Daniel Goleman - Inteligencia Emocional
Daniel Goleman - Inteligencia Emocional
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Aquele momento de olhos marejados poderia passar facilmente desapercebido. Mas a compreensão<br />
empática de que os olhos marejados de uma pessoa significam que ela está triste, apesar das<br />
palavras em contrário, é um ato de compreensão tão seguro como a destilação do sentido das<br />
palavras numa página impressa. Uma é um ato da mente emocional, a outra, da racional. Num<br />
sentido muito verdadeiro, temos duas mentes, a que pensa e a que sente.<br />
Esses dois modos fundamentalmente diferentes de conhecimento interagem na construção de nossa<br />
vida mental. Um, a mente racional, é o modo de compreensão de que, tipicamente, temos<br />
consciência: mais destacado na consciência, mais atencioso, capaz de ponderar e refletir. Mas junto<br />
com esse existe outro sistema de conhecimento impulsivo e poderoso, embora às vezes ilógico a<br />
mente emocional. (Para uma descrição mais detalhada das características da mente emocional, ver o<br />
Apêndice B.)<br />
A dicotomia emocional/racional aproxima-se da distinção popular entre "coração" e "cabeça" saber<br />
que alguma coisa é certa "aqui dentro do coração”<br />
é um tipo diferente de convicção de algum modo uma certeza mais profunda do que achar a mesma<br />
coisa com a mente racional. Há uma acentuada gradação na proporção entre controle racional e<br />
emocional da mente; quanto mais intenso o sentimento, mais dominante se toma a mente emocional<br />
e mais intelectual a racional. É uma disposição que parece originar-se de eras e eras da vantagem<br />
evolucionária de termos as emoções e intuições como guias de nossa resposta instantânea nas<br />
situações em que nossa vida está em perigo e nas quais parar para pensar o que fazer poderia nos<br />
custar a vida.<br />
Essas duas mentes, a emocional e a racional, operam em estreita harmonia na maior parte do tempo,<br />
entrelaçando seus modos de conhecimento para nos orientar no mundo. Em geral, há um equilíbrio<br />
entre as mentes emocional e racional, com a emoção alimentando e informando as operações da<br />
mente racional, e a mente racional refinando e às vezes vetando o insumo das emoções.<br />
Mas são faculdades semi-independentes, cada uma, como veremos, refletindo o funcionamento de<br />
circuitos distintos, mas interligados, no cérebro.<br />
Em muitos ou na maioria dos momentos, essas mentes se coordenam estranhamente; os sentimentos<br />
são essenciais para o pensamento, e vice-versa.<br />
Mas, quando surgem as paixões, o equilíbrio balança: é a mente emocional que toma o comando,<br />
inundando a racional. O humanista do século dezesseis Erasmo de Rotterdam escreveu, numa veia<br />
satírica, sobre essa perene tensão entre razão e emoção:<br />
Júpiter legou muito mais paixão que razão pode-se calcular a proporção em 24 por um. Pôs duas<br />
tiranas furiosas em oposição ao solitário poder da Razão: a ira e a luxúria. Até onde a Razão<br />
prevalece contra as forças combinadas das duas, a vida do homem comum deixa bastante claro. A<br />
Razão faz a única coisa que pode e berra até ficar rouca, repetindo fórmulas de virtude, enquanto as<br />
outras duas a mandam para o diabo que a carregue, e tornam-se cada vez mais ruidosas e insultantes,<br />
até que por fim sua Governante se exaure, desiste e rende-se.<br />
COMO SURGIU O CÉREBRO<br />
Para melhor entender o forte domínio das emoções sobre a mente pensante e por que sentimento e<br />
razão entram tão prontamente em guerra, pensem em como o cérebro evoluiu. Os cérebros humanos,<br />
com seu pouco mais de um quilo de células e humores neurais, são três vezes maiores que os dos<br />
nossos primos na evolução, os primatas não-humanos. Ao longo de milhões de anos de evolução, o