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CINEMA NA VEIA<br />
Archimedes Lombardi em<br />
sua filmoteca com a lata de<br />
The Taxi Boys, relíquia de 1914<br />
CINEMA CONCRETO<br />
Cineasta diletante, Miguel Batista,<br />
56 anos, dono de mãos calosas<br />
e voz grave, deve ser o primeiro<br />
cineasta-pedreiro <strong>da</strong> história<br />
do Brasil. Rosto emoldurado<br />
por espessa barba com muitos<br />
fios grisalhos, Miguel, que atua<br />
no Cineclube Assunção Hernandes,<br />
em Diadema, também faz literatura<br />
de cordel. Mas ganha a<br />
vi<strong>da</strong> mesmo mexendo com pás de<br />
pedreiro e cimento em construções<br />
na periferia de Diadema. “Digo<br />
que o meu hobby é ser pedreiro,<br />
mas não é ver<strong>da</strong>de. Dependo<br />
disso para viver”, afirma. Em parceria<br />
com o também também ci-<br />
contabiliza, desde o ano passado, a criação<br />
de quatro cineclubes, cujas sessões atraem<br />
público de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des. “O pessoal (em<br />
geral moradores simples do próprio bairro,<br />
Vila Quitaúna) fica encantado em ver<br />
filmes a que dificilmente teria acesso”,<br />
aponta o professor Rui de Souza, um dos<br />
responsáveis pelo Cineclube Alto do Farol,<br />
que dirige junto com João Martinho Lúcio.<br />
Na ci<strong>da</strong>de há ain<strong>da</strong> os cineclubes I<strong>da</strong>de<br />
do Ouro, ligado à associação dos aposentados<br />
local, e outros dois mantidos pela<br />
Facul<strong>da</strong>de Fernão Dias.<br />
No Interior, mais especificamente na ci<strong>da</strong>de<br />
de Americana, até uma antiga estação<br />
de trem desativa<strong>da</strong> virou cineclube. É<br />
o Cineclube Estação. “Vêm de 25 a 30 pessoas<br />
em média. Passamos até um documentário<br />
sobre a revolução ´bolivariana´<br />
de Hugo Chávez,” conta o coordenador<br />
Eduardo Minatel.<br />
Aficionados<br />
Muitas vezes, são os cineclubistas a alma<br />
e motor destes espaços. Com sua paixão<br />
pela chama<strong>da</strong> “sétima arte”, tocam<br />
adiante a empreita<strong>da</strong> e, aficionados assumidos,<br />
resgatam as produções tornandose<br />
colecionadores. Archimedes Lombardi,<br />
que mantém há 13 anos o Cineclube Ipiranga,<br />
“sem falhar um só sábado”, como<br />
faz questão de frisar, tem uma história de<br />
vi<strong>da</strong> pareci<strong>da</strong> com a do garoto do filme<br />
Cinema Paradiso (do italiano Giuseppe<br />
Tornatore), pois também aprendeu a gostar<br />
de cinema manejando os equipamentos<br />
de projeção. Aos 16 anos, em Santo<br />
Anastácio, interior de São Paulo, aju<strong>da</strong>va<br />
o padre a fazer exibições no salão paroquial.<br />
Depois, mudou-se para São Paulo e<br />
recebeu convite para exibir os filmes no<br />
Clube Atlético Ypiranga. Levar seu acervo<br />
neasta amador Arnaldo Malta, ele<br />
já lançou o curta Pisa<strong>da</strong>s Marcantes.<br />
A dupla ganhou o terceiro lugar<br />
no Prêmio Plínio Marcos, um<br />
dos principais do circuito do cinema<br />
alternativo.<br />
Natural de Limoeiro do Norte,<br />
no Ceará, Miguel chegou em São<br />
Paulo há duas déca<strong>da</strong>s, transferindo-se<br />
depois para a ci<strong>da</strong>de do<br />
ABC. Há alguns anos, fez curso<br />
de roteiro em um dos centros culturais<br />
de Diadema, o que lhe deu<br />
base para preparar o curta. Em<br />
outro filme, lançado por colegas<br />
do curso, ele, humilde pedreiro<br />
<strong>da</strong> periferia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, fez o pa-<br />
pel de um rico empresário. “Ao<br />
chegar em casa, perguntei para<br />
minha mulher se era aquilo mesmo<br />
que ia comer. Já estava quase<br />
me acostumando com a vi<strong>da</strong><br />
de rico”, brinca. No Ceará, os parentes<br />
se encarregam de divulgar<br />
seu trabalho. A divulgação<br />
chegou a tal ponto que uma prima<br />
veio do Nordeste a São Paulo,<br />
enfrentando enormes dificul<strong>da</strong>des,<br />
só para conhecer o parente<br />
famoso, “que faz cinema em<br />
São Paulo”. A Miguel, restou sorrir,<br />
como faz durante quase todo<br />
o tempo. “Não é fácil tocar os filmes,<br />
mas adoro essa vi<strong>da</strong> e gos-<br />
e dos outros integrantes <strong>da</strong> Associação Brasileira<br />
de Colecionadores de Filmes 16 Milímetros<br />
para a biblioteca foi um passo.<br />
“Temos muitos filmes antigos, mas o<br />
mais velho que há no meu acervo é Os<br />
Garotos do Táxi, de 1914”, revela. Durante<br />
as sessões, os saudosistas têm até a possibili<strong>da</strong>de<br />
de ouvir o barulho do antigo<br />
projetor de 16 mm, iguais àqueles usados<br />
até hoje em alguns poucos cinemas interioranos.<br />
Outros colecionadores têm filmes<br />
até mais antigos que o de Archimedes,<br />
como alguns mudos de Charlie Chaplin,<br />
além de preciosi<strong>da</strong>des como O Vigilante<br />
Rodoviário, seriado brasileiro dos<br />
anos 40, Bonanza e Tarzan. O engenheiro<br />
Hamílton Fonseca de Castro, um dos mais<br />
assíduos freqüentadores do cineclube, tem<br />
100 filmes, quase todos de humor como<br />
O Gordo e o Magro, Os Três Patetas e Carlitos.<br />
Castro, 52 anos, resume em poucas<br />
palavras a sua paixão pelo cinema: “Tenho<br />
também filmes em vídeo e DVD, mas na<strong>da</strong><br />
se compara à emoção de ver a película<br />
projeta<strong>da</strong> na telona. O cinema nunca<br />
vai morrer, mesmo com to<strong>da</strong> a tecnologia,<br />
porque as pessoas precisam dessa sensação<br />
inigualável”. ❚<br />
FAÇA SEU ROTEIRO<br />
Cineclube Ipiranga – Biblioteca Genésio de Almei<strong>da</strong><br />
Moura. Rua Cisplatina, 505, Ipiranga. Fone: 273-<br />
2390. Sessões aos sábados às 19h. Entra<strong>da</strong> Franca<br />
Cineclube Sesc Itaquera – Rua Projeta<strong>da</strong>, 1000, Itaquera.<br />
Fone: 6523-9200. Sessões aos sábados às<br />
19h. As sessões são gratuitas, mas o Sesc cobra o<br />
acesso às dependências com preço variável (visitante,<br />
comerciário etc).<br />
Cineclube I<strong>da</strong>de do Ouro – Rua Minas Bogasian,<br />
97, Centro, Osasco. Fone: 3682-9895. Sessões às<br />
quintas-feiras às 15h. Entra<strong>da</strong> Franca<br />
Cineclube Assunção Hernandes – Rua Ari Barroso,<br />
549. Centro, Diadema. Fone: 3425-0060. Sessões<br />
aos sábados, às 19h. Entra<strong>da</strong>: R$ 2<br />
Miguel é pedreiro; Rubeílton, motorista de caminhão. Juntos na ONG Com Olhar, produzem seus próprios filmes<br />
to muito do grupo também”, afirma<br />
ele, um dos mais ativos membros<br />
<strong>da</strong> ONG Com Olhar, que toca<br />
o cineclube.<br />
Mas Miguel não é o único trabalhador<br />
de profissão modesta<br />
que atua na produção de filmes.<br />
Outro integrante, Rubeílton Moraes,<br />
é caminhoneiro. Fez o curso<br />
de cenografia e se tornou fotógrafo<br />
e cineasta, como todos os<br />
colegas do grupo, não há um que<br />
não tenha dirigido ao menos um<br />
filme. “Como motorista de caminhão,<br />
descubro belos visuais, o<br />
que ajudou muito no meu olhar<br />
cinematográfico”, explica.<br />
REVISTA DOS BANCÁRIOS | 25