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O IMPÉRIO E AS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE ORGANIZAÇÃO DA ...

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O <strong>IMPÉRIO</strong> E <strong>AS</strong> PRIMEIR<strong>AS</strong> TENTATIV<strong>AS</strong> <strong>DE</strong> <strong>ORGANIZAÇÃO</strong> <strong>DA</strong><br />

EDUCAÇÃO NACIONAL (1822-1889)<br />

Maria Isabel Moura Nascimento [1]<br />

Este período histórico foi determinado pelas transformações ocorridas no século XVIII<br />

desencadeadas a partir da Revolução Francesa (1789) e da Revolução Industrial iniciada na<br />

Inglaterra, que abriram o caminho para o avanço do capitalismo para outros paises. No início do<br />

século XIX, a hegemonia mundial inglesa na área econômica amplia-se com a conquista de novos<br />

mercados. A França, por outro lado, sob o comando de Napoleão Bonaparte, passava a lutar pelo<br />

domínio de outros países, inclusive Portugal. Em 1808, a família real portuguesa transferiu-se para<br />

o Brasil, para fugir do ataque francês. A presença da corte portuguesa no Brasil, com todo o seu<br />

aparato, propiciou o desencadeamento de transformações na Colônia. Neste processo, foram abertos<br />

os portos brasileiros ao comércio exterior acabando com o monopólio português. Para suprir as<br />

carências oriundas do longo período colonial foram criadas várias instituições de ensino superior,<br />

“com a finalidade estritamente utilitária, de caráter profissional, visando formar os quadros<br />

exigidos por essa nova situação.” (por ser citação de até três linhas, coloquei em itálico)<br />

(WEREBE, 1994). Assim, foram criados diversos cursos de nível superior: na Academia Real da<br />

Marinha (1808), Academia Real Militar (1810), Academia Médico-cirúrgica da Bahia (1808) e<br />

Academia Médico-cirúrgica do Rio de Janeiro (1809).<br />

Assim, em 15 de outubroApós três séculos de domínio político e exploração econômica do<br />

Brasil por parte de Portugal, que manteve durante todo o período colonial uma posição parasitária<br />

em relação à produção brasileira, com o novo contexto da economia mundial, de expansão do<br />

capitalismo, que impunha uma nova postura dos paises em relação à produção e a comercialização,<br />

já não era possível suportar domínio de Portugal, que onerava os produtos brasileiros na disputa por<br />

mercados e onerava a aquisição de mercadorias estrangeiras necessárias para o consumo interno no<br />

Brasil.<br />

Diante do enfraquecimento econômico e político de Portugal e o contexto de contradição<br />

entre a política econômica portuguesa e a política econômica internacional ocorreu a conquista<br />

brasileira de sua autonomia política e econômica. A Independência brasileira foi conquistada em<br />

1822, com base em acordos políticos de interesse da classe dominante, composta da camada<br />

senhorial brasileira, que entrava em sintonia com o capitalismo europeu.<br />

A Assembléia Constituinte e Legislativa instalada após a proclamação da Independência para<br />

legar nossa primeira Constituição, iniciou os trabalhos propondo uma legislação particular sobre a<br />

instrução, com o objetivo de organizar a educação nacional.<br />

A Constituição [2] outorgada em 1824, que durou todo o período imperial, destacava, com<br />

respeito à educação: “A instrução primária é gratuita para todos os cidadãos.” Para dar conta de<br />

gerar uma lei especifica para a instrução nacional, a Legislatura de 1826 promoveu muitos debates<br />

sobre a educação popular, considerada premente pelos parlamentares. de 1827, a Assembléia<br />

Legislativa aprovou a primeira lei sobre a instrução pública nacional do Império do Brasil,<br />

estabelecendo que “em todas as cidades, vilas e lugares populosos haverá escolas de primeiras<br />

letras que forem necessárias”<br />

A mesma lei estabelecia o seguinte: os presidentes de província definiam os ordenados dos<br />

professores; as escolas deviam ser de ensino mútuo; os professores que não tivessem formação para<br />

ensinar deveriam providenciar a necessária preparação em curto prazo e às próprias custas;<br />

determinava os conteúdos das disciplinas; devem ser ensinados os princípios da moral cristã e de<br />

doutrina da religião católica e apostólica romana; deve ser dada preferência aos temas, no ensino de


leitura, sobre a Constituição do Império e História do Brasil.<br />

Os relatórios do Ministro do Império Lino Coutinho de 1831 a 1836 denunciaram os parcos<br />

resultados da implantação da Lei de 1827, mostrando o mau estado do ensino elementar no país.<br />

Argumentava que, apesar dos esforços e gastos do Estado no estabelecimento e ampliação do<br />

ensino elementar, a responsabilidade pela precariedade do ensino elementar era das municipalidades<br />

pela ineficiente administração e fiscalização, bem como culpava os professores por desleixo e os<br />

alunos por vadiagem. Admitia, no entanto, que houve abandono do poder público quanto ao<br />

provimento dos recursos materiais, como os edifícios públicos previstos pela lei, livros didáticos e<br />

outros itens. Também apontava o baixo salário dos professores; a excessiva complexidade dos<br />

conhecimentos exigidos pela lei e que dificultavam o provimento de professores; e a inadequação<br />

do método adotado em vista das condições particulares do país.<br />

Podemos observar, nos relatórios do ministro, que o entusiasmo inicial com a instrução popular<br />

esbarrava não somente nas condições reais do país, mas no discurso ideológico do governo que<br />

dizia estar preocupado em levar a instrução ao povo, sem providenciar, todavia, os recursos para<br />

criar as condições necessárias para a existência das escolas e para o trabalho dos professores.<br />

O Ato Adicional de 6 de agosto de 1834 instituiu as Assembléias Legislativas provinciais<br />

com o poder de elaborar o seu próprio regimento, e, desde que estivesse em harmonia com as<br />

imposições gerais do Estado, caber-lhe-ia legislar sobre a divisão civil, judiciária e eclesiástica<br />

local; legislar sobre a instrução pública, repassando ao poder local o direito de criar<br />

estabelecimentos próprios, além de regulamentar e promover a educação primária e secundária. Ao<br />

Governo Central ficava reservado o direito, a primazia e o monopólio do ensino superior. Graças à<br />

descentralização, em 1835, surgiu a primeira escola normal do país, em Niterói.<br />

Baseado nessa Lei, cada província passava a responder pelas diretrizes e pelo funcionamento<br />

das suas escolas de ensino elementar e secundário. Logo se defrontaram, porém, com as<br />

dificuldades para dar instrução de primeiras letras aos moradores dos lugares distantes e isolados.<br />

Neste período, o acesso à escolarização era precário ou inexistente, tanto por falta de escolas,<br />

quanto de professores.<br />

Para atender a demanda de docentes, saíram os decretos para criação das primeiras escolas<br />

normais no Brasil [3] , com o objetivo preparar professores para oferecer a instrução de primeiras<br />

letras.<br />

Graças à descentralização da educação através do Ato Adicional, em 1835 surgiu a primeira<br />

Escola Normal do país, em Niterói. Em seguida outras Escolas Normais foram criadas visando<br />

melhorias no preparo do docente. Em 1836 foi criada a da Bahia, em 1845 a do Ceará e, em 1846, a<br />

de São Paulo.<br />

Em 1837, na cidade do Rio de Janeiro foi criado o Colégio Pedro II, onde funcionava o<br />

Seminário de São Joaquim. O Colégio Pedro II fornecia o diploma de bacharel, título necessário na<br />

época para cursar o nível superior. Foram também criados nessa época colégios religiosos e alguns<br />

cursos de magistério em nível secundário, exclusivamente masculinos. O colégio de Pedro II era<br />

freqüentado pela aristocracia, onde era oferecido o melhor ensino, a melhor cultura, com o objetivo<br />

de formar as elites dirigentes. Por este motivo, era considerado uma escola modelo para as demais<br />

no país.<br />

A presença do Estado na educação no período imperial era quase imperceptível, pois<br />

estávamos diante de uma sociedade escravagista, autoritária e formada para atender a uma minoria<br />

encarregada do controle sobre as novas gerações. Ficava evidenciada a contradição da lei que


propugnava a educação primária para todos, mas na prática não se concretizava. O governo imperial<br />

atribuía às províncias “[...]a responsabilidade direta pelo ensino primário e secundário, através<br />

das leis e decretos que vão sendo criados e aprovados, sem que seja aplicado, pois não existiam<br />

escolas e poucos eram os professores.”(N<strong>AS</strong>CIMENTO,2004, p. 95).<br />

Em 1879, a reforma de Leôncio de Carvalho instituiu a liberdade de ensino, o que<br />

possibilitou o surgimento de colégios protestantes e positivistas. Em 1891, Benjamim Constant,<br />

baseado nos ensinamentos de Augusto Comte, elaborou uma reforma de ensino de nítida orientação<br />

positivista, defensora de uma ditadura republicana dos cientistas e de uma educação como prática<br />

neutralizadora das tensões sociais.<br />

O mundo desenvolvido caminhava para uma organização econômica que era considerada<br />

“mundial”, onde o ideal para os teóricos idealizadores desta economia era assegurar a divisão<br />

internacional do trabalho para que “[...] garantisse o crescimento máximo da economia.[...] não<br />

tinha sentido tentar produzir bananas na Noruega, pois elas podiam ser produzidas muito mais<br />

barata em Honduras.” (HOBSBAWM, 1992, p.66)<br />

O liberalismo econômico impunha as regras e tudo o que era possível para demonstrar que<br />

esta prática era melhor para economia mundial. Nesta perspectiva os conflitos estavam<br />

estabelecidos: a Industrialização e a Depressão “[...]formaram-nas num grupo de economias rivais,<br />

em que os ganhos de uma pareciam ameaçar a posição de outras. A concorrência se dava não só<br />

entre empresas, mas também entre nações.” (HOBSBAWM, 1992, p.68)<br />

Com o protecionismo industrial (retirei vírgula) estabelecido, as bases industriais do mundo,<br />

adequaram-se e para isso fez se necessário incentivar as poucas industriais nacionais para este novo<br />

modelo e para produzirem com vistas ao mercado interno. Era preciso mão-de-obra preparada,<br />

escolarizada e o Brasil, com sua economia baseada na agricultura, na exploração bruta do trabalho,<br />

não atingia as exigências dos interesses externos. Diante de muitos conflitos [4] , o Brasil passa a<br />

ser denominado Republicano com a libertação dos escravos para atender às demandas do mercado<br />

internacional. E, paralelo a isso, são incentivados os discursos e pequenas ações para acabar com o<br />

analfabetismo no país.<br />

No final do Império, o quadro geral do ensino era de poucas Instituições Escolares, com<br />

apenas alguns liceus províncias nas capitais, colégios privados bem instalados nas principais<br />

cidades, cursos normais em quantidade insatisfatórias para as necessidades do país. Alguns cursos<br />

superiores quem garantiam o projeto de formação (médicos, advogados, de políticos e jornalistas).<br />

Identificando o grande abismo educacional entre a maioria da população brasileira que, quando<br />

muito, tinham uma casa e uma escola, com uma professora leiga para ensinar os pobres brasileiros<br />

excluídos do interesse do governo Imperial.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

AZEVEDO, Azevedo de. A Cultura Brasileira. 5ª. Ed., revista e ampliada. São Paulo.<br />

Melhoramento, Editora da USP, 1971.<br />

COSTA, Emília Viotti da .Da Monarquia à República: Momentos Decisivos.Livraria Editora<br />

Ciências Humanas. Segunda Edição.São Paulo, 1979.<br />

FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder.Formação do Patronato Político Brasileiro. 7ª. Ed. Rio de<br />

Janeiro:globo, 1987.<br />

HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios 1875-1914. São Paulo:3ª ed., Paz e Terra, 1992.<br />

HOLAN<strong>DA</strong>, Sergio Buarque de Holanda. O Brasil Monárquico. Tomo II; declínio e queda do<br />

império. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil,1997.


N<strong>AS</strong>CIMENTO, Maria Isabel M. A Primeira Escola de professores dos Campos Gerais-PR, Tese<br />

(Doutorado), Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP- Faculdade de Educação, 2004.<br />

RIBEIRO, Maria Luiza Santos.História da Educação Brasileira: A organização Escolar. Campinas,<br />

SP:Autores Associados, 2003.<br />

WEREBE, Maria José Garcia. 30 Anos Depois - Grandezas e Misérias do Ensino no Brasil. São<br />

Paulo, Ática, 1994.<br />

XAVIER, Maria Elizabete S. Prado. Poder político e educação de elite. 3.ed., São Paulo: Cortez:<br />

Autores Associados, 1992.<br />

[1] Doutora em Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. Professora da Universidade<br />

Estadual de Ponta Grossa. Secretária Geral do HISTEDBR.<br />

[2] A Constituição de 1824 manteve os princípios do liberalismo moderado e fortaleceu o poder<br />

pessoal do imperador, com a criação do Poder Moderador acima dos poderes Executivo, Legislativo<br />

e Judiciário. Ela estabelecia que as províncias passassem a ser governadas por presidentes<br />

nomeados pelo imperador e dividiu o Legislativo em Senado vitalício, na prática escolhido pelo<br />

imperador, e Câmara dos Deputados, eleita por voto indireto e censitário. Os eleitores votavam em<br />

suas províncias num colégio eleitoral que escolhia os deputados. Apenas os homens livres que<br />

cumpriam algumas condições, inclusive de renda, participavam das eleições. Esses requisitos eram<br />

apurados nos censos.[2] A Constituição de 1824 manteve os princípios do liberalismo moderado e<br />

fortaleceu o poder pessoal do imperador, com a criação do Poder Moderador acima dos poderes<br />

Executivo, Legislativo e Judiciário. Ela estabelecia que as províncias passassem a ser governadas<br />

por presidentes nomeados pelo imperador e dividiu o Legislativo em Senado vitalício, na prática<br />

escolhido pelo imperador, e Câmara dos Deputados, eleita por voto indireto e censitário. Os<br />

eleitores votavam em suas províncias num colégio eleitoral que escolhia os deputados. Apenas os<br />

homens livres que cumpriam algumas condições, inclusive de renda, participavam das eleições.<br />

Esses requisitos eram apurados nos censos.<br />

[3] Foram criadas escolas normais em várias províncias do país:Minas Gerais (1835), Rio de Janeiro<br />

(1835), Bahia (1836), São Paulo (1846). Sabe-se que, embora criadas legalmente, as maiorias<br />

dessas escolas optaram por mandar professores para estudar fora do país,para aprender os métodos<br />

mútuos e simultâneos. Apenas a Escola Normal de Niterói iniciou suas atividades na década de 30<br />

do século XIX.<br />

A luta legal contra a escravidão se prolongou por 80 anos no Brasil. Sobre o assunto consultar<br />

História do Brasil - Luiz Koshiba - Editora Atual, História do Brasil - Bóris Fausto – EDUSP , Os<br />

Escravos - Castro Alves Espumas Flutuantes e outros

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