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A FORÇA DO POVO:<br />

BRIZOLA<br />

E O RIO DE JANEIRO


Copyright © Assembléia Legislativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - ALERJ<br />

To<strong>do</strong>s os direitos reserva<strong>do</strong>s e protegi<strong>do</strong>s pela lei 9.610 <strong>de</strong> 19.2 .1998 .<br />

É proibi<strong>da</strong> a reprodução total C parcial, por qu aisq uer meios,<br />

sem a ex pressa anu ência <strong>da</strong> editora.<br />

SUBOIRETORA GERAL DA ALER): Mayumi Sone<br />

COORDENAÇÃO DE PROJETOS ESPECIAIS: Arl in<strong>de</strong>nor Pedro <strong>de</strong> Souza<br />

COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE MEMÓRIA POLíTICA<br />

CARIOCA E FLUM INENSE: Marieta <strong>de</strong> Moraes Ferreira<br />

COORDENAÇÃO DO VOLUME: Marieta <strong>de</strong> Moraes Ferreira<br />

PESQUISA E TEXTOS: América Freire, Carlos Eduar<strong>do</strong> Sarmento,<br />

Helena Bomeny, João Trajano Sento-Sé, Mari'eta <strong>de</strong> Moraes Ferreira,<br />

Marly Silva <strong>da</strong> Motta e Mônica Rodrigues<br />

ED iÇÃO DE TEXTO: Dora Rocha<br />

ESTAGIÁRIOS E AUXILIARES DE PESQUISA: Daniela Bacta, Lidiane Monteiro Ribeiro,<br />

Julia Oliveira Pedro <strong>de</strong> Souza, Jul iana Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira,<br />

Roclrigo Tannus Moreira, Rosa Maria <strong>de</strong> Souza e Daniel Gigot <strong>de</strong> Sousa<br />

CA PA, PROJETO GRÁFICO E COMPOSiÇÃO: Leo Boechat<br />

CJP-Brasi l. Catalogação-oa-fonte<br />

Sindicato Nacional <strong>do</strong>s Editores <strong>de</strong> Livros, RJ.<br />

B862<br />

A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro / Organiza<strong>do</strong>ra Marieta <strong>de</strong> Moraes<br />

Ferreira; Marieta <strong>de</strong> Moraes Ferreira ... [et a!. ]. - Rio <strong>de</strong> Janeiro: Alcrj ,<br />

C PDOC/<strong>FGV</strong>, 2008.<br />

228 p. il.<br />

Inclui bibliogralla<br />

ISBN 978-85-6021 3-02 -3<br />

1. Brizola, Leonel, 1922-2004.2. Rio <strong>de</strong> Janeiro (Esla<strong>do</strong>). 3. História<br />

polftica. 4. Brizolismo. 5. Pop ulismo. I. ferreira, Marieta <strong>de</strong> Moraes.<br />

C DD,320.98153<br />

CDU: 98 1.53


A FORÇA DO POVO:<br />

BRIZOlA<br />

E O RIO DE JANEIRO<br />

Marieta <strong>de</strong> Moraes Ferreira<br />

organiza<strong>do</strong>ra<br />

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS<br />

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA<br />

CONTEMPORÃNEA DO BRASIL - CPDOC<br />

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />

NÚCLEO DE MEMÓRIA POLÍTICA CARIOCA E FLUMINENSE


ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />

GILBERTO PALMARES<br />

2° Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />

JOSÉ CAMILO ZITO<br />

2 o Secretário<br />

AMANDO JOSÉ<br />

2° Suplente<br />

Mesa Diretora<br />

JORGE PICCIANI<br />

Presi<strong>de</strong>nte<br />

CORONEL JAIRO<br />

10 Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />

PEDRO FERNANDES<br />

3° Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />

GRAÇA MATOS<br />

10 Secretário<br />

JORGE MOREIRA DICA<br />

3° Secretário<br />

RENATA DO POSTO<br />

P Suplente<br />

PEDRO AUGUSTO<br />

3° Suplente<br />

GERSON BERGHER<br />

4° Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />

FABIO SILVA<br />

4 0<br />

Secretário<br />

EDINO FONSECA<br />

4° Suplente


Sumário<br />

Apresentação pág. 7<br />

O Núcleo <strong>de</strong> Memória Política Carioca e Fluminense pág. 9<br />

Introdução pág. 13<br />

1. Do Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul à Guanabara<br />

Marieta <strong>de</strong> Moraes Ferreira pág.15<br />

2. Entre o carisma e a rotina: as eleições <strong>de</strong> 1982<br />

e o primeiro governo<br />

Carlos Eduar<strong>do</strong> Sarmento pág.43<br />

3. Imprensa: uma relação <strong>de</strong> amor e ódio<br />

Mônica Rodrigues pág.68<br />

4. Salvar pela escola: Programa Especial <strong>de</strong> Educação<br />

Helena Bomeny pág.95<br />

5. Novo sindicalismo e movimentos sociais<br />

Américo Freire pág.128<br />

6. O projeto político: a presidência <strong>da</strong> República<br />

Marly Motta pág.151<br />

7. A era <strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r popular<br />

João Trajano Sento-Sé pág.182<br />

Memórias <strong>do</strong> brizolismo<br />

Depoimentos colhi<strong>do</strong>s por Mônica Rodrigues pág.202<br />

Fontes e bibliografia pág.215


Apresentação<br />

BRIZOLA ERA, como ele bem se <strong>de</strong>finia, uma planta <strong>do</strong> <strong>de</strong>serto. Dizia<br />

que bastava uma gota <strong>de</strong> orvalho para mantê-lo vivo. Quem, como eu, teve a<br />

honra <strong>de</strong> conviver com esse lí<strong>de</strong>r extraordinário) apren<strong>de</strong>u que a paixão pelo<br />

Brasil era a seiva que o alimentava. Brizola falava <strong>do</strong> futuro como se menino<br />

fosse. Pouco antes <strong>de</strong> morrer) estava em plena ativa, fazia planos sem cogitar<br />

que a morte estivesse, como ele dizia para tu<strong>do</strong> o que estava próximo, ('coste­<br />

an<strong>do</strong> o alambra<strong>do</strong>". Sua parti<strong>da</strong> foi tão surpreen<strong>de</strong>nte como lhe foi a vi<strong>da</strong>, e o<br />

Brasil e a política ficam menores sem ele.<br />

A Assembléia Legislativa <strong>do</strong> Rio é, como dizemos, o lugar <strong>da</strong> memória<br />

<strong>do</strong> parlamento brasileiro, graças a iniciativas que recuperam a história polí­<br />

tica <strong>do</strong> nosso povo. Na Alerj, fizemos exposições, sessões <strong>de</strong> homenagens a<br />

Brizola e agora este livro. E foi aqui, quan<strong>do</strong> esta casa não sonhava nascer,<br />

quan<strong>do</strong> o Rio era a capital <strong>da</strong> República e aqui funcionava a Câmara <strong>do</strong>s<br />

Deputa<strong>do</strong>s, que Brizola teve um <strong>de</strong> seus momentos políticos mais brilhantes,<br />

como <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral mais vota<strong>do</strong> <strong>do</strong> país.<br />

Fui militante <strong>do</strong> PDT, li<strong>de</strong>rei sua banca<strong>da</strong> nesta Assembléia Legislativa<br />

e fui seu representante numa época em que o brizolismo estava em plena as­<br />

censão. Reconheço que, naquela época, o nível <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate político era outro,<br />

havia uma efervescência muito gran<strong>de</strong> que empolgava tanto a nós quanto ao<br />

povo, que participava mais. Brizola, pela sua <strong>força</strong> indiscutível, pela bravura<br />

reconheci<strong>da</strong> por alia<strong>do</strong>s e adversários, coerência e fervor na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong>s gran­<br />

<strong>de</strong>s causas nacionalistas e trabalhistas, nos li<strong>de</strong>rava. Quem lhe fazia oposição<br />

tinha que ao mesmo tempo respeitar a sua biografia limpa.<br />

7


8 A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Poucos políticos, nas seis últimas déca<strong>da</strong>s, exerceram papel tão <strong>de</strong>staca­<br />

<strong>do</strong> na vi<strong>da</strong> pública brasileira quanto ele. Conseguiu ser uma referência para<br />

muitos que passaram por ele. Sem nenhum exagero, eu me animo a afirmar<br />

que Brizola, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o retorno <strong>do</strong> exílio, além <strong>de</strong> promover o resgate <strong>de</strong> impor­<br />

tantes ícones <strong>do</strong> trabalhismo, cassa<strong>do</strong>s e com os direitos políticos suspensos,<br />

como ele, soube criar, pela via <strong>de</strong>mocrática segui<strong>da</strong> pelo PDT, uma escola <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> importantes li<strong>de</strong>ranças que estão aí até hoje.<br />

Relembrar a história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Leonel Brizola na Alerj é fazer com que<br />

as pessoas comuns, o povo, os estu<strong>da</strong>ntes, com quem Brizola gostava <strong>de</strong> se<br />

relacionar, não se esqueçam <strong>da</strong> sua memória. Essa é a nossa missão) como<br />

membros <strong>do</strong> parlamento e como amantes <strong>da</strong> boa política.<br />

DEPUTADO JORGE PICCIANI<br />

Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Assembléia Legislativa<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro


o Núcleo <strong>de</strong> Memória Política<br />

Carioca e Fluminense<br />

EM MAIO DE 1997, foi firma<strong>do</strong> um convênio entre o Centro <strong>de</strong> Pesquisa<br />

e Documentação <strong>de</strong> História Contemporânea <strong>do</strong> Brasil (CPDOC) <strong>da</strong> Fun­<br />

<strong>da</strong>ção Getulio Vargas e a Assembléia Legislativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

(Alerj), com o objetivo <strong>de</strong> construir um centro permanente <strong>de</strong> produção in­<br />

telectual e <strong>de</strong> referência <strong>do</strong>cumental sobre a história política contemporânea<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - o Núcleo <strong>de</strong> Memória Política<br />

Carioca e Fluminense. Durante a fase <strong>de</strong> implantação <strong>do</strong> Núcleo, <strong>de</strong> 1997 a<br />

1999, foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s duas linhas <strong>de</strong> ação interliga<strong>da</strong>s. A primeira <strong>de</strong>las<br />

consistiu na divulgação para o gran<strong>de</strong> público <strong>da</strong> história <strong>do</strong> Palácio Tira<strong>de</strong>n­<br />

tes, centro <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> política <strong>do</strong> país entre as déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1920 e 1950 e atual<br />

se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Alerj. Para atingir esse objetivo, <strong>do</strong>is produtos foram prepara<strong>do</strong>s: uma<br />

exposição multimídia permanente instala<strong>da</strong> no próprio prédio <strong>da</strong> Assembléia,<br />

intitula<strong>da</strong> Palácio Tira<strong>de</strong>ntes: lugar <strong>de</strong> memória <strong>do</strong> Parlamento brasileiro, e o<br />

CD-Rom Palácio Tira<strong>de</strong>ntes, a casa <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Legislativo.<br />

A segun<strong>da</strong> linha <strong>de</strong> ação consistiu na publicação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />

livros <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos e <strong>de</strong> análise sobre aspectos significativos <strong>da</strong> história<br />

política contemporânea carioca e fluminense. Duas coleções foram inicia­<br />

<strong>da</strong>s: Conversan<strong>do</strong> sobre Política, <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a divulgar <strong>de</strong>poimentos, e Perfil<br />

Político, <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a registrar biografias <strong>de</strong> políticos filia<strong>do</strong>s a diferentes cor­<br />

rentes político-i<strong>de</strong>ológicas e partidárias, que tiveram participação <strong>de</strong>staca<strong>da</strong><br />

no cenário carioca e fluminense nos últimos 50 anos. Foi lança<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> um<br />

volume avulso, <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> ao jornalismo político, que sempre <strong>de</strong>sempenhou<br />

importante papel na dinâmica política <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

9


10 A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Os cinco primeiros volumes <strong>da</strong> coleção Conversan<strong>do</strong> sobre Política reú­<br />

nem os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> José Gomes Talarico, Paulo Duque, Erasmo Martins<br />

Pedro, Célio Borja c, num único livro, os <strong>de</strong> Hamilton Xavier e Saramago<br />

Pinheiro. Na série Perfil Político foi publica<strong>do</strong> um livro sobre a trajetória<br />

política <strong>de</strong> Chagas Freitas, principal lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma corrente política <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

peso no Rio <strong>de</strong> Janeiro entre as déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1960 e 1980. Finalmente, o volu­<br />

me Crônica política <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro reuniu entrevistas com jornalistas que<br />

atuaram, e ain<strong>da</strong> atuam, em diferentes órgãos <strong>da</strong> imprensa <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

seus tempos <strong>de</strong> capital fe<strong>de</strong>ral até os <strong>de</strong> capital <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Em junho <strong>de</strong> 1999, foi assina<strong>da</strong> a renovação <strong>do</strong> convênio entre o CPDOC<br />

e a Alerj para <strong>da</strong>r prosseguimento às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> Núcleo. Nesta segun<strong>da</strong><br />

fase, <strong>de</strong>cidiu-se preparar um conjunto <strong>de</strong> publicações com vistas a consoli<strong>da</strong>r<br />

o trabalho até então realiza<strong>do</strong>. Para <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> à coleção Conversan<strong>do</strong><br />

sobre Política, foi escolhi<strong>do</strong> o <strong>de</strong>poimento <strong>do</strong> <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Jorge Loretti,<br />

homem público que conhece como poucos os meandros <strong>da</strong> política fluminen­<br />

se. Para divulgar a exposição Palácio Tira<strong>de</strong>ntes: lugar <strong>de</strong> memória <strong>do</strong> Parla­<br />

mento brasileiro, foi elabora<strong>do</strong> um catálogo que oferecerá a um público mais<br />

amplo um roteiro com textos e imagens referentes à história <strong>do</strong> palácio e <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> política <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Nesta nova fase, <strong>de</strong>cidiu-se também publicar livros relativos a um mo­<br />

mento crítico <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> política <strong>do</strong> país e <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro: as déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1970<br />

e 1980, marca<strong>da</strong>s pelo <strong>de</strong>sgaste <strong>do</strong> regime militar e pela luta <strong>de</strong>mocrática. No<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, esses foram anos <strong>de</strong> profun<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças, causa<strong>da</strong>s, entre ou­<br />

tros fatores, pela fusão em 1975 <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Guanabara com o antigo esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio. Três livros trataram <strong>de</strong>sses temas. O primeiro, intitula<strong>do</strong> Vozes <strong>da</strong><br />

oposição, reúne <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> homens e mulheres que lutaram nos parti<strong>do</strong>s<br />

políticos e nos parlamentos, mas também na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, contra o regime<br />

militar. O segun<strong>do</strong> livro, A construção <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong>: a fusão em <strong>de</strong>bate, con­<br />

tém entrevistas com uma série <strong>de</strong> homens públicos que estiveram en1 posição<br />

<strong>de</strong> governo antes e <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> fusão. O terceiro, Um esta<strong>do</strong> em questão: os 25<br />

anos <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, é uma coletânea <strong>de</strong> artigos assina<strong>do</strong>s por especialistas,<br />

sobre aspectos <strong>de</strong> natureza política, social, econômica e cultural <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro no perío<strong>do</strong> 1975-2000.<br />

No ano <strong>de</strong> 2001, foi lança<strong>da</strong> uma nova coleção, com o objetivo <strong>de</strong> di­<br />

vulgar trabalhos acadêmicos <strong>de</strong> interesse para o Núcleo: Estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. Nela foram publica<strong>do</strong>s três volumes sobre diferentes momentos <strong>da</strong>


o Núcleo <strong>de</strong> Memória Política Carioca e Fluminense 11<br />

vi<strong>da</strong> política carioca, a saber: Guerra <strong>de</strong> posições na metrópole: a Prefeitura e<br />

as empresas <strong>de</strong> ônibus no Rio <strong>de</strong> Janeiro (1906-1948), <strong>de</strong> Américo Freire; O Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro na era Pedro Ernesto, <strong>de</strong> Carlos Eduar<strong>do</strong> Sarmento; Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

<strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>-capital a esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Guanabara, <strong>de</strong> Marly Silva <strong>da</strong> Motta. Em 2003,<br />

mais um volume foi acrescenta<strong>do</strong> à série: Paulo <strong>de</strong> Frontin, discursos parlamentares,<br />

organiza<strong>do</strong> por Américo Freire. Em 2004, o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Pedro<br />

Fernan<strong>de</strong>s veio somar-se à coleção Conversan<strong>do</strong> sobre Política.<br />

Este volume, o segun<strong>do</strong> <strong>da</strong> série Perfil Político, é <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> a Leonel<br />

Brizola. Composto <strong>de</strong> sete artigos, não preten<strong>de</strong> esgotar a biografia <strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r<br />

trabalhista, e sim focalizar sua atuação no Esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Guanabara, posterior­<br />

mente esta<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

O Núcleo <strong>de</strong> Memória Política Carioca e Fluminense tem uma página<br />

na internet, no en<strong>de</strong>reço www.http://memoriapolitica.rj.gov.br. Nela, o usu­<br />

ário po<strong>de</strong>rá obter informações sobre to<strong>da</strong>s as realizações <strong>do</strong> Núcleo, além <strong>de</strong><br />

um conjunto <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s importantes sobre a política carioca e fluminense.<br />

A constituição <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong> Memória Política Carioca e Fluminense<br />

foi possível graças à iniciativa <strong>da</strong> Mesa Diretora <strong>da</strong> Assembléia Legislativa <strong>do</strong><br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, presidi<strong>da</strong> na época pelo então <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> Sérgio Cabral Filho,<br />

e à acolhi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Getulio Vargas, então presidi<strong>da</strong> por Jorge Oscar <strong>de</strong><br />

Mello Flôres. Os atuais presi<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong> Assembléia, Jorge Picciani, e <strong>da</strong> <strong>FGV</strong>,<br />

Carlos Ivan Simonsen Leal, assim como seus antecessores, têm <strong>da</strong><strong>do</strong> to<strong>do</strong> o<br />

apoio às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> Núcleo. No CPDOC, as ex-diretoras Lucia Lippi Oli­<br />

veira e Marieta <strong>de</strong> Moraes Ferreira acompanharam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início os esforços<br />

<strong>da</strong> equipe. O atual diretor, Celso Castro, assegurou os recursos humanos e<br />

materiais para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O gerente administrativo<br />

Felipe Rente enfrentou os meandros <strong>da</strong> execução <strong>do</strong> convênio com a Alerj<br />

com inigualável capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho.<br />

Des<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2003, a Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Projetos Especiais <strong>da</strong> Alerj,<br />

ten<strong>do</strong> à frente Arlin<strong>de</strong>nor Pedro <strong>de</strong> Souza, é a responsável pelos projetos <strong>de</strong>­<br />

senvolvi<strong>do</strong>s em parceria com o CPDOC e tem <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> o mesmo empe­<br />

nho que marcou a gestão <strong>da</strong> comissão anterior, composta, além <strong>de</strong> Arlin<strong>de</strong>nor<br />

Pedro <strong>de</strong> Souza, por Sérgio Ruy Barbosa Guerra Martins, Lígia Marina <strong>de</strong> Sá<br />

Pires <strong>de</strong> Moraes, Marcos <strong>da</strong> Silva Neves e Aloysio Neves. Para a realização


12 A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

<strong>de</strong>ste livro, foi fun<strong>da</strong>mental a atuação <strong>de</strong> Mayumi Sone, subdiretora geral <strong>da</strong><br />

Alerj. Os pesquisa<strong>do</strong>res Américo Freire, Carlos Eduar<strong>do</strong> Sarmento, Marieta<br />

<strong>de</strong> Moraes Ferreira e Marly Motta, além <strong>de</strong> se revezarem na coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong><br />

Núcleo <strong>de</strong> Memória Política Carioca e Fluminense, foram responsáveis pela<br />

execução <strong>do</strong>s projetos no CPDOC. A pesquisa<strong>do</strong>ra A<strong>de</strong>lina Cruz é a encar­<br />

rega<strong>da</strong> <strong>do</strong> acompanhamento <strong>da</strong> homepage <strong>do</strong> Núcleo, e a editora Dora Rocha<br />

respon<strong>de</strong> pela supervisão geral <strong>da</strong>s publicações.<br />

MARIETA DE MORAES FERREIRA<br />

Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra


Introdução<br />

Poucos PERSONAGENS <strong>da</strong> história política brasileira tiveram uma trajetória<br />

tão rica como Leonel Brizola. Deputa<strong>do</strong> estadual e fe<strong>de</strong>ral, prefeito,<br />

governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>do</strong>is esta<strong>do</strong>s diferentes, foi cria<strong>do</strong>r <strong>de</strong> movimentos, enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

e parti<strong>do</strong>s políticos, lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> massas, enfim, um protagonista que marcou seu<br />

lugar nos principais eventos contemporâneos brasileiros e que tem gera<strong>do</strong><br />

muitas polêmicas em torno <strong>da</strong>s posições que assumiu. Com tu<strong>do</strong> isso, Brizola<br />

ain<strong>da</strong> é tema pouco explora<strong>do</strong> pela historiografia brasileira. Um levantamento<br />

ain<strong>da</strong> que preliminar sobre figura tão instigante indica um número pouco sig­<br />

nificativo <strong>de</strong> títulos. Esses trabalhos em geral estão volta<strong>do</strong>s ou para a análise<br />

<strong>de</strong> eventos ou conjunturas mais amplas, como o trabalhismo, o golpe militar, o<br />

processo <strong>de</strong> abertura política, ou para aspectos particulares <strong>de</strong> sua ação políti­<br />

ca, mas não dão conta <strong>de</strong> <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>r os elementos centrais <strong>de</strong> sua biografia.<br />

Este livro, elabora<strong>do</strong> no âmbito <strong>do</strong> convênio entre a Alerj e o CPDOC­<br />

<strong>FGV</strong>, integra-se ao esforço para ampliar os estu<strong>do</strong>s sobre a história política<br />

brasileira contemporânea e contribuir para o melhor entendimento <strong>da</strong> trajetó­<br />

ria <strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r trabalhista Leonel Brizola. Nossa proposta não é, nem po<strong>de</strong>ria ser,<br />

a <strong>de</strong> esgotar o assunto. Assim, não iremos explorar sua longa biografia, que se<br />

esten<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1922 a 2004, mas sim focalizar sua atuação no Rio <strong>de</strong> Janeiro, no<br />

perío<strong>do</strong> que vai <strong>de</strong> 1962, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua eleição para <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral pelo<br />

esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Guanabara, até sua última candi<strong>da</strong>tura, ao Sena<strong>do</strong>, em 2002, pelo<br />

esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Também não preten<strong>de</strong>mos dissecar to<strong>do</strong>s os aspec­<br />

tos <strong>da</strong> carreira <strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r pe<strong>de</strong>tista no perío<strong>do</strong> menciona<strong>do</strong>, em especial seus<br />

<strong>do</strong>is man<strong>da</strong>tos à frente <strong>do</strong> Executivo fluminense (1983-1987 e 1991-1994),<br />

mas sim explorar alguns eixos <strong>de</strong> análise: seu ingresso na vi<strong>da</strong> política <strong>do</strong> Rio,<br />

13


14<br />

A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

visto como palco para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> sua li<strong>de</strong>rança na esfera nacional; as<br />

eleições <strong>de</strong> 1982 e a afirmação <strong>do</strong> PDT no quadro partidário fluminense; as<br />

relações com a mídia e com os movimentos sociais; as políticas para a educa­<br />

ção; o projeto <strong>de</strong> conquistar a presidência <strong>da</strong> República, e as características<br />

<strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r popular.<br />

Reunin<strong>do</strong> um grupo <strong>de</strong> pesquisa<strong>do</strong>res que têm fortes interesses nos<br />

estu<strong>do</strong>s sobre a história política fluminense, este livro preten<strong>de</strong> também, em<br />

seus sete artigos, lançar luz sobre aspectos <strong>da</strong> cultura política <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro e sobre as ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> relação entre a nacionalização <strong>de</strong><br />

suas li<strong>de</strong>ranças e as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s regionais e locais.<br />

MARIETA DE MORAES FERREIRA<br />

Organiza<strong>do</strong>ra


1. Do Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul à Guanabara<br />

Marieta <strong>de</strong> Moraes Ferreira'<br />

Ao SE APROXIMAR o fim <strong>de</strong> seu man<strong>da</strong>to <strong>de</strong> governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong><br />

Sul (1959-1963), Leonel Brizola <strong>de</strong>slocou sua atuação <strong>de</strong> seu esta<strong>do</strong> natal<br />

para a Guanabara. Essa escolha, fun<strong>da</strong>mental para sua carreira política, po<strong>de</strong><br />

ser classifica<strong>da</strong> como "um evento biográfico!!, 1 um momento crucial na traje­<br />

tória <strong>de</strong> um indivíduo, em que ocorrem transformações que têm conseqüên­<br />

cias relevantes para seu futuro.<br />

Para começar a enten<strong>de</strong>r esse evento, é preciso lembrar o que significava<br />

a Guanabara no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960. Tratava-se <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong><br />

cria<strong>do</strong> no ano <strong>de</strong> 1960, quan<strong>do</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser Dis­<br />

trito Fe<strong>de</strong>ral, por <strong>força</strong> <strong>da</strong> transferência <strong>da</strong> capital <strong>do</strong> país para Brasília. Se<strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> Colônia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1763, <strong>da</strong> Corte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1808, <strong>do</strong> Império <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1822, e<br />

capital <strong>da</strong> República <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1889, durante muito tempo o Rio foi o palco e a<br />

cmxa <strong>de</strong> ressonância <strong>do</strong>s empreendimentos culturais, científicos e políticos<br />

<strong>do</strong> país. Por isso, era visto como ('um espaço fun<strong>da</strong>mentalmente nacionat,<br />

que permitia que políticos <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s procedências, "in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte­<br />

mente <strong>de</strong> on<strong>de</strong> anteriormente vivessem e/ou atuassem politicamente", se<br />

<strong>de</strong>stacassem como porta-vozes <strong>de</strong> questões <strong>de</strong> interesse geral <strong>da</strong> nação 2<br />

Ain<strong>da</strong> não foi nos primeiros anos <strong>de</strong> Brasília que o Rio teve sua posição ame­<br />

aça<strong>da</strong>. Portanto, a vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> Brizola para o esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Guanabara significou<br />

't Doutora em história, pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> CPDOC-<strong>FGV</strong> e professora <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> História<br />

<strong>da</strong> UFRJ.<br />

1 Ver Levillan (2003: 141-184). Este conceíto foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por BonE & Zinn (2003).<br />

'Ver Silva (2005, 96).<br />

15


Do Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul à Guanabara 17<br />

influência <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Comunista (PCB). O veículo primordial para sua or­<br />

ganização foi o Ministério <strong>do</strong> Trabalho, que, pela influência que exercia nos<br />

sindicatos, atraiu os trabalha<strong>do</strong>res para o novo parti<strong>do</strong>. Também as cama<strong>da</strong>s<br />

populares urbanas eram visa<strong>da</strong>s, e para atraí-las o PTB procurou capitalizar<br />

o prestígio adquiri<strong>do</strong> por Vargas com a legislação social e trabalhista imple­<br />

menta<strong>da</strong> durante o Esta<strong>do</strong> Novo. Com esse ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>, o PTB <strong>de</strong>finiu<br />

seu programa e seus compromissos: <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res,<br />

inclusive os rurais; ampliação e eficácia <strong>da</strong> Justiça <strong>do</strong> Trabalho; planificação e<br />

presença <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> na gestão econômica, para garantir o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong><br />

país; melhor redistribuição <strong>da</strong> riqueza e extinção <strong>do</strong> latifúndio improdutivo;<br />

acesso à terra a to<strong>do</strong>s que quisessem trabalhá-la. Ao ingressar no parti<strong>do</strong> e<br />

nele ocupar diferentes posições, Brizola comprometeu-se com esse i<strong>de</strong>ário e<br />

lutou <strong>de</strong> diferentes formas pra garantir o êxito <strong>de</strong>ssas propostas.<br />

Foi na legen<strong>da</strong> <strong>do</strong> PTB que Brizola se elegeu <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> estadual em<br />

1947. Em março <strong>de</strong> 1950, casou-se com Neuza Coulart, irmã <strong>de</strong> João Cou­<br />

lart, então emergente lí<strong>de</strong>r petebista, e em outubro <strong>do</strong> mesmo ano foi reelei­<br />

to. No início <strong>da</strong> nova legislatura, em 1951, assumiu a li<strong>de</strong>rança <strong>da</strong> banca<strong>da</strong><br />

trabalhista na Assembléia Legislativa gaúcha. Exerceu seu novo man<strong>da</strong>to por<br />

cerca <strong>de</strong> um ano, até ser nomea<strong>do</strong>, em 1952, secretário estadual <strong>de</strong> Obras<br />

<strong>do</strong> governo <strong>de</strong> Ernesto Dornelles. A <strong>de</strong>speito <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho limita<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

PTB gaúcho nas eleições para as prefeituras municipais e para o Legislati­<br />

vo em 1954, foi eleito <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>raL Ao assumir sua ca<strong>de</strong>ira na Câmara<br />

<strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s no início <strong>de</strong> 1955, teve seus primeiros embates com Carlos<br />

Lacer<strong>da</strong>, <strong>da</strong> UDN. Em outubro seguinte, foi eleito prefeito <strong>de</strong> Porto Alegre,<br />

estabelecen<strong>do</strong> como priori<strong>da</strong><strong>de</strong> o atendimento <strong>da</strong>s reivindicações <strong>da</strong>s clas­<br />

ses trabalha<strong>do</strong>ras - saneamento básico, criação <strong>de</strong> escolas e melhoria <strong>do</strong>s<br />

transportes coletivos. Seu bom <strong>de</strong>sempenho à frente <strong>da</strong> prefeitura <strong>da</strong> capital<br />

gaúcha o cre<strong>de</strong>nciou para disputar com êxito o governo estadual, sempre na<br />

legen<strong>da</strong> <strong>do</strong> PTB, em outubro <strong>de</strong> 1958. Conquistou seus eleitores graças ao<br />

direcionamento <strong>de</strong> sua campanha para os setores populares, sen<strong>do</strong> eleito com<br />

55% <strong>do</strong>s votos e <strong>de</strong>rrotan<strong>do</strong> assim as <strong>força</strong>s u<strong>de</strong>nistas e pessedistas 4<br />

À frente <strong>do</strong> governo gaúcho, Brizola <strong>de</strong>u priori<strong>da</strong><strong>de</strong> ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

industrial, basea<strong>do</strong> em investimentos <strong>do</strong> capital priva<strong>do</strong> nacional e <strong>do</strong> governo<br />

4 Ver Ban<strong>de</strong>ira (1979).


li,1<br />

18 A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

estadual. Nessa opção estava implícita a luta contra o capital estrangeiro. Fiel a<br />

essa orientação, em maio <strong>de</strong> 1959 encampou a Companhia <strong>de</strong> Energia Elétrica<br />

Rio-Gran<strong>de</strong>nse, filial <strong>da</strong> Arnerican and Foreign Power Company (Arnforp), tor­<br />

nan<strong>do</strong>-se a partir <strong>de</strong> então uma expressiva li<strong>de</strong>rança <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> nacionalista<br />

brasileira. Em contraparti<strong>da</strong>, a medi<strong>da</strong> gerou uma grave crise nas relações entre<br />

o Brasil e os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, que explodiria mais tar<strong>de</strong>, com to<strong>da</strong> a intensi<strong>da</strong>­<br />

<strong>de</strong>, no governo <strong>de</strong> João Goulart.<br />

Como governa<strong>do</strong>r, Brizola ampliou sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ação, seja <strong>de</strong>sen­<br />

volven<strong>do</strong> programas <strong>de</strong> dinamização para a economia gaúcha, seja crian<strong>do</strong><br />

projetos <strong>de</strong> políticas públicas volta<strong>da</strong>s para as cama<strong>da</strong>s populares, ou ain<strong>da</strong><br />

engajan<strong>do</strong>-se em lutas <strong>de</strong> dimensões nacionais. Já na sucessão presi<strong>de</strong>ncial<br />

<strong>de</strong> 1960, discor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> PSD e <strong>de</strong> setores <strong>do</strong> PTB que estavam lançan<strong>do</strong> a<br />

candi<strong>da</strong>tura <strong>do</strong> general Henrique Lott, começou a planejar, em conjunto com<br />

li<strong>de</strong>ranças sindicais, a organização <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> greves a serem <strong>de</strong>flagra­<br />

<strong>da</strong>s para pressionar o lançamento <strong>de</strong> um candi<strong>da</strong>to popular e nacionalista.<br />

O projeto não foi adiante, e João Goulart acabou por apoiar o nome <strong>de</strong> Lott<br />

e por aceitar disputar a seu la<strong>do</strong> a vice-presidência. O resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> eleição é<br />

conheci<strong>do</strong>: como não havia vinculação obrigatória, o petebista Goulart tor­<br />

nou-se o vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Jânio Quadros, eleito com o apoio <strong>da</strong> UDN.<br />

Com suas iniciativas, Brizola passou a ocupar paulatinamente espaços<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no PTB e na cena política nacional, posicionan<strong>do</strong>-se como um<br />

interlocutor reconheci<strong>do</strong> nas articulações e qualifican<strong>do</strong>-se como uma li<strong>de</strong>­<br />

rança emergente. Esse papel ficaria ain<strong>da</strong> mais claro a partir <strong>de</strong> 1961.<br />

Na "ca<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> legali<strong>da</strong><strong>de</strong>"<br />

No dia 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong>sse ano, quan<strong>do</strong> Jânio Quadros renunciou à presi­<br />

dência, teve início no país uma crise <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções. A Constituição<br />

<strong>de</strong> 1946, então em vigor, previa a investidura <strong>do</strong> vice-presi<strong>de</strong>nte, que se en­<br />

contrava em viagem oficial à China. Entretanto, os ministros militares, com<br />

o apoio <strong>de</strong> importante parcela <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s e <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> civis<br />

visceralmente antigetulistas, vetaram a posse <strong>de</strong> João Goulart, alegan<strong>do</strong> que<br />

ela significaria uma ameaça à or<strong>de</strong>m e às instituições. Nos dias seguintes, a<br />

conjuntura política nacional foi polariza<strong>da</strong> pela luta entre os partidários <strong>do</strong><br />

veto e os <strong>de</strong>fensores <strong>da</strong> legali<strong>da</strong><strong>de</strong>, chegan<strong>do</strong> a haver reais possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

um confronto arma<strong>do</strong>.


Do Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul à Guanabara 19<br />

Foi nesse contexto que o governa<strong>do</strong>r Brizola articulou o principal foco<br />

<strong>de</strong> resistência ao veto a Coulart, li<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> no Rio Cran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul uma cam­<br />

panha <strong>de</strong> alcance nacional. A ocupação <strong>da</strong>s rádios Cuaíba e Farroupilha per­<br />

mitiu ao governo gaúcho formar a "ca<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> legali<strong>da</strong><strong>de</strong>", que integrou 104<br />

emissoras <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio Cran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, Santa Catarina e Paraná, e<br />

passou a transmitir os sucessivos discursos <strong>de</strong> Brizola exortan<strong>do</strong> a população<br />

a se mobilizar em <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> Constituição. Em discurso <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1961, por exemplo, <strong>de</strong>clarava ele em tom inflama<strong>do</strong>:<br />

"Não preten<strong>de</strong>mos nos submeter. Que nos esmaguem! Que nos <strong>de</strong>struam!<br />

Que nos chacinem, neste Palácio! Chacina<strong>do</strong> estará o Brasil com a imposição<br />

<strong>de</strong> uma ditadura contra a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu povo. Esta rádio será silencia<strong>da</strong> tanto<br />

aqui como nos transmissores. O certo, porém, é que não será silencia<strong>da</strong> sem<br />

balas. Tanto aqui como nos transmissores estamos guar<strong>da</strong><strong>do</strong>s por fortes con­<br />

tingentes <strong>da</strong> Briga<strong>da</strong> Militar."5<br />

Informa<strong>do</strong> <strong>da</strong> extensão <strong>da</strong> crise, Coulart apressou a volta, chegan<strong>do</strong><br />

a Paris no dia 28 <strong>de</strong> agosto com a intenção <strong>de</strong> regressar imediatamente ao<br />

Brasil. Recebeu, porém, um telefonema <strong>da</strong> comissão executiva nacional <strong>do</strong><br />

PTB, que lhe fez um apelo para adiar por <strong>do</strong>is dias o regresso, a fim <strong>de</strong> que<br />

lhe fossem envia<strong>da</strong>s notícias mais completas sobre a situação <strong>do</strong> país, uma<br />

vez que os ministros militares ameaçavam prendê-lo tão logo <strong>de</strong>sembarcas­<br />

se. No dia 29, o Congresso Nacional rejeitou o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> impedimento <strong>do</strong><br />

vice-presi<strong>de</strong>nte e começou a discutir uma solução conciliatória, que consistia<br />

na implantação <strong>do</strong> sistema parlamentarista <strong>de</strong> governo. Insatisfeitos, no dia<br />

seguinte os ministros militares lançaram um manífesto no qual expunham as<br />

razões <strong>de</strong> sua oposição a Goulart. O <strong>do</strong>cumento acusava o vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

incentivar {'agitações nos meios sindicais" e <strong>de</strong> entregar postos-chave nos sin­<br />

dicatos a "agentes <strong>do</strong> comunismo ínternacional", o que o tornava uma ameaça<br />

à segurança nacional e à manutenção <strong>da</strong> hierarquia nas Forças Arma<strong>da</strong>s.<br />

Além disso, o manifesto ressaltava a admiração expressa por Coulart pelas<br />

comunas populares durante sua visita à China Popular.<br />

5 Sitc <strong>do</strong> PDT: http://vvw,v.pdt.org.brlpersonali<strong>da</strong><strong>de</strong>s/brizola_historia_l.asp (discurso <strong>de</strong> Brizola),<br />

acesso em 5/2/2007.


20 A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Ao mesmo tempo em que os ministros militares reiteravam sua posição,<br />

as <strong>força</strong>s favoráveis à posse <strong>do</strong> vice-presi<strong>de</strong>nte ampliavam sua articulação e<br />

ganhavam novas a<strong>de</strong>sões. Ain<strong>da</strong> no dia 30, os governa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Paraná, Ney<br />

Braga, e <strong>de</strong> Goiás, Mauro Borges, a<strong>de</strong>riram ao movimento pela legali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>claran<strong>do</strong>-se dispostos a usar armas contra as <strong>força</strong>s que se opunham à pos­<br />

se <strong>de</strong> Goular!. O mesmo fez o general Macha<strong>do</strong> Lopes, coman<strong>da</strong>nte <strong>do</strong> IH<br />

Exército, com se<strong>de</strong> no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, ao anunciar oficialmente, através<br />

<strong>da</strong> "ca<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> legali<strong>da</strong><strong>de</strong>", que a<strong>de</strong>rira ao movimento. Os <strong>de</strong>mais coman<strong>da</strong>n­<br />

tes regionais inclinaram-se a acompanhar essa posição. O apoio à posse <strong>de</strong><br />

Goulart também crescia entre estu<strong>da</strong>ntes, intelectuais e sindicatos <strong>de</strong> traba­<br />

lha<strong>do</strong>res, que <strong>de</strong>flagraram várias greves. A situação política se radicalizava.<br />

No mesmo dia 30, o ministro <strong>da</strong> Guerra nomeou o general Osval<strong>do</strong> Cor<strong>de</strong>iro<br />

<strong>de</strong> Farias para o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> III Exército, <strong>de</strong>stituin<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> Lopes. En­<br />

quanto Brizola conclamava a população gaúcha a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Sul, Macha<strong>do</strong> Lopes advertia que, se Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Farias <strong>de</strong>sembarcasse em<br />

Porto Alegre, seria preso. A dissensão no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul colocou o país<br />

sob ameaça <strong>de</strong> guerra civil.<br />

Enquanto isso, Goulart aproximava-se <strong>do</strong> território brasileiro, fazen<strong>do</strong><br />

uma primeira escala em Nova York no dia 30 <strong>de</strong> agosto. Nessa ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, con­<br />

ce<strong>de</strong>u entrevista à imprensa em que <strong>de</strong>clarou que seguiria para a Argentina<br />

e chegaria ao Brasil pelo Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. Impedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarcar em<br />

Buenos Aires, viu-se obriga<strong>do</strong> a rumar para Montevidéu. Na capital uru­<br />

guaia, reuniu-se com Tancre<strong>do</strong> Neves e Hugo <strong>de</strong> Faria, que haviam recebi<strong>do</strong><br />

a missão <strong>de</strong> convencê-lo a aceitar o regime parlamentarista <strong>de</strong> governo, con­<br />

dição para a retira<strong>da</strong> <strong>do</strong> veto <strong>do</strong>s ministros militares. Mesmo contan<strong>do</strong> com<br />

o apoio <strong>de</strong> setores que rejeitavam essa fórmula conciliatória e <strong>de</strong>fendiam sua<br />

posse <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> regime presi<strong>de</strong>ncialista, Goulart aceitou a proposta a fim <strong>de</strong><br />

encerrar, sem <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue, a crise que inquietava o país. Em 10<br />

<strong>de</strong> setembro, <strong>de</strong>sembarcou em Porto Alegre, on<strong>de</strong> foi recebi<strong>do</strong> com enorme<br />

manifestação popular. No dia seguinte, o Congresso aprovou, por 253 votos<br />

contra 55, a Emen<strong>da</strong> Constitucional n° 4, que instituiu o parlamentarismo,<br />

limitan<strong>do</strong> os po<strong>de</strong>res presi<strong>de</strong>nciais. A seguir foi divulga<strong>do</strong> um comunica<strong>do</strong><br />

que afirmava que as Forças Arma<strong>da</strong>s acatavam a forma parlamentarista <strong>de</strong><br />

governo e <strong>da</strong>vam total garantia ao <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> Goulart em Brasília, bem<br />

como à sua investidura na presidência.


Do Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul à Guanabara 21<br />

Uma vez em Brasília, Goulart não quis ser empossa<strong>do</strong> logo no dia seguinte,<br />

pois, segun<strong>do</strong> suas próprias palavras, <strong>de</strong>sejava se inteirar melhor <strong>do</strong>s<br />

acontecimentos e se recuperar <strong>da</strong>s duras críticas feitas por alguns <strong>de</strong> seus<br />

familiares por ter aceito tomar posse nas condições impostas. Referia-se a<br />

ninguém menos que Brizola, que havia feito <strong>de</strong>clarações contun<strong>de</strong>ntes contra<br />

sua postura concilia<strong>do</strong>ra.<br />

O <strong>de</strong>senrolar <strong>de</strong>sses acontecimentos, <strong>do</strong> dia 25 <strong>de</strong> agosto até 7 <strong>de</strong> setembro,<br />

quan<strong>do</strong> João Goulart foi empossa<strong>do</strong> na presidência <strong>da</strong> República,<br />

colocou Brizola no centro <strong>da</strong>s atenções, projetan<strong>do</strong> seu nome para além <strong>da</strong><br />

esfera estadual e transforman<strong>do</strong>-o <strong>de</strong> fato numa li<strong>de</strong>rança nacional.<br />

No governo parlamentarista<br />

Ao assumir a presidência, João Goulart procurou <strong>de</strong>sarmar seus opositores<br />

amplian<strong>do</strong> a base política <strong>do</strong> governo. Sem abrir mão <strong>de</strong> sua relação com<br />

setores <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong>, buscou o apoio <strong>do</strong> centro, pratican<strong>do</strong> uma política <strong>de</strong><br />

conciliação basea<strong>da</strong> no diálogo com os diversos parti<strong>do</strong>s representa<strong>do</strong>s no<br />

Congresso. Coerente com essa orientação, o primeiro gabinete parlamentarista,<br />

chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> ((união nacional", foi composto por uma representação<br />

equilibra<strong>da</strong> <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s, sob a chefia <strong>do</strong> pessedista Tancre<strong>do</strong><br />

Neves. Mais uma vez, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros momentos, essa política <strong>de</strong> conciliação<br />

teve em Brizola um crítico radical. Na sua avaliação, Goulart já se<br />

havia equivoca<strong>do</strong> ao aceitar a emen<strong>da</strong> parlamentarista e assumir o governo<br />

com suas atribuições reduzi<strong>da</strong>s. Por isso mesmo, durante to<strong>da</strong> a vigência <strong>do</strong><br />

parlamentarismo, Brizola iria lutar pela realização <strong>do</strong> plebiscito previsto na<br />

Emen<strong>da</strong> Constitucional n° 4 e pelo retorno ao presi<strong>de</strong>ncialismo.<br />

Além <strong>de</strong> buscar a conciliação, Goulart tinha um programa <strong>de</strong> governo<br />

que colocava como pontos centrais reajustes salariais periódicos compatíveis<br />

com os índices inflacionários, uma política externa in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, a nacionalização<br />

<strong>de</strong> algumas subsidiárias estrangeiras, e as chama<strong>da</strong>s reformas <strong>de</strong> base<br />

(agrária, bancária, administrativa, fiscal, eleitoral e urbana). As reformas que<br />

o PTB já levantara como ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1958 pareciam finalmente próximas<br />

<strong>de</strong> uma implementação. E Brizola se colocava como um lí<strong>de</strong>r disposto a acelerar<br />

o processo <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira.<br />

Os objetivos <strong>de</strong> Goulart, inicialmente formula<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> genérico,<br />

foram sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>linea<strong>do</strong>s mais claramente através <strong>de</strong> sua atuação no governo.


22 A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

o presi<strong>de</strong>nte reafirmava a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças no país, na esperança<br />

<strong>de</strong> que o Congresso solucionasse problemas como os <strong>da</strong> reforma agrária, <strong>do</strong><br />

abuso <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r econômico e <strong>da</strong> disciplina <strong>do</strong> capital estrangeiro. No que diz<br />

respeito especificamente à reforma agrária, em novembro <strong>de</strong> 1961 Goulart<br />

<strong>de</strong>stacou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar o princípio constitucional que exigia in<strong>de</strong>­<br />

nização prévia em dinheiro pelas terras <strong>de</strong>sapropria<strong>da</strong>s. A seu ver, o pagamen­<br />

to <strong>da</strong>s terras po<strong>de</strong>ria ser feito em títulos <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> pública. Esse ponto <strong>de</strong> vista<br />

não era porém compartilha<strong>do</strong> pelos nomes mais significativos <strong>de</strong> seu ministé­<br />

rio, o que <strong>de</strong>monstrava a precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> política <strong>de</strong> alianças sobre a qual se<br />

baseava o governo, e as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s enfrenta<strong>da</strong>s na busca <strong>de</strong> um consenso.<br />

A realização <strong>de</strong> uma reforma agrária colocava problemas <strong>de</strong> difícil so­<br />

lução, como o <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir que tipo <strong>de</strong> reforma <strong>de</strong>veria ser feita: a quem be­<br />

neficiaria e em que nível, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> que <strong>força</strong>s sociais e políticas.<br />

Era preciso saber também quais os instrumentos jurídicos disponíveis para<br />

executá-la, e que alianças fazer para tornar seus custos sociais viáveis. Com<br />

o objetivo <strong>de</strong> melhor respon<strong>de</strong>r a essas questões, o governo encarregou o<br />

ministro <strong>da</strong> Agricultura <strong>de</strong> organizar um grupo <strong>de</strong> trabalho para elaborar um<br />

anteprojeto. O grupo aten<strong>de</strong>u à orientação concilia<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> gabinete, discu­<br />

tin<strong>do</strong> soluções alternativas àquela proposta pelo presi<strong>de</strong>nte, que era apoia<strong>da</strong><br />

pelas <strong>força</strong>s <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong>. Essas discussões, no cômputo final, mostraram-se<br />

pouco frutíferas.<br />

Nesse contexto <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o avanço <strong>da</strong>s propostas reformis­<br />

tas, Brizola articularia, em 1962, a Frente <strong>de</strong> Mobilização Popular (FMP),<br />

com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> congregar as <strong>força</strong>s políticas antiimperialistas e pró-re­<br />

formas. 6 O governa<strong>do</strong>r gaúcho reuniu representantes <strong>de</strong> organizações como<br />

o recém-cria<strong>do</strong> Coman<strong>do</strong> Geral <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res (CGT), órgão não-oficial<br />

<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> movimento sindical, o Pacto <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e Ação (PUA), a<br />

União Nacional <strong>do</strong>s Estu<strong>da</strong>ntes (UNE) e a União Brasileira <strong>do</strong>s Estu<strong>da</strong>ntes<br />

Secun<strong>da</strong>ristas (UBES), além <strong>de</strong> parlamentares <strong>da</strong> Frente Parlamentar Na­<br />

cionalista (FPN) e lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s camponesas e feministas. Ao men­<br />

cionar os objetivos <strong>do</strong> movimento, afirmou que o povo <strong>de</strong>sejava


Do Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul à Guanabara 2J<br />

Com iniciativas <strong>de</strong>ssa natureza, Brizola conquistava ca<strong>da</strong> vez mais espaços<br />

na política nacional e assumia a li<strong>de</strong>rança <strong>da</strong>s <strong>força</strong>s radicais <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong>.<br />

Outro tema que colocou Brizola no centro <strong>do</strong>s acontecimentos foi o <strong>do</strong><br />

controle <strong>do</strong> capital estrangeiro no país. Em outubro <strong>de</strong> 1961, o Ministério<br />

<strong>da</strong>s Minas e Energia apresentou a proposta <strong>de</strong> cancelar to<strong>da</strong>s as conces­<br />

sões <strong>de</strong> jazi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ferro feitas ilegalmente ao grupo norte-americano Hanna<br />

Company. Esse contexto <strong>de</strong> acirramento <strong>da</strong>s lutas nacionalistas estimularia<br />

ain<strong>da</strong> mais o governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul a avançar com sua política dc<br />

nacionalização, efetivan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>sapropriação, em fevereiro <strong>de</strong> 1962, <strong>do</strong>s bens<br />

<strong>da</strong> Companhia Telefônica <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, subsidiária <strong>da</strong> firma norte-americana<br />

International Telephone & Telegraph (ITT). Esse fato repercutiu na impren­<br />

sa nacional e internacional, intensifican<strong>do</strong> o <strong>de</strong>bate em torno <strong>da</strong> nacionaliza­<br />

ção <strong>da</strong>s concessionárias <strong>de</strong> serviço público. Com essas iniciativas, Brizola se<br />

capacitava a competir com Goulart na li<strong>de</strong>rança <strong>da</strong>s <strong>força</strong>s <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> e <strong>da</strong>s<br />

li<strong>de</strong>ranças sindicais, e mesmo <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> PTB.<br />

Nessa primeira fase <strong>do</strong> governo Goulart, <strong>de</strong>stacou-se também a nova<br />

orientação <strong>da</strong><strong>da</strong> à política externa brasileira. Assim, em novembro <strong>de</strong> 1961, o<br />

Brasil restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética, interrompi­<br />

<strong>da</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1947, no governo Dutra. A justificativa para a medi<strong>da</strong> eram as am­<br />

plas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s representa<strong>da</strong>s pelo merca<strong>do</strong> soviético para as exportações<br />

brasileiras. Ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com essa orientação, o governo Goulart rechaçou<br />

as sanções contra Cuba propostas pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, assim como os pre­<br />

parativos para a intervenção arma<strong>da</strong> naquele país sob a cobertura <strong>da</strong> Orga­<br />

nização <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Americanos (OEA). Na Conferência <strong>de</strong> Punta <strong>de</strong>i Este,<br />

realiza<strong>da</strong> entre 22 e 31 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1962, o chanceler brasileiro San Tiago<br />

Dantas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação a Cuba, enfrentan<strong>do</strong> a oposição<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, que procuravam impor suas pretensões aos países <strong>da</strong><br />

América Latina.<br />

A posição <strong>do</strong> governo brasileiro, ain<strong>da</strong> que apoia<strong>da</strong> por significativos<br />

setores sociais, criou uma situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sentendimento com \iVashington,<br />

dificultan<strong>do</strong> as relações entre os <strong>do</strong>is países. Em março <strong>de</strong> 1962, novamente<br />

coerente com a Iinlia a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> na política externa, a <strong>de</strong>legação brasileira en­<br />

via<strong>da</strong> a Genebra para participar <strong>da</strong> Conferência <strong>de</strong> Desarmamento <strong>de</strong>finiu a<br />

posição <strong>do</strong> Brasil como dc potência não-alinlia<strong>da</strong>, <strong>de</strong>svincula<strong>da</strong> <strong>de</strong> qualquer<br />

bloco político-militar. Brizola se manifestou favoravelmente à política externa


24 A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, mas novamente discor<strong>do</strong>u <strong>da</strong> política oficial brasileira <strong>de</strong> con­<br />

ciliar com os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s na condução <strong>da</strong> questão cubana, por ocasião <strong>da</strong><br />

visita <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte João Goulart àquele país em abril <strong>de</strong> 1962.<br />

Ao fin<strong>da</strong>r o primeiro semestre <strong>de</strong> 1962, o gabinete Tancre<strong>do</strong> Neves, que<br />

se caracterizava por uma prática política <strong>de</strong> compromisso e <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong><br />

união nacional, per<strong>de</strong>u a razão <strong>de</strong> ser. Diante <strong>do</strong>s obstáculos enfrenta<strong>do</strong>s para<br />

pôr em prática seu programa <strong>de</strong> governo e para superar as graves dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

econômicas que enfrentava, Goulart começou uma campanha pelo retorno<br />

ao presi<strong>de</strong>ncialismo, alegan<strong>do</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ter um Executivo forte. A<br />

pretexto <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r à exigência legal <strong>de</strong> <strong>de</strong>sincompatibilização para concorrer<br />

às eleições <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1962, no dia 26 <strong>de</strong> junho to<strong>do</strong>s os membros <strong>do</strong><br />

gabinete pediram <strong>de</strong>missão.<br />

Na campanha <strong>do</strong> plebiscito<br />

A renúncia <strong>de</strong> Tancre<strong>do</strong> Neves e a indicação feita por Goulart <strong>do</strong> nome <strong>de</strong><br />

San Tiago Dantas para o cargo <strong>de</strong> primeiro-ministro fizeram eclodir nova<br />

crise. O ex-chanceler era apoia<strong>do</strong> pelos setores nacionalistas e <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

Congresso e pelo movimento sindical, mas as banca<strong>da</strong>s <strong>do</strong> PSD e <strong>da</strong> UDN<br />

se uniram para vetar sua indicação) em virtu<strong>de</strong> exatamente <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sempe­<br />

nho à frente <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong>s Relações Exteriores. Pressiona<strong>do</strong> pelas <strong>força</strong>s<br />

conserva<strong>do</strong>ras, Goulart indicou então o pessedista Auro <strong>de</strong> Moura Andra<strong>de</strong>,<br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>, que teve seu nome aprova<strong>do</strong> no dia 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1962.<br />

Apenas o PTB votou contra essa indicação.<br />

Enquanto o nome <strong>de</strong> Aura <strong>de</strong> Moura Andra<strong>de</strong> era homologa<strong>do</strong> pelo<br />

Congresso, os lí<strong>de</strong>res sindicais Dante Pelacani, Domingos Álvares e Luís<br />

Tenório <strong>de</strong> Lima se reuniam em São Paulo com dirigentes <strong>do</strong>s sindicatos<br />

filia<strong>do</strong>s à Fe<strong>de</strong>ração <strong>do</strong>s Metalúrgicos e ao Fórum Sindical <strong>de</strong> Debates para<br />

preparar uma greve geral em to<strong>do</strong> o país, em <strong>de</strong>sagravo a San Tiago Dantas e<br />

em apoio ao presi<strong>de</strong>nte Goulart. Seu objetivo era também obter um gabinete<br />

e um primeiro-ministro favoráveis ao programa <strong>de</strong> reformas. Diante <strong>de</strong> tantas<br />

pressões, e <strong>da</strong> recusa <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte em aceitar o gabinete que propunha, Aura<br />

<strong>de</strong> Moura Andra<strong>de</strong> acabou por renunciar.<br />

Em 10 <strong>de</strong> julho, finalmente, Goulart indicou o pessedista gaúcho Bro­<br />

cha<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rocha, ex-secretário <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> governo Brizola. Aprova<strong>do</strong> pelo


Do Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul à Guanabara 25<br />

Congresso, o novo primeiro-ministro prometeu antecipar para <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1962 a realização <strong>do</strong> plebiscito que <strong>de</strong>cidiria sobre a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> regi­<br />

me parlamentarista, previsto anteriormente para o início <strong>de</strong> 1965. Um <strong>do</strong>s<br />

lí<strong>de</strong>res <strong>do</strong> movimento em favor <strong>da</strong> volta ao presi<strong>de</strong>ncialismo, Brizola apoiou<br />

essa <strong>de</strong>cisão.<br />

No gabinete Brocha<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rocha, o PTB adquiriu maior participação no<br />

po<strong>de</strong>r. Ain<strong>da</strong> que pertencente aos quadros <strong>do</strong> PSD, o novo primeiro-ministro<br />

tinha ligações com os petebistas. Tinha também <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> importante<br />

papel na encampação <strong>da</strong> subsidiária <strong>da</strong> ITT no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, o que lhe<br />

<strong>da</strong>va prestígio nos meios nacionalistas. Mais próximo <strong>do</strong> PTB e <strong>do</strong>s grupos<br />

<strong>de</strong> esquer<strong>da</strong>, o novo gabinete pretendia obter po<strong>de</strong>res especiais para legislar<br />

sobre as reformas, além <strong>de</strong> conseguir a restauração <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>ncialismo. 8<br />

Em agosto, Brocha<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rocha cumpriu sua promessa, apresentan<strong>do</strong><br />

projeto que fixava a <strong>da</strong>ta <strong>do</strong> plebiscito em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1962. Os u<strong>de</strong>nistas,<br />

li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por Carlos Lacer<strong>da</strong>, então governa<strong>do</strong>r <strong>da</strong> Guanabara (1961-1965),<br />

atacaram a proposta, acusan<strong>do</strong> Goulart <strong>de</strong> estar comprometi<strong>do</strong> com os co­<br />

munistas. Brizola li<strong>de</strong>rava os setores esquerdistas, ameaçan<strong>do</strong> o Congresso<br />

com intervenção arma<strong>da</strong> caso este não apoiasse a realização <strong>do</strong> plebiscito<br />

em <strong>de</strong>zembro.<br />

Outra iniciativa <strong>de</strong> Brocha<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rocha, ain<strong>da</strong> no mês <strong>de</strong> agosto, foi<br />

solicitar oficialmente que o Congresso <strong>de</strong>legasse po<strong>de</strong>res ao governo para<br />

legislar sobre temas como o monopólio <strong>da</strong> importação <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong>ri­<br />

va<strong>do</strong>s, o comércio <strong>de</strong> minérios e materiais nucleares, o controle <strong>da</strong> moe<strong>da</strong><br />

e <strong>do</strong> crédito, o Estatuto <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r Rural, os arren<strong>da</strong>mentos rurais, a<br />

<strong>de</strong>sapropriação por interesse social e a criação <strong>de</strong> um órgão executor <strong>da</strong><br />

política <strong>de</strong> reforma agrária. Essa <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res tinha a intenção<br />

explícita <strong>de</strong> acelerar a execução <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s em lento processo <strong>de</strong> discussão<br />

nas duas casas <strong>do</strong> Congresso e, <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong>, induzir o Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />

a encaminhar ele próprio as medi<strong>da</strong>s prioritárias, se quisesse evitar que o<br />

Executivo o fizesse em regime <strong>de</strong> urgência. Enquanto os empresários pau­<br />

listas e gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s parlamentares se manifestaram contra a <strong>de</strong>legação<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>res requeri<strong>da</strong> pelo primeiro-ministro, o CGT comprometeu-se a<br />

B Ver verbete 'Parti<strong>do</strong> Trabalhista Brasileiro' em DHBB.


I",'<br />

'"<br />

"<br />

26 A <strong>força</strong> <strong>do</strong> povo: Brizola e o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o programa <strong>do</strong> novo gabinete e a trabalhar pela volta ao regime<br />

presi<strong>de</strong>ncialista, sob a condição <strong>de</strong> que fossem atendi<strong>da</strong>s suas reivindica­<br />

ções fun<strong>da</strong>mentais, como a revogação <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional, a<br />

concessão <strong>de</strong> 100% <strong>de</strong> aumento no salário mínimo e a implementação <strong>da</strong>s<br />

reformas <strong>de</strong> base. O CGT reivindicava ain<strong>da</strong> a realização <strong>do</strong> plebiscito no<br />

dia 7 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1962, <strong>da</strong>ta fixa<strong>da</strong> para as eleições legislativas, sob pena<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>flagrar uma greve geral no mês seguinte.<br />

A <strong>de</strong>speito <strong>do</strong>s esforços <strong>de</strong> Brizola e <strong>do</strong> PTB para sustentar as iniciativas<br />

<strong>de</strong> Brocha<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rocha, em 14 <strong>de</strong> setembro, não ten<strong>do</strong> consegui<strong>do</strong> que o Con­<br />

gresso aprovasse seu projeto, o primeiro-lninistro renunciou. No dia seguinte<br />

o CGT <strong>de</strong>cretou uma greve geral, receben<strong>do</strong> o apoio <strong>de</strong> setores militares na­<br />

cionalistas, Diante <strong>de</strong>sse quadro, o Congresso ce<strong>de</strong>u às pressões e em 15 <strong>de</strong><br />

setembro aprovou a Lei Complementar nO 2, que estabeleceu a realização <strong>do</strong><br />

plebiscito em 6 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1963. Goulart obteve permissão para constituir<br />

imediatamente um conselho <strong>de</strong> ministros provisório, sem autorização prévia<br />

<strong>do</strong> Congresso, e encarregou Hermes Lima <strong>de</strong> organizar, como primeiro-mi­<br />

nistro, o gabinete que vigoraria até 6 <strong>de</strong> janeiro. Venci<strong>da</strong> a campanha pela<br />

antecipação <strong>do</strong> plebiscito e organiza<strong>do</strong> o ministério, Goulart iria lançar-se à<br />

campanha pelo retorno ao presi<strong>de</strong>ncialismo, para a qual contou, mais uma<br />

vez, com a aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> Brizola.<br />

Paralelamente a esses movimentos, <strong>de</strong>senrolavam-se os preparativos<br />

para as eleições <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1962, quan<strong>do</strong> seriam renova<strong>do</strong>s parte <strong>do</strong> Sena­<br />

<strong>do</strong>, a Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, as Assembléias Legislativas estaduais, as Câ­<br />

maras Municipais e parte <strong>do</strong>s governos estaduais e municipais. As eleições<br />

<strong>de</strong> 1962 tinham um significa<strong>do</strong> especial, pois representavam a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> o governo ampliar sua base <strong>de</strong> sustentação no Congresso e assim reunir os<br />

recursos políticos necessários para <strong>da</strong>r encaminhamento às reformas <strong>de</strong> base<br />

pela via constitucional. Nesse contexto, a luta pelo voto tornou-se acirra<strong>da</strong>.<br />

Tentan<strong>do</strong> sustar o avanço <strong>do</strong>s candi<strong>da</strong>tos <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> e vincula<strong>do</strong>s ao esque­<br />

ma <strong>de</strong> sustentação <strong>do</strong> governo Goulart, as <strong>força</strong>s oposicionistas articularam,<br />

através <strong>do</strong> Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Ação Democrática (Ibad), que havia si<strong>do</strong><br />

fun<strong>da</strong><strong>do</strong> em 1959 com o objetivo <strong>de</strong> combater a propagação <strong>do</strong> comunismo<br />

no Brasil, to<strong>da</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiamento para seus candi<strong>da</strong>tos. Em contra­<br />

parti<strong>da</strong>, o governo e as <strong>força</strong>s <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> envi<strong>da</strong>ram esforços para neutrali­<br />

zar a ação <strong>do</strong>s grupos conserva<strong>do</strong>res.

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