Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

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27.04.2013 Views

E essas são apenas parte de uma cuidadosamente coordenada série de mudanças que a amígdala organiza quando recruta áreas de todo o cérebro (para uma explicação mais detalhada, ver Apêndice C). A extensa rede de ligações neurais da amígdala Ihe permite, durante uma emergência emocional, tomar e dirigir grande parte do resto do cérebro - inclusive a mente racional. A SENTINELA EMOCIONAL Conta um amigo que, numas férias na Inglaterra, fez um desjejum reforçado num café à beira de um canal. Dando depois um passeio pelos degraus de pedra que desciam para o canal, viu de repente uma moça fitando a água, o rosto transido de medo. Antes de saber bem o motivo, ele já pulara - de paletó e gravata. Só então, compreendeu que a moça fitava em choque uma criancinha que caíra na água - e que ele conseguiu salvar. O que o fez pular na água antes de saber por quê? A resposta, muito provavelmente, é: foi sua amígdala. Numa das descobertas mais impressionantes sobre emoções da última década o trabalho de LeDoux revelou que a arquitetura do cérebro dá à amígdala uma posição privilegiada como sentinela emocional, capaz de seqüestrar o cérebro. Sua pesquisa mostrou que sinais sensoriais do olho ou ouvido viajam no cérebro primeiro para o tálamo, e depois - por uma única sinapse - para a amígdala; um segundo sinal do tálamo é encaminhado para o neocórtex - o cérebro pensante. Essa ramificação permite que a amígdala comece a responder antes do neocórtex, que rumina a informação em vários níveis dos circuitos cerebrais, antes de percebê-la plenamente e iniciar por fim sua resposta mais cuidadosamente talhada. A pesquisa de LeDoux é revolucionária para a compreensão da vida emocional por ser a primeira a estabelecer caminhos neurais de sentimentos que contornam o neocórtex. Esses sentimentos que tomam a rota direta da amígdala estão entre os nossos mais primitivos e poderosos; esse circuito muito faz para ajudar a explicar o poder da emoção para esmagar a racionalidade. A opinião convencional na neurociência era que o olho. ouvido e outros órgãos sensoriais transmitem sinais ao tálamo, e de lá para as àreas de processamento sensorial do neocórtex, onde eles são reunidos em objetos como nós os percebemos. Os sinais são classificados por significados, para que o cérebro reconheça o que é cada objeto e o que significa a sua presença. Do neocórtex, dizia a antiga teoria, os sinais são enviados para o cérebro límbico, e de lá a resposta apropriada se irradia pelo cérebro e o resto do corpo. É assim que funciona grande ou a maior parte do tempo - mas LeDoux descobriu um pequeno feixe de neurônios que vai direto do tálamo à amígdala, além dos que seguem pelo caminho maior de neurônios até o córtex. Esse caminho menor e mais curto - como uma viela neural - permite à amígdala receber alguns insumos diretos dos sentidos e iniciar uma resposta antes que eles sejam plenamente registrados pelo neocórtex. Essa descoberta põe abaixo inteiramente a idéia de que a amígdala tem de depender inteiramente de sinais do neocórtex para formular suas reações emocionais. A amígdala pode acionar uma resposta emocional por essa rota de emergência, no momento mesmo em que um circuito ressonante paralelo se inicia entre a amígdala e o neocórtex. A amígdala pode fazer-nos lançar à ação, enquanto o neocórtex - ligeiramente mais lento, porém mais plenamente informado - traça seu plano de reação mais refinado.

LeDoux pôs por terra o conhecimento predominante sobre os caminhos percorridos pelas emoções, com sua pesquisa sobre medo em animais. Numa experiência crucial, destruiu o córtex auditivo de ratos, depois os expôs a um tom simultâneo a um choque elétrico. Os ratos logo aprenderam a temer o tom, ainda que o som do tom não fosse registrado em seu neocórtex. Em vez disso, o som tomava a rota direta do ouvido ao tálamo e à amígdala, saltando todos os trajetos maiores. Em suma, os ratos aprenderam uma reação emocional, sem nenhum envolvimento cortical maior: a amígdala percebeu, lembrou e orquestrou seu medo de modo independente. - Anatomicamente, o sistema emocional pode agir de modo independente do neocórtex disse-me LeDoux. Algumas reações e lembranças emocionais podem formar-se sem absolutamente nenhuma participação consciente e cognitiva. A amígdala pode abrigar lembranças e repertórios de respostas que interpretamos sem compreender bem por que o fazemos, por que o atalho do tálamo à amígdala contoma completamente o neocórtex. Essa passagem parece permitir que a amígdala seja um repositório de impressões emocionais e lembranças que jamais conhecemos em plena consciência. LeDoux sugere que é o papel subterrâneo da amígdala na memória que explica, por exemplo, uma experiência surpreendente, em que pessoas adquiriram preferência por figuras geométricas de formas estranhas, mostradas em lampejos tão rápidos que elas nem tiveram qualquer conhecimento consciente de tê-las visto!6 Outra pesquisa demonstrou que, nos primeiros milésimos de segundo de nossa percepção de alguma coisa, não apenas compreendemos inconscientemente o que é, mas decidimos se gostamos ou não dela, o "inconsciente cognitivo" apresenta à nossa consciência não apenas a identidade do que vemos mas uma opinião sobre o que vemos. Nossas emoções têm uma mente própria que pode ter opiniões bastante independentes de nossa mente racional. O sinal visual vai primeiro da retina para o tálamo, onde é traduzido para a linguagem do cérebro A maior parte da mensagem segue então para O córtex visual, onde é analisada e avaliada em busca do significado e da resposta adequada se a resposta é emocional, um sinal vai para a amígdala ativar os centros emocionais Mas uma parte menor do sinal original vai direto do tálamo para a amígdala numa transmissão mais rápida, permitindo uma resposta mais pronta (embora menos precisa) Desse modo a amígdala pode disparar uma resposta emocional antes que os centros corticais tenham entendido plenamente O que se passa. A ESPECIALISTA EM MEMÓRIA EMOCIONAL Essas opiniões inconscientes são memórias emocionais, ficam guardadas na amígdala A pesquisa de LeDoux e outros neurocientistas parece agora sugerir que o hipocampo, há muito considerado a estrutura-chave do sistema límbico, está mais envolvido com o registro e a atribuição de sentido aos padrões perceptivos do que com reações emocionais. A principal contribuição do hipocampo está em fornecer uma precisa memória de contexto, vital para o significado emocional; é o hipocampo que reconhece o significado de, digamos, um urso no zoológico ou em nosso quintal. Enquanto o hipocampo lembra os fatos puros, a amígdala retém o sabor emocional que os acompanha. Se tentamos ultrapassar um carro numa estrada de mão dupla e por pouco escapamos de uma batida de frente, o hipocampo retém os detalhes específicos do incidente, como em que faixa da estrada estávamos, quem estava conosco, como era o outro carro. Mas é a amígdala que daí em diante enviará uma onda de ansiedade que nos percorre o corpo toda vez em que tentarmos ultrapassar um carro em circunstancias semelhantes. Como me explicou LeDoux: - O hipocampo é crucial no reconhecimento de um rosto como o de sua sobrinha. Mas é a amígdala que acrescenta que você na verdade não gosta dela.

LeDoux pôs por terra o conhecimento predominante sobre os caminhos percorridos pelas emoções,<br />

com sua pesquisa sobre medo em animais. Numa experiência crucial, destruiu o córtex auditivo de<br />

ratos, depois os expôs a um tom simultâneo a um choque elétrico. Os ratos logo aprenderam a temer<br />

o tom, ainda que o som do tom não fosse registrado em seu neocórtex. Em vez disso, o som tomava<br />

a rota direta do ouvido ao tálamo e à amígdala, saltando todos os trajetos maiores. Em suma, os<br />

ratos aprenderam uma reação emocional, sem nenhum envolvimento cortical maior: a amígdala<br />

percebeu, lembrou e orquestrou seu medo de modo independente.<br />

- Anatomicamente, o sistema emocional pode agir de modo independente do neocórtex disse-me<br />

LeDoux. Algumas reações e lembranças emocionais podem formar-se sem absolutamente nenhuma<br />

participação consciente e cognitiva.<br />

A amígdala pode abrigar lembranças e repertórios de respostas que interpretamos sem compreender<br />

bem por que o fazemos, por que o atalho do tálamo à amígdala contoma completamente o neocórtex.<br />

Essa passagem parece permitir que a amígdala seja um repositório de impressões emocionais e<br />

lembranças que jamais conhecemos em plena consciência. LeDoux sugere que é o papel<br />

subterrâneo da amígdala na memória que explica, por exemplo, uma experiência surpreendente, em<br />

que pessoas adquiriram preferência por figuras geométricas de formas estranhas, mostradas em<br />

lampejos tão rápidos que elas nem tiveram qualquer conhecimento consciente de tê-las visto!6<br />

Outra pesquisa demonstrou que, nos primeiros milésimos de segundo de nossa percepção de alguma<br />

coisa, não apenas compreendemos inconscientemente o que é, mas decidimos se gostamos ou não<br />

dela, o "inconsciente cognitivo" apresenta à nossa consciência não apenas a identidade do que<br />

vemos mas uma opinião sobre o que vemos. Nossas emoções têm uma mente própria que pode ter<br />

opiniões bastante independentes de nossa mente racional.<br />

O sinal visual vai primeiro da retina para o tálamo, onde é traduzido para a linguagem do cérebro A<br />

maior parte da mensagem segue então para O córtex visual, onde é analisada e avaliada em busca<br />

do significado e da resposta adequada se a resposta é emocional, um sinal vai para a amígdala ativar<br />

os centros emocionais Mas uma parte menor do sinal original vai direto do tálamo para a amígdala<br />

numa transmissão mais rápida, permitindo uma resposta mais pronta (embora menos precisa) Desse<br />

modo a amígdala pode disparar uma resposta emocional antes que os centros corticais tenham<br />

entendido plenamente O que se passa.<br />

A ESPECIALISTA EM MEMÓRIA EMOCIONAL<br />

Essas opiniões inconscientes são memórias emocionais, ficam guardadas na amígdala A pesquisa de<br />

LeDoux e outros neurocientistas parece agora sugerir que o hipocampo, há muito considerado a<br />

estrutura-chave do sistema límbico, está mais envolvido com o registro e a atribuição de sentido aos<br />

padrões perceptivos do que com reações emocionais. A principal contribuição do hipocampo está<br />

em fornecer uma precisa memória de contexto, vital para o significado emocional; é o hipocampo<br />

que reconhece o significado de, digamos, um urso no zoológico ou em nosso quintal.<br />

Enquanto o hipocampo lembra os fatos puros, a amígdala retém o sabor emocional que os<br />

acompanha. Se tentamos ultrapassar um carro numa estrada de mão dupla e por pouco escapamos<br />

de uma batida de frente, o hipocampo retém os detalhes específicos do incidente, como em que<br />

faixa da estrada estávamos, quem estava conosco, como era o outro carro. Mas é a amígdala que daí<br />

em diante enviará uma onda de ansiedade que nos percorre o corpo toda vez em que tentarmos<br />

ultrapassar um carro em circunstancias semelhantes. Como me explicou LeDoux:<br />

- O hipocampo é crucial no reconhecimento de um rosto como o de sua sobrinha. Mas é a amígdala<br />

que acrescenta que você na verdade não gosta dela.

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