Daniel Goleman - Inteligencia Emocional
Daniel Goleman - Inteligencia Emocional
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O senso em que os pacientes de PTSD se sentem "inseguros" vai além dos temores de estar<br />
cercados por perigos ocultos; a insegurança deles começa mais intimamente na sensação de que não<br />
têm controle sobre o que acontece ao seu corpo e às suas emoções. Isso é compreensível, em vista<br />
do gatilho sensível para o seqüestro criado pelo PTSD com a hipersensibilização dos circuitos da<br />
amígdala.<br />
A medicação oferece uma forma de restaurar o senso dos pacientes de que não precisam estar tão à<br />
mercê dos alarmes emocionais que os inundam de inexplicável ansiedade, os impedem de dormir ou<br />
povoam seu sono de pesadelos. Os farmacólogos esperam um dia preparar remédios específicos que<br />
visem precisamente os efeitos do PTSD sobre a amígdala e circuitos neurotransmissores a ela<br />
ligados. Mas por enquanto há medicamentos que combatem apenas algumas dessas mudanças,<br />
notadamente os antidepressivos, que atuam no sistema de serotonina, e betabloqueadores como o<br />
propanolol, que bloqueiam a ativação do sistema nervoso simpático. Os pacientes também podem<br />
aprender técnicas de relaxamento que Ihes dêem a capacidade de combater sua ansiedade e<br />
nervosismo. A calma fisiológica abre uma janela para ajudar os brutalizados circuitos emocionais a<br />
redescobrir que a vida não é uma ameaça, e para dar aos pacientes um pouco do senso de segurança<br />
que tinham em suas vidas antes de acontecer o trauma.<br />
Outro passo na cura envolve contar e reconstruir a história na proteção dessa segurança, permitindo<br />
que os circuitos emocionais adquiram uma compreensão e resposta novas e mais realistas à<br />
lembrança traumática e seus gatilhos. À medida que os pacientes contam os horríveis detalhes do<br />
trauma, a memória começa a transformar-se tanto em seu significado emocional quanto em seus<br />
efeitos sobre o cérebro emocional. O ritmo desse contar é delicado; ideal mente imita o ritmo que<br />
ocorre naturalmente nas pessoas que podem recuperar-se do trauma sem do trauma sem sofrer<br />
PTSD. Nesses casos, muitas vezes parece haver um relógio interno que dosa as pessoas com<br />
lembranças intrusas, que revivem o trauma, intercaladas com semanas ou meses em que mal se<br />
lembram de alguma coisa dos horríveis acontecimentos<br />
Essa alternância de reimersão e alívio parece permitir um exame espontâneo do trauma e o<br />
reaprendizado da resposta emocional a ele. Para aqueles cujo PTSD é mais intratável, diz a Dra.<br />
Herman, contar sua história às vezes dispara temores arrasadores caso em que o terapeuta deve<br />
reduzir o ritmo para manter as reações do paciente dentro de uma gama tolerável, que não<br />
comprometa O reaprendizado.<br />
O terapeuta encoraja o paciente a contar os fatos traumáticOs o mais vividamente possível, como<br />
um vídeo doméstico de horror, recuperando cada sórdido detalhe. Isso inclui não apenas as coisas<br />
específicas que viu, ouviu cheirou e sentiu, mas também suas reações o pavor, nojo, náusea O<br />
objetivo aqui é pôr toda a lembrança em palavras, o que significa captar partes dela que<br />
podem ter sido dissociadas e portanto estar ausentes do lembrar consciente Pondo-se detalhes<br />
sensoriais e sentimentos em palavras, supostamente põem-se as lembranças mais sob o controle do<br />
neocórtex, onde as reações que elas açulam podem ser tornadas mais compreensíveis e também<br />
mais controláveis o reaprendizado emocional nesse ponto é em grande parte conseguido pelo<br />
reviver os fatos e as próprias emoções, mas desta vez num ambiente de segurança, em companhia<br />
de um terapeuta em quem se confia. Isso começa a transmitir uma lição reveladora aos circuitos<br />
emocionais - de que se pode sentir segurança, e não implacável terror, juntamente com as<br />
lembranças do trauma.<br />
O menino de cinco anos que desenhou a imagem dos olhos gigantes depois de assistir ao sangrento<br />
assassinato de sua mãe não fez mais nenhum outro desenho depois do primeiro; em vez disso, ele e<br />
o terapeuta, Spencer Eth, fizeram brincadeiras, criando um elo de relação. Só muito aos poucos o<br />
garoto começou a contar a história do assassinato, a princípio de uma forma estereotipada, recitando<br />
cada detalhe exatamente da mesma forma a cada repetição. Aos poucos, porém, sua narrativa foi-se