Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

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27.04.2013 Views

O cérebro usa um método simples mas astuto para registrar memórias emocionais com força especial: os mesmíssimos sistemas de alarme neuroquímicos que preparam o corpo para reagir a emergências de risco de vida com a resposta de lutar-ou-fugir também gravam vividamente o momento na memória. Sob tensão (ou ansiedade, ou provavelmente até mesmo intensa excitação de alegria), um nervo que vai do cérebro às glandulas supra-renais acima dos rins provoca uma secreção dos hormônios epinefrina e norepinefrina, que invadem o corpo, preparando-o para uma emergência. Esses hormônios ativam receptores no nervo vago; embora este transmita mensagens do cérebro para regular o coração, também transmite sinais de volta para o cérebro, disparados pela epinefrina e norepinefrina. A amígdala é o principal ponto no cérebro para onde vão esses sinais; eles ativam neurônios dentro dela que enviam sinais a outras regiões cerebrais, a fim de fortalecer a memória do que está acontecendo. Esse estímulo da amígdala parece gravar na memória a maioria dos momentos de estímulo emocional de maior grau de intensidade - por isso é que é mais provável, por exemplo, lembrarmos de onde tivemos um primeiro encontro amoroso, ou o que fazíamos quando ouvimos a notícia de que o ônibus espacial Challenger explodira. Quanto mais intenso o estímulo da amígdala, mais forte o registro; as experiências que mais nos apavoram ou emocionam na vida estão entre nossas lembranças indeléveis. Isto significa, na verdade, que o cérebro tem dois sistemas de memória, um para fatos comuns e outro para os emocionalmente te carregados. Um sistema especial de memórias faz excelente sentido na evolução,claro assegurando que os animais tenham lembranças particularmente vívidas do que os ameaçava ou agradava. Mas as memórias emocionais podem ser guias imperfeitas para o presente. ALARMES NEURAIS ANACRÔNICOS Uma desvantagem desses alarmes neurais está em que a mensagem urgente enviada pela amígdala é às vezes, se não com muita freqüência, anacrônica sobretudo no fluido mundo social em que nós humanos vivemos. Como repositório de memória emocional, a amígdala examina a experiência, comparando o que acontece agora com o que aconteceu no passado. Seu método de comparação é associativo: quando um elemento-chave de uma situação presente é semelhante ao passado, pode-se dizer que se "casam" - motivo pelo qual esse circuito é falho: age antes de haver uma plena confirmação. Ordena-nos freneticamente que reajamos ao presente com meios registrados muito tempo atrás, com pensamentos, emoções e reações aprendidos em resposta a acontecimentos talvez apenas vagamente semelhantes, mas ainda assim o bastante para alarmar a amígdala. Assim, uma ex-enfermeira do exército, traumatizada pelo incessante fluxo de ferimentos horríveis de que cuidou na guerra, é acometida de repente por uma mistura de pavor, repugnância e pânico uma repetição de sua reação no campo de batalha, provocada mais uma vez, anos depois, pelo mau cheiro quando abre a porta de um armário e descobre que seu filho pequeno enfiou ali uma fralda suja. Basta que poucos elementos esparsos da situação pareçam semelhantes a algum perigo do passado para que a amígdala dispare seu manifesto de emergência. O problema é que, junto com as lembranças emocionalmente carregadas que têm o poder de provocar essa reação de crise, podem vir do mesmo modo formas obsoletas de respondê-la. À imprecisão do cérebro emocional nesses momentos, acrescenta-se o fato de que muitas lembranças emocionais fortes datam dos primeiros anos de vida, na relação entre a criança e aqueles que cuidam dela. Isso se aplica sobretudo aos acontecimentos traumáticos, como surras ou abandono total. Durante esse primeiro período de vida, outras estruturas cerebrais, em particular o hipocampo, que é crucial para as lembranças narrativas, e o neocórtex, sede do pensamento racional, ainda não se desenvolveram inteiramente. Na memória, a amígdala e o hipocampo trabalham juntos; cada um armazena e conserva independentemente sua informação. Enquanto o hipocampo retém a

informação, a amígdala determina se ela tem valência emocional. Mas a amígdala, que amadurece muito rápido no cérebro infantil, está muito mais próxima da forma completa no nascimento. LeDoux recorre ao papel da amígdala na infância para confirmar o que há muito tempo é uma doutrina básica do pensamento psicanalítico: que as interações dos primeiros anos de vida estabelecem um conjunto de lições elementares, baseadas na sintonia e perturbações nos contatos entre a criança e os que cuidam dela. Essas lições emocionais são tão poderosas, e no entanto tão difíceis de entender do privilegiado ponto de vista da vida adulta, porque, acredita LeDoux, estão armazenadas na amígdala como planos brutos, sem palavras, para a vida emocional. Como essas primeiras lembranças emocionais se estabelecem numa época anterior àquela em que as crianças têm palavras para descrever sua experiência, quando essas lembranças são disparadas na vida posterior não há um conjunto combinante de pensamentos articulados sobre a resposta que se apodera de nós. Um dos motivos pelos quais ficamos tão aturdidos com nossas explosões emocionais, portanto, é que elas muitas vezes remontam a um tempo inicial em nossas vidas, quando tudo era desconcertante e ainda não tínhamos palavras para compreender os fatos. Podemos ter os sentimentos caóticos, mas não as palavras para as lembranças que os formaram. QUANDO AS EMOÇÕES SÃO RÁPIDAS E SENTIMENTAIS Era por volta das três da manhã, quando um imenso objeto varou com um estrondo o teto, num canto afastado do meu quarto, despejando ali dentro coisas que estavam no sótão. Num segundo, saltei da cama e saí correndo do quarto, num terror de que todo o teto desabasse. Depois, percebendo que estava a salvo, voltei para espiar cautelosamente o que causara aquele estrago todo - e descobri simplesmente que o som que julgara ser do teto desabando fora na verdade a queda de uma pilha de caixas que minha mulher amontoara no canto na véspera, quando arrumava o armário. Nada caíra do sótão: não havia sótão. O teto estava intato, assim como eu. Meu salto da cama meio adormecido, que poderia ter-me salvo de ferimentos se fosse mesmo o teto caindo ilustra o poder da amígdala de nos impelir à ação nas emergências, momentos vitais antes de o neocórtex ter tempo de registrar plenamente o que na verdade está acontecendo. A rota de emergência do olho ou ouvido ao tálamo e à amígdala é crucial: poupa tempo numa emergência, quando se exige uma reação instântanea. Mas esse circuito do tálamo à amígdala transmite apenas uma pequena parte das mensagens sensoriais, com a maioria tomando o caminho principal até o neocórtex. Assim, o que se registra na amígdala via essa rota expressa é, na melhor das hipóteses, um sinal informe, suficiente apenas para uma advertência. Como observa LeDoux, "não se precisa saber exatamente o que é uma coisa para saber que pode ser perigosa''. A rota direta tem uma enorme vantagem em tempo cerebral, que é calculado em milésimos de segundo. A amígdala de um rato pode iniciar uma resposta . uma percepção numa fração mínima de doze milissegundos. A rota do tálamo ao neocórtex e à amígdala leva cerca de duas vezes esse tempo. Ainda não se fizeram medições semelhantes no cérebro humano, mas a proporção gera provavelmente se confirmaria. Em termos evolucionários, o valor de sobrevivência dessa rota direta teria sido grande, permitindo uma opção de resposta rápida que cortam alguns crítico milissegundos no tempo de reação a perigos. Esses milissegundos bem poden ter salvo a vida de nossos ancestrais protomamíferos em número tal que esquema é hoje característico de todo cérebro de mamífero, incluindo os seus e o meu. Na verdade, embora esse circuito desempenhe uma função relativamente limitada na vida mental humana, restrita em grande parte a crises emocionais,a maior parte da vida mental de pássaros,

informação, a amígdala determina se ela tem valência emocional. Mas a amígdala, que amadurece<br />

muito rápido no cérebro infantil, está muito mais próxima da forma completa no nascimento.<br />

LeDoux recorre ao papel da amígdala na infância para confirmar o que há muito tempo é uma<br />

doutrina básica do pensamento psicanalítico: que as interações dos primeiros anos de vida<br />

estabelecem um conjunto de lições elementares, baseadas na sintonia e perturbações nos contatos<br />

entre a criança e os que cuidam dela.<br />

Essas lições emocionais são tão poderosas, e no entanto tão difíceis de entender do privilegiado<br />

ponto de vista da vida adulta, porque, acredita LeDoux, estão armazenadas na amígdala como<br />

planos brutos, sem palavras, para a vida emocional. Como essas primeiras lembranças emocionais<br />

se estabelecem numa época anterior àquela em que as crianças têm palavras para descrever sua<br />

experiência, quando essas lembranças são disparadas na vida posterior não há um conjunto<br />

combinante de pensamentos articulados sobre a resposta que se apodera de nós. Um dos motivos<br />

pelos quais ficamos tão aturdidos com nossas explosões emocionais, portanto, é que elas muitas<br />

vezes remontam a um tempo inicial em nossas vidas, quando tudo era desconcertante e ainda não<br />

tínhamos palavras para compreender os fatos. Podemos ter os sentimentos caóticos, mas não as<br />

palavras para as lembranças que os formaram.<br />

QUANDO AS EMOÇÕES SÃO RÁPIDAS E SENTIMENTAIS<br />

Era por volta das três da manhã, quando um imenso objeto varou com um estrondo o teto, num<br />

canto afastado do meu quarto, despejando ali dentro coisas que estavam no sótão. Num segundo,<br />

saltei da cama e saí correndo do quarto, num terror de que todo o teto desabasse. Depois,<br />

percebendo que estava a salvo, voltei para espiar cautelosamente o que causara aquele estrago todo<br />

- e descobri simplesmente que o som que julgara ser do teto desabando fora na verdade a queda de<br />

uma pilha de caixas que minha mulher amontoara no canto na véspera, quando arrumava o armário.<br />

Nada caíra do sótão: não havia sótão. O teto estava intato, assim como eu.<br />

Meu salto da cama meio adormecido, que poderia ter-me salvo de ferimentos se fosse mesmo o teto<br />

caindo ilustra o poder da amígdala de nos impelir à ação nas emergências, momentos vitais antes de<br />

o neocórtex ter tempo de registrar plenamente o que na verdade está acontecendo. A rota de<br />

emergência do olho ou ouvido ao tálamo e à amígdala é crucial: poupa tempo numa emergência,<br />

quando se exige uma reação instântanea. Mas esse circuito do tálamo à amígdala transmite apenas<br />

uma pequena parte das mensagens sensoriais, com a maioria tomando o caminho principal até o<br />

neocórtex. Assim, o que se registra na amígdala via essa rota expressa é, na melhor das hipóteses,<br />

um sinal informe, suficiente apenas para uma advertência. Como observa LeDoux, "não se precisa<br />

saber exatamente o que é uma coisa para saber que pode ser perigosa''.<br />

A rota direta tem uma enorme vantagem em tempo cerebral, que é calculado em milésimos de<br />

segundo. A amígdala de um rato pode iniciar uma resposta .<br />

uma percepção numa fração mínima de doze milissegundos. A rota do tálamo ao neocórtex e à<br />

amígdala leva cerca de duas vezes esse tempo. Ainda não se fizeram medições semelhantes no<br />

cérebro humano, mas a proporção gera provavelmente se confirmaria.<br />

Em termos evolucionários, o valor de sobrevivência dessa rota direta teria sido grande, permitindo<br />

uma opção de resposta rápida que cortam alguns crítico milissegundos no tempo de reação a perigos.<br />

Esses milissegundos bem poden ter salvo a vida de nossos ancestrais protomamíferos em número tal<br />

que esquema é hoje característico de todo cérebro de mamífero, incluindo os seus e o meu. Na<br />

verdade, embora esse circuito desempenhe uma função relativamente limitada na vida mental<br />

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