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As Cinco Alavancas para Mudança da Unilever - PDF (3.7MB)

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PLANO DE<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

DA UNILEVER<br />

INSPIRANDO UM ESTILO DE VIDA SUSTENTÁVEL<br />

Percepções de especialistas sobre comportamentos do consumidor<br />

<strong>As</strong> <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong><br />

CINCO<br />

ALAVANCAS<br />

PARA<br />

MUDANÇA


<strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> coMportaMental<br />

e sustentabili<strong>da</strong>de<br />

Criar um futuro sustentável deman<strong>da</strong>rá<br />

mu<strong>da</strong>nças de atitude e comportamento<br />

em to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de. Governos e indústrias<br />

terão de mu<strong>da</strong>r, assim como os ci<strong>da</strong>dãos<br />

individualmente.<br />

Nós todos sabemos como é difícil mu<strong>da</strong>r<br />

com base em nossas experiências pessoais<br />

de tentar perder peso ou recuperar a<br />

forma física.<br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> bem-sucedi<strong>da</strong> vem de um<br />

ver<strong>da</strong>deiro entendimento <strong>da</strong>s pessoas,<br />

seus hábitos e suas motivações. Como<br />

uma <strong>da</strong>s empresas líderes em produtos<br />

de consumo do mundo, cujos produtos são<br />

utilizados por dois bilhões de pessoas todos<br />

os dias, a <strong>Unilever</strong> pesquisa constantemente<br />

as atitudes e necessi<strong>da</strong>des de pessoas<br />

do mundo todo. Temos uma longa história<br />

de sustentabili<strong>da</strong>de e de utilização de<br />

marketing e pesquisa de mercado <strong>para</strong><br />

promover mu<strong>da</strong>nças comportamentais.<br />

E, pela primeira vez, resolvemos publicar<br />

nosso próprio modelo <strong>para</strong> promover<br />

mu<strong>da</strong>nças comportamentais de<br />

maneira efetiva.<br />

Chamamos essa abor<strong>da</strong>gem de <strong>Cinco</strong><br />

<strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong>. Constitui uma<br />

ferramenta prática, basea<strong>da</strong> em tudo que<br />

aprendemos durante déca<strong>da</strong>s de pesquisa<br />

e observação. Esperamos que outros a utilizem<br />

<strong>para</strong> li<strong>da</strong>r com os grandes desafios de<br />

sustentabili<strong>da</strong>de que nós<br />

todos enfrentamos.<br />

2<br />

“<strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong><br />

beM-sucedi<strong>da</strong> veM<br />

de uM ver<strong>da</strong>deiro<br />

entendiMento <strong>da</strong>s<br />

pessoas, seus<br />

hábitos e suas<br />

Motivações.”<br />

Na <strong>Unilever</strong>, aprendemos como estimular as<br />

pessoas a lavar as mãos com sabonete nas<br />

horas certas, a lavar suas roupas a temperaturas<br />

baixas e a escovar seus dentes duas vezes ao<br />

dia. Com isso, contribuímos com melhorias<br />

mensuráveis na saúde, higiene e quali<strong>da</strong>de de<br />

vi<strong>da</strong> de milhões de pessoas.<br />

O Plano de Sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong><br />

estabelece metas ambiciosas <strong>para</strong> a próxima<br />

déca<strong>da</strong>. Pretendemos aju<strong>da</strong>r mais de um bilhão<br />

de pessoas a agir no sentido de melhorar sua<br />

saúde; reduzir o impacto ambiental de nossos<br />

produtos pela metade;<br />

e obter 100% de nossas matérias-primas<br />

agrícolas de fontes sustentáveis.<br />

<strong>As</strong> questões estão evoluindo rapi<strong>da</strong>mente.<br />

Com certeza, não temos to<strong>da</strong>s as respostas.


O desafio de viver de maneira sustentável<br />

requer que nós todos trabalhemos juntos e que<br />

sejamos au<strong>da</strong>ciosos e ambiciosos em nossas<br />

expectativas <strong>para</strong> o futuro. É por esse motivo<br />

que convi<strong>da</strong>mos especialistas líderes do mundo<br />

todo <strong>para</strong> contribuir com seus pensamentos<br />

sobre o tema. Eles oferecem algumas<br />

perspectivas fascinantes, além de levantar<br />

alguns desafios complexos.<br />

“o desafio de viver<br />

de Maneira sustentável<br />

requer que nós todos<br />

trabalheMos juntos<br />

e que sejaMos<br />

au<strong>da</strong>ciosos e<br />

aMbiciosos eM<br />

nossas expectativas<br />

<strong>para</strong> o futuro.”<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

Nós acreditamos que indústrias e marcas têm<br />

um papel fun<strong>da</strong>mental na criação de um estilo<br />

de vi<strong>da</strong> sustentável. Marcas são mais<br />

do que simples produtos, incorporam valores<br />

e aspirações. Têm o poder de inspirar e impelir<br />

mu<strong>da</strong>nças. Pensem no que o Pan<strong>da</strong> do<br />

WWF fez <strong>para</strong> promover nosso entendimento<br />

<strong>da</strong> importância <strong>da</strong> natureza, ou no que<br />

Dove fez <strong>para</strong> desafiar estereótipos<br />

enganosos de beleza.<br />

Não será fácil fazer com que viver de maneira<br />

sustentável seja a reali<strong>da</strong>de ao invés de um<br />

mero sonho utópico. Esperamos que nossa<br />

abor<strong>da</strong>gem prática, as <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong>, e as contribuições nesta publicação<br />

inspirem outros a agir.<br />

paul polMan,<br />

presidente, unilever<br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> comportamental e sustentabili<strong>da</strong>de | 3


Índice<br />

4<br />

6<br />

14<br />

18<br />

22<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong><br />

sustentável: as cinco alavancas<br />

<strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> unilever<br />

b. v. pradeep, vice-presidente,<br />

consuMer & Market insight, unilever<br />

paixÃo consuMidora:<br />

por que consuMiMos?<br />

val curtis, escola de higiene e<br />

Medicina tropical de londres<br />

o poder transforMador<br />

dos indivÍduos<br />

helio Mattar, presidente, instituto<br />

akatu <strong>para</strong> o consuMo consciente, brasil<br />

visões e ações <strong>para</strong><br />

estilos de vi<strong>da</strong> sustentáveis<br />

cheryl hicks e Michael kuhndt,<br />

unep/instituto Wuppertal, cscp, aleManha


28<br />

32<br />

36<br />

40<br />

tecnologia É a chave<br />

<strong>para</strong> o futuro<br />

dr. richard l. Wright,<br />

diretor de ciência<br />

coMportaMental, unilever<br />

polÍticos alheios a suas<br />

funções e o poder <strong>da</strong>s Marcas<br />

jonathon porritt, diretor-fun<strong>da</strong>dor,<br />

foruM for the future<br />

governos, eMpurrões<br />

e ciência efetiva<br />

charles abrahaM, escola<br />

penÍnsula de Medicina & odontologia,<br />

universi<strong>da</strong>de de exeter<br />

saindo do vale<br />

<strong>da</strong> Morte<br />

siMon Zadek, conselheiro independente;<br />

professor e pesquisador visitante sênior,<br />

global green groWth institute<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

5


inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong><br />

sustentável: as cinco alavancas<br />

<strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> unilever<br />

b. v. pradeep, vice-presidente, consuMer & Market insight, unilever<br />

Há mais de cem anos, os fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong><br />

<strong>Unilever</strong> enxergaram oportuni<strong>da</strong>des de<br />

negócios por meio do atendimento de<br />

necessi<strong>da</strong>des sociais não preenchi<strong>da</strong>s. William<br />

Lever lançou Lifebuoy, o primeiro sabonete<br />

higiênico do mundo, que exerceu um papel<br />

importante na prevenção de doenças e na<br />

promoção de saúde na<br />

Grã-Bretanha <strong>da</strong> era vitoriana.<br />

Desde então, o marketing<br />

inovador tem sido um<br />

elemento central na<br />

promoção dos benefícios <strong>da</strong>s<br />

marcas <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong> no<br />

atendimento de necessi<strong>da</strong>des<br />

cotidianas, tais como higiene,<br />

alimentação e limpeza.<br />

6<br />

CINCO<br />

ALAVANCAS<br />

PARA<br />

MUDANÇA<br />

Aprendemos que o marketing pode<br />

constituir um grande motivador de mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental.<br />

Por exemplo, a maioria <strong>da</strong>s pessoas tem<br />

sabonete em casa, mas, se elas não o utilizam<br />

de maneira correta (por exemplo, lavar as<br />

mãos antes <strong>da</strong>s refeições, e não apenas<br />

depois), o benefício de reduzir doenças não<br />

será alcançado.<br />

De maneira semelhante, há muitos anos temos<br />

tentado encorajar as pessoas a substituir a<br />

manteiga pela margarina, <strong>para</strong> melhorar sua<br />

saúde do coração, e a escovar os dentes duas<br />

vezes ao dia, <strong>para</strong> se proteger contra cáries.<br />

Durante essa jorna<strong>da</strong>, aprendemos muito<br />

sobre as pessoas, o que as motiva e como<br />

informar e engajá-las.<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong>s <strong>Cinco</strong><br />

<strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong><br />

Alguns anos atrás, integrei uma equipe que<br />

tinha uma missão clara: desenvolver um<br />

conjunto de melhores práticas <strong>para</strong> promover<br />

mu<strong>da</strong>nça comportamental. Buscamos<br />

habili<strong>da</strong>des tanto dentro como fora <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong><br />

– psicólogos e acadêmicos de importantes<br />

universi<strong>da</strong>des; especialistas em higiene;


“há Muitos anos<br />

teMos tentado<br />

encorajar as pessoas<br />

a substituir a Manteiga<br />

pela Margarina...<br />

e a escovar os dentes<br />

duas veZes ao dia.”<br />

e colegas em nossos laboratórios de pesquisa,<br />

departamentos de marketing, além de<br />

indivíduos em contato direto com as pessoas<br />

que cozinham, limpam e lavam com nossos<br />

produtos em todo o mundo.<br />

Desenvolvemos então as <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> – um conjunto de princípios reunidos<br />

em uma abor<strong>da</strong>gem nova que, quando aplica<strong>da</strong><br />

a intervenções de mu<strong>da</strong>nça comportamental,<br />

aumentará a probabili<strong>da</strong>de de se conseguir um<br />

impacto duradouro.<br />

Logo percebemos que essa abor<strong>da</strong>gem poderia<br />

se tornar um elemento essencial <strong>para</strong> o alcance<br />

dos objetivos do recém-lançado Plano de<br />

Sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong>.<br />

O Plano de Sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong><br />

A <strong>Unilever</strong> tem um plano ambicioso de fazer<br />

crescer nosso negócio de maneira que ajude<br />

a melhorar a saúde e o bem-estar, reduzir nosso<br />

impacto ambiental e melhorar as condições<br />

de vi<strong>da</strong> e trabalho <strong>da</strong>s pessoas. Inspirar os<br />

consumidores a adotar novos produtos e<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

comportamentos sustentáveis é uma parte<br />

fun<strong>da</strong>mental desse plano.<br />

Afinal, dois terços dos impactos de gases de<br />

efeito estufa em todo o ciclo de vi<strong>da</strong> de nossos<br />

produtos e aproxima<strong>da</strong>mente a metade de<br />

nossa pega<strong>da</strong> hídrica se associam à utilização<br />

dos produtos pelo consumidor, e não aos<br />

processos de fornecimento de ingredientes<br />

e de produção.<br />

Nosso processo <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong><br />

nos aju<strong>da</strong> a obter os conhecimentos<br />

necessários, seja <strong>para</strong> encorajar consumidores<br />

a usar menos água quando tomam banho ou<br />

<strong>para</strong> lavar as mãos antes <strong>da</strong>s refeições e depois<br />

de usar o banheiro.<br />

<strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong><br />

Como funcionam? O primeiro passo é reavaliar<br />

tudo que sabemos sobre nossos consumidores.<br />

De maneira sistemática, identificamos:<br />

BARREIRAS – quais são as coisas que<br />

impedem que as pessoas adotem um novo<br />

comportamento?<br />

GATILhOS – o que poderíamos fazer <strong>para</strong> que<br />

as pessoas iniciem um novo comportamento?<br />

MOTIVADORES – o que fazer <strong>para</strong> que<br />

mantenham esse novo comportamento?<br />

Em segui<strong>da</strong>, juntamos todos esses<br />

conhecimentos e consideramos como inspirar<br />

a mu<strong>da</strong>nça necessária utilizando ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

<strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong>.<br />

Inspirando um estilo de vi<strong>da</strong> sustentável: <strong>As</strong> <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong> | 7


as cinco alavancas<br />

<strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> unilever<br />

Faça com que seja<br />

entendido<br />

<strong>As</strong> pessoas sabem a respeito do<br />

comportamento?<br />

Acreditam que é relevante <strong>para</strong> elas?<br />

Esta Alavanca eleva a consciência e<br />

encoraja a aceitação.<br />

Muitas pessoas acreditam que, se suas mãos<br />

aparentam estar limpas, então de fato estão<br />

limpas. A demonstração de iluminação de germes<br />

do sabonete Lifebuoy aju<strong>da</strong> crianças na Índia,<br />

Indonésia, Paquistão e Bangladesh a entender<br />

que lavar as mãos só com água não é o suficiente<br />

<strong>para</strong> eliminar germes. Luz ultravioleta mostra os<br />

germes que permanecem em suas mãos quando<br />

lavam apenas com água.<br />

<strong>As</strong> mãos são lava<strong>da</strong>s outra vez com sabonete<br />

e a mesma luz ultravioleta mostra que agora<br />

estão livres de germes.<br />

8<br />

MOTIVADORES<br />

FAÇA COM QUE<br />

SE TORNE UM<br />

HÁBITO<br />

FAÇA COM QUE SEJA<br />

RECOMPENSADOR<br />

BARREIRAS<br />

FAÇA COM QUE SEJA<br />

ENTENDIDO<br />

FAÇA COM QUE SEJA<br />

FÁCIL<br />

FAÇA COM QUE SEJA<br />

DESEJÁVEL<br />

GATILHOS<br />

Faça com que seja<br />

fácil<br />

<strong>As</strong> pessoas sabem o que fazer e se sentem<br />

confiantes em fazer isso?<br />

Faz sentido no contexto de suas vi<strong>da</strong>s?<br />

Esta Alavanca estabelece conveniência<br />

e confiança.<br />

Em muitas partes do mundo, as pessoas lavam<br />

suas roupas à mão. E, tipicamente, há escassez<br />

de água nesses países. O amaciante de roupas<br />

Comfort One Rinse precisa de apenas um balde<br />

de água <strong>para</strong> o enxágue em vez de três. Quando<br />

lançamos o produto no Vietnã,<br />

as pessoas precisavam ver com seus próprios<br />

olhos a conveniência de remover os resíduos de<br />

detergente com apenas um enxágue. Comerciais<br />

de televisão geraram alta consciência do<br />

atributo, mas não foram suficientes <strong>para</strong><br />

estabelecer a confiança dos consumidores.


Eventos com demonstrações ao vivo e amostras<br />

do produto aju<strong>da</strong>ram a convencer consumidores<br />

de que a nova maneira de fazer o enxágue seja o<br />

suficiente <strong>para</strong> remover todos os resíduos e<br />

comprovaram a conveniência do produto em<br />

termos de economia de tempo e de água.<br />

Faça com que seja<br />

desejável<br />

A adoção desse novo comportamento se<br />

adequará à autoimagem real ou aspiracional<br />

do consumidor? Combinará com a maneira<br />

como os consumidores se relacionam ou<br />

querem se relacionar com os outros? Esta<br />

Alavanca trata do eu e a socie<strong>da</strong>de porque os<br />

seres humanos são animais sociais. Temos uma<br />

tendência de imitar os estilos de vi<strong>da</strong> e hábitos<br />

<strong>da</strong>s pessoas a que respeitamos – como nossos<br />

pais ou, às vezes, uma celebri<strong>da</strong>de – e de seguir<br />

as normas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

A mortali<strong>da</strong>de infantil é um problema grave em<br />

alguns países, e muitas vi<strong>da</strong>s poderiam ser salvas<br />

por meio <strong>da</strong> prática simples de lavar as mãos em<br />

momentos-chave ao cui<strong>da</strong>r do bebê recémnascido.<br />

A marca Lifebuoy se comunica com as<br />

mães novatas alavancando a percepção de que<br />

gostam de sentir que são boas mães e querem<br />

que outras pessoas as vejam dessa forma.<br />

Portanto, em sua comunicação, a marca vinculou<br />

a prática de lavar as mãos com sabonete a ser<br />

uma boa mãe, que é um motivador poderoso.<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

Faça com que seja<br />

recoMpensador<br />

<strong>As</strong> pessoas sabem quando estão “acertando” o<br />

comportamento? Recebem algum tipo de<br />

recompensa quando acertam? Esta Alavanca<br />

demonstra a prova e a recompensa.<br />

A principal marca de produtos <strong>para</strong> os cabelos dos<br />

Estados Unidos, Suave, encoraja as mulheres<br />

a desligarem a água enquanto ensaboam os<br />

cabelos ao responder à pergunta importantíssima<br />

“o que é que eu ganho com isso?”. A campanha<br />

<strong>da</strong> marca mostrou como famílias poderiam<br />

economizar até US$ 150 por ano em sua conta<br />

de luz com a redução do uso de água quente,<br />

além de provocar um impacto positivo no<br />

meio ambiente.<br />

Faça com que se torne um<br />

hábito<br />

Depois de as pessoas mu<strong>da</strong>rem seu<br />

comportamento, o que podemos fazer <strong>para</strong><br />

ajudá-las a manter o comportamento novo?<br />

Esta Alavanca trata de reforçar e lembrar.<br />

<strong>As</strong> campanhas de lavagem <strong>da</strong>s mãos do sabonete<br />

Lifebuoy têm uma duração mínima de 21 dias,<br />

com o objetivo de estimular a repetição do<br />

comportamento em situações relevantes todos<br />

os dias. Durante ca<strong>da</strong> dia do programa, crianças<br />

participam de ativi<strong>da</strong>des pensa<strong>da</strong>s <strong>para</strong> transmitir<br />

a mensagem sobre lavagem <strong>da</strong>s mãos de maneira<br />

envolvente e memorável. Gibis, livros, pôsteres,<br />

testes e músicas são utilizados <strong>para</strong> reforçar a<br />

mensagem de que devem lavar as mãos em<br />

momentos específicos. A adesão é medi<strong>da</strong> por<br />

meio de um quadro ao qual são colados adesivos<br />

que, com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mães e dos professores,<br />

auxilia a reforçar o comportamento.<br />

Inspirando um estilo de vi<strong>da</strong> sustentável: <strong>As</strong> <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong> | 9


O processo <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong><br />

oferece uma abor<strong>da</strong>gem coerente <strong>para</strong> se<br />

pensar e pôr em prática mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental. Não é um processo passo a<br />

passo; as <strong>Alavancas</strong> não precisam ser aplica<strong>da</strong>s<br />

em uma determina<strong>da</strong> ordem. Mas o que<br />

aprendemos é que os programas mais eficazes<br />

aplicam to<strong>da</strong>s as <strong>Alavancas</strong> de uma maneira ou<br />

de outra.<br />

Mu<strong>da</strong>r hábitos de higiene oral – um exemplo<br />

na prática<br />

Mais <strong>da</strong> metade <strong>da</strong> população global escova os<br />

dentes apenas uma vez por dia, e não duas,<br />

conforme recomen<strong>da</strong>m os dentistas. Estudos<br />

clínicos mostram que escovar os<br />

dentes duas vezes ao dia<br />

com um creme dental<br />

com flúor pode reduzir<br />

cáries em crianças em<br />

até 50% com<strong>para</strong>do<br />

com uma única<br />

escovação diária.<br />

10<br />

“os prograMas<br />

Mais eficaZes<br />

aplicaM to<strong>da</strong>s<br />

as alavancas<br />

de uMa Maneira<br />

ou de outra.”<br />

No entanto, cáries permanecem sendo<br />

uma <strong>da</strong>s doenças infantis crônicas mais<br />

comuns – a Organização Mundial de Saúde<br />

estima que entre 60 e 90% <strong>da</strong>s crianças em<br />

i<strong>da</strong>de escolar do mundo sofrem de cáries.<br />

Consequentemente, no Plano de<br />

Sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong> estabelecemos<br />

a meta de aju<strong>da</strong>r 50 milhões de pessoas a<br />

mu<strong>da</strong>r seu comportamento no que diz respeito<br />

à escovação. Utilizamos o modelo <strong>Cinco</strong><br />

<strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> a fim de desenvolver<br />

nossa campanha de mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental.<br />

Primeiro, selecionamos nosso público-alvo –<br />

focando em crianças de 4 a 8 anos, a faixa de<br />

i<strong>da</strong>de em que crianças aprendem a escovar os<br />

dentes sozinhas e estabelecem seus hábitos<br />

de higiene oral <strong>para</strong> o restante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Nosso público secundário são os pais e<br />

professores, que têm um papel importante<br />

como modelos e no reforço dos<br />

comportamentos adequados. Identificamos<br />

que atualmente o hábito predominante <strong>da</strong>s<br />

crianças é escovar os dentes apenas uma vez<br />

por dia – de manhã, após o café <strong>da</strong> manhã.


“o processo cinco<br />

alavancas <strong>para</strong><br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> oferece uMa<br />

abor<strong>da</strong>geM coerente<br />

<strong>para</strong> se pensar e pôr<br />

eM prática <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong><br />

coMportaMental.”<br />

Tendo identificado nosso público-alvo e obtido<br />

um entendimento de seu comportamento<br />

atual, conduzimos pesquisas aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>s em<br />

uma gama de mercados <strong>para</strong> aprender mais<br />

sobre o que as crianças e seus pais pensam,<br />

fazem e sentem em relação à saúde oral.<br />

Analisamos as informações existentes <strong>para</strong><br />

obter novas percepções e perspectivas. Nós nos<br />

aprofun<strong>da</strong>mos no mundo <strong>da</strong>s crianças e de seus<br />

pais: assistindo a programas de TV infantis,<br />

participando de suas brincadeiras, lendo<br />

revistas e blogs de pais e conversando<br />

com crianças pequenas e seus pais.<br />

Em segui<strong>da</strong>, conduzimos algumas pesquisas<br />

exploratórias <strong>para</strong> preencher lacunas em<br />

nossos conhecimentos.<br />

Estas aju<strong>da</strong>ram a identificar algumas<br />

percepções essenciais:<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

• Percepções “barreira”, que revelaram que<br />

a falta de entendimento <strong>da</strong> importância de<br />

escovar os dentes à noite cria um bloqueio<br />

significativo contra a escovação duas vezes<br />

ao dia.<br />

• Percepções “gatilho”, que indicam como<br />

motivar as crianças e seus pais a adotar<br />

o hábito<br />

• Percepções “motivadores”, que sugerem<br />

maneiras de garantir que o novo hábito<br />

de escovar duas vezes ao dia seja mantido<br />

e se torne parte estabeleci<strong>da</strong> <strong>da</strong> rotina.<br />

Inspirando um estilo de vi<strong>da</strong> sustentável: <strong>As</strong> <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong> | 11


“nossa Metodologia<br />

auMenta a probabili<strong>da</strong>de<br />

de se desenvolver uM<br />

prograMa de <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong><br />

coMportaMental<br />

beM-sucedido.”<br />

Essas novas percepções ganharam vi<strong>da</strong> no<br />

programa “Pablo and Oliver” <strong>para</strong> nossas<br />

marcas de creme dental Signal e Pepsodent,<br />

que mostra os momentos divertidos que um<br />

pai e seu filho podem compartilhar ao escovar<br />

os dentes juntos à noite.<br />

Utilizamos to<strong>da</strong>s as <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> no programa. Para “fazer com que<br />

fosse entendido” utilizamos mensagens<br />

poderosas como “escovar os dentes duas vezes<br />

ao dia com um creme dental com flúor pode<br />

reduzir cáries em crianças em até 50% em<br />

com<strong>para</strong>ção com uma única escovação por dia”.<br />

Para “fazer com que fosse fácil”, oferecemos<br />

jogos que poderiam ser baixados pela internet<br />

<strong>para</strong> tornar a escovação à noite um hábito<br />

fácil de compartilhar dentro <strong>da</strong> família.<br />

Para “que fosse recompensador”, oferecemos<br />

prêmios <strong>para</strong> quem continuasse com o hábito.<br />

No entanto, o grande avanço veio com nossos<br />

esforços <strong>para</strong> “fazer com que fosse desejável”.<br />

Tivemos a inspiração de criar um papel<br />

marcante <strong>para</strong> o pai na campanha.<br />

Reconhecemos o papel que os pais podem<br />

exercer em transmitir bons hábitos às crianças<br />

e o apelo que isso tem em termos do desejo<br />

do pai de se ver como um bom pai, divertido<br />

e engajado na formação de seu filho.<br />

12<br />

Por último, <strong>para</strong> aju<strong>da</strong>r a tornar a escovação<br />

um hábito, exploramos novas maneiras de criar<br />

uma mu<strong>da</strong>nça comportamental sustenta<strong>da</strong>.<br />

Junto com os quadros com adesivos <strong>para</strong><br />

encorajar as crianças a praticar o novo hábito<br />

no curso de várias semanas, enviamos<br />

lembretes aos pais via celular na hora <strong>da</strong><br />

criança ir <strong>para</strong> a cama.<br />

Os resultados são muito animadores, com um<br />

aumento na frequência de escovação nos países<br />

onde o programa foi implantado. É uma<br />

situação ganha-ganha <strong>para</strong> todos os envolvidos:<br />

a saúde oral <strong>da</strong>s crianças está melhorando e<br />

nosso negócio está crescendo.<br />

O futuro<br />

O <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> é um<br />

processo simples que já obteve alguns êxitos.<br />

Mas não há uma solução mágica <strong>para</strong> mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental.<br />

Nossa metodologia aumenta a probabili<strong>da</strong>de<br />

de se desenvolver um programa de mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental bem-sucedido, mas o<br />

desenvolvimento do programa é apenas a<br />

metade <strong>da</strong> história. A segun<strong>da</strong> metade,<br />

igualmente crítica, requer perseverança.<br />

Um programa de mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

requer investimentos sustentados e<br />

consistentes. Muitas vezes, campanhas<br />

anunciam a necessi<strong>da</strong>de de um novo<br />

comportamento e <strong>para</strong>m por aí. Para surtir<br />

efeito, a mu<strong>da</strong>nça deve começar com a<br />

conscientização e, a partir disso, estabelecer e<br />

depois reforçar o comportamento.<br />

É um processo que vai além <strong>da</strong> duração de uma<br />

campanha, aliás, vai além do tempo que um<br />

executivo de marketing costuma ficar no cargo.<br />

Temos ciência de que, <strong>da</strong> mesma maneira que<br />

as pessoas são complexas, a mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental também é um processo<br />

complexo.


“esperaMos<br />

que outros se<br />

unaM a nós <strong>para</strong> que<br />

possaMos iMpleMentar<br />

<strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong>s abrangentes<br />

e duradouras.”<br />

Nosso entendimento está evoluindo<br />

continuamente. Continuamos trabalhando com<br />

especialistas nesse campo <strong>para</strong> acompanhar a<br />

evolução de pensamentos e práticas na área de<br />

mu<strong>da</strong>nça comportamental. Estamos publicando<br />

nossa abor<strong>da</strong>gem porque acreditamos que<br />

existem benefícios mais abrangentes a<br />

serem desenvolvidos ao compartilharmos<br />

nosso trabalho com outras pessoas.<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

Aprendemos bastante com nossas campanhas<br />

de saúde e higiene e sabemos que existe o<br />

potencial de aplicar essa abor<strong>da</strong>gem no campo<br />

do meio ambiente, aju<strong>da</strong>ndo consumidores a<br />

gastar menos água, emitir menos gases de efeito<br />

estufa e produzir menos resíduos.<br />

O Plano de Sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong><br />

estabelece nossos próprios compromissos<br />

como empresa <strong>para</strong> a próxima déca<strong>da</strong>, e<br />

esperamos que outros se unam a nós <strong>para</strong> que<br />

possamos implementar mu<strong>da</strong>nças abrangentes<br />

e duradouras.<br />

O futuro depende de empresas que produzem os<br />

bens e serviços que a socie<strong>da</strong>de quer, de maneira<br />

que melhore a saúde e o bem-estar <strong>da</strong>s pessoas<br />

sem prejudicar o planeta <strong>para</strong> gerações futuras.<br />

Inspirando um estilo de vi<strong>da</strong> sustentável: <strong>As</strong> <strong>Cinco</strong> <strong>Alavancas</strong> <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong> | 13<br />

CINCO<br />

ALAVANCAS<br />

PARA<br />

MUDANÇA


paixÃo consuMidora:<br />

por que consuMiMos?<br />

val curtis, escola de higiene e Medicina tropical de londres<br />

Por que nós, seres humanos, somos tão<br />

cobiçosos? Gostamos de consumir por quatro<br />

motivos. Primeiro, buscamos atender às nossas<br />

necessi<strong>da</strong>des primárias: de calorias,<br />

micronutrientes, água, abrigo e transporte, por<br />

exemplo. Segundo, o consumo é uma forma de<br />

autoestímulo, <strong>para</strong> termos prazer: bolo, música,<br />

flores e drogas recreativas, etc. pertencem a<br />

essa categoria.<br />

Também consumimos <strong>para</strong> acumular coisas:<br />

possuir e acumular coisas é um reflexo<br />

defensivo antigo e instintivo contra a escassez<br />

que nossos ancestrais sofriam nas savanas <strong>da</strong><br />

época dos primórdios <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

Hoje em dia, esse instinto de possuir e acumular<br />

coisas é expresso com mais frequência em<br />

sapatos, ornamentos e, no meu caso, minha<br />

coleção de sabonetes garimpados em hotéis.<br />

Mas o quarto tipo de consumo, e o mais<br />

economicamente relevante, tem uma função<br />

sinalizadora – é o consumo como exibição.<br />

Como Geoffrey Miller argumenta de maneira<br />

tão eloquente em seu livro Spent, consumimos<br />

<strong>para</strong> ostentar. Jogamos fora o celular antigo e<br />

compramos o modelo mais novo porque, caso<br />

contrário, seríamos vistos como ultrapassados;<br />

usamos as roupas considera<strong>da</strong>s bacanas em<br />

nosso grupo social; compramos produtos<br />

de beleza <strong>para</strong> demonstrar nossa adequação<br />

como exemplo <strong>da</strong> raça humana e <strong>para</strong> atrair<br />

parceiros sexuais em potencial (mesmo que<br />

não estejamos precisando).<br />

14<br />

Dois tipos de consumo<br />

O consumo de bens está aumentando em<br />

nível global, e a maior parte desse aumento<br />

pode ser atribuí<strong>da</strong> a duas de quatro forças.<br />

Uma parte do mundo ain<strong>da</strong> precisa atender<br />

às suas necessi<strong>da</strong>des básicas: de alimentos,<br />

de máquinas de lavar roupas e de banheiros.<br />

Ao mesmo tempo, pessoas do mundo rico<br />

estão gastando loucamente em uma corri<strong>da</strong> de<br />

consumo exibicionista: a cozinha high-tech,<br />

o utilitário esportivo com tração nas quatro<br />

ro<strong>da</strong>s, a viagem de avião <strong>para</strong> aproveitar o final<br />

de semana estendido, o novo celular a ca<strong>da</strong><br />

18 meses, tudo <strong>para</strong> ser melhor do que não só<br />

o vizinho, mas também a elite global, conforme<br />

ela é retrata<strong>da</strong> na TV. É importante se<strong>para</strong>r<br />

essas categorias de consumo.<br />

Os gastos com necessi<strong>da</strong>des básicas<br />

aumentarão inexoravelmente nos mercados<br />

emergentes do mundo e é impensável sugerir<br />

que tal crescimento deve ser reprimido ou de<br />

alguma maneira prevenido. Por exemplo, sem<br />

acesso a máquinas de lavar roupas, dois terços<br />

<strong>da</strong>s mulheres do mundo ain<strong>da</strong> lavam as roupas<br />

à mão, utilizando vasos, bacias e rios.<br />

Como Hans Rosling comenta em sua palestra<br />

clássica “A Máquina de Lavar Mágica”, na TED,<br />

uma organização sem fins lucrativos que<br />

ministra conferências, nem mesmo o<br />

ambientalista mais veemente está disposto a<br />

lavar seu jeans à mão.


Mas esses mesmos ambientalistas não se<br />

acanham em propor que mulheres pobres<br />

abram mão <strong>da</strong> liberação do trabalho árduo<br />

proporciona<strong>da</strong> por essa máquina mágica,<br />

porém consumidora de energia elétrica.<br />

Rosling argumenta que deveríamos nos<br />

preocupar com os padrões de consumo dos<br />

habitantes do mundo rico, que utilizam a maior<br />

parte dos recursos do planeta – principalmente<br />

<strong>para</strong> a finali<strong>da</strong>de de consumo exibicionista.<br />

Se consumismo realmente é um problema <strong>para</strong><br />

o futuro do planeta (e nem todos concor<strong>da</strong>m;<br />

<strong>para</strong> uma visão contrária, veja o The Rational<br />

Optimist, de Matt Ridley), então a questão de<br />

como limitar essa sinalização descontrola<strong>da</strong> e<br />

esbanjadora via produtos é muito urgente.<br />

“consuMiMos<br />

<strong>para</strong> ostentar.<br />

jogaMos fora<br />

o celular antigo<br />

e coMpraMos<br />

o Modelo Mais<br />

novo porque,<br />

caso contrário,<br />

serÍaMos vistos<br />

coMo ultrapassados.”<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

Primeiro precisamos<br />

enxergar a ver<strong>da</strong>deira<br />

natureza do problema.<br />

O sociólogo e economista<br />

Thorstein Veblen ofereceu uma <strong>da</strong>s primeiras<br />

explicações em sua crítica de consumismo<br />

em 1899. Argumentou que o consumo<br />

exibicionista por meio de desperdício ostensivo<br />

é utilizado como uma forma de sinalizar status.<br />

A psicologia evolucionária explica o motivo.<br />

O cérebro do Homo sapiens evoluiu em um<br />

mundo de escassez. Como resultado, somos<br />

programados <strong>para</strong> sempre querer “mais”.<br />

Como isso era a<strong>da</strong>ptativo, nos manteve em<br />

um esforço permanente <strong>para</strong> obter as coisas<br />

necessárias <strong>para</strong> que pudéssemos aumentar<br />

nossa prole naquele passado nebuloso e<br />

distante. Mas também era a<strong>da</strong>ptativo admirar,<br />

imitar, ficar próximo de e querer se acasalar<br />

com aqueles que tivessem “mais”. Exibir seu<br />

sucesso e ter tantas posses que pudessem até<br />

ser desperdiça<strong>da</strong>s faziam com que os outros<br />

quisessem se aliar a você e lhe atribuíssem<br />

status social, confirmando assim sua<br />

“adequação” e gerando cópias genéticas<br />

na próxima geração.<br />

Paixão consumidora: por que consumimos? | 15


O desejo de sinalizar o sucesso e de copiar os<br />

bem-sucedidos constitui, portanto, um fator<br />

inescapável <strong>da</strong> natureza humana que<br />

her<strong>da</strong>mos: são motivações antigas, as vozes de<br />

nossos ancestrais, e não podem ser desfeitas<br />

por simples raciocínio.<br />

Marketing e uma espiral de autodestruição<br />

Os marketeiros, evidentemente, entendem o<br />

poder dessas vozes há muito tempo. Sabem<br />

que conseguem vender xampu e carros<br />

apelando ao sexo e comercializar telefones<br />

celulares como acessórios que conferem<br />

status. Agregar valor de sinalização a marcas<br />

funciona, aju<strong>da</strong> a vender mais produtos, não<br />

importa quão irracional seja esse<br />

comportamento exibicionista em nosso<br />

mundo moderno.<br />

E, evidentemente, quanto maior a distância<br />

entre os ricos e os pobres, maior a motivação<br />

<strong>da</strong>queles com menos <strong>para</strong> alcançar os que<br />

estão bem de vi<strong>da</strong>. Quanto mais ricos se<br />

tornam os países ricos, quanto mais os ricos<br />

nos mercados emergentes se distanciam dos<br />

pobres, quanto mais os megarricos<br />

mostram seus brinquedos via mídia<br />

global, mais cresce a necessi<strong>da</strong>de inata de<br />

sinalizar <strong>para</strong> o mundo que a gente não<br />

é “um fracasso”. Como resultado, ca<strong>da</strong><br />

vez mais, os consumidores ao redor do<br />

mundo gastam freneticamente em<br />

um esforço <strong>para</strong> sinalizar que eles<br />

também merecem atenção, status e<br />

uma oportuni<strong>da</strong>de de acasalamento.<br />

Esse é um processo inevitável e<br />

cumulativo destinado a levar a humani<strong>da</strong>de<br />

à autodestruição?<br />

Apelos <strong>para</strong> abrir mão de nossas posses<br />

com certeza não irão estancar o processo.<br />

16<br />

Na peça Dr. Fausto, de Christopher Marlowe,<br />

Mefisto tenta convencer Fausto que, <strong>para</strong> o<br />

bem de sua própria alma, ele deveria:<br />

“Fazer a mala<br />

e retornar à terra e<br />

lá começar a cavar e fuçar;<br />

Ater-se ao cultivo <strong>da</strong><br />

abóbora redon<strong>da</strong>;<br />

confinar sua mente;<br />

E viver de ração simples,<br />

uma besta entre as abelhas;<br />

e não se esquecer de<br />

utilizar seu próprio estrume<br />

nas culturas que planta!”<br />

-Marlowe, 1604<br />

Nenhuma quantia de retórica romântica sobre<br />

o meio ambiente nos induzirá, como espécie,<br />

a abrir mão <strong>da</strong>s enormes melhorias nas<br />

condições de vi<strong>da</strong> trazi<strong>da</strong>s pela industrialização.<br />

E não há dúvi<strong>da</strong> de que nosso atual sistema de<br />

mercado globalizado permitirá a disseminação<br />

continua<strong>da</strong> desses benefícios. Inevitavelmente<br />

isso significará mais consumo.<br />

Portanto, como enfrentaremos o<br />

desafio de limitar o consumo ostensivo<br />

e esbanjador?<br />

Motivações, recompensas e o futuro<br />

Uma maneira de fazer uma<br />

reengenharia do comportamento<br />

humano seria mu<strong>da</strong>r o que é<br />

conhecido como a estrutura de<br />

recompensa motivacional. Sistemas<br />

fiscais poderiam ser reestruturados<br />

<strong>para</strong> incorporar finali<strong>da</strong>des sociais.<br />

Uma possibili<strong>da</strong>de seria introduzir<br />

impostos sobre compras, fazendo<br />

uma distinção entre necessi<strong>da</strong>des


ásicas e consumo exibiconista. Seria<br />

altamente controverso, haveria a necessi<strong>da</strong>de<br />

de pesquisas cui<strong>da</strong>dosas e muito debate entre<br />

ci<strong>da</strong>dãos <strong>para</strong> determinar como distinguir<br />

entre o que é e o que não é exibiconista.<br />

Outra maneira de mu<strong>da</strong>r a estrutura de<br />

recompensa motivacional seria incorporar ao<br />

comportamento-alvo uma nova motivação: é<br />

possível fazer com que comportamento de<br />

consumo exibiconista seja visto com <strong>para</strong>sítico<br />

e, portanto, repugnante? É possível fazer com<br />

que pareça ridículo, embaraçoso, vergonhoso?<br />

Algumas iniciativas neste sentido têm partido<br />

do lobby ambientalista, sugerindo que talvez<br />

seja uma possibili<strong>da</strong>de. Seria possível conduzir<br />

pesquisas <strong>para</strong> sublinhar a loucura de nosso<br />

comportamento de consumo, a falta de lógica<br />

em nossa sinalização frenética – sinais que<br />

poucos captam – e a insani<strong>da</strong>de de sinalizar<br />

atrativi<strong>da</strong>de sexual quando se está bem casado<br />

ou quando já se passou <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de reprodutiva.<br />

Poderemos expor nossas motivações<br />

desconjunta<strong>da</strong>s de homem <strong>da</strong>s cavernas como<br />

ridículas, <strong>da</strong>nosas e repugnantes no contexto<br />

do mundo moderno.<br />

Contudo, não fica claro como campanhas <strong>para</strong><br />

mu<strong>da</strong>r atitudes públicas seriam financia<strong>da</strong>s.<br />

A maioria dos recursos empregados <strong>para</strong><br />

influenciar o comportamento de consumo<br />

humano hoje opera no sentido oposto: as<br />

verbas globais de marketing nos motivam a<br />

gastar de maneira ambientalmente incorreta.<br />

Algumas empresas grandes, evidentemente,<br />

têm interesse em continuar a vender a maior<br />

quanti<strong>da</strong>de possível de produtos; tentar<br />

restringir o consumo exibiconista não faz parte<br />

de seus interesses de curto prazo.<br />

No entanto, algumas <strong>da</strong>s empresas mais<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

“consuMidores<br />

ao redor do Mundo<br />

gastaM freneticaMente<br />

eM uM esforço <strong>para</strong><br />

sinaliZar que eles<br />

taMbÉM MereceM<br />

atençÃo, status e<br />

uMa oportuni<strong>da</strong>de<br />

de acasalaMento.”<br />

ilumina<strong>da</strong>s, aquelas que se mantêm à frente<br />

<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças sociais, ou até as lideram,<br />

podem obter vantagens como inovadoras,<br />

uma chance de demonstrar sua ascendência<br />

moral, uma chance de ganhar a confiança dos<br />

consumidores <strong>para</strong> com suas marcas porque<br />

são associa<strong>da</strong>s a melhorias ao planeta.<br />

Podem inovar com a produção de bens que<br />

são pequenos, leves, duráveis, com processos<br />

produtivos e embalagens eficientes: e podem<br />

comercializar esses produtos como sinais de<br />

bom gosto e status. Podem financiar pesquisas<br />

sobre o consumo exibiconista e até fazer<br />

campanhas contra esse tipo de desperdício.<br />

<strong>As</strong> empresas que ganharem a ascendência<br />

moral primeiro terão o direito de atirar nas<br />

outras mais abaixo, podendo se juntar a uma<br />

tendência crescente que estigmatize ao invés<br />

de bajular e louvar o consumo exibiconista.<br />

Paixão consumidora: por que consumimos? | 17


o poder transforMador<br />

dos indivÍduos<br />

helio Mattar, presidente, instituto akatu <strong>para</strong> o consuMo consciente, brasil<br />

Aproxima<strong>da</strong>mente 16% <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de<br />

responde por 78% de todo o consumo.<br />

Em <strong>para</strong>lelo, os atuais níveis de consumo<br />

exigem 50% mais recursos naturais<br />

renováveis do que a Terra consegue suprir.<br />

Isso quer dizer que a proporção <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de<br />

que atualmente define o padrão dominante de<br />

consumo – mesmo sendo relativamente<br />

pequena – já está levando a uma situação em<br />

que a Terra não pode mais suprir ar limpo,<br />

água potável, terra saudável e arável e uma<br />

absorção completa dos resíduos gerados pela<br />

produção e pelo consumo. Em outras palavras,<br />

simplesmente não há oferta dos serviços<br />

ambientais deman<strong>da</strong>dos pelo planeta.<br />

Se to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de fosse consumir<br />

recursos na mesma proporção que os 16%<br />

dos habitantes mais ricos do planeta, cinco<br />

Terras não seriam suficientes <strong>para</strong> suprir<br />

todos os recursos necessários. Portanto,<br />

se faz necessário um novo padrão de consumo,<br />

um que permita o bem-estar de to<strong>da</strong> a<br />

humani<strong>da</strong>de e, ao mesmo tempo, que<br />

respeite os limites inerentes dos recursos<br />

naturais do planeta em que nós todos<br />

vivemos.<br />

18<br />

De maneira geral, a tendência é pensar que,<br />

<strong>para</strong> que isso aconteça, é necessário reduzir o<br />

bem-estar proporcionado pelo atual modelo de<br />

consumo. Não é o caso. Um simples exemplo<br />

pode aju<strong>da</strong>r a explicar: se um único indivíduo


“o consuMo<br />

pode ser utiliZado<br />

coMo uMa<br />

ferraMenta<br />

poderosa <strong>para</strong><br />

transforMar<br />

o Mundo.”<br />

escova seus dentes três vezes ao dia utilizando<br />

apenas um copo de água em vez de deixar a<br />

torneira aberta durante os dois minutos que a<br />

ativi<strong>da</strong>de requer, a água economiza<strong>da</strong> durante<br />

os 70 anos de sua vi<strong>da</strong> seria equivalente a três<br />

quartos do volume de água em uma piscina<br />

olímpica.<br />

O poder de agir juntos<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

Esse exemplo considera apenas um pequeno<br />

gesto, o de fechar a torneira enquanto se<br />

escovam os dentes, e <strong>para</strong> apenas um único<br />

indivíduo. Você pode imaginar as economias<br />

se uma família, uma comuni<strong>da</strong>de, uma nação<br />

adotassem o mesmo comportamento?<br />

Ou quando consideramos outras ativi<strong>da</strong>des que<br />

envolvem o consumo de água, como tomar<br />

banho; lavar a louça, as roupas, o chão, o carro;<br />

além de cozinhar. Esse exemplo demonstra<br />

claramente de onde vem a abor<strong>da</strong>gem<br />

“pequenas ações, grande diferença” <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong>.<br />

No Brasil, esse mesmo slogan foi traduzido<br />

<strong>para</strong> o português como “ca<strong>da</strong> gesto conta”,<br />

que exprime o mesmo conceito.<br />

Por esse motivo, o consumo pode ser utilizado<br />

como uma ferramenta poderosa <strong>para</strong><br />

transformar o mundo.<br />

O poder transformador dos indivíduos | 19


Para que isso aconteça, o indivíduo deveria<br />

ter consciência do impacto de ca<strong>da</strong> ato de<br />

consumo no meio ambiente e na socie<strong>da</strong>de,<br />

e tentar reduzir seus impactos negativos e<br />

aumentar os positivos.<br />

Isso pode acontecer por meio de uma mu<strong>da</strong>nça<br />

no comportamento do consumidor ou por<br />

meio de uma mu<strong>da</strong>nça nos produtos que as<br />

empresas oferecem aos consumidores, <strong>para</strong><br />

que tenham um impacto negativo menor no<br />

meio ambiente. Um bom exemplo são os<br />

produtos projetados <strong>para</strong> utilizar menos<br />

energia, como os produtos de lavanderia <strong>da</strong><br />

<strong>Unilever</strong>.<br />

É importante lembrar que nenhum produto<br />

pode ser fabricado ou utilizado sem a extração<br />

de recursos naturais <strong>da</strong> crosta <strong>da</strong> Terra e sem o<br />

uso de água e energia. Esses itens estão<br />

presentes na produção e no uso dos produtos,<br />

mesmo quando o consumidor não percebe sua<br />

presença de maneira explícita.<br />

Consequentemente, os consumidores podem<br />

fazer uma enorme contribuição <strong>para</strong> a<br />

sustentabili<strong>da</strong>de atual e<br />

futura de vi<strong>da</strong> em nosso<br />

planeta ao escolher de quais<br />

empresas comprar<br />

20<br />

produtos, <strong>da</strong>ndo preferência àquelas que<br />

adotam uma postura mais amigável ao meio<br />

ambiente e à socie<strong>da</strong>de.<br />

Podem e devem escolher produtos que são<br />

produzidos, e que podem ser utilizados e<br />

descartados, de acordo com os melhores<br />

padrões possíveis do ponto de vista<br />

ambiental e social.<br />

A oportuni<strong>da</strong>de à frente<br />

É importante frisar que não estamos nos<br />

referindo aos riscos futuros e sim às<br />

oportuni<strong>da</strong>des que ca<strong>da</strong> consumidor tem <strong>para</strong><br />

contribuir com a redução dos riscos atuais e<br />

futuros de insustentabili<strong>da</strong>de. Contudo, o<br />

problema é de tamanha magnitude que seria<br />

otimista demais esperar uma solução de um<br />

único agente social, seja o governo,<br />

organizações multilaterais, corporações ou a<br />

socie<strong>da</strong>de civil. Necessitamos de um processo<br />

que engaje to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de, a começar<br />

pelas ações de ca<strong>da</strong> indivíduo. E isso deve se<br />

refletir nas condições facilitadoras forneci<strong>da</strong>s<br />

por governos nacionais, corporações e<br />

organizações multilaterais <strong>para</strong> que as<br />

mu<strong>da</strong>nças sejam implementa<strong>da</strong>s com a escala<br />

e veloci<strong>da</strong>de necessárias, a fim de que possam<br />

contribuir, a tempo, <strong>para</strong> a reversão do atual<br />

padrão de insustentabili<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> na Terra.<br />

Mas reitero: o processo se inicia no nível do<br />

indivíduo, baseado no entendimento de que<br />

pequenas ações levarão a grandes mu<strong>da</strong>nças.<br />

Para demonstrar que indivíduos têm uma<br />

enorme oportuni<strong>da</strong>de <strong>para</strong> contribuir, ofereço<br />

mais dois exemplos.


Um único ci<strong>da</strong>dão britânico ou americano joga<br />

fora, todos os dias, 1,3 kg de resíduos.<br />

No decorrer de 75 anos – a expectativa de vi<strong>da</strong><br />

aproxima<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> um desses ci<strong>da</strong>dãos – o<br />

montante total descartado por ca<strong>da</strong> indivíduo<br />

soma 36 tonela<strong>da</strong>s. Se tomarmos seis famílias,<br />

ca<strong>da</strong> uma com dois filhos, o volume de resíduos<br />

descartados durantes suas vi<strong>da</strong>s (presumindo<br />

que ca<strong>da</strong> pessoa vive 75 anos) ocuparia 271.000<br />

torres do tamanho do Big Ben em Londres.<br />

Evidentemente, quanto mais os indivíduos<br />

reduzem o volume de resíduos que produzem,<br />

menor o custo de coleta, permitindo que<br />

governos invistam em questões mais<br />

importantes do que coleta de lixo.<br />

E um exemplo final: um americano consome,<br />

em média, 350 g de carne bovina por dia. Para<br />

produzir essa quantia de carne, são necessários<br />

5.300 litros de água.<br />

Consequentemente, durante 75 anos – a<br />

expectativa de vi<strong>da</strong> do americano médio – um<br />

volume de água equivalente a quase 60 piscinas<br />

olímpicas é necessário <strong>para</strong> produzir a carne<br />

que o indivíduo come. É muita água <strong>para</strong><br />

alimentar uma única pessoa.<br />

Naturalmente, quanto mais as pessoas<br />

reduzem o volume de carne bovina que comem,<br />

ou a substituem por frango, menos água será<br />

consumi<strong>da</strong> e mais estará disponível <strong>para</strong> outras<br />

finali<strong>da</strong>des. A água é um recurso precioso, que<br />

está em falta entre grandes grupos de pessoas<br />

e em muitas regiões do planeta.<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

“ca<strong>da</strong> indivÍduo<br />

pode Multiplicar<br />

o iMpacto positivo<br />

de suas ações<br />

pelo núMero<br />

de pessoas que<br />

consegue MobiliZar<br />

<strong>para</strong> agir<br />

no MesMo sentido.”<br />

Ao relatar esses exemplos <strong>para</strong> familiares e<br />

amigos, e ao mobilizá-los a escolher produtos<br />

mais adequados e utilizá-los de maneira mais<br />

sustentável, ca<strong>da</strong> indivíduo pode multiplicar o<br />

impacto positivo de suas ações pelo número<br />

de pessoas que consegue mobilizar <strong>para</strong> agir<br />

no mesmo sentido. Temos de começar hoje.<br />

O poder transformador dos indivíduos | 21


visões e ações <strong>para</strong><br />

estilos de vi<strong>da</strong> sustentáveis<br />

cheryl hicks e Michael kuhndt, unep/instituto Wuppertal, cscp, aleManha<br />

Se você tivesse de viver sua vi<strong>da</strong> de maneira<br />

mais sustentável neste final de semana, o que<br />

faria? Responder a essa pergunta subentende<br />

que você tem uma boa noção do significado<br />

de sustentabili<strong>da</strong>de, que sabe o que é<br />

insustentável em seus hábitos atuais e que<br />

já está interessado em buscar novas opções<br />

<strong>para</strong> tornar sua vi<strong>da</strong> mais sustentável.<br />

“Ter tudo”, isto é, satisfazer to<strong>da</strong>s as nossas<br />

necessi<strong>da</strong>des e desejos com o mínimo impacto<br />

ambiental e social, irá implicar em ter um<br />

entendimento mais profundo dessas<br />

necessi<strong>da</strong>des e desejos e <strong>da</strong>s barreiras que<br />

impedem sua realização.<br />

Essas questões estão no cerne de uma pesquisa<br />

atual: SPREAD Sustainable Lifestyles 2050. O<br />

estudo está explorando o significado de viver a<br />

vi<strong>da</strong> de maneira mais sustentável, as mu<strong>da</strong>nças<br />

que serão necessárias e <strong>para</strong> quem, as opções<br />

que poderão ser cria<strong>da</strong>s <strong>para</strong> que possamos<br />

satisfazer necessi<strong>da</strong>des e desejos individuais<br />

diferentes, e as práticas sustentáveis em termos<br />

de estilo de vi<strong>da</strong> que já estão em evidência.<br />

22<br />

O que é insustentável<br />

na maneira como vivemos?<br />

No último século, uma economia moderna<br />

proporcionou riqueza notável e padrões de vi<strong>da</strong><br />

mais elevados <strong>para</strong> centenas de milhões de<br />

pessoas ao redor do mundo. Mas o crescimento<br />

econômico por trás dessa geração de riqueza<br />

tem imposto custos perigosos ao meio<br />

ambiente, ao passo que , em <strong>para</strong>lelo, bilhões<br />

de outras pessoas nutrem a aspiração de<br />

alcançar os mesmos altos padrões de vi<strong>da</strong>.<br />

De acordo com a Global Footprint Network, a<br />

humani<strong>da</strong>de hoje está simplesmente exigindo<br />

mais recursos do que a Terra tem <strong>para</strong> suprir<br />

– cinco planetas se você mora nos Estados<br />

Unidos – e, evidentemente, só temos um. Este<br />

século se iniciou com uma “grande<br />

convergência” de padrões de vi<strong>da</strong> à medi<strong>da</strong><br />

que os países mais pobres rapi<strong>da</strong>mente adotam<br />

tecnologias, conhecimentos e políticas que<br />

tornaram o Ocidente rico. A China e a Índia são<br />

os maiores e os mais rápidos entre esses países<br />

aspirantes, mas o boom dos mercados<br />

emergentes já se espalhou, abraçando a<br />

América Latina e a África também.


“eM nÍvel global,<br />

a sustentabili<strong>da</strong>de<br />

ain<strong>da</strong> É vista<br />

predoMinanteMente<br />

coMo uM beM que<br />

requer alguM tipo<br />

de contraparti<strong>da</strong>.”<br />

A maneira como nos alimentamos e vivemos<br />

em nossos lares, o que compramos,<br />

consumimos e desperdiçamos, e como nos<br />

deslocamos respondem por impactos<br />

significativos. De acordo com a Agência<br />

Ambiental Europeia, alimentação é um dos<br />

maiores (20 a 30% de nossos impactos de<br />

consumo doméstico). Carne e laticínios<br />

respondem por 24% de todos os impactos de<br />

consumo de alimentos <strong>da</strong> Europa. O consumo<br />

em excesso de peixe está levando à exaustão de<br />

alguns estoques pesqueiros e ao colapso de<br />

indústrias de pesca.<br />

O aumento nas importações de alimentos<br />

exóticos e fora de época está associado a altos<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

níveis de processamento e utilização de energia,<br />

tanto na produção como no uso. A energia<br />

utiliza<strong>da</strong> <strong>para</strong> aquecer nossos lares (67% do<br />

consumo doméstico de energia na União<br />

Europeia) e a água que utilizamos, junto com<br />

nossos eletrodomésticos e eletroeletrônicos,<br />

respondem por aproxima<strong>da</strong>mente<br />

40% de to<strong>da</strong> a energia consumi<strong>da</strong>. O aumento<br />

na extração de recursos naturais e matériasprimas<br />

(como produtos de madeira, metais e<br />

diamantes) utilizados <strong>para</strong> fabricar volumes<br />

crescentes de produtos domésticos e produtos<br />

de consumo, junto com níveis crescentes de<br />

resíduos domésticos, e o impacto do transporte<br />

desses bens ao redor do mundo significam que<br />

produtos de consumo sozinhos respondem por<br />

14% <strong>da</strong> pega<strong>da</strong> do ci<strong>da</strong>dão médio no Reino<br />

Unido. Os estilos de vi<strong>da</strong> atuais também estão<br />

levando a impactos significativos na saúde<br />

humana, com o crescimento de obesi<strong>da</strong>de,<br />

doenças do coração e câncer.<br />

Visões de vi<strong>da</strong> sustentável em todo o mundo<br />

Universalmente, as pessoas querem melhorar<br />

de vi<strong>da</strong>. Mas o que está certo <strong>para</strong> todo mundo,<br />

em todos os lugares? Estudos recentes<br />

mostram que nossas visões de sustentabili<strong>da</strong>de,<br />

nossas ideias sobre estilos de vi<strong>da</strong> sustentáveis<br />

e os futuros aos quais aspiramos são diferentes<br />

ao redor do mundo.<br />

Em nível global, a sustentabili<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> é vista<br />

predominantemente como um bem que requer<br />

algum tipo de contraparti<strong>da</strong>. <strong>As</strong>sim, há o risco<br />

de as pessoas se sentirem aliena<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ideia de<br />

sustentabili<strong>da</strong>de, sem nenhum senso real de<br />

responsabili<strong>da</strong>de ou poder <strong>para</strong> implementar<br />

mu<strong>da</strong>nças.<br />

Visões e ações <strong>para</strong> estilos de vi<strong>da</strong> sustentáveis | 23


24<br />

“precisaMos faZer<br />

coM que as opções<br />

de estilos de vi<strong>da</strong><br />

sustentáveis<br />

sejaM fáceis.”<br />

Para os ocidentais, a sustentabili<strong>da</strong>de tende a<br />

significar alguma variação do tema “viver com o<br />

mínimo impacto na Terra”. Isso pode incluir<br />

minimizar a utilização de recursos não<br />

renováveis, adequar suas compras em termos<br />

de suas reais necessi<strong>da</strong>des, e pensar em como<br />

seriam descarta<strong>da</strong>s e recicla<strong>da</strong>s. A visão<br />

latino-americana tende a atribuir mais<br />

importância a aspectos de comuni<strong>da</strong>de e<br />

desenvolvimento social.<br />

A visão asiática tende a priorizar a<br />

sustentabili<strong>da</strong>de econômica junto com a<br />

viabilização do desenvolvimento econômico<br />

nacional. Por exemplo, a Switch <strong>As</strong>ia Network<br />

Facility, que promove produção e consumo<br />

sustentáveis na Ásia, identifica que estilos de<br />

vi<strong>da</strong> na Ásia são ca<strong>da</strong> vez mais influenciados<br />

pelos padrões crescentes de consumo de sua<br />

classe média ca<strong>da</strong> vez maior. Segundo<br />

projeções, a Ásia estará à frente do consumo<br />

mundial até o ano de 2030, com gastos de<br />

consumo projetados em US$ 32 trilhões,<br />

respondendo por aproxima<strong>da</strong>mente 42% do<br />

consumo mundial.<br />

Uma pesquisa global sobre as visões de<br />

jovens adultos a respeito de estilos de vi<strong>da</strong><br />

sustentáveis foi publica<strong>da</strong> pelo Programa<br />

<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o Meio Ambiente<br />

(PNUMA) em 2011. De acordo com esse<br />

estudo, muito poucos jovens citaram sonhos<br />

de uma vi<strong>da</strong> de luxo cerca<strong>da</strong> por confortos<br />

materiais ilimitados. Esses jovens adultos<br />

esboçaram visões otimistas <strong>para</strong> suas vi<strong>da</strong>s no<br />

futuro que incluíram: a capaci<strong>da</strong>de de satisfazer<br />

as próprias necessi<strong>da</strong>des e alcançar um padrão<br />

de vi<strong>da</strong> de classe média, um emprego<br />

gratificante que proporcione um senso de<br />

autorrealização, uma vi<strong>da</strong> familiar e social<br />

bem-sucedi<strong>da</strong> e um meio ambiente limpo. De<br />

maneira importante, os jovens adultos buscam<br />

segurança: financeira, social, ambiental e<br />

pessoal.<br />

O que será necessário <strong>para</strong> que possamos<br />

alcançar os estilos de vi<strong>da</strong> que queremos,<br />

de maneira mais sustentável?<br />

A população mundial não mu<strong>da</strong>rá seus<br />

comportamentos ou estilos de vi<strong>da</strong> de maneira<br />

homogênea. Ca<strong>da</strong> pessoa tem necessi<strong>da</strong>des,<br />

desejos, hábitos e um legado cultural<br />

diferentes, que busca satisfazer em seu<br />

dia a dia. Especialistas em comportamento e<br />

segmentação de consumidores agrupam as<br />

pessoas de acordo com semelhanças em<br />

termos de fatores motivadores, influenciadores<br />

e gatilhos de comportamento e ação. Em<br />

relação à sustentabili<strong>da</strong>de, estudos mostraram<br />

que nosso senso de poder implantar mu<strong>da</strong>nças<br />

e nossa capaci<strong>da</strong>de de postergar gratificação<br />

pessoal impelem muitos comportamentos e<br />

decisões na vi<strong>da</strong> diária. Por exemplo, estudos<br />

de segmentação de consumidores mostram<br />

que aproxima<strong>da</strong>mente 1 a 2% <strong>da</strong>s pessoas


serão líderes na socie<strong>da</strong>de, sentindo-se capazes<br />

de implementar mu<strong>da</strong>nças e promover suas<br />

crenças ao mesmo tempo em que postergam<br />

ganho ou gratificação pessoal <strong>para</strong> o bem<br />

maior; cerca de 7 a 8% <strong>da</strong>s pessoas farão isso<br />

apenas se beneficiar sua própria família ou<br />

comuni<strong>da</strong>de e fizer uma diferença em suas<br />

vi<strong>da</strong>s; cerca de 10% <strong>da</strong> população se sente<br />

completamente alheia em relação à corrente<br />

majoritária <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e sente que suas ações<br />

não terão nenhum impacto; ao passo que a<br />

maioria, aproxima<strong>da</strong>mente 70 a 80% <strong>da</strong>s<br />

pessoas, é impulsiona<strong>da</strong> pela necessi<strong>da</strong>de de<br />

gratificação pessoal instantânea, e sente-se<br />

livre <strong>para</strong> fazer mu<strong>da</strong>nças em prol de seus<br />

próprios interesses, sem nenhum compromisso<br />

com os outros.<br />

Qual o significado e como poderemos utilizar<br />

essas informações <strong>para</strong> desenvolver estilos de<br />

vi<strong>da</strong> mais sustentáveis?<br />

Esses estudos sugerem que apenas um<br />

pequeno número de pessoas estará disposto a<br />

alterar seu comportamento ou estilo de vi<strong>da</strong><br />

somente <strong>para</strong> proteger o meio ambiente.<br />

Mesmo quando bem-estar e o poder de agir<br />

são vistos como fun<strong>da</strong>mentos <strong>para</strong> um futuro<br />

ideal, a sustentabili<strong>da</strong>de não é considera<strong>da</strong><br />

espontaneamente um fator de progresso – os<br />

benefícios não são claros.<br />

O que isso nos diz é que informações não<br />

bastam; precisamos fazer com que as opções<br />

de estilos de vi<strong>da</strong> sustentáveis sejam fáceis.<br />

Em seu recém-publicado livro Nudge: o<br />

empurrão <strong>para</strong> a escolha certa (2008), Richard<br />

Thaler e Cass Sunstein dizem que todos os<br />

dias tomamos decisões sobre a maneira como<br />

vivemos, mas infelizmente, muitas vezes,<br />

nossas escolhas são equivoca<strong>da</strong>s.<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

Nossos erros nos deixam mais pobres e menos<br />

saudáveis, e provocam um impacto negativo<br />

no planeta. Sabendo como as pessoas pensam,<br />

podemos desenhar ambientes de escolha que<br />

façam com que seja mais fácil <strong>para</strong> as pessoas<br />

escolherem o que é melhor <strong>para</strong> elas, suas<br />

famílias e a socie<strong>da</strong>de.<br />

Por exemplo, informações imediatas sobre o<br />

que as pessoas estão comprando são<br />

importantes, mas não revelam os motivos por<br />

trás de tais compras, nem o que aju<strong>da</strong>ria as<br />

pessoas a mu<strong>da</strong>r seus hábitos de consumo ou<br />

estilos de vi<strong>da</strong> que criam impactos negativos.<br />

Portanto, precisamos entender o significado de<br />

comportamentos (e <strong>da</strong>s escolhas de estilo de<br />

vi<strong>da</strong>) atuais e as necessi<strong>da</strong>des que preenchem.<br />

<strong>As</strong>sim, com essas informações poderíamos<br />

desenvolver opções diferentes e maneiras mais<br />

sustentáveis de satisfazer essas necessi<strong>da</strong>des.<br />

Visões e ações <strong>para</strong> estilos de vi<strong>da</strong> sustentáveis | 25


Aprendemos várias coisas importantes sobre<br />

como motivar a mu<strong>da</strong>nça de comportamento.<br />

Seguem algumas amostras de nossos trabalhos<br />

recentes com a empresa de inovação social<br />

Collective Invention:<br />

<strong>As</strong> mu<strong>da</strong>nças propostas precisam atender às<br />

necessi<strong>da</strong>des dos indivíduos. Se a maneira<br />

como vivemos está foca<strong>da</strong> em prazer e status,<br />

produtos e serviços novos só serão adotados<br />

se ao menos mantiverem e, idealmente,<br />

aumentarem nosso prazer. Uma diminuição<br />

de desempenho ou status percebi<strong>da</strong> não<br />

será aceita.<br />

Os comportamentos antigos precisam ser<br />

desaprendidos. A introdução paulatina de<br />

um novo produto ou serviço que aten<strong>da</strong> a<br />

uma mesma necessi<strong>da</strong>de facilitaria a<br />

aprendizagem de novos comportamentos<br />

de maneira não crítica e a redução gra<strong>da</strong>tiva<br />

de comportamentos antigos. Por esse<br />

motivo, dirigir um carro híbrido será mais<br />

fácil <strong>para</strong> a maioria dos consumidores do<br />

que an<strong>da</strong>r de bicicleta ou utilizar<br />

transporte coletivo.<br />

Feedback instantâneo e reforço positivo<br />

são críticos. Feedback e reforços aju<strong>da</strong>m as<br />

pessoas a vincular as mu<strong>da</strong>nças às coisas<br />

que são importantes <strong>para</strong> elas. Um medidor<br />

inteligente que mostra o consumo diário de<br />

energia em sua casa é um exemplo de uma<br />

maneira de ver a redução em sua utilização<br />

de energia em tempo real. Ver o consumo de<br />

energia em sua casa em com<strong>para</strong>ção com o<br />

de seus vizinhos e descobrir que você consome<br />

mais também tenderá a motivar uma<br />

mu<strong>da</strong>nça de comportamento.<br />

26<br />

Entender como as pessoas pensam e o<br />

que as motiva poderá aju<strong>da</strong>r formuladores<br />

de políticas, líderes comunitários e desenhistas<br />

a desenvolver opções de soluções que melhor<br />

aten<strong>da</strong>m a necessi<strong>da</strong>des, desejos e anseios<br />

<strong>da</strong>s pessoas.<br />

Acrescentar conhecimentos relacionados<br />

à sustentabili<strong>da</strong>de nesse processo cria novas<br />

oportuni<strong>da</strong>des de promover inovações em<br />

políticas, produtos e processos, levando<br />

a inovações sociais mais abrangentes e<br />

entregando os estilos de vi<strong>da</strong> futuros que<br />

queremos. Será possível termos tudo.<br />

Ações futuras – o significado de<br />

sustentabili<strong>da</strong>de em nosso dia a dia<br />

1. Visualização e demonstração<br />

Precisamos de mais exemplos e<br />

demonstrações de como será um estilo<br />

de vi<strong>da</strong> sustentável. O Centro Colaborativo<br />

<strong>para</strong> Consumo e Produção Sustentáveis<br />

(CSCP) e a Collective Invention produziram<br />

um protótipo de como poderá ser um estilo<br />

de vi<strong>da</strong> mais sustentável no ano de 2050,<br />

mostrando uma família que vive na Europa<br />

no ano 2050: a Família Você. Esta família<br />

consiste em um grupo de personagens<br />

construí<strong>da</strong>s e nos permite entrar na pele<br />

de pessoas que vivem no futuro,<br />

compartilhando seus estilos de vi<strong>da</strong> e<br />

explorando como futuros possíveis se<br />

conjugarão com necessi<strong>da</strong>des, desejos<br />

e ações dos indivíduos. Quais políticas,<br />

serviços e inovações sociais terão permitido<br />

essas condições de vi<strong>da</strong>? Quais mu<strong>da</strong>nças<br />

comportamentais serão necessárias<br />

<strong>para</strong> realizar esta visão de um futuro<br />

mais sustentável?


“precisaMos<br />

de Mais exeMplos<br />

e deMonstrações de<br />

coMo será uM estilo<br />

de vi<strong>da</strong> sustentável.”<br />

2. Opções, acesso e disponibili<strong>da</strong>de<br />

Precisamos de mais opções de estilos de vi<strong>da</strong><br />

sustentáveis que aten<strong>da</strong>m a necessi<strong>da</strong>des e<br />

desejos diversos. Essas opções precisam estar<br />

disponíveis e fáceis de acessar.<br />

O CSCP desenvolveu o sistema de rotulagem<br />

de produtos PRO PLANET <strong>para</strong> as empresas<br />

REWE, um dos maiores grupos de varejo e<br />

turismo <strong>da</strong> Europa. O objetivo é promover<br />

consumo sustentável nos mercados de massa,<br />

com produtos que oferecem valor agregado<br />

sustentável a preços razoáveis. A metodologia<br />

identifica os impactos ambientais e sociais mais<br />

adversos durante o ciclo de vi<strong>da</strong> do produto,<br />

incluindo o consumo (Análise Hot Spot),<br />

e gera estratégias <strong>para</strong> minimizar esses<br />

impactos negativos.<br />

Pelo menos 80 produtos na Alemanha já levam<br />

o rótulo PRO PLANET, incluindo alimentos<br />

(morangos, tomates, pimentões), produtos de<br />

papel (papel higiênico), têxteis (camisetas) e<br />

produtos <strong>para</strong> a casa (tintas, pisos de madeira).<br />

Há planos <strong>para</strong> estender o sistema <strong>para</strong> outros<br />

grupos de produtos.<br />

3. Inovação em todos os níveis<br />

Para desenvolver estilos de vi<strong>da</strong> sustentáveis<br />

teremos de repensar radicalmente os sistemas<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

atuais que alimentam tendências<br />

insustentáveis. Inovação será necessária<br />

em todos os níveis <strong>da</strong>s empresas (modelo<br />

de negócios, inovação de produtos e serviços),<br />

<strong>da</strong> política (inovação em legislação e toma<strong>da</strong>s<br />

de decisão) e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de (inovação social e<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de como um todo) – assim como<br />

parcerias e colaborações entre os atores.<br />

Empresários de sustentabili<strong>da</strong>de são atores<br />

críticos <strong>para</strong> a criação de um futuro mais<br />

sustentável ao focar nas inovações<br />

tecnológicas, sociais e de infraestrutura que<br />

entregarão modelos de estilo de vi<strong>da</strong> mais<br />

sustentáveis.<br />

O CSCP está organizando programas de<br />

treinamento e providenciando ferramentas<br />

<strong>para</strong> acadêmicos nos mercados emergentes<br />

com o objetivo de estimular e desenvolver um<br />

número maior de empresários de<br />

sustentabili<strong>da</strong>de.<br />

A iniciativa SMART Start-Up começou com um<br />

programa de apresentação de estilos de vi<strong>da</strong><br />

sustentáveis e empreendedorismo sustentável<br />

em universi<strong>da</strong>des e facul<strong>da</strong>des africanas entre<br />

2007 e 2010. Atualmente o programa está<br />

sendo aplicado em to<strong>da</strong> a Europa, na China<br />

e no Brasil.<br />

Visões e ações <strong>para</strong> estilos de vi<strong>da</strong> sustentáveis | 27


tecnologia É a<br />

chave <strong>para</strong> o futuro<br />

dr. richard l. Wright, diretor de ciência coMportaMental, unilever<br />

Como cientista comportamental <strong>da</strong> equipe de<br />

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) <strong>da</strong><br />

<strong>Unilever</strong>, a pergunta que eu sempre faço é:<br />

como nossa expertise científica e tecnológica<br />

pode aju<strong>da</strong>r as pessoas a lavar as mãos antes<br />

<strong>da</strong>s refeições, limpar os dentes à noite e utilizar<br />

produtos de maneira mais sustentável?<br />

Uma maneira em que a ciência aju<strong>da</strong> é<br />

garantir que os conhecimentos e as teorias<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s na ciência comportamental ao<br />

longo de muitos anos sejam aplicados nas<br />

intervenções de mu<strong>da</strong>nça comportamental <strong>da</strong><br />

<strong>Unilever</strong>. Transformamos a teoria em prática<br />

por meio do desenvolvimento de princípios<br />

acessíveis que são utilizados pelas nossas<br />

equipes de marketing <strong>da</strong>s marcas.<br />

Contudo, provavelmente o meio mais<br />

poderoso à disposição <strong>da</strong> equipe de P&D<br />

<strong>para</strong> mu<strong>da</strong>r o comportamento <strong>da</strong>s pessoas<br />

é o grande número de consumidores que<br />

alcançamos: desenhamos produtos que<br />

são utilizados dois bilhões de vezes ao dia.<br />

Aju<strong>da</strong>mos a determinar o que as pessoas<br />

comem e como se alimentam, como lavam<br />

suas roupas e limpam seus dentes. Isso<br />

significa que exercemos um papel crítico<br />

nos comportamentos que afetam sua saúde<br />

e bem-estar, e no grau de impacto que elas<br />

provocam no planeta ao conduzir suas<br />

ativi<strong>da</strong>des do dia a dia.<br />

Se nós pudermos aju<strong>da</strong>r todos os nossos<br />

28<br />

consumidores a efetuar pequenas mu<strong>da</strong>nças<br />

comportamentais, então, multiplicado por<br />

bilhões de usos, isso poderá fazer uma enorme<br />

diferença <strong>para</strong> nosso mundo. Alterações sutis<br />

no desenho de produtos podem alavancar<br />

essas mu<strong>da</strong>nças. No entanto, não se trata de<br />

manipulação. É mais o caso de fazer com que<br />

a escolha certa seja a escolha fácil e desejável.<br />

É semelhante à ideia de “<strong>da</strong>r um empurrão” de<br />

Thaler e Sunstein.<br />

Por exemplo, seria possível <strong>da</strong>r um empurrão<br />

<strong>para</strong> que as pessoas comprem alimentos mais<br />

saudáveis, colocando-os ao nível dos olhos<br />

nas lojas.<br />

Alguns “empurrões” simples na prática<br />

De maneira semelhante, demos um empurrão<br />

<strong>para</strong> que nossos consumidores comprassem os


“desenhaMos<br />

produtos que<br />

sÃo utiliZados<br />

dois bilhões de<br />

veZes ao dia.”<br />

líquidos de lavanderia Omo e Persil, que são<br />

mais sustentáveis porque são mais leves e mais<br />

convenientes.<br />

Com a dosagem correta, os concentrados<br />

oferecem o mesmo número de lavagens que os<br />

líquidos diluídos, ao mesmo tempo em que<br />

reduzem o volume de água e o desperdício por<br />

vasilhame e reduzem pela metade o número de<br />

caminhões necessários <strong>para</strong> seu transporte.<br />

Esses fatores reduzem o volume de emissões de<br />

gases de efeito estufa por lavagem. E, como a<br />

dosagem de volumes menores é crítica <strong>para</strong><br />

concentrados, também demos um empurrão<br />

<strong>para</strong> que usassem a quantia certa com a<br />

provisão de uma tampa de dosagem na medi<strong>da</strong><br />

exata.<br />

Outro exemplo mais recente é o Comfort One<br />

Rinse. Re<strong>para</strong>mos que consumidoras em alguns<br />

países asiáticos como o Vietnã e a Índia, que<br />

lavam suas roupas à mão, utilizavam três baldes<br />

de água na fase de enxágue. Para essas<br />

consumidoras, o enxágue não estava completo<br />

até o desaparecimento <strong>da</strong> espuma do<br />

detergente. Comfort One Rinse utiliza uma<br />

tecnologia de dispersão de espuma <strong>para</strong> reduzir<br />

a quantia de espuma e, portanto, a necessi<strong>da</strong>de<br />

de enxágue diminui <strong>para</strong> apenas uma balde de<br />

água.<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

<strong>As</strong>sim, o produto facilita e acelera o trabalho de<br />

lavar roupas à mão, ao mesmo tempo em que<br />

entrega um benefício ambiental.<br />

Você talvez esteja se perguntando por que<br />

precisamos adotar uma abor<strong>da</strong>gem sutil à<br />

mu<strong>da</strong>nça de comportamento ambiental. Por<br />

que simplesmente não criamos e<br />

comercializamos produtos amigáveis ao meio<br />

ambiente com uma proposição “verde”? A<br />

ver<strong>da</strong>de é que a maioria <strong>da</strong>s pessoas não está<br />

disposta a abrir mão <strong>da</strong> eficácia ou<br />

conveniência ofereci<strong>da</strong> por produtos em troca<br />

de benefícios ambientais. No Ocidente, muitas<br />

pessoas utilizam seu carro <strong>para</strong> ir às lojas de seu<br />

bairro por uma questão de conveniência.<br />

A chave <strong>para</strong> a redução de nossa pega<strong>da</strong><br />

ambiental é, pelo menos em parte, utilizar<br />

ingredientes sustentáveis ou tecnologias mais<br />

eficientes, mas também criar produtos que<br />

mol<strong>da</strong>m o comportamento <strong>da</strong>s pessoas e ao<br />

mesmo tempo melhoram sua experiência com<br />

o produto. Outra área em que a tecnologia<br />

pode criar um grande impacto na mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental é na provisão de meios <strong>para</strong> a<br />

medição precisa de comportamento. O<br />

advento de pequenos sensores eletrônicos de<br />

baixo custo mudou dramaticamente a maneira<br />

como estu<strong>da</strong>mos comportamento na <strong>Unilever</strong>.<br />

De volta ao banheiro – como medimos<br />

com precisão?<br />

Passei uma grande parte <strong>da</strong> minha carreira me<br />

perguntando o que é que as pessoas fazem em<br />

seu banheiro enquanto limpam seus dentes,<br />

usam o banheiro ou tomam banho. Apesar de<br />

meu grande interesse, as pessoas não<br />

demonstram muito entusiasmo com a ideia de<br />

serem observa<strong>da</strong>s em seu banheiro!<br />

Tecnologia é a chave <strong>para</strong> o futuro | 29


Existem lacunas críticas de entendimento entre<br />

o que as pessoas de fato fazem e o que dizem<br />

que fazem. No entanto, simplesmente<br />

perguntar a elas não é uma boa alternativa à<br />

observação; muitas <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des cotidianas<br />

que afetam a saúde ou o meio ambiente são<br />

habituais, são realiza<strong>da</strong>s de maneira<br />

inconsciente. São ações repeti<strong>da</strong>s que fazemos<br />

sem pensar – não chega a ser surpreendente,<br />

então, que as pessoas tenham uma capaci<strong>da</strong>de<br />

muito limita<strong>da</strong> de descrever suas ações.<br />

Um segundo problema com perguntas diretas<br />

é que as pessoas gostam se ver de maneira<br />

positiva. Quando um médico nos pergunta,<br />

tendemos a subestimar nosso consumo de<br />

álcool. Isso não é porque desconfiamos dos<br />

motivos do médico, mas porque uma<br />

estimativa mais baixa nos apresenta sob visão<br />

mais favorável. Encontramos fortes efeitos de<br />

“autoapresentação” repeti<strong>da</strong>mente em nossas<br />

pesquisas; as pessoas exageram<br />

comportamentos “bons”, tais como escovar<br />

os dentes e lavar as mãos, ao passo que<br />

tendem a subestimar comportamentos “ruins”,<br />

anti-higiênicos ou antissociais.<br />

Encontramos uma solução tecnológica <strong>para</strong> o<br />

problema de entender comportamentos. Nos<br />

últimos oito anos, venho trabalhando com<br />

tecnólogos, dentro e fora <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong>, <strong>para</strong><br />

desenvolver pequenos dispositivos eletrônicos<br />

que monitoram movimentos. Inserimos esses<br />

sensores em produtos como sabonetes e<br />

escovas de dente e os utilizamos em nossos<br />

testes com consumidores.<br />

Quando nossos voluntários utilizam os<br />

produtos com sensores, os dispositivos gravam<br />

sinais que podem ser baixados e interpretados<br />

30<br />

“existeM lacunas<br />

crÍticas de<br />

entendiMento<br />

eM relaçÃo ao<br />

que as pessoas<br />

de fato faZeM.”<br />

em nossos laboratórios. <strong>As</strong>sim sabemos<br />

quando e como nossos produtos estão sendo<br />

utilizados, 24 horas por dia, 7 dias por semana.<br />

Isso significa que sabemos quando produtores<br />

rurais na Índia lavam suas mãos e quantas<br />

vezes por semana consumidores urbanos<br />

na China escovam seus dentes.<br />

Também utilizamos esses sensores eletrônicos<br />

<strong>para</strong> testar a efetivi<strong>da</strong>de de campanhas de<br />

mu<strong>da</strong>nça comportamental. A abor<strong>da</strong>gem<br />

à mu<strong>da</strong>nça comportamental <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong><br />

(descrita na matéria de B. V. Pradeep) foi<br />

utiliza<strong>da</strong> <strong>para</strong> desenvolver um comercial<br />

de televisão a fim de estimular crianças a<br />

escovar os dentes à noite.<br />

O comercial utilizou o pai como modelo de<br />

comportamento, sugerindo que as crianças<br />

imitam os bons e maus hábitos do pai, e que,<br />

portanto, os pais deveriam ensinar a seus filhos<br />

hábitos bons, como escovar os dentes à noite.<br />

Em nosso estudo, metade <strong>da</strong>s famílias assistiu<br />

a esse comercial e a outra metade viu um<br />

comercial <strong>para</strong> a mesma marca, mas que<br />

não falou sobre escovação à noite. Todos<br />

os membros dessas famílias receberam


escovas com sensores e seu comportamento<br />

foi rastreado antes e depois <strong>da</strong> exposição aos<br />

comerciais.<br />

Ao serem in<strong>da</strong>gados, ambos os grupos<br />

declararam que aumentaram a escovação<br />

depois <strong>da</strong> exposição aos comerciais. No<br />

entanto, nossos monitores mostraram que<br />

nenhum dos grupos mudou seu hábito de<br />

escovação matinal, ao passo que apenas o<br />

grupo que assistiu ao comercial com o pai como<br />

modelo aumentou sua escovação noturna.<br />

Embora a exposição ao comercial tenha sido<br />

limita<strong>da</strong> e os efeitos pequenos, este efeito<br />

comportamental real nos deu a confiança <strong>para</strong><br />

implementar nossa campanha televisiva “Pablo<br />

and Oliver”. Se tivéssemos confiado nos relatos<br />

<strong>da</strong>s pessoas, não teríamos visto nenhuma<br />

diferença entre os dois comerciais. Se<br />

quiséssemos um resultado clínico, como uma<br />

redução de cáries, teria levado anos e custado<br />

milhões.<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

Já desenvolvemos monitores <strong>para</strong> sabonetes,<br />

vasilhames e máquinas de lavar roupas; os<br />

utilizamos também até <strong>para</strong> rastrear o<br />

comportamento <strong>da</strong>s pessoas enquanto tomam<br />

banho de chuveiro. Além de permitir avaliação,<br />

exercem um papel crítico na geração de<br />

informações que são utiliza<strong>da</strong>s <strong>para</strong> criar<br />

inovações.<br />

Recentemente, conduzimos o que acreditamos<br />

ser o maior estudo sobre comportamento no<br />

chuveiro no Reino Unido. Monitoramos os<br />

banhos de chuveiro de 100 famílias. Com<br />

monitores eletrônicos obtivemos os <strong>da</strong>dos<br />

somados de mais de 1.000 dias, abrangendo<br />

um total de mais de 2.600 banhos.<br />

Nossos monitores registraram a hora e a<br />

duração dos banhos; também registraram o<br />

fluxo e a temperatura <strong>da</strong> água. Descobrimos<br />

alguns fatos interessantes: por exemplo, a<br />

duração média do banho é de aproxima<strong>da</strong>mente<br />

oito minutos – três minutos a mais do que<br />

o conceito popular <strong>da</strong> “chuveira<strong>da</strong> de cinco<br />

minutos”. Também vimos que quase um quarto<br />

dos banhos utilizou mais que os 80 litros de<br />

água considerados normais <strong>para</strong> um banho.<br />

Estes e outros entendimentos derivados de<br />

nosso estudo de banhos de chuveiro serão<br />

utilizados em nossos esforços de <strong>da</strong>r um<br />

empurrão <strong>para</strong> que as pessoas tomem banhos<br />

mais sustentáveis. Ain<strong>da</strong> não temos to<strong>da</strong>s as<br />

respostas e estamos aprendendo conforme<br />

testamos e desenvolvemos diversos programas.<br />

É muito empolgante desenvolver intervenções<br />

de mu<strong>da</strong>nça comportamental e veremos<br />

muitas inovações no futuro próximo.<br />

Tenho plena convicção de que, <strong>para</strong> mu<strong>da</strong>r<br />

comportamentos, a tecnologia pode e<br />

deve ser a chave.<br />

Tecnologia é a chave <strong>para</strong> o futuro| 31


polÍticos alheios a suas<br />

funções e o poder <strong>da</strong>s Marcas<br />

jonathon porritt, diretor-fun<strong>da</strong>dor, foruM for the future<br />

Uma parte <strong>da</strong> minha pessoa ain<strong>da</strong> sente um<br />

misto de revolta e descrença quando me deparo<br />

com a ideia de que serão as marcas líderes do<br />

mundo que nos resgatarão <strong>da</strong> nossa atual<br />

desci<strong>da</strong> lenta, mas inexorável, <strong>para</strong> o desastre<br />

ecológico. Afinal, muitas dessas mesmas marcas<br />

impeliram as on<strong>da</strong>s de hiperconsumismo que<br />

hoje estão acabando com o planeta,<br />

contribuindo não apenas <strong>para</strong> o enorme e<br />

crescente rol de problemas ambientais, mas<br />

também <strong>para</strong> um mundo com uma divisão ca<strong>da</strong><br />

vez maior e mais selvagem entre ricos e pobres.<br />

<strong>As</strong> elites do mundo rico ficaram contentes no<br />

início de 2011 ao ver os manifestantes tomando<br />

as ruas de Tunis, Cairo, Sana’a e Benghazi.<br />

O grande desafeto que deu origem à Primavera<br />

Árabe foi demonstra<strong>da</strong>mente uma coisa boa,<br />

prometendo a que<strong>da</strong> de ditadores e a<br />

perspectiva de democracias orienta<strong>da</strong>s ao<br />

mercado, à mo<strong>da</strong> Ocidental. Mas agora estão<br />

mais do que perplexas de ver manifestantes<br />

nas ruas de Madri, Lisboa, Londres, Nova York<br />

e outras ci<strong>da</strong>des americanas – expressando sua<br />

raiva e desilusão com os fracassos e as falhas<br />

dessa mesma forma de democracia basea<strong>da</strong><br />

no mercado. No confronto com as vi<strong>da</strong>s<br />

ridiculamente privilegia<strong>da</strong>s dos integrantes<br />

do 1% mais rico <strong>da</strong> população mundial,<br />

“somos os 99%” poderá vir a ser um lema<br />

tão poderoso no Ocidente quanto no<br />

Oriente Médio.<br />

32<br />

À medi<strong>da</strong> que essa divisão se aprofun<strong>da</strong> e os<br />

sistemas de suporte à vi<strong>da</strong> no planeta<br />

enfraquecem um pouco mais a ca<strong>da</strong> ano que<br />

passa, parece um pouco absurdo falar do poder<br />

<strong>da</strong>s marcas de produtos líderes <strong>para</strong> reverter a<br />

situação. Como o professor Tim Jackson<br />

demonstrou com tanta acui<strong>da</strong>de em seu livro<br />

de 2009, Prosperity without growth, muitas<br />

marcas estão bem longe de ser uma “força<br />

<strong>para</strong> o bem” no mundo atual: “<strong>As</strong> pessoas<br />

estão sendo convenci<strong>da</strong>s a gastar dinheiro<br />

que não têm em coisas que não precisam<br />

<strong>para</strong> criar impressões que não durarão em<br />

pessoas <strong>para</strong> quem elas não dão a mínima<br />

importância”.<br />

Mas, se considerarmos a questão de<br />

sustentabili<strong>da</strong>de em termos mais gerais,<br />

vemos que a maioria dos consumidores ain<strong>da</strong><br />

está confusa/desam<strong>para</strong><strong>da</strong>, ou indiferente/<br />

ignorante – sei que não é politicamente correto<br />

dizer isso, mas é ver<strong>da</strong>de. Pior ain<strong>da</strong>, a vasta<br />

maioria dos investidores ain<strong>da</strong> está foca<strong>da</strong><br />

em maximizar seus retornos no curto prazo<br />

ao invés de construir algo duradouro <strong>para</strong> o<br />

futuro – mesmo quando investem em seus<br />

próprios fundos de pensão.<br />

E, pior de tudo, parece que os governos do<br />

mundo inteiro não têm a mínima ideia sobre<br />

como transformar suas economias basea<strong>da</strong>s<br />

em um modelo comprova<strong>da</strong>mente


insustentável de capitalismo selvagem <strong>para</strong><br />

um tipo de capitalismo sustentável que ofereça<br />

perspectiva de vi<strong>da</strong>s melhores <strong>para</strong> os 99%,<br />

observando limites ambientais reconhecidos,<br />

e sem provocar um declínio traumático demais<br />

no padrão de vi<strong>da</strong> do 1%.<br />

O poder <strong>da</strong>s marcas<br />

Portanto, a cavalo “de” marca <strong>da</strong>do, não se<br />

olha os dentes. Quando comparo o<br />

desempenho lamentável em questões<br />

ambientais de nossos políticos com o de alguns<br />

dos principais parceiros corporativos do Forum<br />

for the Future, não tenho a mínima dúvi<strong>da</strong> em<br />

relação a quem está fazendo a maior diferença.<br />

Não só em termos de reduzir sua própria<br />

pega<strong>da</strong> direta, mas aju<strong>da</strong>ndo seus clientes e<br />

consumidores a serem mais responsáveis e a<br />

tornarem suas vi<strong>da</strong>s ca<strong>da</strong> vez mais sustentáveis.<br />

<strong>As</strong> marcas conseguem estreitar aquela lacuna<br />

assustadora entre valores–ação que os políticos<br />

têm de enfrentar (em que os eleitores dizem<br />

uma coisa e aí fazem outra), e de alguma<br />

maneira são mais confiáveis exatamente<br />

porque seu negócio é tão claramente ganhar<br />

dinheiro fazendo a coisa certa. Como Dorothy<br />

Mackenzie <strong>da</strong> consultoria de marcas Dragon<br />

Rouge diz: “<strong>As</strong> pessoas resistem contra<br />

declarações moralizadoras.<br />

Mas todo mundo sabe que uma marca quer<br />

ganhar dinheiro e essa clareza de intenção<br />

aju<strong>da</strong> a ganhar a confiança <strong>da</strong>s pessoas”.<br />

E tal confiança cria o espaço necessário<br />

<strong>para</strong> inovação. Enquanto os políticos ficam<br />

esperando as pessoas mostrarem em que<br />

direção devem seguir, as empresas podem<br />

usar o poder de suas marcas <strong>para</strong> aju<strong>da</strong>r a<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

“as eMpresas<br />

podeM usar o poder<br />

de suas Marcas<br />

<strong>para</strong> aju<strong>da</strong>r a<br />

‘norMaliZar’ nosso<br />

coMportaMento.”<br />

“normalizar” nosso comportamento – “lave<br />

a uma temperatura de 30°”, “menos é mais”<br />

(com detergentes concentrados ou lâmpa<strong>da</strong>s<br />

eficientes), “escolhas saudáveis, vi<strong>da</strong>s<br />

melhores”, etc.<br />

Incorporando sustentabili<strong>da</strong>de<br />

e políticos vacilantes<br />

Às vezes, nem é necessário perguntar ou<br />

informar os consumidores; é uma simples<br />

questão de incorporar a sustentabili<strong>da</strong>de,<br />

uma espécie de “sustentabili<strong>da</strong>de inside”,<br />

e não se preocupar muito se as pessoas não<br />

entendem exatamente o significado de todos<br />

esses benefícios. Quantos ci<strong>da</strong>dãos médios<br />

entendem o que significa “Intel Inside”?<br />

Para a maioria, o aval do selo proporciona<br />

uma vaga sensação de bem-estar. E não dá<br />

<strong>para</strong> esperar muito mais que isso – enquanto<br />

os políticos continuam vacilando e as visões<br />

de curto prazo continuam dominando<br />

nossos mercados capitais.<br />

Políticos alheios a suas funções e o poder <strong>da</strong>s marcas| 33


34<br />

“as Marcas atuais<br />

têM uMa história<br />

Muito Mais dinâMica<br />

a contar: ‘nós<br />

fiZeMos, portanto<br />

vocês podeM’.”<br />

O que precisamos fazer é construir exércitos<br />

aspiracionais de consumidores ci<strong>da</strong>dãos que não<br />

precisam mais sentir a necessi<strong>da</strong>de de se refugiar<br />

atrás de uma carapaça de cinismo quando<br />

confrontados com a ideia de que “ca<strong>da</strong> gesto<br />

conta”. É tudo uma questão de escala, conforme<br />

explica John Thogersen, professor de Psicologia<br />

Econômica <strong>da</strong> Escola de Negócios e Ciência<br />

Social de Aarhus, na Dinamarca:<br />

“Um dos motivos pelos quais as pessoas são tão<br />

passivas é que sentem que ninguém mais está<br />

fazendo na<strong>da</strong>. Em relação à mu<strong>da</strong>nça climática,<br />

sua contribuição individual é tão pequena que<br />

parece que não tem importância. O que importa é<br />

o que as outras pessoas fazem. Se você não tem a<br />

percepção de que muitas outras pessoas também<br />

estão economizando energia, sente que está sendo<br />

lesado porque está perdendo algo sem aju<strong>da</strong>r a<br />

resolver o problema.”<br />

Neste sentido, as coisas avançaram muito desde<br />

a mensagem “Eu farei se você fizer” cunha<strong>da</strong><br />

pela Mesa-Redon<strong>da</strong> sobre Consumo Sustentável<br />

do Reino Unido há quase seis anos. <strong>As</strong> marcas<br />

atuais têm uma história muito mais dinâmica a<br />

contar: “Nós fizemos, portanto vocês podem”.<br />

E com certeza precisamos eliminar o cinismo,<br />

que ain<strong>da</strong> está na mo<strong>da</strong>. Confrontados com<br />

a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> implosão <strong>da</strong> economia<br />

mundial (que eu garanto faria muito pouco<br />

<strong>para</strong> melhorar as perspectivas de um mundo<br />

ver<strong>da</strong>deiramente sustentável), precisamos<br />

levar as pessoas junto conosco, passo a passo,<br />

em vez de tentar recrutá-las à força.<br />

Solitaire Townsend, uma entre os cofun<strong>da</strong>dores<br />

<strong>da</strong> consultoria de comunicação Futerra, tem<br />

sido especialmente incisiva em suas críticas a<br />

campanhas ambientais convencionais<br />

(“Ambientalistas são muito bons em identificar<br />

o que as pessoas deveriam desejar – e não o<br />

que elas de fato desejam”), incitando políticos<br />

e empresas a tornarem a sustentabili<strong>da</strong>de<br />

mais empolgante, com humor, criativi<strong>da</strong>de,<br />

mensagens objetivas e pessoas de ver<strong>da</strong>de<br />

que façam uma grande diferença de maneira<br />

convincente e irreverente: “Uma pessoa real,<br />

com sangue quente, é tudo quando se trata<br />

de mu<strong>da</strong>r comportamentos”.


Concordo com ela – assim como todos os<br />

nossos parceiros corporativos e suas marcas.<br />

Mas não à custa de uma investigação <strong>da</strong> escala<br />

<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça necessária. Por enquanto, não<br />

estamos nem perto <strong>da</strong> zona de consumo<br />

ver<strong>da</strong>deiramente sustentável – “o jogo, por<br />

enquanto, ain<strong>da</strong> se chama consumo menos<br />

insustentável”.<br />

Mas eu não culpo as empresas por isso. São<br />

governos que estabelecem as regras dentro <strong>da</strong>s<br />

quais as empresas operam – em termos de<br />

regulação, impostos, incentivos, compras,<br />

públicos, etc. Infelizmente, os governos têm o<br />

rabo preso com os poderosos corporativos de<br />

plantão e são totalmente tímidos em face dos<br />

resmungos previsíveis <strong>da</strong>s associações setoriais<br />

e de todos aqueles interesses que têm mais a<br />

perder à medi<strong>da</strong> que inovamos e promovemos<br />

uma economia dinâmica e equitativa de baixo<br />

carbono. O máximo que podemos esperar de<br />

políticos tão alheios a suas funções,<br />

independentemente de suas leal<strong>da</strong>des<br />

partidárias, é que não atrapalhem aqueles que<br />

têm uma visão de um futuro melhor. E que têm<br />

a intenção séria de fazer com que aconteça.<br />

Cenários <strong>para</strong> 2020<br />

Na<strong>da</strong> disso facilita a situação <strong>para</strong> as empresas<br />

líderes de hoje. Isso ficou ain<strong>da</strong> mais evidente<br />

<strong>para</strong> mim quando lançamos nosso projeto<br />

Futuros <strong>para</strong> os Consumidores 2020 junto com<br />

a <strong>Unilever</strong> e a Sainsbury’s em outubro de 2011,<br />

utilizando quatro cenários muito diferentes<br />

<strong>para</strong> buscar modelos de consumo sustentável<br />

<strong>para</strong> o ano de 2020.<br />

<strong>As</strong> circunstâncias financeiras atuais estão tão<br />

complica<strong>da</strong>s que se preocupar com o ano de<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

2020 pode parecer um caso de autoindulgência:<br />

os imperativos atuais, tanto <strong>para</strong> a <strong>Unilever</strong><br />

como <strong>para</strong> a Sainsbury’s, mol<strong>da</strong>dos pelas<br />

pressões enormes do presente, poderiam<br />

facilmente se sobrepor aos imperativos<br />

futuros. Mas as duas empresas sabem que isso<br />

não pode acontecer, e tanto Aman<strong>da</strong> Sourry<br />

(chairman <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong> <strong>para</strong> Reino Unido e<br />

Irlan<strong>da</strong>) quanto Justin King (presidente<br />

executivo <strong>da</strong> Sainsbury’s) foram absolutamente<br />

claros em suas asserções de que não haveria<br />

nenhum conflito entre crescimento e<br />

sustentabili<strong>da</strong>de <strong>para</strong> suas empresas. Tanto<br />

o Plano de Sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Unilever</strong><br />

como o novo plano de sustentabili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> Sainsbury’s (“20 até 2020”) se baseiam<br />

na duplicação do tamanho dos respectivos<br />

negócios enquanto melhoram<br />

significativamente a gestão de desafios sociais<br />

e ambientais e de questões econômicas mais<br />

abrangentes. Aliás, os dois argumentaram<br />

que não só não havia nenhum conflito como<br />

as duas linhas de ação iriam se reforçar<br />

mutuamente. Não se trata de crescimento<br />

e sustentabili<strong>da</strong>de e sim de crescimento<br />

por meio de sustentabili<strong>da</strong>de.<br />

Fácil de dizer, mas é uma meta e tanto<br />

<strong>para</strong> cumprir. De fato, consumo sustentável<br />

soa tão reconfortante em um nível, mas,<br />

se analisarmos a ideia um pouco mais<br />

profun<strong>da</strong>mente, representa um dos desafios<br />

mais formidáveis de nossos tempos.<br />

Políticos alheios a suas funções e o poder <strong>da</strong>s marcas| 35


governos, eMpurrões<br />

e ciência efetiva<br />

charles abrahaM, escola penÍnsula de Medicina & odontologia, universi<strong>da</strong>de de exeter<br />

A humani<strong>da</strong>de enfrenta desafios que<br />

requerem mu<strong>da</strong>nças em nossos padrões<br />

de comportamento cotidianos em nível do<br />

indivíduo e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Deveríamos ser<br />

otimistas em relação à mu<strong>da</strong>nça porque<br />

prosperamos como espécie em grande parte<br />

pela nossa capaci<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptar e mu<strong>da</strong>r<br />

nosso comportamento. Mesmo assim,<br />

precisamos agir imediatamente. Qual o papel<br />

de governos e cientistas nesse desafio?<br />

Considere dois exemplos. Reduções nas<br />

emissões de CO 2 são críticas <strong>para</strong> limitar o<br />

aumento de temperaturas globais. Isso requer<br />

uma varie<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nças na utilização de<br />

energia, incluindo mu<strong>da</strong>nças em transporte.<br />

O transporte corresponde a aproxima<strong>da</strong>mente<br />

23% <strong>da</strong>s atuais emissões de CO 2 relativas a<br />

energia, <strong>da</strong>s quais três quartos são gerados<br />

por transporte rodoviário. Nos Estados Unidos,<br />

automóveis respondem por até 91% de to<strong>da</strong><br />

a quilometragem ro<strong>da</strong><strong>da</strong> por veículos, ao<br />

passo que no Reino Unido viagens de carro<br />

respondem por até 78% do transporte<br />

rodoviário. No contexto <strong>da</strong> produção em<br />

massa de automóveis mais baratos, <strong>para</strong><br />

36<br />

protegermos nosso habitat devemos ou<br />

reduzir substancialmente as distâncias que<br />

percorremos de carro ou substituir carros<br />

com motor a combustão por veículos que<br />

utilizam energia verde.<br />

Obesi<strong>da</strong>de é uma epidemia global crescente.<br />

Se a atual tendência ascendente não for<br />

conti<strong>da</strong>, mais de 40% <strong>da</strong> população do<br />

Reino Unido será obesa até o ano de 2050,<br />

resultando em um custo anual de 49,9 bilhões<br />

de libras. A obesi<strong>da</strong>de reduz nossa expectativa<br />

de vi<strong>da</strong> principalmente em razão do risco<br />

aumentado de doença cardiovascular e diabete.<br />

Também está associa<strong>da</strong> à maior probabili<strong>da</strong>de<br />

de desenvolver doenças renais, osteoartrite,<br />

vários tipos de câncer, hipertensão, demência,<br />

asma e depressão. Enquanto um aumento<br />

em ativi<strong>da</strong>de física poderia contribuir muito<br />

<strong>para</strong> a prevenção de obesi<strong>da</strong>de e o controle de<br />

peso, o ver<strong>da</strong>deiro desafio é fazer com que as<br />

pessoas deixem de comer em excesso.<br />

Esses dois exemplos destacam a importância de<br />

mu<strong>da</strong>nças comportamentais <strong>para</strong> a formulação<br />

de políticas. A política de transportes é crítica<br />

<strong>para</strong> cumprir metas de redução de emissões,


“prosperaMos<br />

coMo espÉcie eM<br />

grande parte pela<br />

nossa capaci<strong>da</strong>de<br />

de a<strong>da</strong>ptar e Mu<strong>da</strong>r<br />

nosso coMportaMento.”<br />

que por sua vez afetam nosso habitat global.<br />

A viabili<strong>da</strong>de de custear os serviços de saúde<br />

é ameaça<strong>da</strong> quando eles são ca<strong>da</strong> vez mais<br />

sobrecarregados pelos problemas de saúde<br />

resultantes de excessos na alimentação.<br />

Não surpreende então que governos se<br />

preocupem ca<strong>da</strong> vez mais em entender<br />

mu<strong>da</strong>nça comportamental.<br />

Reconhecimento político <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de<br />

de mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

Muitos governos se interessaram pela ciência<br />

de mu<strong>da</strong>nça comportamental. Aqui vamos<br />

focar em desenvolvimentos recentes no Reino<br />

Unido. Em 2007, o governo pediu ao Instituto<br />

Nacional <strong>para</strong> a Saúde e Excelência Clínica<br />

(National Institute for Health and Clinical<br />

Excellence ou NICE) que orientasse o Serviço<br />

Nacional de Saúde do Reino Unido sobre<br />

mu<strong>da</strong>nça comportamental. Uma estrutura<br />

abrangente foi desenvolvi<strong>da</strong> e logo será<br />

atualiza<strong>da</strong> e estendi<strong>da</strong>.<br />

Mais recentemente, o governo estabeleceu<br />

uma equipe de especialistas denomina<strong>da</strong><br />

Behaviour Insights <strong>para</strong> incorporar intervenções<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

de mu<strong>da</strong>nça comportamental basea<strong>da</strong>s em<br />

evidências a departamentos governamentais.<br />

Essa uni<strong>da</strong>de foi fortemente influencia<strong>da</strong> pelo<br />

livro Nudge, de Thaler e Sunstein. Em inglês,<br />

além de significar empurrão, a palavra<br />

Nudge é uma sigla que se refere a um<br />

conjunto de técnicas distintas de mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental.<br />

No entanto, a característica principal de um<br />

nudge ou empurrão é uma mu<strong>da</strong>nça na<br />

“arquitetura de escolhas” que nos cerca, que,<br />

por sua vez, altera nossas motivações ou<br />

decisões. Por exemplo, colocar doces próximos<br />

do caixa de supermercados é um “empurrão”.<br />

Thaler e Sunstein referem-se a pessoas que<br />

detêm o poder de mu<strong>da</strong>r o ambiente que<br />

determina decisões, de médicos e gerentes<br />

de supermercado aos responsáveis pela<br />

formulação de políticas, como “arquitetos<br />

de escolhas”.<br />

Para aju<strong>da</strong>r formuladores de política a<br />

empregar empurrões e outras técnicas de<br />

mu<strong>da</strong>nça comportamental o Institute for<br />

Government do Reino Unido produziu<br />

uma relação de processos de mu<strong>da</strong>nça<br />

denomina<strong>da</strong> pela sigla MINDSPACE<br />

(Messenger (Mensageiro), Incentives<br />

(Incentivos), Norms (Normas), Defaults<br />

(Defaults), Salience (Saliência), Priming<br />

(Pre<strong>para</strong>ção), Affect (Afetar), Commitments<br />

(Compromissos) e Ego (Ego). Ca<strong>da</strong> um<br />

desses processos pode ser traduzido em<br />

técnicas específicas de mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental relevantes <strong>para</strong><br />

determinados comportamentos e políticas.<br />

Governos, empurrões e ciência efetiva| 37


38<br />

“a pergunta-chave É:<br />

quais eMpurrões<br />

podeM ser<br />

efetivos, quando<br />

e coM queM?”<br />

Em 2011, o Comitê de Ciência e Tecnologia<br />

<strong>da</strong> Câmara dos Lordes conduziu uma<br />

investigação sobre mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

à qual o governo britânico respondeu.<br />

O comitê fez uma série de recomen<strong>da</strong>ções<br />

<strong>para</strong> o governo sobre como poderia: utilizar as<br />

melhores evidências disponíveis sobre mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental; melhorar comunicações<br />

com cientistas comportamentais; encomen<strong>da</strong>r<br />

pesquisas de grande escala sobre os efeitos<br />

de intervenções de mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

na população; garantir a correta avaliação de<br />

intervenções de mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

<strong>para</strong> assegurar aprendizagem; trabalhar<br />

com a indústria <strong>para</strong> promover mu<strong>da</strong>nças<br />

comportamentais; e tratar de questões<br />

como a rotulagem de alimentos,<br />

marketing <strong>para</strong> crianças e a redução <strong>da</strong><br />

utilização de automóveis.<br />

Desafios de pesquisa destacados pela<br />

investigação <strong>da</strong> Câmara dos Lordes<br />

A investigação <strong>da</strong> Câmara dos Lordes destacou<br />

uma série de desafios <strong>para</strong> pesquisas de<br />

mu<strong>da</strong>nça comportamental. A investigação<br />

concluiu que, muitas vezes, empurrões<br />

não funcionam sozinhos. Portanto a<br />

pergunta-chave é: quais empurrões podem<br />

ser efetivos, quando e com quem? E com<br />

quais outras técnicas de mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental devem ser combinados<br />

<strong>para</strong> otimizar sua efetivi<strong>da</strong>de?<br />

A investigação também destacou a importância<br />

<strong>da</strong> avaliação de intervenções de mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental. Para que a ciência de<br />

mu<strong>da</strong>nça comportamental possa avançar,<br />

precisamos saber o que funciona ou não.<br />

Não é suficiente perguntar <strong>para</strong> participantes<br />

de um estudo de mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

se re<strong>para</strong>ram ou gostaram <strong>da</strong> intervenção.<br />

Precisamos medir comportamentos antes e<br />

depois entre amostras que recebem e não<br />

recebem intervenções <strong>para</strong> avaliar sua<br />

efetivi<strong>da</strong>de. Embora isso possa parecer óbvio<br />

<strong>para</strong> a maioria dos cientistas, infelizmente<br />

não é a norma na encomen<strong>da</strong> de intervenções<br />

de mu<strong>da</strong>nça comportamental.<br />

Consequentemente, a investigação comentou<br />

sobre a escassez de avaliações rigorosas de<br />

longo prazo de intervenções projeta<strong>da</strong>s <strong>para</strong><br />

mu<strong>da</strong>r comportamento utilizando amostras<br />

representativas <strong>da</strong> população.<br />

Pesquisas desse tipo são necessárias <strong>para</strong><br />

que formuladores de políticas possam<br />

identificar intervenções que poderão ser<br />

implementa<strong>da</strong>s nas populações. A principal<br />

implicação dessa observação é <strong>para</strong> quem<br />

financia essas pesquisas. Pesquisas dessa<br />

natureza são extremamente caras e<br />

requerem apoio financeiro de longo prazo.<br />

É preciso haver cooperação entre fontes<br />

de apoio financeiro <strong>para</strong> identificar<br />

intervenções potencialmente efetivas.


Em direção a uma ciência<br />

de mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

O conteúdo <strong>da</strong>s intervenções de mu<strong>da</strong>nça<br />

comportamental é fun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> sua<br />

efetivi<strong>da</strong>de. Portanto, é crucial entender<br />

qual conteúdo é efetivo <strong>para</strong> quais<br />

comportamentos. Infelizmente, a ausência<br />

de definições padroniza<strong>da</strong>s <strong>para</strong> as técnicas<br />

de mu<strong>da</strong>nça comportamental utiliza<strong>da</strong>s em<br />

intervenções pode dificultar a especificação<br />

dos parâmetros exatos utilizados em uma<br />

intervenção, impedindo sua replicação.<br />

Nudge, MINDSPACE e outras relações de<br />

abor<strong>da</strong>gens à mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

oferecem indicadores úteis <strong>para</strong> a definição de<br />

técnicas básicas de mu<strong>da</strong>nça comportamental.<br />

“intervenções<br />

de <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong><br />

coMportaMental<br />

efetivas sÃo<br />

necessárias<br />

<strong>para</strong> resolver<br />

uMa varie<strong>da</strong>de de<br />

desafios globais<br />

enfrentados<br />

pela huMani<strong>da</strong>de.”<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

Contudo, avanços adicionais dependerão<br />

de análises sistemáticas do conteúdo <strong>da</strong>s<br />

intervenções de mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

que se mostrarem mais ou menos efetivas<br />

e dos públicos envolvidos.<br />

Intervenções de mu<strong>da</strong>nça comportamental<br />

efetivas são necessárias <strong>para</strong> resolver uma<br />

varie<strong>da</strong>de de desafios globais enfrentados<br />

pela humani<strong>da</strong>de. Entre políticos, cresce a<br />

consciência <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de intervenções<br />

de mu<strong>da</strong>nça comportamental efetivas <strong>para</strong><br />

promover o bem-estar nacional. <strong>As</strong>sim,<br />

cientistas comportamentais têm a<br />

responsabili<strong>da</strong>de de desenvolver estruturas<br />

abrangentes e inclusivas <strong>para</strong> o entendimento<br />

de processos e mecanismos de mu<strong>da</strong>nça<br />

em nível de indivíduo, grupo, socie<strong>da</strong>de e<br />

internacional. Além disso, precisamos conjugar<br />

técnicas de mu<strong>da</strong>nça comportamental muito<br />

bem defini<strong>da</strong>s com esses mecanismos-chave<br />

de mu<strong>da</strong>nça.<br />

Governos, empurrões e ciência efetiva| 39


saindo do vale <strong>da</strong> Morte<br />

siMon Zadek, conselheiro independente; professor<br />

e pesquisador visitante sênior, global green groWth institute<br />

Empresas principiantes se referem ao momento<br />

mais perigoso de seu desenvolvimento como<br />

o “Vale <strong>da</strong> Morte” – o momento entre a prova<br />

do conceito e o início de produção em larga<br />

escala e ven<strong>da</strong>s significativas. É o lugar onde<br />

a maioria dos sonhos perece em face dos<br />

mercados de capital conservadores que<br />

duvi<strong>da</strong>m <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de do empreendedor<br />

de vencer a concorrência.<br />

A sustentabili<strong>da</strong>de chegou ao seu próprio<br />

“Vale <strong>da</strong> Morte”. Após duas déca<strong>da</strong>s de<br />

ativi<strong>da</strong>des intensas, temos <strong>da</strong>dos excelentes<br />

sobre a natureza e a escala do problema,<br />

uma fartura de casos de experiências bemsucedi<strong>da</strong>s,<br />

e a crescente atenção de líderes<br />

políticos e empresariais. Ain<strong>da</strong> assim, não<br />

conseguimos alavancar nossos conhecimentos,<br />

recursos e paixão <strong>para</strong> conter nossa produção de<br />

carbono, gerenciar a escassez de água ou inibir<br />

as flutuações especulativas nos preços e na<br />

disponibili<strong>da</strong>de de alimentos básicos. Produtos<br />

desmaterializados, mercados “rentalized”,<br />

energia renovável e padrões de sustentabili<strong>da</strong>de<br />

estão entre as inovações sociais que ofereceram<br />

inspiração e proporcionaram avanços na<br />

oferta de escolhas verdes aos consumidores.<br />

Contudo, enquanto nossa chama<strong>da</strong> à luta tem<br />

visado à transformação, estamos, na prática,<br />

comemorando mu<strong>da</strong>nças apenas pouco acima<br />

do normal com um espírito de otimismo ca<strong>da</strong><br />

vez mais desesperado.<br />

40<br />

E embora lamentemos a falta <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de<br />

necessária no avanço <strong>da</strong> pauta de<br />

sustentabili<strong>da</strong>de, escala é um assunto em que<br />

temos muita expertise – quando se trata de<br />

comercializar telefones celulares, conduzir<br />

guerras, promover a Copa do Mundo ou<br />

catalisar o fun<strong>da</strong>mentalismo em suas muitas<br />

formas. Mercados, governos e comuni<strong>da</strong>des em<br />

ação têm sido os três instrumentos históricos<br />

<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des <strong>para</strong> obter escala. <strong>As</strong> empresas,<br />

o veículo de mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> nas nações mais<br />

ricas nas últimas déca<strong>da</strong>s, são capazes de<br />

comercializar em pouquíssimo tempo bilhões<br />

de pacotes de salgados, dezenas de milhões de<br />

carros e milhões de pistolas e revólveres. Se o<br />

preço está certo, empresas conseguem inovar,<br />

produzir e entregar, e os ci<strong>da</strong>dãos comparecem<br />

em massa <strong>para</strong> fazer a coisa certa: comprar.<br />

Mas a lógica que rege a comuni<strong>da</strong>de<br />

empresarial, até o momento, tem limitado


“Mercados, governos<br />

e coMuni<strong>da</strong>des eM<br />

açÃo têM sido os<br />

três instruMentos<br />

históricos <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des <strong>para</strong><br />

obter escala.”<br />

sua capaci<strong>da</strong>de de entregar produtos e serviços<br />

alinhados à sustentabili<strong>da</strong>de em grande escala.<br />

Em sua maior parte, os atuais mercados<br />

conservadores só recompensam as empresas<br />

que fazem a coisa certa na margem. Apesar <strong>da</strong><br />

existência de empresas exemplares, produtos<br />

inovadores, avanços tecnológicos e do fato de<br />

que a maioria <strong>da</strong>s pessoas se preocupa com<br />

outras pessoas e com o planeta, a maior parte<br />

dos lucros ain<strong>da</strong> vem de grandes volumes de<br />

produtos que são produzidos e depois<br />

consumidos de maneira ambientalmente<br />

insustentável e, muitas vezes, socialmente<br />

destrutiva.<br />

Governo e o poder <strong>da</strong>s políticas públicas<br />

O governo, após a religião, pode ser<br />

considerado a instituição mais venera<strong>da</strong> no<br />

que diz respeito a ações de grande escala em<br />

prol dos interesses mais abrangentes <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de, pelo menos em princípio. Mais<br />

obviamente, faz muitas coisas no sentido de<br />

definir o que não deve ser feito, estabelecido<br />

por meio do estado de direito. Política fiscal<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

também exerce um papel em mol<strong>da</strong>r o<br />

comportamento do consumidor, com tarifas<br />

de entra<strong>da</strong> garanti<strong>da</strong>s (ou seu equivalente)<br />

sendo fun<strong>da</strong>mentais <strong>para</strong> o avanço de<br />

combustíveis renováveis, ao passo que subsídios<br />

perversos <strong>para</strong> combustíveis fósseis estimulam<br />

estilos de vi<strong>da</strong> não sustentáveis. Além <strong>da</strong>s leis<br />

e políticas fiscais, os governos possuem<br />

instrumentos mais brandos. A diminuição de<br />

tabagismo nas nações mais ricas foi o resultado<br />

de uma combinação de educação pública e<br />

<strong>da</strong> restrição paulatina do espaço social <strong>para</strong><br />

o exercício do hábito.<br />

A educação pública, <strong>da</strong>s salas de aula a<br />

outdoors, tem tido um papel importante<br />

em incutir em múltiplas gerações uma<br />

apreciação mais profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> importância de<br />

sustentabili<strong>da</strong>de, do clima à gestão de saúde.<br />

E os governos gastam muito, com licitações<br />

governamentais totalizando entre<br />

US$ 4 e 5 trilhões por ano em nível global.<br />

E de fato alguns governos estão se mexendo,<br />

lentamente, no sentido de tornar essas<br />

grandes compras de produtos e serviços<br />

mais sustentáveis.<br />

Política pública é importante na obtenção<br />

de escala, permitindo que empresas<br />

façam o que fazem melhor de maneira<br />

mais sustentável.<br />

O nexo entre empresas e governos é<br />

crítico <strong>para</strong> mol<strong>da</strong>r as opções que ci<strong>da</strong>dãos<br />

têm como consumidores, eleitores,<br />

empregados e investidores. Ambos<br />

juntos possuem o poder de promover<br />

ou impedir mu<strong>da</strong>nças, complementando<br />

suas respectivas forças e compensando<br />

as debili<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> segmento.<br />

Saindo do Vale <strong>da</strong> Morte| 41


42<br />

“pessoas de to<strong>da</strong>s<br />

as procedências<br />

podeM se unir,<br />

apesar de suas<br />

enorMes diferenças,<br />

<strong>para</strong> desafiar aquilo<br />

que está errado.”<br />

Os déficits ambientais dos Estados Unidos<br />

podem ser atribuídos diretamente ao<br />

poder <strong>da</strong>s empresas que se beneficiam do<br />

status quo, não importa o custo.<br />

De outro lado, o novo governo dinamarquês<br />

se elegeu com o man<strong>da</strong>to de duplicar as<br />

metas de redução de carbono <strong>para</strong> 40%<br />

até o ano de 2020 e de entregar uma rede<br />

energética movi<strong>da</strong> principalmente a<br />

energia eólica no mesmo prazo, criando<br />

um forte alicerce <strong>para</strong> a próxima geração<br />

de exportadores globais do país.<br />

De maneira semelhante, o governo coreano,<br />

em conjunto com a comuni<strong>da</strong>de empresarial,<br />

está desenvolvendo uma economia verde<br />

integra<strong>da</strong>, de olho em exportações <strong>para</strong> o<br />

mercado global.<br />

Brasil e China também são líderes na criação<br />

de políticas domésticas <strong>para</strong> incentivar<br />

negócios verdes, ao mesmo tempo avançando<br />

com suas pautas de desenvolvimento mais<br />

imediatas.<br />

Normas sociais e ação coletiva<br />

Em grande parte, são as normas de anseios e<br />

comportamentos dominantes que definem<br />

as diferenças entre nações como Dinamarca e<br />

Coreia e os países que não estão progredindo,<br />

como os Estados Unidos. Isso se deve, em parte,<br />

aos governos e à comuni<strong>da</strong>de empresarial.<br />

Afinal, os ci<strong>da</strong>dãos não deman<strong>da</strong>ram a internet,<br />

meramente responderam a uma oferta ca<strong>da</strong><br />

vez mais persuasiva. Mas esse circuito fechado<br />

não é tudo.<br />

A decisão <strong>da</strong> Alemanha de adotar um sistema<br />

energético sustentável se baseou em uma<br />

profun<strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de de seus ci<strong>da</strong>dãos <strong>para</strong><br />

com o meio ambiente, assim como outros<br />

países aproveitaram sensibili<strong>da</strong>des nacionais,<br />

inclusive algumas problemáticas como<br />

nacionalismo e outros aspectos de identi<strong>da</strong>de.<br />

Em escala muito menor, o apoio <strong>para</strong> produtos<br />

de comércio justo, de café a algodão, nasceu<br />

em igrejas, centros comunitários e movimentos<br />

políticos <strong>da</strong> Europa. Grandes eventos também<br />

podem constituir pontos de vira<strong>da</strong> importantes,<br />

como o recente desastre nuclear no Japão.<br />

Pessoas, ou melhor, ci<strong>da</strong>dãos atuando em<br />

conjunto, constituem a terceira maneira de<br />

fraturar e buscar substituir as normas sociais<br />

dominantes e situações que não são mais<br />

aceitáveis. A Primavera Árabe na Tunísia, no<br />

Egito e em outros países mostra vivi<strong>da</strong>mente<br />

que as pessoas podem se levantar juntas e<br />

dizer “basta”, mesmo contra aqueles que<br />

detêm grande poder de destruição e a<br />

disposição de usá-lo.<br />

O movimento Ocupa Wall Street – e as mil<br />

e tantas manifestações simpatizantes – nos<br />

mostram que pessoas de to<strong>da</strong>s as procedências


podem se unir, apesar de suas enormes<br />

diferenças, <strong>para</strong> desafiar aquilo que está errado.<br />

Mas esses casos dramáticos ilustram também<br />

a potencial pobreza de movimentos sociais<br />

que conseguem dizer “basta”, no entanto<br />

não identificam nem consoli<strong>da</strong>m os próximos<br />

passos. Embora seus desdobramentos estejam<br />

longe de ser finalizados, a preocupação do<br />

Cairo à Ci<strong>da</strong>de de Londres é que esses<br />

experimentos sociais catárticos deixem de<br />

entregar os novos sistemas econômicos tão<br />

necessários.<br />

Não há nenhum indício de que a Irman<strong>da</strong>de<br />

Muçulmana esteja preocupa<strong>da</strong> com a economia<br />

suja e enfraqueci<strong>da</strong> do Egito. De maneira<br />

semelhante, não existe nenhum sinal óbvio<br />

de que os governos dos Estados Unidos e do<br />

Reino Unido estejam dispostos a responder<br />

à chama<strong>da</strong> do Ocupa Wall Street <strong>para</strong> a<br />

reforma do setor financeiro, o sangue vital ou<br />

sanguessuga <strong>da</strong> economia real, com qualquer<br />

coisa que não seja banali<strong>da</strong>de ou pior.<br />

Para sair do “Vale <strong>da</strong> Morte” a sustentabili<strong>da</strong>de<br />

não depende de políticas públicas, de iniciativas<br />

empresariais ou de ação ci<strong>da</strong>dã – depende de<br />

to<strong>da</strong>s as três coisas e do alinhamento dinâmico<br />

entre elas. Ações ci<strong>da</strong>dãs que criarem<br />

mu<strong>da</strong>nças em grande escala serão coletivas,<br />

não necessariamente nas ruas, mas como<br />

inspirando uM estilo de vi<strong>da</strong> sustentável<br />

normas sociais confirma<strong>da</strong>s em bares, em táxis,<br />

em locais de trabalho e escolas e, apenas<br />

em última instância, nos pontos de compra.<br />

Mol<strong>da</strong>r novas normas sociais que<br />

fun<strong>da</strong>mentem ações ci<strong>da</strong>dãs coletivas é uma<br />

tarefa em que empresas e governos têm um<br />

papel importante a exercer como catalisadores.<br />

A política governamental é produto de astúcia<br />

política, ocasionalmente inspira<strong>da</strong> por crises e<br />

liderança, mol<strong>da</strong><strong>da</strong> por interesses empresariais<br />

e alicerça<strong>da</strong>, em última instância, na<br />

necessi<strong>da</strong>de de agra<strong>da</strong>r ao público em todos<br />

os casos menos os casos mais despóticos. E,<br />

por último, <strong>para</strong> ganhar escala, empresas<br />

progressistas terão de aju<strong>da</strong>r a criar o espaço<br />

político <strong>para</strong> mol<strong>da</strong>r as políticas certas,<br />

afastando seus concorrentes mais resistentes<br />

e mobilizando o apoio dos ci<strong>da</strong>dãos <strong>para</strong><br />

estimular os governos a fazer a coisa certa.<br />

Será apenas por meio desse alinhamento que<br />

a política pública exercerá um papel<br />

contundente, criando a oportuni<strong>da</strong>de <strong>para</strong><br />

que a sustentabili<strong>da</strong>de possa sair de seu<br />

“Vale <strong>da</strong> Morte”.<br />

Saindo do Vale <strong>da</strong> Morte| 43


inspirando estilos<br />

de vi<strong>da</strong> sustentáveis<br />

uM resuMo <strong>da</strong>s cinco alavancas <strong>para</strong> <strong>Mu<strong>da</strong>nça</strong> <strong>da</strong> unilever<br />

FAÇA COM<br />

QUE SEJA<br />

RECOMPENSADOR<br />

44<br />

FAÇA COM QUE<br />

SE TORNE UM<br />

HÁBITO<br />

Esta Alavanca trata de reforçar<br />

e lembrar.<br />

• Depois de as pessoas adotarem<br />

uma mu<strong>da</strong>nça, o que podemos<br />

fazer <strong>para</strong> aju<strong>da</strong>r na sua<br />

manutenção?<br />

Esta Alavanca demonstra<br />

as provas e recompensas.<br />

• <strong>As</strong> pessoas sabem quando estão<br />

“acertando” o comportamento?<br />

• Recebem algum tipo de recompensa<br />

quando acertam?<br />

CINCO<br />

ALAVANCAS<br />

PARA<br />

MUDANÇA<br />

FAÇA COM<br />

QUE SEJA<br />

DESEJÁVEL<br />

FAÇA COM<br />

QUE SEJA<br />

Esta Alavanca trata <strong>da</strong>s autopercepções<br />

<strong>da</strong>s pessoas e de suas relações com a<br />

socie<strong>da</strong>de mais abrangente.<br />

• A adoção desse novo comportamento<br />

se adequará à sua autoimagem<br />

real ou aspiracional?<br />

• Combinará com a maneira como<br />

se relacionam ou querem se<br />

relacionar com os outros?<br />

ENTENDIDO<br />

Esta Alavanca eleva a consciência<br />

e encoraja a aceitação.<br />

• <strong>As</strong> pessoas sabem a respeito<br />

desse comportamento?<br />

• Acreditam que é relevante <strong>para</strong> elas?<br />

FAÇA COM<br />

QUE SEJA<br />

FÁCIL<br />

Esta Alavanca estabelece<br />

conveniência e confiança.<br />

• <strong>As</strong> pessoas sabem o que fazer<br />

e se sentem confiantes em<br />

relação à mu<strong>da</strong>nça?<br />

• Veem como a mu<strong>da</strong>nça pode<br />

se encaixar em suas vi<strong>da</strong>s?


<strong>Unilever</strong> PLC<br />

<strong>Unilever</strong> House<br />

100 Victoria Embankment<br />

London<br />

EC4Y 0DY<br />

Reino Unido<br />

www.unilever.com/sustainability Produzido com

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