiantes. O HOMEM SEM SENTIMENTOS Gary enfurecia a noiva, Ellen, porque, apesar de inteligente, atencioso e um médico bem-sucedido, era emocionalmente Ihano, completamente sem reação a qualquer demonstração de sentimentos. Embora falasse com brilhantismo de ciência e arte, quando se tratava de seus próprios sentimentos - mesmo por Ellen emudecia. Por mais que ela tentasse despertar-lhe alguma paixão, ele ficava impassivo, indiferente. Eu não expresso naturalmente meus sentimentos disse Gary ao terapeuta a quem consultou por insistência de Ellen. Ouando se tratava da vida emocional, acrescentou Não sei o que dizer; não tenho sentimentos fortes, positivos ou negativos. Ellen não estava sozinha em sua frustracão com o distanciamento de Gary; segundo ele confiou ao terapeuta, era incapaz de falar abertamente de seus sentimentos com qualquer pessoa em sua vida. Motivo: não sabia o que sentia, para começar. Até onde sabia, não tinha raivas, tristezas ou alegrias. Como observa seu terapeuta, esse vazio emocional deixa Gary e outros como ele incolores, insípidos: Entediam a todos. Por isso suas esposas os mandam tratar-se. A Ihanura emocional de Gary exemplifica o que os psiquiatras chamam de alexitimia, do grego a (ausência), léxis (palavra) e thymós (emoção). Faltam a essas pessoas palavras para descrever seus sentimentos. Na verdade, parecem faltar-lhes sentimentos completamente, embora isso talvez se deva mais à sua incapacidade de manifestar emoção do que a uma completa ausência de emoção. Essas pessoas foram notadas pela primeira vez por psicanalistas intrigados por um tipo de pacientes intratáveis pelo seu método, porque não comunicavam sentimentos, fantasias, mas apenas sonhos incolores - em suma, nenhuma vida interior digna de nota. As características clínicas que assinalam a alexitimia incluem dificuldade para descrever sentimentos - os próprios ou os de outrem e um vocabulário emocional seriamente limitado. E além disso, tais pessoas têm dificuldade para discriminar emoções e distinguir entre emoção e sensação física, de modo que descrevem problemas estomacais, palpitações, suores e tontura mas não saberiam que estão ansiosos. "Dão a

impressão de ser diferentes seres alienígenas, vindos de um mundo inteiramente diferente, vivendo no meio de uma sociedade dominada pelos sentimentos, é a descrição dada pelo Dr. Peter Sifneos, o psiquiatra de Harvard que em 1972 cunhou o termo alexitimia. Os alexitímicos raramente choram, por exemplo, mas quando o fazem, são lágrimas copiosas. Ainda assim, ficam perplexos quando perguntados por que choram. Uma paciente com alexitimia ficou tão perturbada ao ver um filme sobre uma mulher com oito filhos, que estava morrendo de câncer que chorou até dormir. Quando o terapeuta sugeriu que ela ficara tão perturbada porque o filme Ihe lembrara sua própria mãe, que estava realmente morrendo de câncer, ela ficou sentada imóvel, pasmada e calada. O terapeuta Ihe perguntou então o que sentia naquele momento, e ela respondeu que se sentia "péssima", mas não conseguiu esclarecer seus sentimentos além disso. E, acrescentou, de vez em quando se descobria chorando, mas jamais sabia exatamente por que chorava. E é esse o fulcro do problema. Não é que os alexitímicos não sintam, mas não sabem e sobretudo não podem expressar em palavras precisamente quais são seus sentimentos. Falta-lhes absolutamente a aptidão fundamental da inteligência emocional, a autoconsciência saber o que sentimos enquanto as emoções se revolvem dentro de nós. Os alexitímicos negam a idéia prática de que é perfeitamente evidente por si mesmo o que sentimos: eles não têm a mínima indicação. Quando alguma coisa ou mais provavelmente alguém lhes causa um sentimento, eles acham a experiência intrigante e arrasadora, uma coisa a evitar a todo custo. Os sentimentos Ihes chegam, quando chegam, como um desnorteante pacote de angústia; como disse a paciente que chorou no cinema, sentem-se "péssimos", mas não podem dizer exatamente que espécie de coisa péssima sentem. A confusão básica sobre os sentimentos muitas vezes parece levá-los a queixar-se de vagos problemas médicos, quando na verdade sofrem de angústia emocional fenômeno conhecido em psiquiatria como somatizaçao, tomar por física uma dor emocional (e diferente da doenca psicossomática, em que problemas emocionais causam doenças físicas autênticas). Na verdade, grande parte do interesse psiquiátrico pelos alexitímicos está em separá-los daqueles que procuram ajuda médica, pois tendem a uma extensa e infrutífera busca de diagnose e tratamento médicos para o que na verdade é um problema emocional. Embora ninguém possa ainda dizer com certeza o que causa a alexitimia, o Dr. Sifneos sugere uma desconexão entre o sistema límbico e o neocórtex, sobretudo os centros verbais, o que se encaixa bem no que estamos aprendendo sobre o cérebro emocional. Os pacientes com severos derrames que tiveram essa ligação seccionada cirurgicamente para aliviar os sintomas, observa Sifneos, tornaram-se emocionalmente Ihanos, como as pessoas com alexitimia, incapazes de expressar em palavras seus sentimentos, e subitamente desprovidas de fantasia. Em suma, embora os circuitos do cérebro emocional reajam com sentimentos, o neocórtex não pode classificar esses sentimentos e acrescentarlhes a nuança da linguagem. Como observou Henry Roth, em seu romance Call it Sleep [Diga que é sono], sobre esse poder da linguagem: "Se você pudesse pôr em palavras o que sentiu, seria seu." O corolário, claro, é o dilema do alexitímic onão ter palavras para os sentimentos significa não tomar nossos esses sentimentos. EM LOUVOR DA INTUIÇÃO O tumor de Elliot, um pouco atrás da testa, era do tamanho de uma laranja pequena; uma cirurgia extirpou-o completamente. Embora a operação fosse declarada um sucesso, as pessoas que conheciam bem Elliot diziam depois que ele não era mais o mesmo sofrera uma drástica mudança de personalidade. Antes um bem-sucedido advogado de empresa, não mais conseguia ficar num emprego. Malbaratando as economias em investimentos infrutíferos, viu-se reduzido a morar num quarto vago na casa do irmão.

ser que, ao ir buscar o extintor e voltar, ele andou em vez de correr. Motivo? Não achava que havia<br />

qualquer urgência.<br />

A história me foi contada por Edward Diener, psicólogo da Universidade de ILINOIS em Urbana,<br />

que estuda a intensidade com que as pessoas sentem suas emoções. 0 universitário figurava em sua<br />

coleção de estudos de casos como um dos menos intensos que ele já encontrara. Era, essencialmente,<br />

um homem sem paixões, uma pessoa que passa pela vida pouco ou nada sentindo, mesmo numa<br />

emergência como um incêndio.<br />

Em comparação, vejam a mulher no outro lado do espectro de Diener. Uma vez, quando perdeu<br />

uma caneta preferida, ficou perturbada durante dias. Outra vez, ficou tão excitada, ao ver o anúncio<br />

de uma grande liquidação de sapatos femininos numa loja cara, que largou o que estava fazendo,<br />

saltou no carro e dirigiu três horas até a loja em Chicago.<br />

Diener constata que as mulheres, em geral, sentem com mais força emoções positivas e negativas<br />

que os homens. E, diferenças de sexo à parte, a vida emocional é mais rica para os que observam<br />

mais. Entre outras coisas, essa maior sensibilidade emocional significa que, para tais pessoas, a<br />

menor provocação desencadeia vendavais emocionais paradisíacos ou infemais, enquanto as do<br />

outro mal experimentam qualquer sensação, mesmo nas circunstâncias mais angustiantes.<br />

O HOMEM SEM SENTIMENTOS<br />

Gary enfurecia a noiva, Ellen, porque, apesar de inteligente, atencioso e um médico bem-sucedido,<br />

era emocionalmente Ihano, completamente sem reação a qualquer demonstração de sentimentos.<br />

Embora falasse com brilhantismo de ciência e arte, quando se tratava de seus próprios sentimentos -<br />

mesmo por Ellen emudecia. Por mais que ela tentasse despertar-lhe alguma paixão, ele ficava<br />

impassivo, indiferente.<br />

Eu não expresso naturalmente meus sentimentos disse Gary ao terapeuta a quem consultou por<br />

insistência de Ellen. Ouando se tratava da vida emocional, acrescentou Não sei o que dizer; não<br />

tenho sentimentos fortes, positivos ou negativos.<br />

Ellen não estava sozinha em sua frustracão com o distanciamento de Gary;<br />

segundo ele confiou ao terapeuta, era incapaz de falar abertamente de seus sentimentos com<br />

qualquer pessoa em sua vida. Motivo: não sabia o que sentia, para começar. Até onde sabia, não<br />

tinha raivas, tristezas ou alegrias.<br />

Como observa seu terapeuta, esse vazio emocional deixa Gary e outros como ele incolores,<br />

insípidos:<br />

Entediam a todos. Por isso suas esposas os mandam tratar-se.<br />

A Ihanura emocional de Gary exemplifica o que os psiquiatras chamam de alexitimia, do grego a<br />

(ausência), léxis (palavra) e thymós (emoção). Faltam a essas pessoas palavras para descrever seus<br />

sentimentos. Na verdade, parecem faltar-lhes sentimentos completamente, embora isso talvez se<br />

deva mais à sua incapacidade de manifestar emoção do que a uma completa ausência de emoção.<br />

Essas pessoas foram notadas pela primeira vez por psicanalistas intrigados por um tipo de pacientes<br />

intratáveis pelo seu método, porque não comunicavam sentimentos, fantasias, mas apenas sonhos<br />

incolores - em suma, nenhuma vida interior digna de nota. As características clínicas que assinalam<br />

a alexitimia incluem dificuldade para descrever sentimentos - os próprios ou os de outrem e um<br />

vocabulário emocional seriamente limitado. E além disso, tais pessoas têm dificuldade para<br />

discriminar emoções e distinguir entre emoção e sensação física, de modo que descrevem<br />

problemas estomacais, palpitações, suores e tontura mas não saberiam que estão ansiosos. "Dão a

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