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Dinâmica do desenvolvimento radicular da cana-de-açúcar e ...

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2ª Edição<br />

REVISTA E<br />

AMPLIADA<br />

<strong>Dinâmica</strong> <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> e implicações<br />

no controle <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s<br />

Antônio Carlos Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Leila Dinar<strong>do</strong> Miran<strong>da</strong>


DINÂMICA DO DESENVOLVIMENTO RADICULAR<br />

DA CANA-DE-AÇÚCAR E IMPLICAÇÕES<br />

NO CONTROLE DE NEMATÓIDES<br />

2ª Edição<br />

REVISTA E<br />

AMPLIADA<br />

Antônio Carlos Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Leila Luci Dinar<strong>do</strong>-Miran<strong>da</strong><br />

CAMPINAS – SP<br />

2011


2010 © Antônio Carlos Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Vasconcelos e<br />

Leila Luci Dinar<strong>do</strong>-Miran<strong>da</strong><br />

To<strong>do</strong>s os direitos reserva<strong>do</strong>s a<br />

Antônio Carlos Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Vasconcelos e<br />

Leila Luci Dinar<strong>do</strong>-Miran<strong>da</strong><br />

Projeto Editorial<br />

Aquiles Berggren Comelato<br />

Gráfica e Editora A<strong>do</strong>nis<br />

Projeto Gráfico/Editoração Eletrônica/Arte-Final<br />

An<strong>de</strong>rson Brongna<br />

Gráfica e Editora A<strong>do</strong>nis<br />

Criação Capa<br />

M51 Criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estratégica<br />

Revisão <strong>de</strong> Texto<br />

Patrícia Aquino<br />

Marcelo <strong>da</strong> Rocha Pinto <strong>de</strong> Moura<br />

Marco Antonio Storani<br />

Fotografia<br />

Antônio Carlos Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Vasconcelos e<br />

Leila Luci Dinar<strong>do</strong>-Miran<strong>da</strong><br />

Impressão<br />

Gráfica e Editora A<strong>do</strong>nis<br />

Da<strong>do</strong>s Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)<br />

Vasconcelos, Antônio Carlos Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong>.<br />

<strong>Dinâmica</strong> <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> e<br />

implicações no controle <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s / Antônio Carlos<br />

Macha<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Vasconcelos, Leila Luci Dinar<strong>do</strong>-Miran<strong>da</strong>. - Ameri<strong>cana</strong>, SP :<br />

A<strong>do</strong>nis, 2010.<br />

56 p. : 15 il. ; 15X21 cm<br />

ISBN 978-85-87645-48-7<br />

1. Cana-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> - Doenças e pragas. 2. Nemato<strong>da</strong> em<br />

plantas.<br />

3. Pragas agrícolas. I. Dinar<strong>do</strong>-Miran<strong>da</strong>, Leila Luci. II. Título.<br />

CDD-633-61<br />

En<strong>de</strong>reço eletrônico <strong>do</strong>s autores:<br />

leiladinar<strong>do</strong>@iac.sp.gov.br


Este livro foi impresso com apoio <strong>de</strong>:<br />

Fazen<strong>do</strong> Mais pelo Campo<br />

Excelência em análises agrícolas


ÍNDICE<br />

Capítulo 1<br />

<strong>Dinâmica</strong> <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong><br />

1. Introdução .................................................................................................. ........................................... 00<br />

2. Fatores que afetam o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> ...................................... ............................................ 00<br />

3. <strong>Dinâmica</strong> <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> ................................................... .......................................... .00<br />

Referências bibliográficas .............................................................................. ............................................ 00<br />

Capítulo 2<br />

Aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em soqueiras em função <strong>da</strong> época <strong>de</strong> corte <strong>do</strong> <strong>cana</strong>vial<br />

1. Nematói<strong>de</strong>s em <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> ................................................................. ........................................... .00<br />

2. Uso <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s no plantio .................................................................... ......................................... .00<br />

3. Uso <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em soqueiras ............................................................... ........................................... 00<br />

Referências bibliográficas ............................................................................... .......................................... .00<br />

Capítulo 3<br />

Amostragem <strong>de</strong> áreas para diagnóstico <strong>de</strong> problemas nematológicos<br />

1. Importância <strong>da</strong> amostragem ...................................................................... ........................................... .00<br />

2. <strong>Dinâmica</strong> populacional <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s ...................................................... ........................................... .00<br />

3. Como e quan<strong>do</strong> amostrar ............................................................................ .......................................... 00<br />

4. Interpretação <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong> análise .......................................................... ............................................ ..00<br />

Referências bibliográficas ............................................................................ ........................................... ...00


0<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Uma máquina, seja ela para qual fim esteja <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>, po<strong>de</strong> variar na sua complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas <strong>de</strong>ve seguir<br />

alguns princípios básicos: <strong>de</strong>ve apresentar homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> no funcionamento “programa<strong>do</strong>” e sua eficiência<br />

<strong>de</strong>ve sofrer a mínima redução em função <strong>de</strong> fatores externos como temperatura, umi<strong>da</strong><strong>de</strong>, pressão. Quanto<br />

maior a sua conversão <strong>de</strong> energia em produto, maior será seu retorno econômico. Para uma planta, isso<br />

também é váli<strong>do</strong>, mas há uma diferença fun<strong>da</strong>mental: o seu “funcionamento” é dinâmico e está em íntima<br />

interação com os fatores ambientais. Como o conjunto <strong>do</strong>s fatores ambientais também é dinâmico, <strong>de</strong>cifrar ou<br />

formular mo<strong>de</strong>los fixos <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> vegetal não é tarefa simples. Nesse senti<strong>do</strong>, o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> sistema<br />

<strong>radicular</strong> tem um agravante para esse conhecimento: <strong>de</strong>senvolve-se abaixo <strong>da</strong> superfície <strong>do</strong> solo. To<strong>da</strong>via, a<br />

história nos mostra a procura <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res por esse entendimento. São notáveis os trabalhos <strong>de</strong> COBB<br />

(1906), EVENS (1935), CLEMENTS (1940), INFORZATO e ALVAREZ (1957), DILLEWIJN (1960) e BÖHM<br />

(1976). To<strong>do</strong>s foram unânimes em afirmar que o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> é muito trabalhoso e há muito<br />

para ser conheci<strong>do</strong> a respeito <strong>de</strong> seu <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>.<br />

O <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> influencia diretamente alguns fatores como tolerância à seca,<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> germinação e/ou brotação, porte <strong>da</strong> planta (ereto ou <strong>de</strong>cumbente), tolerância à movimentação<br />

<strong>de</strong> máquinas, eficiência na absorção <strong>do</strong>s nutrientes <strong>do</strong> solo, tolerância ao ataque <strong>de</strong> pragas e parasitos <strong>do</strong><br />

solo, etc. De tais fatores <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> final. A quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes não é o fator <strong>de</strong>terminante<br />

<strong>de</strong>stas vantagens e sim a sua distribuição no perfil <strong>do</strong> solo ao longo <strong>da</strong>s estações <strong>do</strong> ano em íntima interação<br />

com o ambiente <strong>de</strong> produção. O conhecimento <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> e <strong>da</strong> dinâmica <strong>do</strong> seu<br />

<strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> po<strong>de</strong> proporcionar o embasamento para algumas técnicas <strong>de</strong> manejo <strong>da</strong> cultura, como o<br />

controle <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s.<br />

Capítulo 1<br />

<strong>Dinâmica</strong> <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong><br />

Antônio Carlos Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

Instituto Agronômico


2. FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO RADICULAR<br />

2.1. FATORES GENÉTICOS<br />

Assim como existem diferenças marcantes quanto às características <strong>da</strong> parte aérea entre espécies vegetais e<br />

entre varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> espécie, também há gran<strong>de</strong>s diferenças no <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> e arquitetura<br />

<strong>do</strong>s seus sistemas <strong>radicular</strong>es. Entre varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>, características genéticas <strong>de</strong>terminam<br />

diferenças quanto ao <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> e arquitetura <strong>do</strong> seu sistema <strong>radicular</strong> (VASCONCELOS, 1999).<br />

Existem varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s com maior concentração <strong>de</strong> raízes na superfície e outras, com distribuição mais uniforme<br />

em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Algumas apresentam maior proporção <strong>de</strong> raízes finas e tenras e em outras, pre<strong>do</strong>minam<br />

raízes grossas e resistentes. Existem varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s que, após perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> seca, têm rápi<strong>da</strong> retoma<strong>da</strong> <strong>do</strong> crescimento<br />

<strong>radicular</strong> por ocasião <strong>do</strong> restabelecimento <strong>da</strong> umi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> solo, enquanto em outras essa reestruturação é<br />

mais <strong>de</strong>mora<strong>da</strong>.<br />

O <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> é um <strong>do</strong>s fatores <strong>de</strong>terminantes na interação genótipo-ambiente.<br />

Se, por um la<strong>do</strong>, as condições ambientes influenciam a dinâmica <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong>, por outro, o<br />

sistema <strong>radicular</strong> po<strong>de</strong> alterar características <strong>do</strong> solo. O crescimento intenso em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> altera a estrutura<br />

<strong>do</strong> solo, pois, após a morte <strong>de</strong> raízes, permanecem <strong>cana</strong>is como vias <strong>de</strong> drenagem e <strong>de</strong> aeração para cama<strong>da</strong>s<br />

mais profun<strong>da</strong>s. O sistema <strong>radicular</strong> também po<strong>de</strong> alterar as condições químicas <strong>do</strong> solo pela excreção <strong>de</strong><br />

substâncias que causam alterações <strong>de</strong> pH na rizosfera. Portanto, fatores genéticos atuam sobre o ambiente<br />

por meio <strong>da</strong>s raízes. Mas essa é uma relação <strong>de</strong> mão dupla, pois o conjunto <strong>da</strong>s condições ambientais (fatores<br />

pe<strong>do</strong>genéticos, atributos físicos e químicos <strong>do</strong> solo, pluviosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e temperatura) também tem efeitos sobre<br />

o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> quanto à sua arquitetura, morfologia, distribuição e dinâmica <strong>de</strong> crescimento.<br />

Como por exemplo, a ocorrência <strong>de</strong> altos teores <strong>de</strong> alumínio em cama<strong>da</strong> subsuperficial <strong>do</strong> solo resulta num<br />

sistema com raízes mais grossas, com menos ramificações e com menor eficiência na absorção <strong>de</strong> água e<br />

nutrientes. A condição <strong>de</strong> seca dificulta a manutenção e o crescimento nas cama<strong>da</strong>s mais superficiais e resulta<br />

em um sistema mais profun<strong>do</strong> se compara<strong>do</strong> ao <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> numa condição <strong>de</strong> boa disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

hídrica. A influência <strong>de</strong>sses fatores ambientais atuan<strong>do</strong> sobre o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> acaba, por fim,<br />

interferin<strong>do</strong> no <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong> parte aérea.<br />

Figura 1. Representação gráfica <strong>da</strong><br />

distribuição <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong><br />

<strong>da</strong>s novas varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s IACSP<br />

(Fonte: LANDELL et al., 2005).


Portanto, a expressão <strong>do</strong> potencial <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola <strong>de</strong> um genótipo <strong>de</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>, em<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste complexo vivo que se <strong>de</strong>senvolve abaixo <strong>da</strong> superfície:<br />

as raízes.<br />

Na Figura 1, são apresenta<strong>do</strong>s os <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong> matéria seca <strong>de</strong> raízes e distribuições no perfil <strong>da</strong>s quatro novas<br />

varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s IACSP, compara<strong>da</strong>s aos padrões RB72454 e IAC87-3396.<br />

A varie<strong>da</strong><strong>de</strong> com maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> e maior diâmetro <strong>de</strong> raízes, inclusive nas cama<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s, é a<br />

IACSP93-3046. Essas características estão relaciona<strong>da</strong>s com a sua rustici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<strong>da</strong>ptação a diferentes ambientes<br />

<strong>de</strong> produção. A varie<strong>da</strong><strong>de</strong> com distribuição mais uniforme em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> é a IACSP94-4004, o que po<strong>de</strong><br />

estar relaciona<strong>do</strong> ao bom aproveitamento <strong>de</strong> água e nutrientes <strong>de</strong> cama<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s e explica parte<br />

<strong>de</strong> seu excelente <strong>de</strong>sempenho e eleva<strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

a b<br />

Figura 2. Representação <strong>da</strong> distribuição <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>de</strong> <strong>cana</strong>-planta (a) compara<strong>da</strong> à distribuição em <strong>cana</strong> soca (b).<br />

2,4 metros<br />

Figura 3. Perfil <strong>do</strong> solo com raízes<br />

expostas visíveis até 2,4 metros <strong>de</strong><br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> (soqueira <strong>de</strong> 8o corte).


2.3. FATORES FÍSICOS DO SOLO<br />

2.3.1. Compactação<br />

Um <strong>do</strong>s atributos que mais interferem no <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> é a <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> solo. A <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

apresentar aumento <strong>de</strong> valores em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> compactação resultante <strong>de</strong> pressões exerci<strong>da</strong>s pelo tráfego<br />

<strong>de</strong> máquinas, veículos, implementos e animais. Um aumento na <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> solo ocorre simultaneamente à<br />

redução <strong>da</strong> macroporosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, redução <strong>da</strong> aeração, redução <strong>da</strong> condutivi<strong>da</strong><strong>de</strong> hidráulica e gasosa e aumento<br />

<strong>da</strong> resistência à penetração. To<strong>da</strong>s essas alterações interferem, direta ou indiretamente, no <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong><br />

<strong>radicular</strong>, como ilustra<strong>do</strong> na figura 4, on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>m ver porções <strong>do</strong> perfil com <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> excessiva impedin<strong>do</strong><br />

o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>. Esse solo, com argila em torno <strong>de</strong> 60%, tem <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

1,19 g.cm-3 na profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre 60 e 80 cm, mas nas porções <strong>de</strong> impedimento <strong>do</strong> crescimento <strong>radicular</strong>,<br />

foram encontra<strong>do</strong>s valores <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> em torno <strong>de</strong> 1,45 g.cm-3. Para essa classe <strong>de</strong> solo e com esse teor <strong>de</strong><br />

argila, a <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 1,45 g.cm-3 é muito alta.<br />

Figura 4. Distribuição <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>, com <strong>de</strong>staque para porções <strong>do</strong> perfil com <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> superior à<br />

crítica para o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> (Projeto RHIZOCANA: VASCONCELOS et al. 2004).


É indiscutível a importância <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> água para a planta. E o sistema <strong>radicular</strong> é a boca <strong>de</strong><br />

captação <strong>de</strong>ssa água. Portanto a utilização <strong>de</strong> água pela parte aérea <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> distribuição <strong>do</strong> sistema<br />

<strong>radicular</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, essa distribuição no perfil <strong>do</strong> solo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> umi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>do</strong>s ciclos hídricos em<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> região. Em regiões ou perío<strong>do</strong>s secos, a arquitetura <strong>radicular</strong> apresenta uma maior proporção<br />

<strong>de</strong> raízes profun<strong>da</strong>s em relação ao total, <strong>do</strong> que em locais e perío<strong>do</strong>s úmi<strong>do</strong>s. Se o solo seca <strong>de</strong> cima para<br />

baixo, as cama<strong>da</strong>s superficiais tornam-se mais resistentes à penetração <strong>de</strong> raízes antes <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s mais<br />

profun<strong>da</strong>s. Enquanto o sistema <strong>radicular</strong>, na superfície, tem seu crescimento paralisa<strong>do</strong> ou até reduzi<strong>do</strong> pela<br />

morte <strong>de</strong> raízes, nas cama<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s, o crescimento se mantém por mais tempo, resultan<strong>do</strong> em um<br />

“aprofun<strong>da</strong>mento” <strong>do</strong> sistema (Figuras 5, 6 e 7). Além disso, os metabólitos que seriam utiliza<strong>do</strong>s para a<br />

formação <strong>de</strong> raízes superficiais po<strong>de</strong>m ser, então, utiliza<strong>do</strong>s na formação <strong>de</strong> raízes mais profun<strong>da</strong>s.<br />

Figura 5. Desenvolvimento <strong>radicular</strong> numa condição <strong>de</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> hídrica alta (solo úmi<strong>do</strong>).<br />

Figura 6. Desenvolvimento <strong>radicular</strong> numa condição <strong>de</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> hídrica média (solo secan<strong>do</strong>).<br />

Figura 7. Desenvolvimento <strong>radicular</strong> numa condição <strong>de</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> hídrica muito baixa (solo seco).


0<br />

Segun<strong>do</strong> STASOVSKI e PETERSON (1993), as alterações estruturais nas raízes, em resposta à seca, são<br />

permanentes e o restabelecimento <strong>do</strong> crescimento após a reidratação envolve, usualmente, a formação <strong>de</strong><br />

novas raízes laterais. ENGELS et al. (1994) constataram que plantas <strong>de</strong> milho po<strong>de</strong>m respon<strong>de</strong>r rapi<strong>da</strong>mente<br />

ao ressecamento e reume<strong>de</strong>cimento <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s superficiais <strong>do</strong> solo por meio <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong> crescimento <strong>de</strong><br />

raízes nas cama<strong>da</strong>s com condições mais favoráveis. Os autores concluem que esta plastici<strong>da</strong><strong>de</strong> no crescimento<br />

<strong>de</strong> raízes é um fator que contribui para a manutenção <strong>de</strong> um a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> nutricional.<br />

A umi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> solo e os outros atributos como porosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, aeração e resistência à penetração, estão interliga<strong>do</strong>s<br />

quanto à influência sobre o crescimento <strong>radicular</strong>. Pouco adianta o teor <strong>de</strong> água no solo ser satisfatório, se<br />

houver baixa aeração e alta resistência à penetração. É lógico que a umi<strong>da</strong><strong>de</strong> diminui a resistência à penetração<br />

se compara<strong>da</strong> à condição <strong>de</strong> solo seco. Entretanto um solo compacta<strong>do</strong>, mesmo estan<strong>do</strong> úmi<strong>do</strong>, tem eleva<strong>da</strong><br />

resistência à penetração. Se existir cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> impedimento ao crescimento para cama<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s,<br />

em perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> seca, a planta estará mais sujeita ao estresse hídrico.<br />

2.4. FATORES QUÍMICOS DO SOLO<br />

Quanto aos aspectos nutricionais, a a<strong>da</strong>ptação <strong>de</strong> uma varie<strong>da</strong><strong>de</strong> a solo <strong>de</strong> baixa fertili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

eficiência <strong>de</strong> absorção <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> e <strong>de</strong> sua tolerância a elementos tóxicos. Segun<strong>do</strong> ANGHINONI e<br />

MEURER (1999), a aquisição <strong>de</strong> nutrientes é altera<strong>da</strong> sempre que a cinética <strong>de</strong> absorção ou o crescimento <strong>da</strong>s<br />

raízes forem afeta<strong>do</strong>s. O teor <strong>de</strong> alumínio no solo, que po<strong>de</strong> limitar o crescimento <strong>da</strong>s raízes, varia em função<br />

<strong>da</strong> espécie, <strong>da</strong> cultivar e <strong>de</strong> atributos <strong>do</strong> solo. Segun<strong>do</strong> FURLANI (1983), a toxi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> alumínio po<strong>de</strong> provocar<br />

a fixação <strong>do</strong> fósforo para formas menos disponíveis, diminuir a taxa <strong>de</strong> respiração, interferir em reações<br />

enzimáticas responsáveis pela <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os nas pare<strong>de</strong>s celulares e modificar a dinâmica <strong>de</strong><br />

absorção e transporte <strong>de</strong> vários nutrientes, principalmente Ca, Mg e P. Por outro la<strong>do</strong>, ZHANG e BARBER<br />

(1992) comprovaram que a liberação <strong>de</strong> fósforo estimula o crescimento <strong>de</strong> raízes.<br />

Segun<strong>do</strong> TINKER (1981), é essencial que raízes e nutrientes se distribuam apropria<strong>da</strong>mente entre si para haver<br />

máxima eficiência <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong>, e isso também <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> em relação à variável “tempo”, em<br />

razão <strong>do</strong> crescimento e <strong>da</strong> distribuição <strong>da</strong>s raízes, <strong>do</strong> movimento <strong>de</strong> íons no solo, <strong>da</strong>s alterações <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />

pela cultura e <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças <strong>do</strong><br />

teor <strong>de</strong> água no solo.<br />

Humbert (1974), cita<strong>do</strong> por<br />

CASAGRANDE (2001), afirmou<br />

que o sistema <strong>radicular</strong> se a<strong>da</strong>pta<br />

às características <strong>do</strong> meio ambiente,<br />

que o volume <strong>da</strong>s raízes, seu peso e<br />

seu comprimento não caracterizam<br />

<strong>de</strong> forma completa a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> para absorver<br />

água e nutrientes e que, em<br />

solos férteis, uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

relativamente menor <strong>de</strong> raízes<br />

é requeri<strong>da</strong> para a produção <strong>da</strong><br />

parte aérea.


2.5. FATORES CLIMÁTICOS<br />

2.5.1. Temperatura<br />

Os perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> menores temperaturas <strong>do</strong> ar são acompanha<strong>do</strong>s por menores temperaturas <strong>do</strong> solo, que<br />

interferem na biomassa <strong>radicular</strong> (WALKER, 1969), no grau <strong>de</strong> elongação (LOGSDON et al., 1987) e <strong>de</strong><br />

ramificação (BOX, 1996) <strong>de</strong> raízes. Segun<strong>do</strong> esse último autor, a orientação <strong>do</strong> crescimento <strong>radicular</strong> é mais<br />

horizontal sob baixas temperaturas.<br />

A manutenção <strong>do</strong> colchão <strong>de</strong> palha residual <strong>da</strong> colheita mecaniza<strong>da</strong> crua proporciona maior disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

hídrica no solo, compara<strong>da</strong> à condição <strong>de</strong> solo nu. Em contraparti<strong>da</strong>, a presença <strong>da</strong> palha resulta em menor<br />

temperatura <strong>do</strong> solo. ABRAMO FILHO (1995) constatou que a temperatura <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> palha foi<br />

5oC superior à temperatura sob o colchão <strong>de</strong> palha. Com isso, varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s com diferentes capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> e tolerância à seca reagem distintamente a estas condições, e estes fatores interferem<br />

na absorção <strong>de</strong> nutrientes e têm gran<strong>de</strong> influência no <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> MONTASSER et al. (2002), as populações <strong>de</strong> P. zeae flutuaram no solo e nas raízes <strong>de</strong> <strong>cana</strong> durante<br />

to<strong>da</strong> a estação <strong>de</strong> crescimento e variaram significativamente em relação ao tipo <strong>de</strong> solo (silte-argiloso<br />

ou argiloso) e à temperatura <strong>do</strong> solo. A <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> populacional apresentou <strong>do</strong>is picos distintos, que se<br />

correlacionaram com a temperatura <strong>do</strong> solo.<br />

Segun<strong>do</strong> EBRAHIM et al. (1998), a redução <strong>da</strong> temperatura <strong>do</strong> solo <strong>de</strong> 27 oC para 15 oC po<strong>de</strong> diminuir o<br />

crescimento <strong>de</strong> raízes novas <strong>de</strong> <strong>cana</strong> em até 85% em relação ao crescimento pleno. Da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2005, em Ribeirão<br />

Preto, mostram que as temperaturas médias diárias <strong>do</strong> solo, entre maio e agosto, permaneceram entre 12 e<br />

20 oC (Figura 8). Porém, se o corte for realiza<strong>do</strong> no final <strong>da</strong> safra, as raízes encontram melhores faixas <strong>de</strong><br />

temperatura para o seu crescimento.<br />

Figura 8. Temperatura média diária <strong>do</strong> solo, a 5 cm <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ocorri<strong>da</strong> no ano <strong>de</strong><br />

2005, no Centro <strong>de</strong> Cana IAC, em Ribeirão Preto (SP). Fonte: Instituto Agronômico.


2.5.2. Precipitação pluviométrica<br />

A precipitação pluviométrica em <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> região, a taxa <strong>de</strong> evapotranspiração nas estações <strong>do</strong> ano e a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> água no solo são os fatores que <strong>de</strong>terminam a umi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> solo nos diversos<br />

perío<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong>. Não adianta um solo ter excelentes atributos físico-químicos e eleva<strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> água, se não chove na região. O contrário também é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro: se chove<br />

bem, mas o solo tem capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenamento muito baixa, poucos dias sem chuva e com eleva<strong>da</strong><br />

evapotranspiração po<strong>de</strong>m resultar em <strong>de</strong>ficiência hídrica e estresse vegetal.<br />

Figura 9. Precipitação pluviométrica<br />

mensal, ocorri<strong>da</strong> no ano <strong>de</strong> 2005, no Centro<br />

<strong>de</strong> Cana IAC, em Ribeirão Preto (SP).<br />

Fonte: Instituto Agronômico.<br />

A variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> distribuição <strong>de</strong> chuvas <strong>de</strong> um ano para outro interfere drasticamente na dinâmica <strong>do</strong><br />

<strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong>. Nas figuras 9 e 10 são apresenta<strong>da</strong>s as distribuições <strong>da</strong>s chuvas em Ribeirão Preto<br />

(SP), em <strong>do</strong>is anos bem distintos. Durante no ano <strong>de</strong> 2002, ocorreu um perío<strong>do</strong> bem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência<br />

hídrica entre os meses <strong>de</strong> abril e setembro, enquanto que no ano <strong>de</strong> 2005, houve uma melhor distribuição<br />

<strong>da</strong>s chuvas. Tais situações repercutiram diferentemente no <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong> parte aérea, no acúmulo <strong>de</strong><br />

sacarose e, principalmente, na morte e renovação <strong>de</strong> parte <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong>, tanto em proporções como<br />

em épocas <strong>de</strong> ocorrência.<br />

Figura 10. Precipitação pluviométrica<br />

mensal, ocorri<strong>da</strong> no ano <strong>de</strong> 2005, no<br />

Centro <strong>de</strong> Cana IAC, em Ribeirão Preto<br />

(SP). Fonte: Instituto Agronômico.


3. DINÂMICA DO DESENVOLVIMENTO RADICULAR<br />

As <strong>de</strong>scrições <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> realiza<strong>da</strong>s por EVANS (1935) são freqüentes em publicações referentes<br />

ao sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> e seus trabalhos muito têm contribuí<strong>do</strong> para os estu<strong>do</strong>s na área. O<br />

autor <strong>de</strong>screve três tipos funcionais <strong>de</strong> raízes: a) superficiais, que crescem lateralmente a partir <strong>da</strong> região<br />

<strong>radicular</strong> <strong>do</strong>s toletes, mais finas, com boa ramificação; b) <strong>de</strong> sustentação, emergin<strong>do</strong> <strong>de</strong> brotos jovens, grossas,<br />

atingin<strong>do</strong> a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> até 1,5 m; c) raízes <strong>de</strong> cordão, forma<strong>da</strong>s por aglomerações <strong>de</strong> raízes verticais<br />

mais profun<strong>da</strong>s que as outras. Porém, nos estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s por Evans, foram utiliza<strong>da</strong>s varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>cana</strong><br />

que hoje não são mais cultiva<strong>da</strong>s e, portanto, a evolução que tem ocorri<strong>do</strong> nos programas <strong>de</strong> melhoramento<br />

genético e as mu<strong>da</strong>nças no perfil varietal <strong>de</strong>vem ser releva<strong>da</strong>s.<br />

SMITH et al. (2005) reuniram algumas discussões sobre o assunto: BLACKBURN (1984) pon<strong>de</strong>ra que a<br />

arquitetura <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>de</strong>scrita por Evans po<strong>de</strong> não ser muito comum na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e tais distinções<br />

entre raízes superficiais e raízes <strong>de</strong> sustentação po<strong>de</strong>m ser bem pequenas e os sistemas <strong>de</strong> raízes <strong>de</strong> cordão<br />

serem muito raros. Muitos <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s que <strong>de</strong>screvem os sistemas <strong>radicular</strong>es <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> são basea<strong>do</strong>s<br />

em estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> déca<strong>da</strong>s atrás, o que põe em questão se o padrão <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong><br />

também ocorre em varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> <strong>cana</strong>. MOORE (1987) notou que clones <strong>de</strong> Saccharum officinarum<br />

têm sistemas <strong>radicular</strong>es menos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s que outras espécies <strong>de</strong> Saccharum. Conseqüentemente, o padrão<br />

<strong>de</strong> raízes <strong>de</strong>scrito por Evans não <strong>de</strong>ve ser interpreta<strong>do</strong> como fixo e uma maior plastici<strong>da</strong><strong>de</strong> na arquitetura <strong>do</strong><br />

sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong> <strong>de</strong>ve ser espera<strong>da</strong> em relação ao que é comumente suposto.<br />

3.1. DESENVOLVIMENTO DE RAÍZES EM CANA-PLANTA<br />

Na figura 11 é apresenta<strong>do</strong> o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> inicial <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB72454. As primeiras<br />

raízes origina<strong>da</strong>s após a operação <strong>de</strong> plantio crescem a partir <strong>da</strong> região <strong>radicular</strong> <strong>do</strong>s toletes planta<strong>do</strong>s, os quais<br />

fornecem suas reservas para a divisão e crescimento celular caso haja disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> água e temperatura<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s no solo. O crescimento <strong>da</strong>s gemas inicia-se logo em segui<strong>da</strong>, e os brotos passam a emitir raízes a<br />

partir <strong>de</strong> sua base. Em geral, essas raízes são mais grossas que as raízes emiti<strong>da</strong>s diretamente <strong>do</strong>s toletes, mas<br />

é difícil fazer alguma distinção quanto à funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> como raízes superficiais ou raízes <strong>de</strong> sustentação, pois<br />

ambas exploram porções <strong>do</strong> solo semelhantes. Mas um fato é certo: ambas têm a função <strong>de</strong> suprir os perfilhos<br />

recém-brota<strong>do</strong>s com água e nutrientes <strong>do</strong> solo, ou seja, sua função é <strong>de</strong> absorção e, à medi<strong>da</strong> que os perfilhos<br />

vão crescen<strong>do</strong> e se tornan<strong>do</strong> colmos, aumenta a função <strong>da</strong>s raízes quanto à sustentação.<br />

RT<br />

Fotos: A.C.M. VASCONCELOS<br />

Figura 11. Desenvolvimento inicial <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB72454,<br />

aos 30 dias após o plantio. RT: raízes origina<strong>da</strong>s <strong>do</strong> tolete planta<strong>do</strong>; RP: raízes<br />

origina<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s perfilhos brota<strong>do</strong>s.<br />

RP<br />

RT


O perío<strong>do</strong> inicial <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> em <strong>cana</strong> planta é crucial para o estabelecimento <strong>da</strong> planta, <strong>de</strong> forma<br />

a aproveitar as condições <strong>de</strong> umi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> momento <strong>do</strong> plantio. O ataque nessas raízes novas por pragas ou<br />

nematói<strong>de</strong>s causa um atraso ou uma interrupção <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> enraizamento, que po<strong>de</strong> comprometer o<br />

estabelecimento e to<strong>do</strong> o histórico <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cultura (Figura 12).<br />

a b<br />

Fotos: A.C.M. VASCONCELOS<br />

Figura 12. Desenvolvimento <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>de</strong> <strong>cana</strong> planta aos 180 dias após o plantio. A: sistema <strong>radicular</strong><br />

vigoroso; B: sistema <strong>radicular</strong> ataca<strong>do</strong> por cupins.<br />

As <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s “raízes <strong>de</strong> cordão” po<strong>de</strong>m crescer tanto no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> estabelecimento <strong>da</strong> cultura como<br />

em soqueiras. São as raízes emiti<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s bases <strong>do</strong>s perfilhos e <strong>do</strong>s rizomas <strong>da</strong>s soqueiras, que ocorrem em<br />

perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> ou <strong>de</strong> restabelecimento <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong>. Principalmente após o<br />

final <strong>de</strong> perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> estresse hídrico, a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> época <strong>da</strong>s chuvas e o aumento <strong>da</strong> temperatura <strong>do</strong> solo<br />

proporcionam condições para crescimento rápi<strong>do</strong> e vigoroso <strong>da</strong>s raízes, que dispõem <strong>de</strong> uma fonte quase<br />

que direta <strong>de</strong> metabólitos (Figura 13). Inicialmente, essas raízes apresentam poucas ramificações, mas, à<br />

medi<strong>da</strong> que vão se aprofun<strong>da</strong>n<strong>do</strong>, as porções mais próximas à base <strong>da</strong> planta vão emitin<strong>do</strong> ramificações e,<br />

gra<strong>da</strong>tivamente, aumentam até as extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Portanto, são as raízes que conseguem melhores condições<br />

para <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> e têm gran<strong>de</strong> importância para exploração <strong>de</strong> subsuperfície e absorção<br />

<strong>de</strong> água nos perío<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>uros <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência hídrica.<br />

Perío<strong>do</strong> seco (agosto/03) Com reume<strong>de</strong>cimento (setembro/03)<br />

Figura 13. Desenvolvimento <strong>do</strong><br />

sistema <strong>radicular</strong> <strong>de</strong> <strong>cana</strong> planta em<br />

rizotron aos 210 dias (condição <strong>de</strong><br />

seca) e aos 240 dias (as raízes novas<br />

têm 30 dias <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> em<br />

condição <strong>de</strong> solo úmi<strong>do</strong>).


0<br />

3.2. DISTRIBUIÇÃO EM PROFUNDIDADE<br />

A distribuição em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento <strong>radicular</strong> são intimamente relaciona<strong>da</strong>s ao<br />

genótipo, à i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> planta, às condições físico-químicas <strong>do</strong> solo e à disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> hídrica. Portanto, não se<br />

po<strong>de</strong> estabelecer sobre um padrão <strong>de</strong> distribuição ou um percentual em ca<strong>da</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois o sistema<br />

<strong>radicular</strong> é dinâmico e gran<strong>de</strong> variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ocorre nas proporções <strong>de</strong> raízes nas cama<strong>da</strong>s <strong>do</strong> solo, ao longo <strong>do</strong>s<br />

diversos perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>. Quanto à veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento, Smith (1998), cita<strong>do</strong> por SMITH<br />

et al. (2005), encontrou crescimento <strong>de</strong> 2 cm.dia-1 até uma profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> 1,6 m. Nas plantas apresenta<strong>da</strong>s na<br />

figura 11, encontramos raízes <strong>de</strong> até 30 cm após 30 dias <strong>de</strong> plantio, com crescimento ocorren<strong>do</strong> sob <strong>de</strong>ficiência<br />

hídrica <strong>do</strong> mês <strong>de</strong> abril/06, interrompi<strong>da</strong> por irrigação <strong>de</strong> salvamento.<br />

3.3. DESENVOLVIMENTO DE RAÍZES EM SOQUEIRAS<br />

A morte <strong>de</strong> raízes ou renovação <strong>do</strong> sistema não ocorre porque a parte aérea é corta<strong>da</strong>, mas sim em <strong>de</strong>corrência<br />

<strong>do</strong>s ciclos <strong>de</strong> secagem e reume<strong>de</strong>cimento <strong>do</strong> solo.<br />

Em levantamentos realiza<strong>do</strong>s após o corte <strong>da</strong> <strong>cana</strong>, constatamos que, quan<strong>do</strong> este é realiza<strong>do</strong> em perío<strong>do</strong><br />

úmi<strong>do</strong>, praticamente não há morte <strong>de</strong> raízes. Ocorre a formação <strong>de</strong> raízes novas a partir <strong>de</strong> raízes velhas.<br />

Muitas vezes, a aparência <strong>de</strong>ssas raízes velhas, principalmente na época seca, passa a impressão <strong>de</strong> que estão<br />

mortas, pois se apresentam escureci<strong>da</strong>s. Mas, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, estão prontas para emitir novas ramificações, no<br />

momento em que ocorrer o reume<strong>de</strong>cimento <strong>do</strong> solo (Figura 5). O que acontece é que, em geral, a <strong>cana</strong> é<br />

corta<strong>da</strong> em perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> estresse hídrico, principalmente em razão <strong>da</strong> a<strong>de</strong>quação ao seu ciclo <strong>de</strong> maturação.<br />

Portanto, o processo <strong>de</strong> morte <strong>de</strong> raízes po<strong>de</strong> ter se inicia<strong>do</strong> bem antes <strong>da</strong> ocasião <strong>do</strong> corte. Há a paralisação<br />

<strong>do</strong> crescimento e o início <strong>da</strong> morte <strong>da</strong>s raízes à medi<strong>da</strong> que se reduz o potencial hídrico <strong>do</strong> solo. As primeiras<br />

porções <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> a morrer são os pêlos <strong>radicular</strong>es, as extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s a partir <strong>da</strong> coifa e as partes mais<br />

tenras. O fato <strong>de</strong> ocorrer paralisação <strong>do</strong> crescimento <strong>de</strong> raízes e, portanto, a redução <strong>do</strong> gasto <strong>de</strong> metabólitos<br />

provenientes <strong>da</strong> parte aérea, favorece o acúmulo <strong>de</strong> sacarose nos colmos. Esse é um <strong>do</strong>s motivos pelos quais a<br />

ocorrência <strong>de</strong> chuvas na fase <strong>de</strong> maturação e, conseqüentemente, a retoma<strong>da</strong> <strong>do</strong> crescimento <strong>radicular</strong>, causa<br />

redução no teor <strong>de</strong> sacarose <strong>do</strong>s colmos.<br />

No Centro Sul <strong>do</strong> Brasil po<strong>de</strong>mos imaginar três situações distintas:<br />

A. Corte em início <strong>de</strong> safra (abril-maio), quan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> existe disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> hídrica, porém em início <strong>de</strong><br />

restrição:<br />

A <strong>cana</strong> apresenta gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes, mas ocorre redução gra<strong>da</strong>tiva a partir <strong>da</strong> superfície para as<br />

maiores profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A emissão lenta <strong>de</strong> raízes novas po<strong>de</strong> ocorrer após chuvas ocasionais utilizan<strong>do</strong>,<br />

pre<strong>do</strong>minantemente, reservas <strong>do</strong>s rizomas e <strong>da</strong>s raízes velhas. Com a continuação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> seco, há a morte<br />

rápi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s raízes recém-emiti<strong>da</strong>s. A condição <strong>de</strong> menor quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes perdurará por maior perío<strong>do</strong><br />

que nos cortes <strong>de</strong> meio e <strong>de</strong> final <strong>de</strong> safra. A manutenção <strong>de</strong> menor quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes e a redução <strong>da</strong><br />

absorção <strong>de</strong> água e nutrientes têm um papel fun<strong>da</strong>mental para a planta: o <strong>de</strong> limitar o crescimento <strong>da</strong> parte<br />

aérea, reduzin<strong>do</strong> assim o processo <strong>de</strong> evapotranspiração e <strong>de</strong> per<strong>da</strong> <strong>de</strong> água <strong>do</strong> solo, <strong>de</strong> forma preventiva<br />

para a sobrevivência em perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> prolongamento <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência hídrica.<br />

Nessa condição, a aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s po<strong>de</strong> ter um efeito inicial, mas à medi<strong>da</strong> que ocorrer o<br />

prolongamento <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> seco e morte <strong>de</strong> raízes novas, a condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência hídrica, por si só, causa<br />

redução <strong>da</strong> população <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s.<br />

B. Corte em meio <strong>de</strong> safra (junho-agosto), quan<strong>do</strong> a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> hídrica já estava baixa há vários dias<br />

antes <strong>do</strong> corte:<br />

O processo <strong>de</strong> morte <strong>de</strong> raízes a partir <strong>da</strong> superfície já vinha ocorren<strong>do</strong> antes <strong>do</strong> corte, mas a condição <strong>de</strong><br />

menor quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes na superfície perdurará por menor tempo que no caso anterior. Também po<strong>de</strong><br />

haver pequenas retoma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> crescimento com a ocorrência <strong>de</strong> chuvas ocasionais.<br />

A planta apresenta-se com baixa quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes na superfície e também em outras cama<strong>da</strong>s mais<br />

profun<strong>da</strong>s, sen<strong>do</strong> que, nessas outras cama<strong>da</strong>s, a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> tempo em que a seca<br />

perdurar. Manten<strong>do</strong>-se a <strong>de</strong>ficiência hídrica, mesmo após o corte, o sistema <strong>radicular</strong> permanecerá restrito e<br />

se limitará, pre<strong>do</strong>minantemente, às raízes velhas, mais grossas, duras e escureci<strong>da</strong>s.<br />

Em geral, o crescimento <strong>de</strong> raízes é relativamente pequeno por <strong>do</strong>is motivos principais: maior <strong>de</strong>ficiência<br />

hídrica e menores temperaturas <strong>do</strong> solo. Mesmo com eventuais retoma<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s reservas hídricas no solo, as<br />

menores temperaturas <strong>do</strong> solo limitam parcialmente o crescimento <strong>de</strong> raízes novas.


Nessa condição, a aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong> tem pouca eficiência, pois a população <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s é baixa e<br />

o sistema <strong>radicular</strong> encontra-se com crescimento paralisa<strong>do</strong>, apresentan<strong>do</strong> raízes velhas e pouco eficientes<br />

na absorção.<br />

Em áreas com histórico <strong>de</strong> altas infestações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong> é conveniente realizar o monitoramento e realizar<br />

aplicações <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s por ocasião <strong>da</strong> retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s chuvas, como será apresenta<strong>do</strong> no capítulo 2.<br />

C. Corte em final <strong>de</strong> safra (setembro-novembro), coincidin<strong>do</strong> com o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> restabelecimento <strong>da</strong>s reservas<br />

hídricas <strong>do</strong> solo.<br />

Assim que ocorrer a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s chuvas, haverá a emissão rápi<strong>da</strong> <strong>de</strong> raízes novas. Parte <strong>da</strong>s reservas é<br />

proveniente <strong>do</strong>s rizomas e <strong>da</strong>s raízes velhas, mas a pronta emissão e a maior taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong>s raízes<br />

novas ocorrem <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às melhores condições <strong>de</strong> temperatura e luminosi<strong>da</strong><strong>de</strong> para o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong><br />

parte aérea e maiores umi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e temperaturas <strong>do</strong> solo para o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> (Figuras 8 e 9).<br />

A partir <strong>da</strong>í, a cultura inicia fase <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> intenso e necessita <strong>de</strong> vigoroso sistema <strong>radicular</strong> para<br />

suprir a parte aérea.<br />

Os nematói<strong>de</strong>s encontram melhores condições para infestação (raízes novas e tenras, umi<strong>da</strong><strong>de</strong> e temperatura<br />

<strong>do</strong> solo eleva<strong>da</strong>s). Em áreas com infestação acima <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> <strong>da</strong>no econômico, a aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong> logo<br />

após o corte po<strong>de</strong> ser recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> e apresenta alta eficiência, como será apresenta<strong>do</strong> no capítulo 2.<br />

3.4. DESENVOLVIMENTO RADICULAR AO LONGO DOS CORTES: CANA-PLANTA E SOQUEIRAS<br />

De acor<strong>do</strong> com resulta<strong>do</strong>s que obtivemos em Latossolo Vermelho distrófico típico álico com seis varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> (VASCONCELOS, 2002), verifica-se que há <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> acumulativo <strong>do</strong> sistema<br />

<strong>radicular</strong> <strong>de</strong> <strong>cana</strong> <strong>de</strong> um corte para outro, ocorren<strong>do</strong> um acréscimo <strong>de</strong> matéria seca <strong>de</strong> raízes entre a <strong>cana</strong><br />

planta e a terceira soca (4 cortes), o que reflete um aumento <strong>de</strong> ramificações e crescimento em diâmetro ao<br />

longo <strong>do</strong> tempo.<br />

Em ca<strong>da</strong> ciclo/corte ocorreram reduções <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes ativas nos perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência hídrica<br />

(inverno seco), por seu ressecamento e morte (Figura 14), que po<strong>de</strong>m se iniciar nas cama<strong>da</strong>s superficiais<br />

e, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>da</strong> duração e <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, a redução <strong>de</strong> massa <strong>de</strong> raízes po<strong>de</strong><br />

atingir cama<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s. Com a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s chuvas, entre setembro e janeiro, há o restabelecimento<br />

<strong>do</strong> crescimento <strong>radicular</strong> e aumento <strong>da</strong> massa <strong>radicular</strong>, que se iniciam também pelas raízes superficiais.<br />

Segun<strong>do</strong> Aguiar (1978), cita<strong>do</strong> por CASAGRANDE (1991), as raízes superficiais são as primeiras raízes a<br />

morrer durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> estiagem e são também as primeiras a se renovar durante o perío<strong>do</strong> <strong>da</strong>s chuvas.<br />

KLEPPER (1991) comenta que o crescimento <strong>de</strong> raízes em plantas perenes ocorre por fluxos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, com<br />

padrões <strong>de</strong> distribuição <strong>do</strong>s fotoassimila<strong>do</strong>s varian<strong>do</strong> com a estação <strong>do</strong> ano.<br />

No aspecto fisiológico <strong>da</strong> cultura isto significa um acréscimo <strong>de</strong> massa que não é colhi<strong>da</strong>, ou seja, é um<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro armazém <strong>de</strong> reservas para a planta. Surge, então, uma questão: por que ocorre, normalmente,<br />

que<strong>da</strong> <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao longo <strong>do</strong>s ciclos <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>, mesmo com o aumento <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong>?<br />

Vários aspectos <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s para se tentar encontrar tal resposta.<br />

Primeiramente, parte <strong>da</strong>s reservas, que po<strong>de</strong>ria ser utiliza<strong>da</strong> para a produção <strong>de</strong> colmos e folhas, é drena<strong>da</strong><br />

para o aumento e manutenção <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong>. No aspecto biológico, é mais interessante para a planta,<br />

cuja parte aérea está sen<strong>do</strong> colhi<strong>da</strong> anualmente, que haja aumento <strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência <strong>do</strong> que<br />

aumento <strong>de</strong> produção <strong>da</strong> parte aérea. Ao longo <strong>do</strong>s ciclos, ocorre redução <strong>da</strong> relação matéria seca <strong>da</strong> parte<br />

aérea (MSPA)/matéria seca <strong>de</strong> raízes (MSRA), ou seja, aumenta a superfície <strong>de</strong> contato solo-raiz e diminui a<br />

superfície <strong>de</strong> evapotranspiração e <strong>de</strong> fotossíntese líqui<strong>da</strong>. Em contraparti<strong>da</strong>, a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s plantas interfere na<br />

eficiência <strong>da</strong> absorção. Segun<strong>do</strong> ANGHINONI e MEURER (1999), as plantas mais jovens são mais eficientes<br />

<strong>do</strong> que as mais velhas para absorver os nutrientes, e as taxas <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong>crescem rapi<strong>da</strong>mente com a<br />

i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> planta. Além disso, a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s raízes ou o perío<strong>do</strong> que elas permanecem ativas também afetam o<br />

influxo <strong>do</strong>s íons.


Figura 11. Desenvolvimento inicial <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong><br />

varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB72454, aos 30 dias após o plantio. RT: raízes origina<strong>da</strong>s<br />

<strong>do</strong> tolete planta<strong>do</strong>; RP: raízes origina<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s perfilhos brota<strong>do</strong>s.<br />

Observa-se que, nesses solos álicos, ocorre maior aumento <strong>da</strong> massa <strong>radicular</strong> na superfície, em conseqüência<br />

<strong>da</strong> maior limitação <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> nas cama<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s em função <strong>do</strong>s maiores teores<br />

<strong>de</strong> alumínio. Mas esse aumento em massa na não é proporcionalmente acompanha<strong>do</strong> pelo aumento em<br />

comprimento e em superfície <strong>de</strong> absorção. Isto se justifica, pois, à medi<strong>da</strong> que ocorre o envelhecimento <strong>da</strong>s<br />

raízes, há aumento <strong>de</strong> diâmetro e <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> interna, o que as torna mais duras e menos ativas quanto à<br />

absorção, exceto nas regiões próximas às extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e às ramificações novas. Atuam, principalmente, como<br />

meio <strong>de</strong> translocação <strong>de</strong> água e como fonte <strong>de</strong> reservas. Por ocasião <strong>de</strong> perío<strong>do</strong>s secos, ocorrem reduções na<br />

massa <strong>de</strong> raízes, mas isso não causa mu<strong>da</strong>nça proporcional na parte aérea. Em experimento, foi consta<strong>do</strong> que,<br />

com a remoção <strong>de</strong> 50% <strong>da</strong>s raízes por corte ou suspensão <strong>de</strong> irrigação, o uso <strong>da</strong> água e o crescimento vegetal<br />

foram reduzi<strong>do</strong>s em apenas 10% (SMITH et al., 2005). Segun<strong>do</strong> o autor, isto é conseqüência <strong>da</strong> “capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> luxo” <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong> e, sob ótimas condições, a <strong>cana</strong> tem mais raízes que o necessário para<br />

o máximo crescimento. Em condições típicas <strong>de</strong> campo, essa “capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> luxo” atua como po<strong>de</strong>r tampão<br />

<strong>da</strong> planta contra a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> raízes ou condições <strong>de</strong>sfavoráveis <strong>do</strong> solo.<br />

To<strong>da</strong>via, existem alguns resulta<strong>do</strong>s conflitantes sobre as diferenças <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> raízes entre <strong>cana</strong>-planta<br />

e socas. Fernan<strong>de</strong>s (1979), cita<strong>do</strong> por ALVAREZ et al. (2000), observou que o sistema <strong>radicular</strong> <strong>de</strong> <strong>cana</strong>planta<br />

foi mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> que o <strong>da</strong> rebrota. Entretanto, BALL-COELHO et al. (1992) encontraram maior<br />

quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes na <strong>cana</strong>-soca. Essas diferenças po<strong>de</strong>m ocorrer em função <strong>da</strong>s épocas <strong>de</strong> levantamento.<br />

Se em <strong>cana</strong> planta, o levantamento for realiza<strong>do</strong> em época úmi<strong>da</strong> e o levantamento <strong>de</strong> soca for realiza<strong>do</strong> em<br />

perío<strong>do</strong> seco, com gran<strong>de</strong> probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong>-se encontrar maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes no levantamento <strong>de</strong><br />

<strong>cana</strong> planta que no <strong>de</strong> soqueira.<br />

Portanto, a morte ou renovação <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> não se <strong>de</strong>ve ao corte <strong>da</strong> <strong>cana</strong>, mas sim à condição<br />

hídrica a que a cultura está submeti<strong>da</strong> em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>. ALVAREZ et al. (2000)<br />

também constataram que as diferenças <strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes <strong>de</strong> <strong>cana</strong> <strong>de</strong> um ano para outro foram <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s<br />

aos fatores climatológicos.<br />

Embora sejam em menor quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> que em soqueiras, as raízes em <strong>cana</strong> planta são mais eficientes em<br />

absorção <strong>de</strong> água e nutrientes, por serem mais novas e estarem concentra<strong>da</strong>s na cama<strong>da</strong> que recebe correção<br />

e preparo <strong>de</strong> solo, além <strong>da</strong> fertilização na base <strong>do</strong> sulco <strong>de</strong> plantio. Em contraparti<strong>da</strong>, são menos tolerantes<br />

aos perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência hídrica e, provavelmente, também apresentam maior suscetibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ao ataque


<strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, por terem estrutura menos resistente.<br />

Pelo balanço hídrico <strong>da</strong> figura 14, po<strong>de</strong> observar que em 1999, a <strong>de</strong>ficiência hídrica ocorreu entre os meses <strong>de</strong><br />

julho e outubro. No ano <strong>de</strong> 2000, a <strong>de</strong>ficiência foi <strong>de</strong> abril até agosto. Portanto, os perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paralisação e<br />

morte <strong>de</strong> raízes foram diferentes para os <strong>do</strong>is anos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s, assim como a fase <strong>de</strong> retoma<strong>da</strong> <strong>do</strong> crescimento<br />

<strong>radicular</strong>. Em 1999, o crescimento teve condições favoráveis a partir <strong>de</strong> outubro, mas, em 2000, esse perío<strong>do</strong><br />

favorável iniciou-se em agosto. Os perío<strong>do</strong>s que são favoráveis para o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> são também<br />

favoráveis para o ataque e aumento <strong>da</strong> população <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s. Portanto, o monitoramento <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong>ve<br />

ser realiza<strong>do</strong> em função <strong>da</strong> distribuição hídrica durante o ano.<br />

No <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB72454, po<strong>de</strong>-se constatar correspondência <strong>da</strong>s fases <strong>de</strong><br />

paralisação e morte <strong>de</strong> raízes com as fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência hídrica, o que também é apresenta<strong>do</strong> na figura 15<br />

Figura 15. Seqüência <strong>de</strong><br />

<strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>radicular</strong><br />

<strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB72454, entre<br />

o 1o e o 4o corte (no ano <strong>de</strong><br />

1998, 2o corte, não foram<br />

realiza<strong>do</strong>s levantamentos). Os<br />

valores constantes no eixo X,<br />

referem-se à massa <strong>de</strong> raízes<br />

no volume <strong>de</strong> solo amostra<strong>do</strong><br />

em ca<strong>da</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> (g.dm-<br />

1).


VASCONCELOS et al. (2004) realizaram levantamento <strong>de</strong> comprimento e diâmetro <strong>de</strong> raízes <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> SP80-<br />

3250, em Latossolos Vermelhos <strong>de</strong> caráter ácrico, com textura média e em solos com textura argilosa (Figura<br />

16). Nos solos <strong>de</strong> textura média, ocorreu aprofun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> <strong>cana</strong>-planta para o<br />

ciclo <strong>de</strong> <strong>cana</strong>-soca, com aumento <strong>do</strong> comprimento em to<strong>da</strong>s as cama<strong>da</strong>s entre 20 e 80 cm. Nesse solos, houve<br />

aumento <strong>de</strong> diâmetro <strong>radicular</strong> em to<strong>do</strong> o perfil, ilustran<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> envelhecimento e engrossamento<br />

<strong>da</strong>s raízes. Plantas com raízes mais profun<strong>da</strong>s têm melhor tolerância aos perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência hídrica e é<br />

comum constatarem-se maiores sintomas <strong>de</strong> estresse hídrico em <strong>cana</strong>-planta que em soqueira, o que configura<br />

maior exploração <strong>de</strong> subsuperfície <strong>de</strong>sses solos no ciclo <strong>de</strong> soqueira <strong>do</strong> que no <strong>de</strong> <strong>cana</strong>-planta.<br />

Nos solos <strong>de</strong> textura argilosa, o comprimento <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> soqueira reduziu-se na superfície em<br />

relação ao <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-planta e ficou semelhante nas outras profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O diâmetro apresentou aumento,<br />

exceto na superfície. Esses resulta<strong>do</strong>s indicam que, nesses solos, em gran<strong>de</strong> parte ácricos, ocorre com maior<br />

freqüência a morte <strong>de</strong> raízes na superfície, mais sujeitas ao ressecamento <strong>do</strong> que nas cama<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s.<br />

Esse aprofun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> soqueira e o aumento <strong>da</strong> superfície <strong>de</strong> absorção nessas cama<strong>da</strong>s<br />

têm importante papel nos solos ácricos, pois esses solos apresentam baixa capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong> água.<br />

E quanto às máquinas, cita<strong>da</strong>s no início <strong>de</strong>sse capítulo, concluímos que po<strong>de</strong>mos controlá-las, enten<strong>de</strong>-las<br />

e transforma-las facilmente porque nós as criamos. Mas quanto ao solo, ao clima, às plantas e suas raízes,<br />

permaneceremos sempre em uma contínua procura, porque não somos o Cria<strong>do</strong>r.<br />

.<br />

Figura 16. Comprimento e<br />

diâmetro <strong>radicular</strong>es em solos<br />

<strong>de</strong> textura média e textura<br />

argilosa.


0<br />

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Capítulo 2<br />

Aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em soqueiras em função<br />

<strong>da</strong> época <strong>de</strong> corte <strong>do</strong> <strong>cana</strong>vial<br />

Leila Luci Dinar<strong>do</strong>-Miran<strong>da</strong><br />

Instituto Agronômico


1.NEMATÓIDES EM CANA-DE-AÇÚCAR<br />

Muitas espécies <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s são encontra<strong>da</strong>s em associação com a <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>, mas, nas condições brasileiras,<br />

três são economicamente importantes, em função <strong>do</strong>s <strong>da</strong>nos que causam à cultura: Meloi<strong>do</strong>gyne javanica, M. incognita<br />

e Pratylenchus zeae (LORDELLO, 1981; NOVARETTI e TÉRAN, 1983; MOURA et al., 1990). Em muitos <strong>cana</strong>viais<br />

pouco <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s e com baixa produção, são encontra<strong>da</strong>s altas populações <strong>de</strong> pelo menos uma <strong>de</strong>las.<br />

Outra espécie, P. brachyurus, é também muito comum em <strong>cana</strong>viais brasileiros, mas sua patogenici<strong>da</strong><strong>de</strong> para a<br />

cultura ain<strong>da</strong> não está estabeleci<strong>da</strong> (DINARDO-MIRANDA, 2005).<br />

O ataque <strong>do</strong>s nematói<strong>de</strong>s à <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> restringe-se às raízes, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> extraem nutrientes para o crescimento<br />

e <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> e, para isso, injetam toxinas no sistema <strong>radicular</strong>, resultan<strong>do</strong> em <strong>de</strong>formações, como as galhas<br />

provoca<strong>da</strong>s por Meloi<strong>do</strong>gyne, e extensas áreas necrosa<strong>da</strong>s, quan<strong>do</strong> os nematói<strong>de</strong>s presentes são Pratylenchus (Figura<br />

1). Em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> ataque <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, as raízes tornam-se pobres em radicelas e incapazes <strong>de</strong> absorver<br />

água e nutrientes necessários para o bom <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong>s plantas que, conseqüentemente, ficam menores,<br />

raquíticas, cloróticas, murchas nas horas mais quentes <strong>do</strong> dia e menos produtivas. Em condições <strong>de</strong> campo, são<br />

verifica<strong>da</strong>s reboleiras <strong>de</strong> plantas menores e cloróticas entre outras <strong>de</strong> porte e coloração aparentemente normais.<br />

A gran<strong>de</strong>za <strong>do</strong>s <strong>da</strong>nos causa<strong>do</strong>s por nematói<strong>de</strong>s é claramente quantifica<strong>da</strong> em ensaios nos quais se faz a aplicação<br />

<strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s, como em experimento <strong>de</strong> DINARDO-MIRANDA et al. (1996), conduzi<strong>do</strong> em área infesta<strong>da</strong> por P.<br />

zeae, no qual as varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram planta<strong>da</strong>s com ou sem a aplicação <strong>de</strong> Fura<strong>da</strong>n 350SC 6L/ha (Figura 2).<br />

Fazen<strong>do</strong> uma análise criteriosa <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s experimentais e <strong>de</strong> diversas áreas comerciais, DINARDO-MIRANDA<br />

(2008) concluiu que, embora muitos fatores interfiram na gran<strong>de</strong>za <strong>do</strong>s <strong>da</strong>nos causa<strong>do</strong>s por nematói<strong>de</strong>s, entre os<br />

quais as espécies presentes na área, o nível populacional em que se encontram, a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> cultiva<strong>da</strong> e as condições<br />

<strong>da</strong>s raízes para penetração, po<strong>de</strong>-se afirmar que M. javanica e P. zeae causam cerca <strong>de</strong> 20 a 30% <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> no primeiro corte <strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s suscetíveis. M. incognita po<strong>de</strong> ocasionar per<strong>da</strong>s maiores, ao re<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> 40 %. Em casos <strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s muito suscetíveis e níveis populacionais muito altos, as per<strong>da</strong>s provoca<strong>da</strong>s por<br />

nematói<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m chegar a até 50 % <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. A autora ressalta ain<strong>da</strong> que os <strong>da</strong>nos não se restringem à<br />

<strong>cana</strong> planta; os nematói<strong>de</strong>s também reduzem as produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s soqueiras e, conseqüentemente, a longevi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>cana</strong>vial.<br />

Figura 1. Raízes <strong>de</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> infesta<strong>da</strong>s por<br />

nematói<strong>de</strong>s <strong>do</strong> gênero Meloi<strong>do</strong>gyne (à esquer<strong>da</strong>) e por<br />

nematói<strong>de</strong>s <strong>do</strong> gênero Pratylenchus (à direita).


2. USO DE NEMATICIDAS NO PLANTIO<br />

Embora o uso <strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s resistentes seja um <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> controle mais recomendável para manejo<br />

<strong>de</strong> áreas infesta<strong>da</strong>s por nematói<strong>de</strong>s, o número reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s comerciais com esta característica<br />

dificulta e, até mesmo, impossibilita a aplicação prática <strong>de</strong>ssa ferramenta <strong>de</strong> controle. Assim, o manejo <strong>de</strong> áreas<br />

infesta<strong>da</strong>s, atualmente, baseia-se no uso <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s químicos aplica<strong>do</strong>s no plantio e/ou nas soqueiras,<br />

associa<strong>do</strong> ou não ao uso <strong>de</strong> matéria orgânica (torta <strong>de</strong> filtro).<br />

A aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s no plantio em áreas infesta<strong>da</strong>s resulta em significativos incrementos <strong>de</strong><br />

produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, como po<strong>de</strong> ser visto em experimento <strong>de</strong> DINARDO-MIRANDA et al. (1996), cujos resulta<strong>do</strong>s<br />

estão resumi<strong>do</strong>s na figura 2.<br />

Figura 2 – Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

agrícola (t/ha) <strong>de</strong><br />

varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s cultiva<strong>da</strong>s<br />

em área infesta<strong>da</strong> por P.<br />

zeae, trata<strong>da</strong>s ou não com<br />

Fura<strong>da</strong>n 350SC 6L/ha no<br />

plantio (Fonte: a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> DINARDO-MIRANDA<br />

et al., 1996).<br />

A figura 3 traz outro exemplo <strong>de</strong> uma área infesta<strong>da</strong>, trata<strong>da</strong> ou não com nematici<strong>da</strong> no plantio.<br />

Figura 3 - Aspecto <strong>de</strong> uma <strong>cana</strong> planta com seis meses, conduzi<strong>da</strong> em área infesta<strong>da</strong><br />

por nematói<strong>de</strong>s, não trata<strong>da</strong> (à esquer<strong>da</strong>) e trata<strong>da</strong> com nematici<strong>da</strong> no plantio.


0<br />

Uma <strong>da</strong>s razões para as excelentes respostas <strong>da</strong> <strong>cana</strong> planta ao uso <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s no plantio está relaciona<strong>da</strong> à<br />

eficiência <strong>da</strong>s raízes. De acor<strong>do</strong> com ANGHINONI e MEURER (1999), raízes jovens <strong>de</strong> plantas também jovens<br />

são muito eficientes na absorção. Assim, po<strong>de</strong>-se afirmar que as raízes <strong>da</strong> <strong>cana</strong> planta são fisiologicamente<br />

muito ativas, absorven<strong>do</strong> eficientemente não só a água e os nutrientes, mas também os nematici<strong>da</strong>s aplica<strong>do</strong>s<br />

no solo. Em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> boa absorção <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s, há gran<strong>de</strong> redução populacional <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s<br />

e, consequentemente, bom <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong>s raízes. Raízes bem <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s exploram melhor o solo,<br />

extrain<strong>do</strong> <strong>de</strong>le maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s nutrientes coloca<strong>do</strong>s à disposição <strong>da</strong> planta, o que contribui para maior<br />

produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> parte aérea. É, portanto, um ciclo virtuoso que se dá no solo.<br />

É interessante ressaltar também que, como o controle <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s no plantio contribui para melhor<br />

<strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong> parte aérea e <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong>s plantas, o <strong>cana</strong>vial, como um to<strong>do</strong>, ten<strong>de</strong> a<br />

apresentar menor número <strong>de</strong> falhas. Em conseqüência, a soqueira resultante <strong>de</strong> uma <strong>cana</strong> planta trata<strong>da</strong><br />

também se apresenta melhor <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> e com falhas mais reduzi<strong>da</strong>s. Assim, muitas vezes, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao<br />

tratamento feito no plantio, observa-se incremento <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> também na segun<strong>da</strong> colheita, varian<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> 5 a 12t/ha, em função <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>do</strong>s níveis populacionais <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s (Figuras 4 e 5).<br />

Figura 4. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola<br />

(t/ha) <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB867515,<br />

cultiva<strong>da</strong> em área infesta<strong>da</strong> por<br />

M. javanica e P. zeae, trata<strong>da</strong><br />

ou não com Fura<strong>da</strong>n 350SC<br />

6L/ha no plantio e incremento<br />

<strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> em função <strong>do</strong><br />

tratamento nematici<strong>da</strong> (t/ha).<br />

Figura 5. Aspecto <strong>de</strong> uma soqueira, três meses <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> primeiro corte, conduzi<strong>da</strong> em área<br />

infesta<strong>da</strong> por nematói<strong>de</strong>s, não trata<strong>da</strong> (à esquer<strong>da</strong>) e trata<strong>da</strong> com nematici<strong>da</strong> no plantio (à direita).


3. USO DE NEMATICIDAS EM SOQUEIRAS<br />

Estimula<strong>do</strong>s pelos bons resulta<strong>do</strong>s em <strong>cana</strong> planta, muitos produtores utilizam também nematici<strong>da</strong>s em<br />

soqueiras, on<strong>de</strong> os incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> controle químico <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s são<br />

geralmente mais mo<strong>de</strong>stos <strong>do</strong> que os observa<strong>do</strong>s em <strong>cana</strong> planta, porém economicamente viáveis em muitas<br />

situações.<br />

As razões para uma menor resposta <strong>da</strong>s soqueiras ao controle químico <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s não estão perfeitamente<br />

esclareci<strong>da</strong>s, mas <strong>do</strong>is fatores merecem <strong>de</strong>staque. O primeiro <strong>de</strong>les está relaciona<strong>do</strong> à eficiência <strong>da</strong>s raízes,<br />

já apresenta<strong>do</strong> no item anterior, mas que merece uma nova discussão aqui. De acor<strong>do</strong> com ANGHINONI e<br />

MEURER (1999), as taxas <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong> nutrientes e água pelas raízes <strong>de</strong>crescem rapi<strong>da</strong>mente com a i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> planta; plantas jovens são mais eficientes na absorção <strong>do</strong> que plantas velhas. Os autores afirmam também<br />

que raízes jovens <strong>de</strong> uma planta velha não absorvem os nutrientes na mesma taxa que as raízes jovens <strong>de</strong><br />

uma planta jovem. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>, po<strong>de</strong>-se afirmar, portanto, que as raízes <strong>da</strong> <strong>cana</strong> planta<br />

são fisiologicamente mais ativas, absorven<strong>do</strong> mais eficientemente não só a água e os nutrientes, mas também<br />

os nematici<strong>da</strong>s aplica<strong>do</strong>s no solo. Em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> melhor absorção, a eficiência <strong>do</strong> nematici<strong>da</strong> na redução<br />

populacional <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s é maior, justifican<strong>do</strong> os maiores incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> observa<strong>do</strong>s em<br />

<strong>cana</strong> planta, em comparação com as soqueiras.<br />

Outro fator que merece <strong>de</strong>staque pela influência que exerce sobre o controle <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s e, conseqüentemente,<br />

sobre os incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao uso <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em soqueiras é, sem dúvi<strong>da</strong>, o perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>corrente entre a colheita <strong>do</strong> <strong>cana</strong>vial e a aplicação <strong>do</strong> nematici<strong>da</strong>. A falta <strong>de</strong> resposta ao tratamento químico<br />

em soqueiras, em muitos casos, <strong>de</strong>ve ser atribuí<strong>da</strong> à aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em época ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>.<br />

Para <strong>de</strong>terminar a melhor época <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em soqueiras, o IAC conduziu, a partir <strong>do</strong> final<br />

<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90, uma série <strong>de</strong> experimentos em áreas infesta<strong>da</strong>s por nematói<strong>de</strong>s, cujas colheitas haviam si<strong>do</strong><br />

efetua<strong>da</strong>s em diferentes ocasiões ao longo <strong>da</strong> safra.<br />

O primeiro ensaio foi conduzi<strong>do</strong> em área com população alta <strong>de</strong> M. javanica e P. zeae, cultiva<strong>da</strong> com a varie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

RB835257, cujo primeiro corte havia si<strong>do</strong> efetua<strong>do</strong> em 26 <strong>de</strong> junho. Nesse ensaio, o nematici<strong>da</strong> Fura<strong>da</strong>n 100G<br />

foi aplica<strong>do</strong> na <strong>do</strong>se <strong>de</strong> 22,7 kg/ha, aproxima<strong>da</strong>mente aos 30, 60 e 90 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte (F 30ddc, F60ddc,<br />

F90ddc). Incrementos significativos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> foram observa<strong>do</strong>s somente na aplicação feita aos 90<br />

dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte, ou seja, em 17 <strong>de</strong> setembro (Figura 6).<br />

Figura 6. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (t/ha) <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB835257, em função <strong>do</strong>s tratamentos nematici<strong>da</strong>s<br />

(F 30ddc, F 60ddc e F 90 ddc representam Fura<strong>da</strong>n aplica<strong>do</strong> aos 30, 60 e 90 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte,<br />

respectivamente) e incremento <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s tratamentos em relação à testemunha (t/ha).


Posteriormente, conduziram-se outros experimentos, aplican<strong>do</strong> o nematici<strong>da</strong> Fura<strong>da</strong>n 100G na <strong>do</strong>se <strong>de</strong> 21<br />

kg/ha, em média, aos 5, 20, 40 e 60 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte (F 5ddc, F 20ddc, F 40ddc, F 60ddc), manten<strong>do</strong>se<br />

parcelas testemunhas, sem nematici<strong>da</strong>, para comparação. Estes experimentos foram instala<strong>do</strong>s em<br />

áreas colhi<strong>da</strong>s entre 25 <strong>de</strong> julho (pleno perío<strong>do</strong> seco) e 25 <strong>de</strong> outubro (início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso), e os<br />

resulta<strong>do</strong>s foram publica<strong>do</strong>s, na íntegra, por DINARDO-MIRANDA e GARCIA (2002), SILVA et al.<br />

(2006) e DINARDO-MIRANDA et al. (2008).<br />

Por englobar varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, cortes e populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s bastantes distintas, as produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

observa<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> experimento foram também muito diferentes entre si (Figura 7). Entretanto, em<br />

to<strong>do</strong>s os ensaios, obtiveram-se incrementos significativos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> uso <strong>de</strong><br />

Fura<strong>da</strong>n na soqueira (Figura 8).<br />

Para os ensaios instala<strong>do</strong>s em <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s entre final <strong>de</strong> julho e começo <strong>de</strong> setembro, os maiores<br />

incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> foram registra<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se aplicou o nematici<strong>da</strong> 60 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong><br />

corte, ou seja, entre setembro e novembro, coincidin<strong>do</strong>, portanto, com o início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso. Para<br />

os ensaios conduzi<strong>do</strong>s em áreas colhi<strong>da</strong>s em final <strong>de</strong> outubro, os maiores incrementos foram observa<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> Fura<strong>da</strong>n foi aplica<strong>do</strong> aos 5 ou 20 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte. Nesses <strong>do</strong>is ensaios, as aplicações feitas<br />

mais tardiamente, aos 40 ou 60 dias <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> colheita <strong>do</strong> <strong>cana</strong>vial, resultaram em menores incrementos<br />

<strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (Figura 8).<br />

Figura 7. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola (t/ha)<br />

observa<strong>da</strong> nos ensaios em função <strong>do</strong>s<br />

tratamentos nematici<strong>da</strong>s efetua<strong>da</strong>s na<br />

soqueira (F 5ddc, F 20ddc, F 40ddc e F 60 ddc<br />

representam Fura<strong>da</strong>n aplica<strong>do</strong> aos 5, 20, 40<br />

e 60 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte, respectivamente)<br />

(Fonte: DINARDO-MIRANDA et al., 2008;<br />

DINARDO-MIRANDA e GARCIA, 2002;<br />

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Figura 8. Incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (t/ha)<br />

observa<strong>do</strong>s nos diversos experimentos, em função<br />

<strong>do</strong> tratamento nematici<strong>da</strong> com Fura<strong>da</strong>n 100G,<br />

em relação às parcelas testemunhas (F 5ddc, F<br />

20ddc, F 40ddc e F 60 ddc representam Fura<strong>da</strong>n<br />

aplica<strong>do</strong> aos 5, 20, 40 e 60 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte,<br />

respectivamente) (Fonte: DINARDO-MIRANDA<br />

et al., 2008; DINARDO-MIRANDA e GARCIA,<br />

2002; SILVA et al.,2006).


Nos anos seguintes, outros nove experimentos foram conduzi<strong>do</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> verificar qual a melhor<br />

época para aplicar nematici<strong>da</strong>s em <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s em início <strong>de</strong> safra (abril e maio). Nestas áreas, foram<br />

feitas aplicações <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s a partir <strong>do</strong>s 5 dias <strong>do</strong> corte e, em alguns ensaios, chegou-se a aplicar os<br />

nematici<strong>da</strong>s até 5 ou 6 meses <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte, ou seja, em outubro/novembro, no início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste trabalho foram publica<strong>do</strong>s integralmente por Dinar<strong>do</strong>-Miran<strong>da</strong> et al. (2010).<br />

Na maioria <strong>do</strong>s ensaios conduzi<strong>do</strong>s em <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s em início <strong>de</strong> safra, não foram observa<strong>da</strong>s respostas<br />

consistentes à aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s. Somente em <strong>do</strong>is <strong>de</strong>les houve diferença entre as épocas <strong>de</strong> aplicação<br />

<strong>do</strong>s produtos quanto à produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em um <strong>do</strong>s ensaios, os maiores incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> foram<br />

observa<strong>do</strong>s nos casos em que os nematici<strong>da</strong>s foram aplica<strong>do</strong>s logo após o corte (Figura 9) e em outro, quan<strong>do</strong><br />

os produtos foram aplica<strong>do</strong>s 5 ou 6 meses <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte (no início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso, Figura 10). Neste<br />

grupo <strong>de</strong> ensaios, quan<strong>do</strong> os nematici<strong>da</strong>s foram aplica<strong>do</strong>s entre 50 e 150 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte, coincidin<strong>do</strong><br />

com o perío<strong>do</strong> seco, não se observaram incrementos consistentes <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Figura 9. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (t/ha) em<br />

função <strong>do</strong> tratamento (em azul,<br />

incremento em função <strong>do</strong> tratamento<br />

com Fura<strong>da</strong>n 100G, em relação às<br />

parcelas testemunhas; F 13ddc, F<br />

50ddc, F 85ddc e F 127ddc representam<br />

Fura<strong>da</strong>n aplica<strong>do</strong> aos 13, 50, 85 e 127<br />

dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte, respectivamente).<br />

Figura 10. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (t/ha)<br />

em função <strong>do</strong> tratamento (em azul,<br />

incremento em função <strong>do</strong> tratamento<br />

com Fura<strong>da</strong>n 100G, em relação às<br />

parcelas testemunhas; F 120ddc,<br />

F 150ddc e F 180ddc representam<br />

Fura<strong>da</strong>n aplica<strong>do</strong> aos 120, 150 e 180<br />

dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte, respectivamente).<br />

Esses resulta<strong>do</strong>s revelam, portanto, que a resposta à aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em soqueiras <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> época<br />

em que ela é feita.<br />

Para enten<strong>de</strong>r a razão <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> época <strong>de</strong> aplicação <strong>do</strong> nematici<strong>da</strong> em soqueira sobre a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>cana</strong>vial, é necessário consi<strong>de</strong>rar a dinâmica <strong>de</strong> crescimento <strong>da</strong>s raízes em <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>.<br />

Como apresenta<strong>do</strong> no capítulo anterior, o sistema <strong>radicular</strong> <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> cresce paulatinamente <strong>de</strong><br />

um ciclo para o outro (<strong>cana</strong> planta, primeira soca, segun<strong>da</strong> soca, etc.), o que é comum em plantas perenes,<br />

como mencionou KLEPPER (1991). Segun<strong>do</strong> ele, nessas plantas, o crescimento <strong>de</strong> raízes ocorre por fluxos <strong>de</strong><br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, com padrões <strong>de</strong> distribuição <strong>do</strong>s fotoassimila<strong>do</strong>s varian<strong>do</strong> com a estação <strong>do</strong> ano. Os trabalhos <strong>de</strong><br />

Vasconcelos revelam que, embora o volume <strong>de</strong> raízes <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> aumente, <strong>de</strong> um ciclo para o outro<br />

<strong>da</strong> cultura, ocorre morte parcial <strong>de</strong> raízes em função <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> água no solo. Sob condições <strong>de</strong><br />

déficit hídrico, gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s raízes morre, ocorren<strong>do</strong> renovação sob condições <strong>de</strong> acúmulo <strong>de</strong> água.


Po<strong>de</strong>-se afirmar, portanto, que nos meses <strong>de</strong> seca a <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> per<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seu sistema <strong>radicular</strong>, que<br />

volta a se <strong>de</strong>senvolver nos perío<strong>do</strong>s chuvosos <strong>do</strong> ano. Assim, a morte ou a renovação <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> não está relaciona<strong>da</strong> ao corte <strong>da</strong> parte aérea, mas à condição hídrica a que a cultura está<br />

submeti<strong>da</strong> em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>.<br />

As raízes superficiais são as primeiras a morrer durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> estiagem e também são as primeiras a<br />

se renovar durante o perío<strong>do</strong> <strong>da</strong>s chuvas (Aguiar, 1978, cita<strong>do</strong> por CASAGRANDE, 1991; VASCONCELOS,<br />

2002). Esse fato é bastante relevante, já que nutrientes e nematici<strong>da</strong>s, especialmente nas soqueiras, são aplica<strong>do</strong>s<br />

nas cama<strong>da</strong>s superficiais <strong>do</strong> solo (5 a 10cm <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />

Assim, quan<strong>do</strong> o corte é feito em abril e maio (início <strong>de</strong> safra), a <strong>cana</strong> apresenta gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes<br />

vivas e ativas, por ocasião <strong>da</strong> colheita, pois ain<strong>da</strong> há água disponível no solo. Nestas condições, as populações<br />

<strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s também são eleva<strong>da</strong>s, pois as raízes são abun<strong>da</strong>ntes e a temperatura e umi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s<br />

para o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>de</strong>sses parasitos. Por causa disso, a aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s logo após o corte (5 a 10<br />

dias) tem certo efeito inicial sobre as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s e consequentemente sobre o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong><br />

<strong>da</strong> cultura, como visto em alguns ensaios. Entretanto, na maioria <strong>da</strong>s situações, não há efeito algum.<br />

Estes <strong>cana</strong>viais <strong>de</strong> começo <strong>de</strong> safra, embora tenham muitas raízes vivas por ocasião <strong>da</strong> colheita, com o passar<br />

<strong>do</strong> tempo e escassez <strong>da</strong>s chuvas, sofre redução gra<strong>da</strong>tiva <strong>da</strong>s raízes, a começar pelas mais superficiais e<br />

passan<strong>do</strong> para as mais profun<strong>da</strong>s. Po<strong>de</strong> ocorrer emissão lenta <strong>de</strong> raízes novas após chuvas ocasionais, mas,<br />

com a continuação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> seco, as raízes recém emiti<strong>da</strong>s e também as mais velhas morrem paulatinamente.<br />

Consequentemente, a <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>, no final <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> seco, apresenta pequena quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes vivas<br />

e ativas e se sustenta, basicamente, com as reservas <strong>do</strong> rizoma a por meio <strong>da</strong>s raízes <strong>de</strong> cordão, que atingem<br />

profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s maiores. Com início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso, entretanto, há rápi<strong>da</strong> emissão e crescimento <strong>de</strong> novas<br />

raízes. Em conseqüência <strong>de</strong>ste crescimento <strong>de</strong> raízes e <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> temperatura e umi<strong>da</strong><strong>de</strong> a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s<br />

para os nematói<strong>de</strong>s, é também no perío<strong>do</strong> chuvoso que as populações <strong>de</strong>sses parasitos aumentam.<br />

Se o nematici<strong>da</strong> for aplica<strong>do</strong> em pleno perío<strong>do</strong> seco, ele gra<strong>da</strong>tivamente se <strong>de</strong>compõe no solo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a fatores<br />

bióticos e abióticos, e uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> menor <strong>do</strong> que a aplica<strong>da</strong> fica disponível para as plantas, no perío<strong>do</strong><br />

chuvoso, quan<strong>do</strong> então o produto é necessário, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à emissão <strong>de</strong> novas raízes e aumento <strong>da</strong>s populações<br />

<strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s. Esta é a razão para as aplicações feitas no perío<strong>do</strong> seco (junho a setembro) não resultarem<br />

em incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> nos ensaios cita<strong>do</strong>s. Por outro la<strong>do</strong>, uma aplicação tardia <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s,<br />

feita no início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso (outubro, novembro) po<strong>de</strong>ria ser bastante a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para reduzir as<br />

crescentes populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s no perío<strong>do</strong>. Sabe-se, porém, que a severi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s <strong>da</strong>nos causa<strong>do</strong>s<br />

por nematói<strong>de</strong>s está relaciona<strong>da</strong> à fenologia <strong>da</strong> planta: plantas mais velhas são afeta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> maneira menos<br />

severa <strong>do</strong> que plantas mais jovens (Duncan e Noling, 1998). Como os <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s em início <strong>de</strong> safra<br />

dispõe <strong>de</strong> condições hídricas e temperatura a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s para brotação, eles inicialmente ganham massa ver<strong>de</strong><br />

e, com e entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> seco mantém um lento crescimento <strong>da</strong>s plantas, às custas <strong>da</strong>s reservas <strong>do</strong> tolete<br />

(Casagran<strong>de</strong> e Vasconcelos, 2008). Desta forma, <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s em início <strong>de</strong> safra, embora lentamente,<br />

crescem a partir <strong>da</strong> colheita, e, quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso, quan<strong>do</strong> o ataque <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s se<br />

intensifica, eles estão mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s e sofrem menores <strong>da</strong>nos <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao ataque <strong>do</strong>s parasitos. Esta talvez<br />

seja a razão para não se observar aumentos consistentes <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> nos ensaios nos quais as aplicações<br />

<strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s foram feitas entre setembro e novembro, <strong>de</strong> 120 a 180 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte.<br />

Além <strong>da</strong> resposta menos consistente <strong>da</strong> aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s nos <strong>cana</strong>viais <strong>de</strong> começo <strong>de</strong> safra, a aplicação<br />

tardia também é tarefa difícil <strong>de</strong> ser executa<strong>da</strong> em campo, pois o crescimento <strong>da</strong>s plantas dificulta ou, até<br />

mesmo impe<strong>de</strong>, a entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> maquinários no <strong>cana</strong>vial.<br />

O manejo <strong>de</strong> áreas infesta<strong>da</strong>s por nematói<strong>de</strong>s, quan<strong>do</strong> submeti<strong>da</strong>s à colheita em início <strong>de</strong> safra, <strong>de</strong>ve, portanto,<br />

ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> com cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. Em locais <strong>de</strong> populações muito altas, po<strong>de</strong> haver resposta ao tratamento <strong>de</strong><br />

soqueira, se ele for feito logo após o corte (5 a 10 dias), mas em muitas situações a resposta ao nematici<strong>da</strong><br />

não será significativa. Nestas condições, talvez o mais interessante seja mu<strong>da</strong>r a época <strong>de</strong> colheita. Em<br />

tais áreas, <strong>de</strong>veriam ser cultiva<strong>da</strong>s varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s médias ou tardias que, corta<strong>da</strong>s em meio ou final <strong>de</strong> safra<br />

(julho a novembro) possibilitariam a aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s com obtenção <strong>de</strong> aumentos significativos <strong>de</strong><br />

produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Para <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s em meio <strong>de</strong> safra, em pleno perío<strong>do</strong> seco, a aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s logo após o<br />

corte é ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> raízes para absorver o produto. Sem raízes para absorvê-lo, o nematici<strong>da</strong><br />

permanece no solo, sujeito à <strong>de</strong>composição biótica e abiótica, como discuti<strong>do</strong> anteriormente. Assim, na época<br />

chuvosa, quan<strong>do</strong> ocorrem emissão <strong>de</strong> novas raízes e crescimento <strong>da</strong>s populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> nematici<strong>da</strong> disponível é menor <strong>do</strong> que a aplica<strong>da</strong>, já que parte <strong>do</strong> produto se <strong>de</strong>compôs. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

ao fazer as aplicações <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong> mais tardiamente, aos 120, 90 ou 60 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte, elas estão mais<br />

próximas ou até mesmo coinci<strong>de</strong>m com o início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso, quan<strong>do</strong> ocorre emissão <strong>de</strong> novas raízes,


0<br />

principalmente as superficiais, responsáveis pela absorção. Dessa forma, o produto fica um tempo menor no<br />

solo sujeito à <strong>de</strong>composição, sen<strong>do</strong> aproveita<strong>do</strong> pela planta em sua quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isso explica porque nos<br />

ensaios conduzi<strong>do</strong>s em áreas colhi<strong>da</strong>s entre a segun<strong>da</strong> quinzena <strong>de</strong> junho e primeira quinzena <strong>de</strong> setembro,<br />

os maiores incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> foram obti<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se aplicou nematici<strong>da</strong> aos 90 ou aos 60 dias<br />

<strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong> chuva nos ensaios ilustram muito bem a situação (Tabela 1). Nos ensaios 2 a 4,<br />

conduzi<strong>do</strong>s nas áreas colhi<strong>da</strong>s entre julho e setembro, as chuvas se tornaram mais abun<strong>da</strong>ntes por ocasião<br />

<strong>da</strong>s aplicações feitas aos 60 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte. Portanto, foi nessa ocasião que as raízes novas começaram<br />

a ser emiti<strong>da</strong>s. No ensaio 1, as chuvas ocorreram somente <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s 90 dias <strong>do</strong> corte, razão pela qual essa<br />

aplicação foi a que resultou nos maiores incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nesse ensaio, as aplicações feitas<br />

aos 30 e aos 60 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte, no perío<strong>do</strong> bastante seco <strong>do</strong> ano (julho e agosto), não surtiram qualquer<br />

efeito sobre a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, em <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s na época úmi<strong>da</strong>, as raízes estariam, por ocasião <strong>da</strong> colheita, em pleno<br />

<strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> e, em conseqüência, as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s estariam se elevan<strong>do</strong>, justifican<strong>do</strong> a<br />

aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s logo após o corte. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>s ensaios 6 e 7, conduzi<strong>do</strong>s em áreas colhi<strong>da</strong>s em final<br />

<strong>de</strong> outubro, confirmam esse fato. Nesses ensaios, os maiores incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> foram obti<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> o nematici<strong>da</strong> foi aplica<strong>do</strong> aos 5 ou aos 20 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte. Aplicações mais tardias resultaram<br />

em incrementos menores provavelmente porque os nematói<strong>de</strong>s, favoreci<strong>do</strong>s por condições e<strong>da</strong>foclimáticas<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s e raízes abun<strong>da</strong>ntes, já haviam causa<strong>do</strong> <strong>da</strong>nos às plantas por ocasião <strong>da</strong>s aplicações aos 40 ou 60<br />

dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte. Em <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s em época chuvosa, portanto, aplicações efetua<strong>da</strong>s logo após a<br />

colheita são mais efetivas.


Os resulta<strong>do</strong>s aqui apresenta<strong>do</strong>s sobre os efeitos <strong>da</strong> época <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em soqueiras são<br />

relativamente recentes, já que tais estu<strong>do</strong>s foram inicia<strong>do</strong>s pelo IAC no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90. Entretanto,<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong> trabalhos mais antigos, relaciona<strong>do</strong>s à aplicação <strong>de</strong> adubos em soqueiras, levaram a conclusões<br />

semelhantes. Um <strong>de</strong>sses trabalhos é o <strong>de</strong> IDE et al. (1984), que testaram diferentes combinações <strong>de</strong> hastes<br />

e gradinhas para escarificar a entrelinha <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> SP70-1143, cultiva<strong>da</strong> em três locais (Piracicaba, Jau<br />

e Sertãozinho) e colhi<strong>da</strong> em julho. A adubação foi feita em 3 diferentes épocas: 10, 40 e 100 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong><br />

corte. Toman<strong>do</strong> o tratamento no qual o adubo foi incorpora<strong>do</strong> ao solo por meio <strong>de</strong> uma leve gra<strong>da</strong>gem ou<br />

por cultiva<strong>do</strong>res asa <strong>de</strong> an<strong>do</strong>rinha, por ser esta operação a mais semelhante àquela feita para aplicação <strong>de</strong><br />

nematici<strong>da</strong>s em soca, e o tratamento no qual o adubo foi aplica<strong>do</strong> sobre as linhas <strong>de</strong> <strong>cana</strong>, sem incorporação,<br />

foi construí<strong>da</strong> a figura 11, cujos resulta<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>m ser interpreta<strong>do</strong>s à luz <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong> sistema<br />

<strong>radicular</strong> <strong>da</strong> soca. Nota-se claramente que as maiores produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram obti<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> o adubo foi<br />

aplica<strong>do</strong> mais próximo <strong>da</strong> época chuvosa, quan<strong>do</strong> a emissão <strong>de</strong> raízes permitiu seu melhor aproveitamento,<br />

semelhante ao observa<strong>do</strong> nos trabalhos com nematici<strong>da</strong>.<br />

Posteriormente, IDE et al. (1986) realizaram estu<strong>do</strong>s sobre o efeito <strong>da</strong> época <strong>de</strong> realização <strong>do</strong> cultivo durante<br />

a safra, conjugan<strong>do</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cultivo (7, 14, 42 dias após o corte) e três épocas <strong>de</strong> colheita (julho, agosto,<br />

setembro). Foram conduzi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is ensaios, que contemplavam cinco diferentes tipos <strong>de</strong> cultivo e testemunha<br />

sem cultivo. Em ca<strong>da</strong> ensaio, a adubação foi sempre a mesma. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is ensaios e as médias<br />

<strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> tratamento no qual o adubo foi incorpora<strong>do</strong> ao solo por meio <strong>de</strong> uma gra<strong>da</strong>gem e <strong>do</strong><br />

tratamento no qual o adubo foi aplica<strong>do</strong> sobre as linhas <strong>de</strong> <strong>cana</strong>, sem incorporação, foi construí<strong>da</strong> a figura<br />

12. Nota-se que para os <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s na época seca <strong>do</strong> ano (julho e agosto), as maiores produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

foram obti<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> o adubo foi aplica<strong>do</strong> em setembro ou outubro, próximo ao início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso,<br />

à semelhança <strong>do</strong> observa<strong>do</strong> nos ensaios com aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>. Para as áreas colhi<strong>da</strong>s em setembro, a<br />

aplicação <strong>do</strong> adubo em novembro, já em pleno perío<strong>do</strong> chuvoso, resultou em menor produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, também<br />

em consonância com o observa<strong>do</strong> nos ensaios com nematici<strong>da</strong>. Neste caso, o atraso na aplicaçã o <strong>do</strong> adubo<br />

prejudicou o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> inicial <strong>da</strong> soqueira, pois, com o início <strong>da</strong>s chuvas, as plantas necessitavam <strong>do</strong>s<br />

nutrientes, que ain<strong>da</strong> não tinham si<strong>do</strong> forneci<strong>do</strong>s, para seu pleno crescimento.<br />

Figura 11. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (t/ha) <strong>da</strong><br />

varie<strong>da</strong><strong>de</strong> SP70-1143, colhi<strong>da</strong> em julho, em<br />

três locais (Piracicaba, Jaú e Sertãozinho),<br />

em função <strong>da</strong> época <strong>de</strong> aplicação <strong>do</strong> adubo<br />

na soqueira (10, 40 e 100 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong><br />

corte - ddc) (Fonte: IDE et al.., 1984).<br />

Figura 12. Produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (t/ha) média <strong>de</strong><br />

<strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s em três épocas (julho,<br />

agosto e setembro), em função <strong>da</strong> época<br />

<strong>de</strong> aplicação <strong>do</strong> adubo na soqueira (7, 14<br />

e 42 dias <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> colheita, coincidin<strong>do</strong><br />

com julho, agosto, setembro, outubro e<br />

novembro) (Fonte: IDE et al., 1986).


Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s relativos à adubação ilustram que a preocupação em <strong>de</strong>terminar o melhor perío<strong>do</strong> para realização<br />

<strong>da</strong>s operações em soqueira está presente nas várias áreas <strong>de</strong> manejo. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> novamente as aplicações<br />

<strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em soca, os trabalhos aqui apresenta<strong>do</strong>s mostram que, para a aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s<br />

resultar em aumento significativo <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ela <strong>de</strong>ver ser feita quan<strong>do</strong> há raízes vivas, pois são nessas<br />

condições que as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s se elevam e que a planta tem condições (raízes) <strong>de</strong> absorver o<br />

produto. Assim, em soqueiras <strong>de</strong> <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s no início <strong>de</strong> safra (abril/maio), a aplicação <strong>de</strong>ve ser feita<br />

logo após o corte (até 10 dias <strong>de</strong>pois); em <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s no meio <strong>da</strong> safra (junho a outubro), a aplicação<br />

<strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ve ser feita, sempre, o mais próximo possível <strong>da</strong> época chuvosa, e em soqueiras <strong>de</strong> <strong>cana</strong>viais<br />

colhi<strong>do</strong>s em plena época chuvosa, a aplicação <strong>de</strong>ve ser feita logo após o corte.<br />

É importante ressaltar que o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> espera entre o corte <strong>do</strong> <strong>cana</strong>vial e a aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em<br />

soqueiras, a fim <strong>de</strong> obter o máximo <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser altera<strong>do</strong> em função <strong>do</strong> regime <strong>de</strong><br />

chuvas <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> região ou ano. Em anos ou regiões nos quais as chuvas são abun<strong>da</strong>ntes em setembro,<br />

por exemplo, a <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> começa a emitir novas raízes nessa época e, em conseqüência, a aplicação <strong>de</strong><br />

nematici<strong>da</strong> em soqueira <strong>de</strong> meio <strong>de</strong> safra <strong>de</strong>ve ser antecipa<strong>da</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que o nematici<strong>da</strong> seja aplica<strong>do</strong> no<br />

início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso e não muito tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le. Da mesma forma, áreas freqüentemente irriga<strong>da</strong>s,<br />

on<strong>de</strong> a dinâmica <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>do</strong> sistema <strong>radicular</strong> é diferente, também <strong>de</strong>vem ser trata<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong><br />

há raízes vivas, o que po<strong>de</strong> acontecer imediatamente <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte.<br />

Em <strong>cana</strong>viais colhi<strong>do</strong>s em meio <strong>de</strong> safra, o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong> parte aérea é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, bastante lento, em<br />

função <strong>da</strong>s baixas umi<strong>da</strong><strong>de</strong>s no solo e temperaturas mais amenas, porém também nessas condições, aos 60<br />

ou 90 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> corte (outubro/novembro), plantas <strong>de</strong> algumas varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m atingir um porte alto<br />

o suficiente para dificultar a entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> equipamentos para aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>. Neste caso, a aplicação<br />

<strong>de</strong>ve ser feita um pouco antes <strong>da</strong> época consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> i<strong>de</strong>al, quan<strong>do</strong> o porte <strong>da</strong>s plantas ain<strong>da</strong> não limita a<br />

entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> máquinas e implementos. Assim, as aplicações <strong>de</strong>vem ser feitas o mais tardiamente possível, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que não ocorram limitações em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong> parte aérea.<br />

Vale salientar que, neste conceito, a época consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> i<strong>de</strong>al para aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s é aquela em que<br />

a operação resulta no maior incremento <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, quan<strong>do</strong> a aplicação for feita fora <strong>da</strong> época<br />

i<strong>de</strong>al, incrementos <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong>m, eventualmente, ser obti<strong>do</strong>s, mas, com certeza, serão menores<br />

<strong>do</strong> que aqueles que seriam observa<strong>do</strong>s, caso o nematici<strong>da</strong> tivesse si<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> na época i<strong>de</strong>al.<br />

Finalmente, para aplicação <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s em soqueiras infesta<strong>da</strong>s por nematói<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s as<br />

condições gerais <strong>da</strong> área a ser trata<strong>da</strong>. Áreas com muitas falhas e previsão <strong>de</strong> baixa produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> na colheita<br />

seguinte não <strong>de</strong>vem receber nematici<strong>da</strong>s, pois, o incremento <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> a ser obti<strong>do</strong> po<strong>de</strong> não justificar<br />

economicamente o investimento realiza<strong>do</strong>.


EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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CASAGRANDE, A.A. Tópicos <strong>de</strong> morfologia e fisiologia <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>. Jaboticabal: FUNEP, 1991. 157 p.<br />

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VASCONCELOS; M.G.A. LANDELL. Cana-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>. Campinas: IAC, 2008. p. 57-78.<br />

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Jabotica


Capítulo 3<br />

Amostragem <strong>de</strong> áreas para diagnóstico<br />

<strong>de</strong> problemas nematológicos<br />

Leila Luci Dinar<strong>do</strong>-Miran<strong>da</strong><br />

Instituto Agronômico


0<br />

1. IMPORTÂNCIA DA AMOSTRAGEM<br />

Para que medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> manejo possam ser corretamente recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s, a fim <strong>de</strong> reduzir os prejuízos causa<strong>do</strong>s pelos<br />

nematói<strong>de</strong>s, é necessário um diagnóstico seguro <strong>da</strong> presença <strong>de</strong>sses parasitos numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> área. Desta forma,<br />

a amostragem é <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental importância, por ser a base <strong>de</strong> qualquer programa <strong>de</strong> manejo bem sucedi<strong>do</strong>, razão<br />

pela qual merece atenção especial.<br />

Um diagnóstico seguro <strong>da</strong>s populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s em <strong>cana</strong>viais exige uma amostragem bem feita, tanto em relação<br />

à época em que <strong>de</strong>ve ser conduzi<strong>da</strong>, quanto em relação à quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> amostras coleta<strong>da</strong>s. Para melhor enten<strong>de</strong>r<br />

essas variantes, é preciso conhecer a variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> espacial e temporal <strong>de</strong> populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s.<br />

2. DINÃMICA POPULACIONAL<br />

O texto apresenta<strong>do</strong> a seguir está basea<strong>do</strong> em DINARDO-MIRANDA (2008).<br />

Muitos pesquisa<strong>do</strong>res, entre os quais NORTON (1978), WALLACE (1971; 1973) e YEATES (1981), relatam que são<br />

vários os fatores físicos e biológicos que afetam diretamente a distribuição espacial e temporal <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, entre<br />

eles pH <strong>do</strong> solo, teor <strong>de</strong> matéria orgânica, salini<strong>da</strong><strong>de</strong> e aeração <strong>do</strong> solo; Entretanto, estes pesquisa<strong>do</strong>res são unânimes<br />

em afirmar que os fatores abióticos mais importantes são a temperatura e a umi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> solo.<br />

A temperatura <strong>do</strong> solo interfere na sobrevivência, na duração <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e na reprodução <strong>do</strong>s nematói<strong>de</strong>s (NOE,<br />

1991), e para M. incognita, M. javanica, P. zeae e P. brachyurus a faixa ótima para <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> está entre 25 e 30 ºC<br />

(TAYLOR e SASSER, 1978). Assim, para as condições brasileiras <strong>de</strong> cultivo <strong>da</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>, a temperatura <strong>do</strong> solo<br />

não exerce significativa influência sobre as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, uma vez que geralmente se encontra próxima<br />

à faixa i<strong>de</strong>al, sofren<strong>do</strong> pouca variação sazonal e raramente atingin<strong>do</strong> valores extremos, inferiores a 15 ºC ou superiores<br />

a 35 ºC, que seriam limitantes ao <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>de</strong>sses parasitos.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, para a <strong>cana</strong>vicultura brasileira, a ocorrência <strong>de</strong> chuvas e irrigação são fatores importantes para as<br />

flutuações populacionais <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, por alterarem a umi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> solo, como ilustra<strong>do</strong> na figura 1, que representa<br />

a flutuação populacional <strong>de</strong> P. zeae, nas raízes <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB928064, cultiva<strong>da</strong> em solo arenoso, em Santa Rita <strong>do</strong><br />

Passa Quatro, SP (DINARDO-MIRANDA, 2008). Nota-se que a flutuação populacional esteve intimamente relaciona<strong>da</strong><br />

ao volume <strong>de</strong> chuvas e, em condições favoráveis, como no início <strong>do</strong> <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong> cultura, as populações <strong>de</strong><br />

nematói<strong>de</strong>s aumentaram rapi<strong>da</strong>mente, o que é atribuí<strong>do</strong> às altas taxas <strong>de</strong> reprodução (ca<strong>da</strong> fêmea coloca gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> ovos) e ao ciclo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> relativamente curto (quatro semanas, em média).<br />

A umi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> solo interfere na mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s e, tanto em excesso quanto na escassez, po<strong>de</strong><br />

limitar sua sobrevivência (WALLACE, 1973; JOHNSON et al., 1993).<br />

Figura 1. Flutuação populacional <strong>de</strong> P. zeae nas raízes <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB928064<br />

<strong>de</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> (Fonte: DINARDO-MIRANDA, 2008).


Muitos nematói<strong>de</strong>s mostram preferência por <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> solo e textura (NORTON 1978; WALLACE,<br />

1973). BARKER e WEEKS (1991), por exemplo, revelaram que populações <strong>de</strong> Meloi<strong>do</strong>gyne atingiram valores<br />

mais eleva<strong>do</strong>s e causaram <strong>da</strong>nos mais severos em solos arenosos <strong>do</strong> que em solos argilosos. Deve-se ressaltar,<br />

porém, que os nematói<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ocorrer nos mais diferentes tipos <strong>de</strong> solo. Em análises feitas pelo laboratório<br />

DMLab, em Ribeirão Preto, em amostras <strong>de</strong> raízes <strong>de</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> coleta<strong>da</strong>s em diversas regiões <strong>do</strong> Brasil,<br />

encontraram-se populações eleva<strong>da</strong>s <strong>de</strong>sses parasitos tanto em solos arenosos como em argilosos. Entretanto,<br />

em <strong>cana</strong>viais conduzi<strong>do</strong>s em solos arenosos, os <strong>da</strong>nos provoca<strong>do</strong>s por nematói<strong>de</strong>s geralmente são mais severos<br />

<strong>do</strong> que os observa<strong>do</strong>s em solos argilosos. As razões para isso não estão esclareci<strong>da</strong>s, e envolvem provavelmente<br />

fatores como aeração <strong>do</strong> solo, capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reter umi<strong>da</strong><strong>de</strong>, teor <strong>de</strong> matéria orgânica e <strong>de</strong> nutrientes.<br />

Além <strong>da</strong> influência direta <strong>do</strong>s diversos fatores sobre as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, muitos interferem na planta<br />

hospe<strong>de</strong>ira, agin<strong>do</strong> indiretamente na dinâmica populacional <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s (MCSORLEY, 1998). Esse fato<br />

é especialmente importante para a <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>, uma vez que os nematói<strong>de</strong>s <strong>do</strong> gênero Meloi<strong>do</strong>gyne e<br />

Pratylenchus são parasitos obrigatórios, ou seja, necessitam <strong>de</strong> raízes vivas para sobreviver. Assim, qualquer<br />

fator que afete a cultura hospe<strong>de</strong>ira tem efeito indireto sobre a dinâmica populacional <strong>do</strong>s nematói<strong>de</strong>s. Além<br />

disso, fatores intrínsecos <strong>da</strong> planta também afetam as populações <strong>de</strong>sses parasitos, tais como resistência/<br />

suscetibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> (MCSORLEY, 1998; YOUNG, 1998; ROBERTS et al., 1998).<br />

Práticas culturais, como rotação <strong>de</strong> culturas e uso <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong>s, também interferem nas populações <strong>de</strong><br />

nematói<strong>de</strong>s (NOE, 1998; SIPES e SCHIMIDT, 1998).<br />

Embora ocorram várias exceções, as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s estão concentra<strong>da</strong>s na cama<strong>da</strong> arável <strong>do</strong> solo,<br />

faixa on<strong>de</strong> se concentra o sistema <strong>radicular</strong>, sua fonte <strong>de</strong> alimentação (WALLACE, 1971; NORTON, 1978).<br />

A distribuição horizontal <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s é bastante irregular. À distância <strong>de</strong> poucos metros, as populações<br />

po<strong>de</strong>m diferir muito (MCSORLEY, 1998). Esta variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> espacial ficou bastante clara em trabalho no<br />

qual se fez análise geoestatística <strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong> amostras coleta<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> 2 meses, durante 3 anos, em grid <strong>de</strong><br />

10 x 10m, em área <strong>de</strong> 1 ha, em Santa Rita <strong>do</strong> Passa Quatro. Os mapas construí<strong>do</strong>s com os <strong>da</strong><strong>do</strong>s observa<strong>do</strong>s<br />

em abril <strong>de</strong> 2006 (<strong>cana</strong> planta) e abril <strong>de</strong> 2007 (<strong>cana</strong> soca), apresenta<strong>do</strong>s na Figura 2, ilustram a variabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

espacial <strong>de</strong> P. zeae na área. Nota-se que, separa<strong>do</strong>s por pequenas distâncias, há locais com altas infestações<br />

e outros com infestações bem mais baixas. É marcante, entretanto, a semelhança entre os mapas construí<strong>do</strong>s<br />

nos <strong>do</strong>is diferentes anos, revelan<strong>do</strong> que, numa amostragem bem feita, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s ten<strong>de</strong>m a se repetir.<br />

Figura 2. Distribuição espacial <strong>de</strong> P. zeae em<br />

raízes (50g) <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> RB928064 <strong>de</strong> <strong>cana</strong><strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong>,<br />

em abril <strong>de</strong> 2006 (<strong>cana</strong> planta,<br />

acima) e em abril <strong>de</strong> 2007 (<strong>cana</strong> soca, abaixo).


3. COMO E QUANDO AMOSTRAR<br />

Visto que as condições e<strong>da</strong>foclimáticas exercem gran<strong>de</strong> interferência nas populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, a<br />

amostragem <strong>de</strong>ve ser feita sempre em época chuvosa (primavera e verão), quan<strong>do</strong> as condições <strong>de</strong> temperatura<br />

e, especialmente, <strong>de</strong> umi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> solo são a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s a um bom <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong>s raízes <strong>da</strong>s plantas e<br />

<strong>do</strong>s nematói<strong>de</strong>s.<br />

Amostras coleta<strong>da</strong>s em época seca po<strong>de</strong>m levar a um diagnóstico erra<strong>do</strong> <strong>do</strong> problema, pois as populações <strong>de</strong><br />

nematói<strong>de</strong>s nessas condições ten<strong>de</strong>m a se reduzir drasticamente, já que muitas raízes morrem em conseqüência<br />

<strong>da</strong> falta <strong>de</strong> umi<strong>da</strong><strong>de</strong> no solo.<br />

As amostragens po<strong>de</strong>m ser feitas tanto em <strong>cana</strong> planta como em soqueiras. Em áreas a serem reforma<strong>da</strong>s, a<br />

coleta <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong>ve ser feita no perío<strong>do</strong> chuvoso antes <strong>do</strong> último corte. Na região Centro-Sul <strong>do</strong> Brasil,<br />

este perío<strong>do</strong> se esten<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a abril, aproxima<strong>da</strong>mente.<br />

Além <strong>da</strong>s condições e<strong>da</strong>foclimáticas, a variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> espacial também <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> para coleta <strong>de</strong><br />

amostras. O fato <strong>de</strong>sta variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ser alta, como apresenta<strong>do</strong> no item anterior, tem uma implicação prática<br />

bastante importante: uma amostragem bem feita exige a coleta <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> amostras. Assim,<br />

para talhões <strong>de</strong> até 10 ha, recomen<strong>da</strong>-se a coleta <strong>de</strong> uma amostra composta por duas sub-amostras por ha,<br />

recolhi<strong>da</strong>s em to<strong>da</strong> área.<br />

Para facilitar a amostragem, <strong>de</strong>ve-se começar pelo vértice <strong>do</strong> talhão. Se o espaçamento entre sulcos for <strong>de</strong> 1,5<br />

m, o amostra<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ve contar inicialmente 33 sulcos e a<strong>de</strong>ntrar no talhão neste sulco (33º sulco). Em segui<strong>da</strong>,<br />

ele <strong>de</strong>verá <strong>da</strong>r aproxima<strong>da</strong>mente 30 passos (25 m) e coletar uma sub-amostra. Coleta<strong>da</strong> a sub-amostra, ele<br />

<strong>de</strong>verá <strong>da</strong>r mais 60 passos (50 m) e coletar outra sub-amostra, prosseguin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta maneira até sair no carrea<strong>do</strong>r.<br />

No carrea<strong>do</strong>r, o amostra<strong>do</strong>r <strong>de</strong>verá então contar 66 sulcos, a<strong>de</strong>ntran<strong>do</strong> no talhão novamente e prosseguin<strong>do</strong><br />

como anteriormente cita<strong>do</strong>. Desta forma, ao terminar o talhão, ele <strong>de</strong>verá ter coleta<strong>do</strong>, aproxima<strong>da</strong>mente, 2<br />

sub-amostras por hectare. A figura 3 ilustra o caminhamento em um talhão.<br />

60 passos<br />

50m<br />

60 passos<br />

50m<br />

30 passos<br />

25m<br />

33ª linha<br />

66<br />

linhas<br />

66<br />

linhas<br />

Figura 3. Esquema <strong>de</strong> caminhamento<br />

em talhão para coleta <strong>de</strong> amostras (as<br />

estrelas vermelhas representam os<br />

pontos <strong>de</strong> amostragem).<br />

Para coleta <strong>da</strong>s sub-amostras, o amostra<strong>do</strong>r <strong>de</strong>verá caminhar com <strong>do</strong>is bal<strong>de</strong>s e um enxadão. Em ca<strong>da</strong> ponto<br />

<strong>de</strong> amostragem, arranca-se parte <strong>de</strong> uma touceira para coleta <strong>de</strong> raízes. É importante que o arranque <strong>da</strong>s<br />

plantas para a coleta <strong>da</strong>s raízes seja feito com cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, baten<strong>do</strong> o enxadão longe <strong>da</strong> touceira, <strong>de</strong> maneira a<br />

permitir, sempre que possível, a retira<strong>da</strong> <strong>de</strong> raízes longas, pois os nematói<strong>de</strong>s ten<strong>de</strong>m a entrar no sistema<br />

<strong>radicular</strong> pelas pontas <strong>da</strong>s raízes.


A figura 4 mostra uma sequência <strong>de</strong> arranquio <strong>de</strong> touceira, para coleta <strong>de</strong> raízes.<br />

a b<br />

c d<br />

Figura 4. Sequência <strong>de</strong> tarefas para arranquio <strong>de</strong> touceira com enxadão para coleta <strong>de</strong> raízes:<br />

(a) corte <strong>da</strong> parte aérea; (b) e (c) início <strong>do</strong> arranquio <strong>da</strong> touceira; (d) touceira arranca<strong>da</strong> na qual<br />

nota-se o gran<strong>de</strong> comprimento e volume <strong>da</strong>s raízes.<br />

Depois que a touceira é arranca<strong>da</strong>, coleta-se uma parte <strong>da</strong>s raízes (Figura 5) e a armazena em um <strong>do</strong>s<br />

bal<strong>de</strong>s. No outro bal<strong>de</strong>, coloca-se um pequeno punha<strong>do</strong> <strong>de</strong> terra. Prossegue-se <strong>de</strong>ssa forma até coletar<br />

to<strong>da</strong>s as sub-amostras <strong>da</strong> área. Ao final, o solo <strong>de</strong>verá ser homogeneiza<strong>do</strong>, separan<strong>do</strong>-se uma amostra<br />

<strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 500g, enquanto <strong>da</strong>s raízes, homogeneiza<strong>da</strong>s, retira-se uma amostra <strong>de</strong> 50 a<br />

100g. Em segui<strong>da</strong>, parte <strong>da</strong> terra (aproxima<strong>da</strong>mente 250g) é coloca<strong>da</strong> em um saquinho plástico. Sobre<br />

ela, coloca-se a amostra <strong>de</strong> raízes e, em segui<strong>da</strong> o restante <strong>da</strong> terra (250g). Assim, ca<strong>da</strong> amostra será<br />

composta por cerca <strong>de</strong> 50 a 100g <strong>de</strong> raízes e 500g <strong>de</strong> terra. Amostras coleta<strong>da</strong>s corretamente apresentam<br />

gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> raízes vivas e solo levemente úmi<strong>do</strong>, como apresenta<strong>do</strong> na figura 6.<br />

Figura 5. Parte <strong>da</strong>s raízes <strong>de</strong> uma touceira que <strong>de</strong>ve<br />

ser coleta<strong>da</strong> para formar a amostra composta<br />

Figura 6. Raízes e solo em boas<br />

condições para análise nematológica.


O saquinho conten<strong>do</strong> a amostra <strong>de</strong>verá ser fecha<strong>do</strong> e <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> (Figura 7).<br />

Durante o dia, enquanto as amostras são coleta<strong>da</strong>s em campo, aquelas já a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente acondiciona<strong>da</strong>s em<br />

saquinhos plásticos e i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s <strong>de</strong>vem ser manti<strong>da</strong>s em caixa <strong>de</strong> isopor (Figura 8), na sombra, a fim <strong>de</strong><br />

evitar a incidência direta <strong>de</strong> raios solares sobre elas, que po<strong>de</strong>m esquentar a amostra e matar os nematói<strong>de</strong>s<br />

presentes.<br />

Depois <strong>de</strong> coleta<strong>da</strong>s em campo, as amostras po<strong>de</strong>m ser armazena<strong>da</strong>s por breve perío<strong>do</strong> (no máximo 1<br />

semana) até serem envia<strong>da</strong>s ao laboratório para análise. Este armazenamento <strong>de</strong>ve ser feito em local fresco,<br />

<strong>de</strong> preferência com condiciona<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ar, on<strong>de</strong> não recebam luz solar direta (Figura 9). Não é conveniente<br />

armazenar as amostras em gela<strong>de</strong>ira ou em freezer, pois elas ten<strong>de</strong>m a se <strong>de</strong>teriorar muito rapi<strong>da</strong>mente<br />

quan<strong>do</strong> retira<strong>da</strong>s <strong>de</strong>stas condições.<br />

Figura 7. Saquinho com amostra, i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> e<br />

fecha<strong>do</strong>.<br />

Figura 8. Conservação <strong>da</strong>s amostras em campo, durante o<br />

dia <strong>de</strong> trabalho.<br />

Figura 9. Armazenamento <strong>da</strong>s<br />

amostras em galpão, em local fresco,<br />

sem incidência direta <strong>do</strong> sol.<br />

Embora a época i<strong>de</strong>al para coletar as amostras seja o perío<strong>do</strong> chuvoso, <strong>de</strong>ve-se evitar fazê-lo quan<strong>do</strong> o solo<br />

estiver encharca<strong>do</strong>, pois as raízes coleta<strong>da</strong>s nestas condições apodrecem muito rapi<strong>da</strong>mente, como ilustra<strong>do</strong><br />

na figura 10.<br />

Para talhões maiores que 10 ha, é recomendável subdividi-los, para efeitos <strong>de</strong> amostragem, em talhões com<br />

áreas não superiores a 10ha. Nesse caso, para ca<strong>da</strong> parte <strong>do</strong> talhão, faz-se uma amostra composta.<br />

Quan<strong>do</strong> as soqueiras já foram <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>s e as áreas se encontram prepara<strong>da</strong>s para o plantio <strong>da</strong> <strong>cana</strong>, po<strong>de</strong>-se<br />

plantar cerca <strong>de</strong> 10 covas por talhão homogêneo <strong>de</strong> uma varie<strong>da</strong><strong>de</strong> suscetível qualquer, para posterior análise<br />

<strong>da</strong>s raízes <strong>de</strong>ssa varie<strong>da</strong><strong>de</strong>. O plantio <strong>de</strong>sta varie<strong>da</strong><strong>de</strong>, conheci<strong>da</strong> como isca <strong>de</strong> campo, <strong>de</strong>ve ser feito entre<br />

setembro e <strong>de</strong>zembro. Cerca <strong>de</strong> 60 a 90 dias <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> plantio, as raízes e o solo <strong>da</strong> rizosfera <strong>da</strong>s plantas são<br />

coleta<strong>da</strong>s, compon<strong>do</strong> uma amostra, e envia<strong>da</strong>s para análise em laboratório. Desta forma, antes <strong>do</strong> plantio <strong>da</strong><br />

cultura <strong>de</strong>finitiva na área, é possível fazer um diagnóstico seguro <strong>da</strong> ocorrência <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s no local.


0<br />

Figura 10. Amostras <strong>de</strong>teriora<strong>da</strong>s em consequência<br />

<strong>da</strong> coleta com solo encharca<strong>do</strong> ou <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao<br />

armazenamento em más condições.<br />

Algumas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s optam por levar o solo <strong>da</strong> área a ser avalia<strong>da</strong> para um viveiro, acondicionan<strong>do</strong>-o em<br />

vaso, no qual são planta<strong>da</strong>s uma ou duas gemas <strong>de</strong> uma varie<strong>da</strong><strong>de</strong> suscetível. Nessas condições, as plantas<br />

permanecem também por 60 a 90 dias, fin<strong>do</strong>s os quais são arranca<strong>da</strong>s e suas raízes, encaminha<strong>da</strong>s ao laboratório<br />

para análise. O inconveniente <strong>de</strong> se utilizar esse méto<strong>do</strong>, conheci<strong>do</strong> por iscas em vaso ou iscas em viveiro, é<br />

que as populações observa<strong>da</strong>s nessas iscas nem sempre correspon<strong>de</strong>m àquelas obti<strong>da</strong>s em campo.<br />

Algumas espécies, como as <strong>de</strong> Pratylenchus, estabelecem-se muito bem em condições <strong>de</strong> vasos e, não raro,<br />

populações baixas em campo são diagnostica<strong>da</strong>s como muito elevas em condições <strong>de</strong> vaso. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

espécies <strong>de</strong> Meloi<strong>do</strong>gyne não se <strong>de</strong>senvolvem satisfatoriamente em vasos, provavelmente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às oscilações<br />

<strong>de</strong> temperatura e umi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em conseqüência, muitas áreas severamente infesta<strong>da</strong>s por Meloi<strong>do</strong>gyne são<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s pouco infesta<strong>da</strong>s aos e analisar as iscas em vaso. Esses resulta<strong>do</strong>s levam a restringir o uso <strong>do</strong><br />

méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> cultivo <strong>de</strong> <strong>cana</strong>-<strong>de</strong>-<strong>açúcar</strong> em vasos, visan<strong>do</strong> <strong>de</strong>terminar infestações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s. Recomen<strong>da</strong>se<br />

que tal méto<strong>do</strong> seja utiliza<strong>do</strong> somente quan<strong>do</strong> não foi possível proce<strong>de</strong>r às amostragens normais em<br />

campo.<br />

Outro inconveniente <strong>de</strong> utilizar iscas em vaso é que não há uniformi<strong>da</strong><strong>de</strong> nas condições <strong>de</strong> condução <strong>de</strong> tais<br />

iscas, já que o tamanho <strong>do</strong>s vasos, frequência <strong>de</strong> irrigação e insolação são diferentes para ca<strong>da</strong> usina e, tais<br />

fatores interferem no estabelecimento e multiplicação <strong>do</strong>s nematói<strong>de</strong>s. Em certas condições, o tratamento<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong> aos vasos é impróprio para o <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong> <strong>da</strong>s plantas, que, por não emiterem raízes, levam a um<br />

diagnóstico erra<strong>do</strong> <strong>da</strong> situação em campo.<br />

4. INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA ANÁLISE<br />

Após a análise <strong>da</strong> amostra, é necessário interpretar os resulta<strong>do</strong>s, ou seja, <strong>de</strong>finir se as populações encontra<strong>da</strong>s<br />

são prejudiciais à cultura em questão, se estão em nível populacional baixo, médio ou alto. Para isso, é<br />

necessário conhecer as condições <strong>da</strong> área on<strong>de</strong> a amostra foi coleta<strong>da</strong>, já que muitos fatores interferem nas<br />

populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, como visto no item 2 <strong>de</strong>ste capítulo. Assim, para uma correta interpretação <strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s, é imprescindível que a amostra seja acompanha<strong>da</strong> <strong>da</strong>s seguintes informações:<br />

- cultura;<br />

- varie<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />

- estágio (se for <strong>cana</strong>, se <strong>cana</strong> planta ou soca);<br />

- i<strong>da</strong><strong>de</strong> (se for <strong>cana</strong>, meses após o plantio ou corte);<br />

- tipo <strong>de</strong> solo;<br />

- <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> coleta <strong>da</strong> amostra;<br />

- uso <strong>de</strong> nematici<strong>da</strong> na área.


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