Daniel Goleman - Inteligencia Emocional

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27.04.2013 Views

Todas essas mudanças neurais proporcionam vantagens a curto prazo para lidar com as emergências sinistras e aflitivas que as causam. Sob pressão, a amígdala adapta-se para ficar altamente vigilante, estimulada, pronta para qualquer coisa, indiferente à dor, o corpo preparado para demandas físicas constantes, e no momento indiferente ao que poderiam de outro modo ser fatos intensamente perturbadores. Essas vantagens a curto prazo, porém, tornam-se problemas duradouros quando o cérebro muda tanto que elas se tomam predisposições, como um carro emperrado em perpétua marcha alta. Quando a amígdala e as regiões a ela ligadas no cérebro adotam um novo ponto de partida num momento de trauma intenso, essa mudança de excitabilidade essa acrescida prontidão para disparar um seqüestro neural - significa que toda a vida está na iminência de tornar-se uma emergência, e mesmo um momento inocente pode causar uma explosão de medo desenfreado. REAPRENDIZADO EMOCIONAL Essas lembranças traumáticas parecem permanecer como pontos fixos da função cerebral porque interferem no aprendizado posterior especificamente, no reaprendizado de uma resposta mais normal a esses fatos traumatizantes. No medo adquirido como o PTSD, os mecanismos de aprendizado e memória se desorientam; também aqui, é a amígdala que é a chave entre as regiões do cére bro envolvidas. Mas na superação do medo adquirido, o neocórtex é fundamental. Medo condicionado é o nome que os psicólogos empregam para o processo pelo qual uma coisa nem um pouco ameaçadora se torna temida por estar associada na mente de alguém a uma outra assustadora. Quando tais pavores são induzidos em animais de laboratório, observa Charney, os medos podem durar anos. A região-chave do cérebro que aprende, retém e age com base nessa resposta medrosa é o circuito entre os tálamos, amígdala e lobo pré-frontal a rota do seqüestro neural. Em geral, quando alguém aprende a assustar-se com uma coisa por medo condicionado, o medo passa com o tempo. Isso parece se dar por um reaprendizado natural, à medida que o objeto temido é de novo encontrado sem nada ele realmente assustador. Assim, uma criança que adquire medo de cachorro porque foi perseguida por um rosnante pastor alemão vai aos poucos e naturalmente perdendo o medo se, digamos, se muda para a vizinhança de alguém que tem um pastor alemão simpático, e passa tempo brincando com o cachorro. No PTSD espontâneo, não se dá o reaprendizado. Charney sugere que isso talvez se deva às mudanças do PTSD no cérebro, que são tão fortes que, na verdade, o seqüestro da amígdala ocorre toda vez que aparece alguma coisa mesmo vagamente reminiscente do trauma original, fortalecendo a rota do medo. Isso quer dizer que não há uma só vez em que o que se teme se combine com um sentimento de calma a amígdala jamais reaprende uma reação mais branda. A extincão do medo, observa, "parece envolver um processo de aprendizado ativo", que está ele próprio danificado nas pessoas com PTSD, "o que leva a anormal persistência de lembrancas emocionais". Mas com as experiências certas, mesmo o PTSD pode passar; fortes lembranças emocionais, e os padrões de pensamento e reação que elas disparam podem mudar com o tempo. Chamey sugere que esse reaprendizado é cortical, O medo original entranhando na amígdala não vai embora completamente; em vez disso o córtex pré-frontal suprime ativamente o comando da amígdala para o resto do corpo responder com medo. O problema é com que rapidez a gente se livra do medo aprendido?

pergunta Richard Davidson, o psicólogo da Universidade de Wisconsin que descobriu o papel do córtex pré-frontal esquerdo como um amortecedor de angústia. Numa experiência de laboratório em que as pessoas primeiro aprendiam a ter aversão a um ruído alto um paradigma do medo aprendido, e um discreto paralelo do PTSD Davidson constatou que as pessoas que tinham mais atividade no córtex pré-frontal esquerdo superavam mais rapidamente o medo adquirido, o que também sugere um papel cortical na liberação da angústia aprendida. REEDUCANDO O CÉREBRO EMOCIONAL Uma das mais estimulantes descobertas sobre o PTSD veio de um estudo com sobreviventes do Holocausto, cerca de três quartos dos quais se constatou terem ativos sintomas de PTSD mesmo meio século depois. A descoberta positiva foi que um quarto dos sobreviventes outrora perturbados por tais sintomas não mais os tinham; de algum modo, os fatos naturais de suas vidas haviam contrabalançado o problema. Os que ainda tinham os sintomas mostravam indícios de mudanças cerebrais relacionadas à catecolamina típicas do PTSD - mas os que se haviam recuperado não tinham tais mudanças. Essa descoberta e outras iguais oferecem a promessa de que as mudanças cerebrais no PTSD não são indeléveis, e que as pessoas podem recuperar-se mesmo das mais angustiantes cicatrizes emocionais em suma, que os circuitos emocionais podem ser reeducados. A notícia boa, assim, é que traumas profundos como os que causam o PTSD podem ser curados, e que a rota para essa cura passa pelo reaprendizado Uma das formas como essa cura emocional parece ocorrer espontaneamente pelo menos em crianças é por meio de jogos como o Purdy. Essas brincadeiras, feitas repetidas vezes, permitem que as crianças revivam o drama em segurança, como brincadeira. Isso oferece duas rotas de cura: de um lado, a memória repete o contexto de baiu ansiedade, dessensibilizando-a e permitindo que um conjunto de respostas não traumatizadas se associem a ela. Outra rota de cura é que, na mente delas, as crianças podem magicamente dar à tragédia outro resultado, melhor: às vezes, ao brincarem de Purdy, elas o matam, fortalecendo seu senso de domínio sobre aquele traumático momento de impotência Brincadeiras como a de Purdy são previsíveis em crianças pequenas que passaram por.uma violência tão arrasadora. Essas brincadeiras macabras em crianças traumatizadas foram observadas pela primeira vez pela Dra. Lenore Terr, uma psiquiatra infantil de San Francisco. Ela encontrou-as entre crianças de Chochilla, Califórnia a pouco mais de uma hora, pelo Central Valley, de Stockton, onde Purdy criou aquele inferno que em 1973 haviam sido seqüestradas quando voltavam de ônibus de um acampamento de verão. Os seqüestradores enterraram o ônibus, com as crianças e tudo, numa provação que durou vinte e sete horas Cinco anos depois, a Dra. Terr descobriu o seqüestro ainda sendo reencenado nas brincadeiras das vítimas. As meninas, por exemplo, faziam seqüestros simbólicos com suas bonecas Barbie. Uma delas, que detestara a sensação da urina das outras crianças em sua pele, quando se amontoavam juntas aterroriza das, nao parava de dar banho em sua Barbie. Outra brincava de Barbie Viajante, em que a boneca viaja para algum lugar não importa onde e retoma em segurança,que é o objetivo dabrincadeira. O preferido de outra menina era um cenário em que a boneca é metida num buraco e sufoca. Enquanto os adultos que passaram por um trauma arrasador podem sofrer um entorpecimento psíquico, bloqueando a lembrança ou sensação da catástrofe, a psique das crianças muitas vezes lida diferentemente com ele. A Dra. Terr acredita que elas se tomam menos freqüentemente entorpecidas para o trauma porque usam a fantasia, as brincadeiras e os devaneios para lembrar e repensar suas provações. Essas reencenações voluntárias do trauma parecem desviar a necessiclade

Todas essas mudanças neurais proporcionam vantagens a curto prazo para lidar com as emergências<br />

sinistras e aflitivas que as causam. Sob pressão, a amígdala adapta-se para ficar altamente vigilante,<br />

estimulada, pronta para qualquer coisa, indiferente à dor, o corpo preparado para demandas físicas<br />

constantes, e no momento indiferente ao que poderiam de outro modo ser fatos intensamente<br />

perturbadores. Essas vantagens a curto prazo, porém, tornam-se problemas duradouros quando o<br />

cérebro muda tanto que elas se tomam predisposições, como um carro emperrado em perpétua<br />

marcha alta.<br />

Quando a amígdala e as regiões a ela ligadas no cérebro adotam um novo ponto de partida num<br />

momento de trauma intenso, essa mudança de excitabilidade essa acrescida prontidão para disparar<br />

um seqüestro neural - significa que toda a vida está na iminência de tornar-se uma emergência, e<br />

mesmo um momento inocente pode causar uma explosão de medo desenfreado.<br />

REAPRENDIZADO EMOCIONAL<br />

Essas lembranças traumáticas parecem permanecer como pontos fixos da função cerebral porque<br />

interferem no aprendizado posterior especificamente, no reaprendizado de uma resposta mais<br />

normal a esses fatos traumatizantes. No medo adquirido como o PTSD, os mecanismos de<br />

aprendizado e memória se desorientam; também aqui, é a amígdala que é a chave entre as regiões<br />

do cére bro envolvidas. Mas na superação do medo adquirido, o neocórtex é fundamental.<br />

Medo condicionado é o nome que os psicólogos empregam para o processo pelo qual uma coisa<br />

nem um pouco ameaçadora se torna temida por estar associada na mente de alguém a uma outra<br />

assustadora. Quando tais pavores são induzidos em animais de laboratório, observa Charney, os<br />

medos podem durar anos. A região-chave do cérebro que aprende, retém e age com base nessa<br />

resposta medrosa é o circuito entre os tálamos, amígdala e lobo pré-frontal a rota do seqüestro<br />

neural.<br />

Em geral, quando alguém aprende a assustar-se com uma coisa por medo condicionado, o medo<br />

passa com o tempo. Isso parece se dar por um reaprendizado natural, à medida que o objeto temido<br />

é de novo encontrado sem nada ele realmente assustador. Assim, uma criança que adquire medo de<br />

cachorro porque foi perseguida por um rosnante pastor alemão vai aos poucos e naturalmente<br />

perdendo o medo se, digamos, se muda para a vizinhança de alguém que tem um pastor alemão<br />

simpático, e passa tempo brincando com o cachorro.<br />

No PTSD espontâneo, não se dá o reaprendizado. Charney sugere que isso talvez se deva às<br />

mudanças do PTSD no cérebro, que são tão fortes que, na verdade, o seqüestro da amígdala ocorre<br />

toda vez que aparece alguma coisa mesmo vagamente reminiscente do trauma original, fortalecendo<br />

a rota do medo.<br />

Isso quer dizer que não há uma só vez em que o que se teme se combine com um sentimento de<br />

calma a amígdala jamais reaprende uma reação mais branda.<br />

A extincão do medo, observa, "parece envolver um processo de aprendizado ativo", que está ele<br />

próprio danificado nas pessoas com PTSD, "o que leva a anormal persistência de lembrancas<br />

emocionais".<br />

Mas com as experiências certas, mesmo o PTSD pode passar; fortes lembranças emocionais, e os<br />

padrões de pensamento e reação que elas disparam podem mudar com o tempo. Chamey sugere que<br />

esse reaprendizado é cortical, O medo original entranhando na amígdala não vai embora<br />

completamente; em vez disso o córtex pré-frontal suprime ativamente o comando da amígdala para<br />

o resto do corpo responder com medo.<br />

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