Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

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27.04.2013 Views

Isso subverte a velha compreensão da tensão entre razão e sentimento: não é que queiramos eliminar a emoção e pôr a razão em seu lugar, como queria Erasmo, mas ao contrário encontrar o equilíbrio inteligente das duas. O velho paradigma defendia um ideal de razão livre do peso da emoção. O novo nos exorta a harmonizar cabeça e coração. Fazer isso bem em nossas vidas implica que precisamos primeiro entender com mais exatidão o que significa usar inteligentemente a emoção. PARTE DOIS A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL QUANDO SER ESPERTO É SER BURRO Exatamente por que David Pologruto, um professor de física no ginásio, foi ferido do com uma faca de cozinha por um de seus melhores alunos, ainda é discutível. Mas os fatos, amplamente noticiados, são os seguintes: Jason H., um segundanista que só tirava A num ginásio de Coral Springs, Flórida, estava obcecado com a idéia de entrar na faculdade de medicina. Não numa faculdade de medicina qualquer sonhava com Harvard. Mas Pologruto, seu professor de física, deu-lhe uma nota 80 numa prova. Achando que a nota um B simples punha em risco o seu sonho, Jason levou uma faca de açougueiro para a escola e, numa discussão com Pologruto no laboratório de física, esfaqueou-o na clavícula, antes de ser dominado numa luta. Um juiz dedarou Jason inocente, temporariamente insano durante o incidente um conselho de quatro psicólogos e psiquiatras jurou que ele estava psicótico durante a briga. Jason alegou que pensara em suicídio por causa da nota na prova e procurara Pologruto para Ihe dizer que ia se matar por causa da nota ruim. Pologruto contou uma história diferente: Acho que ele tentou me matar mesmo com a faca pois estava furioso com a nota ruim. Após transferir-se para uma escola particular, Jason formou-se dois anos depois num dos primeiros lugares da turma. Uma aprovação perfeita nos cursos regulares Ihe teria dado um A, com média 4, mas ele fizera muitos cursos avançados para elevar sua média a 4 614 muito acima do A+. Embora Jason se houvesse formado com o mais alto louvor, seu antigo professor de física, David Pologruto, queixava-se de que ele jamais Ihe pedira desculpas nem assumira responsabilidade pelo ataque. A questão é: como alguém com uma inteligência tão óbvia faz uma coisa tão irraeional tão burra mesmo? Resposta: a inteligência acadêmica pouco tem a ver com a vida emocional. Os mais brilhantes entre nós podem afundar nos recifes de paixões desenfreadas e impulsos desgovernados; pessoas com altos níveis de Ql são às vezes pilotos incompetentes de suas vidas particulares. Um dos segredos de Polichinelo da psicologia é a relativa incapacidade das notas, medições de Ql ou contagens do SAT, apesar de sua mística popular, predizerem com certeza quem será bemsucedido na vida. Claro, há uma relação entre o Ql e as circunstâncias de vida para grandes grupos como um todo: muitas pessoas com índices de Ql muito baixos acabam em empregos servis, e as de altos índices tendem a se tornar bem pagas, mas de nenhum modo sempre. Há inúmeras exceções à regra de que o Ql prevê o sucesso tantas (ou mais)

exceções quanto os casos que se encaixam na regra. Na melhor das hipóteses, o QI contribui com cerca de 20 por cento para os fatores que determinam o sucesso na vida, o que deixa 80 por cento a outras forças. Como diz um observdor: A vasta maior parte da posição final de alguém na sociedade é determinada por fatores não relacionados com o Ql e que variam de classe social a sorte. Mesmo Richard Herrnstein e Charles Murray, cujo livro Tbe Bell Curve [A Curva do Sino] atribui irnportância básica ao Ql, reconhecem isso; como observam: "Talvez um calouro com uma contagem SAT total de 500 pontos em matemática fizesse melhor não pensando em ser matemático, mas se em vez disso quer ter seu prõprio negócio, tornar-se senador dos Estados Unidos ou ganhar um milhão de dólres, não pode abandonar esses sonhos... A ligação entre essas contagens de pontos e aquelas realizações é reduzida pela totalidade de outras características que ele traz para a vida. Minha preocupação é com um conjunto fundamental dessas "outras características", a inteligência emocional: talentos como a capacidade de motivar-se e persistir diante de frustrações; controlar impulsos e adiar a satisfação; regu lar próprio estado de espírito e impedir que a aflição invada a capacidade de pensar; criar enpatia e esperar. Ao contrário do Ql, com seus quase cem anos de história história de pesquisa com milhares de pessoas, a inteligência emocional é um conceito ceito novo. Ninguém pode ainda dizer exatamente até onde responde pela variação de pessoa para pessoa no curso da vida. Mas os dados que existem sugerem que ela pode ser tão poderosa e às vezes mais quanto o Ql. E embora haja quem argumente que não se pode mudar muito o Ql com a experiência ou educação, mostrarei na Parte Cinco que as aptidões emocionais decisivas na verdade podem ser aprendidas e melhoradas nas crianças e nos dermos ao trabalho de ensiná-las. INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E DESTINO Lembro-me do camarada em minha turma na Universidade de Amherst que alcançara cinco perfeitos 800 no SAT e em outros testes que fizera antes de entrar.Apesar de suas formidáveis aptidões intelectuais, ele passava a maior parte do tempo sem fazer nada, ficando acordado até tarde e faltando às aulas por dormir até meio-dia. Levou quase dez anos para obter afinal seu diploma. O Ql pouco oferece para explicar os diferentes destinos de pessoas com mais ou menos iguais promessas, escolaridade e oportunidade. Quando se acompanharam 95 universitários de Harvard, das classes da década de 40 - época em que mais pessoas com maior índice de Ql estudavam nas faculdades de elite do que acontece hoje até a meia-idade, os homens com as melhores notas nas provas não se mostraram particularmente bem-sucedidos, em comparação com os colegas de notas menores, em termos de salário, produtividade ou status em seu campo. Nem tinham maior satisfação na vida e tampouco eram mais felizes nas amizades, família e relacionamentos amorosos. Acompanhamento semelhante até a meia-idade foi feito com 450 garotos, a maioria filhos de imigrantes, dois terços vindos de famílias que viviam da previdência social, criados em Somerville, Massachusetts, na época um "cortiço pestilento" a alguns quarteirões de Harvard. Um terço deles tinha Ql abaixo de 90. Porém, mais uma vez, o Ql pouca relação teve com o grau de sucesso que conseguiram no trabalho ou no resto de suas vidas; por exemplo, 7 por cento dos homens com Qls inferiores a 80 ficaram desempregados durante dez ou mais anos, mas também ficaram 7 por cento daqueles com Ql acima de 100. Claro, havia uma ligação geral (como sempre há) entre Ql e nível socioeconômico aos quarenta e sete anos. Mas aptidões de infância como capacidade de lidar com frustrações, controlar emoções e relacionar-se com outras pessoas contavam mais.

Isso subverte a velha compreensão da tensão entre razão e sentimento: não é que queiramos<br />

eliminar a emoção e pôr a razão em seu lugar, como queria Erasmo, mas ao contrário encontrar o<br />

equilíbrio inteligente das duas. O velho paradigma defendia um ideal de razão livre do peso da<br />

emoção. O novo nos exorta a harmonizar cabeça e coração. Fazer isso bem em nossas vidas implica<br />

que precisamos primeiro entender com mais exatidão o que significa usar inteligentemente a<br />

emoção.<br />

PARTE DOIS A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL<br />

QUANDO SER ESPERTO É SER BURRO<br />

Exatamente por que David Pologruto, um professor de física no ginásio, foi ferido do com uma faca<br />

de cozinha por um de seus melhores alunos, ainda é discutível.<br />

Mas os fatos, amplamente noticiados, são os seguintes:<br />

Jason H., um segundanista que só tirava A num ginásio de Coral Springs, Flórida, estava obcecado<br />

com a idéia de entrar na faculdade de medicina. Não numa faculdade de medicina qualquer sonhava<br />

com Harvard. Mas Pologruto, seu professor de física, deu-lhe uma nota 80 numa prova. Achando<br />

que a nota um B simples punha em risco o seu sonho, Jason levou uma faca de açougueiro para a<br />

escola e, numa discussão com Pologruto no laboratório de física, esfaqueou-o na clavícula, antes de<br />

ser dominado numa luta.<br />

Um juiz dedarou Jason inocente, temporariamente insano durante o incidente um conselho de<br />

quatro psicólogos e psiquiatras jurou que ele estava psicótico durante a briga. Jason alegou que<br />

pensara em suicídio por causa da nota na prova e procurara Pologruto para Ihe dizer que ia se matar<br />

por causa da nota ruim. Pologruto contou uma história diferente:<br />

Acho que ele tentou me matar mesmo com a faca pois estava furioso com a nota ruim.<br />

Após transferir-se para uma escola particular, Jason formou-se dois anos depois num dos primeiros<br />

lugares da turma. Uma aprovação perfeita nos cursos regulares Ihe teria dado um A, com média 4,<br />

mas ele fizera muitos cursos avançados para elevar sua média a 4 614 muito acima do A+. Embora<br />

Jason se houvesse formado com o mais alto louvor, seu antigo professor de física, David Pologruto,<br />

queixava-se de que ele jamais Ihe pedira desculpas nem assumira responsabilidade pelo ataque.<br />

A questão é: como alguém com uma inteligência tão óbvia faz uma coisa tão irraeional tão burra<br />

mesmo? Resposta: a inteligência acadêmica pouco tem a ver com a vida emocional. Os mais<br />

brilhantes entre nós podem afundar nos recifes de paixões desenfreadas e impulsos desgovernados;<br />

pessoas com altos níveis de Ql são às vezes pilotos incompetentes de suas vidas particulares.<br />

Um dos segredos de Polichinelo da psicologia é a relativa incapacidade das notas, medições de Ql<br />

ou contagens do SAT, apesar de sua mística popular, predizerem com certeza quem será bemsucedido<br />

na vida. Claro, há uma relação entre o Ql e as circunstâncias de vida para grandes grupos<br />

como um todo: muitas pessoas com índices de Ql muito baixos acabam em empregos servis, e as de<br />

altos índices tendem a se tornar bem pagas, mas de nenhum modo sempre.<br />

Há inúmeras exceções à regra de que o Ql prevê o sucesso tantas (ou mais)

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