Daniel Goleman - Inteligencia Emocional
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velha, para sentir-se seguro de que não seria de novo atingido na nuca. Uma mulher assaltada por<br />
um homem que entrou num elevador com ela e a obrigou a sair a ponta de faca num andar<br />
desocupado ficou durante semanas com medo de entrar não só em elevadores, mas também no<br />
metrô ou qualquer outro espaço fechado onde pudesse sentir-se acuada; saiu correndo de seu banco<br />
quando viu um homem enfiar a mão no paletó como tinha feito o assaltante.<br />
A marca do horror na memória e a supervigilância resultante podem durar a vida inteira, como<br />
constatou um estudo de sobreviventes do Holocausto. Quase cinqüenta anos depois de terem sofrido<br />
fome, o massacre de seus entes queridos e o terror constante nos campos de morte nazistas, as<br />
lembranças que os perseguiam continuavam vivas. Um terço dizia sentir um medo generalizado<br />
Quase três quartos disseram que ainda ficavam ansiosos com coisas que lembravam a perseguição<br />
nazista, como a visão de um uniforme, uma batida na porta, cães latindo, ou fumaça subindo de uma<br />
chaminé. Cerca de 60 por cento disseram que pensavam no Holocausto quase diariamente; mesmo<br />
meio século depois, até oito em dez ainda sofriam de pesadelos recorrentes. Como disse um<br />
sobrevivente:<br />
Se você passou por Auschwitz e não tem pesadelos, você não é normal.<br />
O HORROR CONGELADO NA LEMBRANÇA<br />
Palavras de um veterano do Vietnã, de quarenta e oito anos, cerca de vinte e quatro anos depois de<br />
passar por um momento horrorizante numa terra distante:<br />
Não consigo afastar a lembrança da mente! As imagens voltam como uma inundação em vívidos<br />
detalhes, provocadas pelas coisas mais inconseqüentes, como uma porta batendo, a visão de uma<br />
oriental, o contato com um tapete de bambu ou o cheiro de costeleta de porco frita. Ontem à noite<br />
eu fui para a cama, dormir bem para variar. Aí, de madrugada, veio uma tempestade e um trovão.<br />
Acordei no mesmo instante, gelado de medo. Estou de volta ao vietnã, no meio da estacão das<br />
monções, em meu posto de sentinela. Estou convencido de que vou ser atingido na próxima rajada e<br />
morrer. As mãos geladas, mas suando pelo corpo inteiro. Sinto cada fio de cabelo da nuca eriçar-se.<br />
Não consigo respirar, o coracão martela. Sinto um cheiro úmido de enxofre. De repente, vejo o que<br />
restou de meu companheiro Troy... numa bandeja de bambu, mandada para nosso acampamento<br />
pelos vietcongues... o relâmpago e o trovão seguintes me abalam de tal modo que caiu no chão.<br />
A lembrança horrível, vividamente nova e detalhada apesar de mais de duas décadas passadas,<br />
ainda tem o poder de causar nesse ex-soldado o mesmo medo que ele sentiu naquele dia fatídico. O<br />
PTSD representa um perigoso rebaixamento do ponto de alarme, deixando a pessoa reagir aos<br />
momentos comuns da vida como se fossem emergências. O circuito seqüestrador discutido no<br />
Capítulo 2 parece crítico no deixar uma marca tão poderosa na memória: quanto mais brutais,<br />
chocantes e horrendos os fatos que disparam o seqüestro da amígdala, mais indelével a lembrança.<br />
A base neural dessas lembranças parece ser uma generalizada alteração na química do cérebro posta<br />
em movimento por um único exemplo de terror arrasador.4 Embota as constatações do PTSD se<br />
baseiem tipicamente no impacto de um episódio, resultados semelhantes podem vir de crueldades<br />
infligidas num período de anos, como acontece com crianças sexual, física ou emocionalmente<br />
maltratadas.<br />
O mais detalhado trabalho sobre essas mudanças no cérebro está sendo feito no Centro Nacional do<br />
Distúrbio da Tensão Pós-Traumática, uma rede de locais de pesquisa com base em hospitais da<br />
Administração dos Veteranos, onde há grandes concentrações dos que sofrem de PTSD entre<br />
veteranos do Vietnã e outras guerras. Foi de estudos sobre veteranos como esses que veio a maior<br />
parte do nosso conhecimento do PTSD. Mas essas intuições também se aplicam a crianças que<br />
sofreram severo trauma emocional, como as da Escola Cleveland