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CIDADANIA<br />
Inclusão social<br />
para brasileiros de<br />
baixa ren<strong>da</strong> também<br />
depende de critérios<br />
sociais na cobrança<br />
dos serviços públicos.<br />
A energia elétrica<br />
está no centro<br />
desse debate<br />
Por Pedro Biondi<br />
UM LONGO<br />
APAGÃO<br />
Cinco meses de escuridão. Parece<br />
até nome de livro, mas aconteceu<br />
com Carmem (o nome<br />
ver<strong>da</strong>deiro foi trocado), mãe de<br />
cinco filhos. Depois de nove<br />
anos morando num barraco de<br />
madeira de uma favela na Grande São Paulo,<br />
ela foi contempla<strong>da</strong> por um programa<br />
habitacional, mas já no quarto mês teve a<br />
energia corta<strong>da</strong>. Sem emprego, não conseguiu<br />
quitar as contas. Quando deu à luz o<br />
caçula, não havia luz na casa. Nos dias em<br />
que garimpava trabalho, deixava o bebê<br />
com os irmãos (a mais velha está com 14<br />
anos). O coração também: medo de um<br />
acidente com as velas e as crianças.<br />
A cena pode reacender na memória do<br />
leitor o apagão de 2000, mas para muitos<br />
brasileiros está longe de ser apenas uma<br />
lembrança. Trata-se de mais uma precarie<strong>da</strong>de<br />
cotidiana, que dificulta a inclusão efetiva<br />
de pessoas que passaram <strong>da</strong> informali<strong>da</strong>de<br />
à formali<strong>da</strong>de e leva outras tantas<br />
ao movimento inverso. Em uma perspec-<br />
12 | REVISTA DOS BANCÁRIOS<br />
tiva relativamente progressiva, existe nos<br />
serviços públicos um patamar tarifário<br />
dentro do qual o consumidor, por sua condição<br />
socioeconômica, fica livre de determinados<br />
encargos. No caso <strong>da</strong> energia elétrica,<br />
quem é enquadrado na subclasse residencial<br />
baixa ren<strong>da</strong> não paga o “seguro<br />
apagão”, entre outros custos.<br />
“O problema é que os critérios são muito<br />
restritivos e deixam de fora muita gente<br />
necessita<strong>da</strong>”, diz a advoga<strong>da</strong> Flávia Lefèvre<br />
Guimarães, do conselho diretor <strong>da</strong><br />
Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa<br />
do Consumidor). “A política de tarifas para<br />
a água também é inadequa<strong>da</strong>, mas no<br />
caso <strong>da</strong> luz é pior”. A enti<strong>da</strong>de participou<br />
<strong>da</strong> elaboração de uma proposta para estabelecer<br />
novos critérios tarifários, ao lado<br />
do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo,<br />
do Ilumina (Instituto de Desenvolvimento<br />
de Estratégias para o Setor Elétrico),<br />
<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Procon e <strong>da</strong> seção paulista<br />
<strong>da</strong> OAB (Ordem dos Advogados do<br />
Brasil). A plataforma foi encaminha<strong>da</strong> ao<br />
Ministério de Minas e Energia, sem resultado,<br />
e encampa<strong>da</strong> pelo deputado federal<br />
Dimas Ramalho (PPS) na forma do projeto<br />
de lei 3.430, de 2004.<br />
“Já existem muitos modelos para tarifas<br />
sociais”, afirma Fernando Passos, presidente<br />
<strong>da</strong> Comissão de Estudos <strong>da</strong> Concorrência<br />
e Regulação Econômica <strong>da</strong> OAB/SP. “O<br />
grande desafio é chegar a critérios universais<br />
que, mesmo que não sejam justos em<br />
100% dos casos, se aproximem <strong>da</strong> maioria<br />
<strong>da</strong> população.” Passos alerta, porém, que<br />
é necessária também uma ênfase no combate<br />
ao desperdício. “Aqui em Araraquara,<br />
quando fui vereador, implantamos uma tarifa<br />
de água perto de zero para a população<br />
de baixa ren<strong>da</strong>. Muita gente deixava as<br />
torneiras abertas o dia inteiro.”<br />
Na preparação de parte <strong>da</strong>s estatais de geração<br />
e distribuição de energia para a privatização,<br />
ao longo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90, reduziram-se<br />
radicalmente os subsídios cruzados<br />
(aqueles em que os maiores consumidores<br />
contribuem para baratear o serviço