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UPIS – FACULDADES INTEGRADAS<br />
DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA<br />
TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO<br />
Área de Ovinocaprinocultura<br />
DE MEDICINA VETERINÁRIA<br />
Acadêmico: Nalhou Oliveira Alencar<br />
Orientador: Prof. Dr. Hélio Blume<br />
Supervisores: Méd. Vet. Maria Dalva Bezerra de Alcântara<br />
Méd. Vet. Fabianna Fortuna de Freitas
Brasília – DF<br />
Dezembro, 2006<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Aos queridos professores do curso de Veterinária, em especial ao<br />
Professor Dr. Hélio Blume, pela sua orientação e pelos ensinamentos<br />
transmitidos, culminando com a realização deste trabalho; à Professora<br />
Msc. Roselene Ecco, pelo incentivo e participação na minha formação<br />
acadêmica; ao professor Msc. Rafael Gianella Mondadori, pela sabedoria e<br />
competência com que tem conduzido e melhorado o curso de Medicina<br />
Veterinária e à Professora Msc. Adriana Moraes da Silva pela ajuda no<br />
encaminhamento do estágio e pela forma organizada e responsável com<br />
que conduz a coordenadoria de estágios supervisionados.<br />
A minha esposa Luci pela colaboração na realização do trabalho e<br />
pelo apoio durante mais essa jornada.<br />
Ao pessoal da EMEPA, em particular às minhas supervisoras do<br />
estágio, a médica veterinária Fabianna Fortuna de Freitas (E.E.B.M.) e<br />
Maria Dalva Bezerra de Alcântara (E.E.P.) pelos ensinamentos<br />
transmitidos e a oportunidade que me deram de praticar os conhecimentos<br />
teóricos adquiridos durante o curso.
AGRADECIMENTOS<br />
RESUMO<br />
LISTA DE TABELAS<br />
LISTA DE FIGURAS<br />
SUMÁRIO<br />
1. INTRODUÇÃO 1<br />
2. HISTÓRICO DA OVINOCAPRINOCULTURA 4<br />
3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 7<br />
4. MANEJO GERAL DO REBANHO 11<br />
5. MANEJO SANITÁRIO 16<br />
5.1. HELMINTOSES (VERMINOSES) 18<br />
5.1.1. Etiologia 18<br />
5.1.2. Epidemiologia 19<br />
5.1.3. Sinais Clínicos 22<br />
5.1.4. Diagnóstico 22<br />
5.1.5. Controle e Profilaxia 25<br />
5.1.6. Situação Acompanhada 29<br />
5.2. ECTIMA CONTAGIOSO (BOQUEIRA) 30<br />
5.2.1. Etiologia 30<br />
5.2.2. Sinais Clínicos 31<br />
5.2.3. Diagnóstico 32<br />
5.2.4.Tratamento 33
5.2.5. Controle 33<br />
5.2.6. Situação Acompanhada 33<br />
5.3. LINFADENITE CASEOSA (MAL DO CAROÇO) 35<br />
5.3.1. Etiologia 36<br />
5.3.2. Epidemiologia 36<br />
5.3.3. Patogenia 37<br />
5.3.4. Sinais Clínicos 38<br />
5.3.5. Diagnóstico 38<br />
5.3.6. Tratamento 39<br />
5.3.7. Controle e Profilaxia 39<br />
5.3.8. Situação Acompanhada 40<br />
6. CONCLUSÃO 43<br />
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45<br />
ANEXO 1 – Certificados de Estágio Obrigatório Supervisionado<br />
de Medicina Veterinária<br />
ANEXO 2 – Formulários utilizados pela EMEPA na<br />
escrituração zootécnica e no registro dos animais<br />
ANEXO 3 – Algumas raças criadas pela EMEPA 49<br />
47<br />
48
LISTA DE FIGURAS<br />
FIGURA 01 – Colocação de brinco em um ovino. Fonte: EMEPA<br />
(2006)<br />
FIGURA 02 – Parto distórcico de uma ovelha. Fonte: EMEPA<br />
(2006)<br />
FIGURA 03 – Parto distórcico de uma ovelha. Fonte: EMEPA<br />
(2006)<br />
FIGURA 04 – Aplicação de vacina em um caprino. Fonte: EMEPA<br />
(2006)<br />
FIGURA 05 – Fases de vida livre dos nematódeos gastrintestinais.<br />
Fonte: VIEIRA (1967)<br />
FIGURA 06 – Coleta de fezes para exames (OPG) – Fonte:<br />
EMEPA (2006)<br />
FIGURA 07 – Tonalidades da conjuntiva ocular. Fonte:<br />
MOLENTO (2006)<br />
FIGURA 08 - Cabra leiteira com Ectima contagioso (boqueira).<br />
Fonte: EMEPA (2006)<br />
FIGURA 09 – Cabra leiteira com Ectima contagioso (boqueira).<br />
Fonte: EMEPA (2006)<br />
FIGURA 10 - Linfadenite caseosa visceral em um caprino com<br />
abcesso nos principais órgãos (baço com vários abcessos). Fonte:<br />
EMEPA (2006)<br />
FIGURA 11 – Retirada de abcesso de um caprino com Linfadenite<br />
caseosa superficial. Fonte: EMEPA (2006)<br />
14<br />
15<br />
15<br />
17<br />
21<br />
23<br />
24<br />
34<br />
35<br />
41<br />
42
LISTA DE TABELAS<br />
TABELA 1 – Efetivo rebanho ovino e caprino – Brasil e regiões. IBGE –<br />
Produção Pecuária Municipal (2003)<br />
TABELA 2 – Atendimentos clínicos e atividades realizadas. 10<br />
TABELA 3 – Ração usada na E.E.B.M. para animais de 01 a 25 dias<br />
(Ração inicial), de 25 dias ao desmame e após o desmame. EMEPA (2006)<br />
TABELA 4 – Rações usadas para fêmeas no terço final (Ração A) e para<br />
animais que irão participar de exposições e leilões (Ração E) – EMEPA<br />
(2006)<br />
TABELA 5 – Principais anti-helmínticos utilizados no controle da<br />
nematodeose gastrintestinal dos caprinos e ovinos. Vieira e Cavalcante<br />
(1996)<br />
6<br />
12<br />
13<br />
27
1. INTRODUÇÃO<br />
A escolha da Região Nordeste para realização do estágio<br />
supervisionado nas áreas de Ovinocultura e Caprinocultura foi motivada<br />
pela tradição que tem esta região na criação de caprinos e ovinos. A opção<br />
da EMEPA (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado da Paraíba S/A)<br />
ocorreu por indicação de pessoas ligadas à área e também pelas<br />
informações de que a EMEPA foi pioneira na importação de raças caprinas<br />
como a Boer e a Savana e de ovinos da raça Dorper. Outra razão foi saber<br />
que um dos seus principais objetivos é investir em animais de genética<br />
elevada e espalhar esta genética através do empréstimo de seus<br />
reprodutores para os produtores desenvolverem-na em seus rebanhos<br />
(sistema de comodato). O produtor solicita um reprodutor de uma raça<br />
desejada e em troca a EMEPA recebe 10% dos produtos da cobertura.<br />
O estágio teve a duração de 2 meses, perfazendo uma carga horária<br />
de 464 horas, sendo a primeira parte realizada no período de 01/08/06 a<br />
27/08/06, na Estação Experimental Benjamim Maranhão – E.E.B.M. -<br />
unidade descentralizada da EMEPA e a segunda, no período de 28/08/06 a<br />
29/09/06, na Estação Experimental de Pendência – E.E.P. – tendo enfoque<br />
principal no manejo sanitário sob a supervisão da médica veterinária<br />
Fabianna Fortuna de Freitas (E.E.B.M.) e da médica veterinária Maria<br />
Dalva Bezerra de Alcântara (E.E.P.). Dentro do manejo sanitário foi feita a<br />
revisão bibliográfica e discussão das seguintes enfermidades: Helmintoses<br />
(verminoses), Ectima contagioso (boqueira) e Linfadenite caseosa (mal do<br />
caroço). A escolha dos temas ocorreu em função da quantidade de animais<br />
atendidos acometidos de tais doenças durante o período do estágio.<br />
Porém, foram atendidos casos de Acidose Láctea, pododermatite,<br />
1.
partos distócicos. Ainda foram realizadas necropsias de três animais e a<br />
imobilização do membro dianteiro de um bode e também uma cesariana em<br />
uma cabra. Houve participação também no manejo geral das estações com<br />
o acompanhamento da preparação de rações fornecidas aos diferentes lotes<br />
conforme sua idade e aptidão (Tabelas 3 e 4). Na E.E.B.M. foram<br />
realizados acompanhamentos de cobertura de ovelhas Santa Inês e<br />
assistência à parição de cabras Bôer. Na E.E.P., estes procedimentos<br />
estavam relacionados às cabras leiteiras (Parda alpina, Anglo nubiana,<br />
Alpina britânica) e ovelhas. Estas atividades consistiam em ajuda nos<br />
partos distócicos, limpeza e massagem do nascituro, desinfecção e corte do<br />
umbigo, ajuda para mamar o colostro e identificação dos animais. Nas<br />
fazendas para as quais a EMEPA emprestava reprodutores foram feitas<br />
várias visitas com o objetivo de acompanhar os produtos, fazer a pesagem e<br />
identificação. Na primeira propriedade visitada, as coberturas foram feitas<br />
com reprodutores da raça Dâmara da EMEPA. Na segunda foram utilizados<br />
reprodutores das raças Dorper e Bôer. Na terceira, foram utilizados<br />
reprodutores Moxotó e Canindé.<br />
A E.E.B.M. sediada no Município de Campo de Santana, à 150 km<br />
de João Pessoa, pertence à meso-região do Agreste Paraibano e<br />
microrregião do Curimatã, possuindo as coordenadas geográficas de 6° 29’<br />
18’’ e 35° 38’ 14’’ W.Gr. Fundada em 1959, com uma área total de 262,6<br />
km2 e uma altitude de 168m . O clima é quente e úmido, com precipitações<br />
pluviométricas, oscilando em torno de 800mm anuais. A temperatura oscila<br />
entre 22 e 26°C. possuía um plantel de 319 animais, sendo 103 Boer, 85<br />
ovinos (Dorper, Santa Inês e mestiços), no Centro de Manejo Boer. O<br />
Centro de Manejo Recria é ocupado por cinco machos adultos para leilão,<br />
25 cabritos desmamados, cinco reprodutores e três borregos. O Centro de
Manejo Sede possui 40 cabritos, 29 cabras paridas, dois bodes<br />
reprodutores, 16 novilhas, duas cabras e 45 ovelhas Santa Inês prenhas e<br />
dois reprodutores Santa Inês.<br />
A E.E.P. encontra-se situada no Município de Soledade, na região<br />
dos Cariris Velho Paraibano, localizada a 210 km de João Pessoa, com<br />
temperatura anual em torno de 35°C e a mínima de 22°C, com pequenas<br />
variações. A precipitação pluviométrica apresenta-se em torno de 105 a<br />
705mm/ano e a média geral é em torno de 390mm/ano. Possui uma área de<br />
727ha, ocupada com capim cultivado(Buffel), palma forrageira, açudes,<br />
vegetais nativos. Possui um plantel de 649 animais divididos em vários<br />
rebanhos. No Centro de manejo BNB (Banco do Nordeste do Brasil)<br />
encontram-se 361 animais, sendo: Canindé (30); Santa Inês (116); Dâmara<br />
(18); Dorper (79); mestiços (131). No Projeto Brasil nº 3, contém apenas<br />
caprinos da raça Savana, sendo 25 cabras paridas e 43 cabritos (produtos).<br />
No Centro de manejo Sede, estão os reprodutores assim divididos: quatro<br />
da raça Santa Inês, quatro da raça Savana, três da raça Boer, dois da raça<br />
Dorper, três da raça Alpina Britânica, um da raça Anglo Nubiana e um da<br />
raça Parda Alpina. O Sistema de produção de leite e derivados, contém 200<br />
animais, sendo 32 matrizes e 45 produtos da raça Parda Alpina, 30 matrizes<br />
e 53 produtos da raça Anglo- Nubiana, 21 matrizes e 15 produtos da raça<br />
Alpina Britânica.<br />
Além das atividades citadas anteriormente, a EMEPA tem como um<br />
dos seus objetivos principais desenvolver a genética de todas essas raças e<br />
preparar os animais para participar de leilões, exposições e feiras<br />
agropecuárias no Estado da Paraíba e em todo o Nordeste.
2. HISTÓRICO DA OVINOCULTURA E CAPRINOCULTURA<br />
A cabra foi o primeiro animal domesticado pelo homem capaz de<br />
produzir alimentos. Isso aconteceu há cerca de dez mil anos, conforme<br />
atesta relatos históricos, mitológicos e bíblicos. Os caprinos têm a mesma<br />
origem dos bovinos com tronco ancrestral dos antílopes, sendo as raças<br />
domésticas atuais descendentes da Capra aegagrus, da Pérsia e Ásia<br />
Menor, Capra falconeri, do Himalaia e Capra prisca, da Bacia do<br />
Mediterrâneo. A cabra doméstica é a Capra hircus (RIBEIRO, 1997).<br />
A ovinocultura e a caprinocultura são atividades exploradas em<br />
todos os continentes, sendo que os maiores rebanhos de caprinos estão<br />
localizados na Índia, China e Paquistão. Os países com maiores rebanhos<br />
de ovinos são a Austrália, a China e a Nova Zelândia. Na América do Sul o<br />
rebanho caprino é de 22,8 milhões de cabeças, sendo o rebanho brasileiro o<br />
maior com 12 milhões de cabeças, seguido pela Argentina com 3,4<br />
milhões, Venezuela com 1,8 milhões (Production Yearbook (1994 apud<br />
RIBEIRO, 1997). Cerca de 94,2% dos caprinos do mundo encontram-se em<br />
regiões em desenvolvimento, evidenciando a capacidade do caprino de se<br />
adaptar à condições adversas, justificando sua reputação de animal rústico.<br />
No Brasil, segundo o IBGE (2004), o rebanho de caprinos é de 10<br />
milhões de cabeças e o de ovinos é de 15 milhões. A Região Nordeste é a<br />
mais populosa, possuindo 92% do rebanho brasileiro de caprinos e mais da<br />
metade do rebanho de ovinos. A Bahia é o Estado com o maior rebanho,<br />
4.
3,9 milhões de cabeças de caprinos e 2,9 milhões de ovinos. A Paraíba<br />
ocupa o quinto lugar com 680.741 caprinos e 408.671 ovinos.<br />
No caso de caprinos a supremacia do Nordeste é muito grande, pois<br />
o Sudeste, que ocupa o segundo lugar, tem apenas 2,36%, contra os 92,95%<br />
acima citados. Observa-se que são menos de 5% dos caprinos distribuídos<br />
pelas demais regiões geográficas do país (Tabela 1).<br />
A criação de ovinos e caprinos vem se destacando a cada dia e já se<br />
tornou mais uma alternativa para o produtor rural. A produção de carne de<br />
caprinos e ovinos de 2003 a 2005 cresceu 6,5%, significando o maior<br />
avanço relativo, dentre os principais tipos de carne, embora represente<br />
apenas 5% do volume total. Os sistemas produtivos têm mudado e mais<br />
produtores estão explorando a criação de pequenos ruminantes. Ao longo<br />
das últimas décadas a ovinocultura e caprinocultura sofreram<br />
transformações radicais nos elos de suas cadeiras produtivas, em<br />
decorrência da notória expansão dos mercados interno e externo<br />
(NOGUEIRA JUNIOR, 2005).<br />
Tabela 1 - Efetivo Rebanho Ovino e Caprino – Brasil e Regiões<br />
Regiões Ovinos % Caprinos % Total %<br />
Brasil 14.556.484 100 9.581.653 100 24.138.137 100<br />
Nordeste 8.233.014 55,56 8.905.773 92,95 17.138.787 71<br />
Norte 407.643 2,8 140.359 1,46 548.002 2,27<br />
Centro-Oeste 799.984 5,5 103.724 1,08 903.708 3,74<br />
Sul 4.622.365 31,75 205.707 2,15 4.828.072 20<br />
Sudeste 493.478 3,39 226.090 2,36 717.568 2,98<br />
Fonte: IBGE – Produção Pecuária Municipal, 2003
3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS<br />
Durante o período do estágio supervisionado nas Estações de<br />
Pendência e Benjamim Maranhão, foi realizado o acompanhamento dos<br />
técnicos em agropecuária e os veterinários no manejo geral dos animais,<br />
nos diferentes centros, lidando com raças diferentes e animais de várias<br />
idades.<br />
Uma das atividades realizadas com a presença do inspetor da<br />
APACCO (Associação Paraibana dos Criadores de Caprinos e Ovinos) foi<br />
a tatuagem dos animais para efeito de registro. Na tatuagem de animais<br />
feita na orelha direita consta o número do Estado em que nasceu o animal,<br />
juntamente com o número de inscrição da empresa junto a APACCO, ou<br />
seja, cinco números, sendo que os dois primeiros representam o Estado que<br />
o animal nasceu e os últimos o número da empresa.. Na orelha esquerda foi<br />
tatuado o ano que o animal nasceu e o número de seqüência dos<br />
nascimentos, ou seja, 06001 para o primeiro animal nascido em 2006 na<br />
propriedade.<br />
Outras atividades periódicas acompanhadas nas Estações foram a<br />
pesagem e a biometria dos animais, para avaliação do desenvolvimento<br />
corporal e ganho de peso. A biometria consiste nas seguintes medidas:<br />
altura da cernelha (AC), profundidade do torax (PT), comprimento da<br />
perna (CP), comprimento do corpo (CC), abertura do peito (AP), perímetro<br />
toráxico (PTX) e perímetro da coxa (PC). A biometria é feita de 28 em 28<br />
dias com um paquímetro ou fita métrica. Um manejador faz a contenção<br />
do animal e o técnico realiza a medição. Outra atividade periódica é o
casqueamento, que era realizado com o auxílio de uma tesoura própria ou<br />
canivete bem amolado, retirando-se o excesso do casco. Na E.E.P., um mês<br />
antes da Exposição Agropecuária de Campina Grande, começou-se a<br />
preparação dos animais com: banho, escovação, alimentação diferenciada<br />
com complemento vitamínico e energético, treinamento para andar no<br />
cabresto junto ao manejador.<br />
Foram realizadas nas duas Estações a coleta de fezes para OPG<br />
(Ovos por Grama de Fezes) e de sangue para hematócrito de animais que<br />
apresentavam a conjuntiva clara e o estado corporal baixo, e que muitas<br />
vezes apresentavam diarréia. Foi realizada a coleta de fezes em ovelhas 15<br />
dias antes e 15 dias após o parto para avaliar a infestação parasitárias<br />
desses animais, uma vez que nesse período do periparto a imunidade fica<br />
baixa e a eliminação de ovos de nematódeos gastrintestinais aumenta.<br />
Houve também um atendimento e acompanhamento de um caprino<br />
da raça Savana de alto valor genético que iria para a exposição de Campina<br />
Grande. O animal apresentou apatia, anorexia e fezes moles. Após a<br />
realização do exame clínico foi constatado um quadro de acidose (sintomas<br />
de acidose). O tratamento imediato foi fluidoterapia para controlar a<br />
desidratação. Administrou-se bicarbonato de sódio e líquido ruminal<br />
coletado de um animal sadio. A acidose foi diminuída e a diarréia<br />
combatida com Borgal.<br />
Houve acompanhamento e participação de uma cesariana em uma<br />
cabra Savana de alto valor zootécnico que estava sendo preparada para a<br />
exposição em Campina Grande. O animal começou com alteração no<br />
comportamento, inquietude, vulva edemaciada com secreção escura.<br />
Esperou-se 48 horas pela parição, que não aconteceu. Não houve dilatação,<br />
e foi necessária a realização da cesariana e a retirada do cabrito que já<br />
estava morto e enfizematoso. A cabra foi bem cuidada no pós-operatório,<br />
recuperou-se, porém, ficou fora da exposição.
Tabela 2 - Atendimentos clínicos e atividades realizadas.<br />
Casuística Caprino Ovino
Partos distócicos 1 2<br />
Pododermatite 4 0<br />
Aborto 1 0<br />
Anemia 4 3<br />
Pneumonia 3 0<br />
Retenção de placenta 0 1<br />
Drenagem de abcesso – Linfadenite 5 2<br />
Ectima contagioso 30 0<br />
Coleta de material para p/CAE 12 8<br />
Coleta de fezes 20 0<br />
Coleta de sangue 12 0<br />
Acidose Lactea 1 0<br />
Cesariana 1 0<br />
Diarréia 10 10<br />
Vacina contra clostridiose Todos Todos<br />
Vermifugação 10 20<br />
Tatuagem Todos Todos<br />
Cobertura controlada 56 45<br />
Exame de OPG 0 25<br />
Necropsia 3 2<br />
Cuidados com o parto 25 30<br />
Corte e desinfecção do umbigo 60 40<br />
Ajuda para mamar colostro 10 15<br />
Colocação de brincos 40 60
4. MANEJO GERAL DO REBANHO<br />
O manejo era iniciado com a limpeza dos apriscos (chiqueiros) e<br />
fornecimento do alimento e água para os animais. Neste momento, os<br />
técnicos em agropecuária já começam a inspecionar os rebanhos e observar<br />
possíveis alterações e mudanças de comportamento dos animais (diarréia,<br />
animais apáticos ou que não acompanham o rebanho). Estas alterações<br />
eram comunicadas ao veterinário responsável para que fosse realizado o<br />
respectivo tratamento.<br />
Os animais nas E.E.P. e E.E.B.M. são separados por categorias:<br />
matrizes, reprodutores e crias. Cada fase tem um manejo específico de<br />
acordo com a idade e o sexo. Os animais são pesados logo após o<br />
nascimento e a cada 28 dias, mantendo um acompanhamento intensivo,<br />
registrados em fichas de controle zootécnico (anexo 2). Os animais são<br />
criados em regime intensivo e semi-intensivo. No sistema intensivo são<br />
separados em piquetes de acordo com a categoria animal, a alimentação era<br />
composta por volumoso à base de silagem de milho ou feno de capim tifton<br />
e concentrado elaborado com caroço de algodão e farelo de milho. No<br />
sistema semi-intensivo, os animais se alimentam de pastagem cultivada<br />
(Buffel e Urucloa) e nativa e retornam ao aprisco duas vezes ao dia para<br />
receber suplementação alimentar com volumoso (feno ou silagem) e farelo<br />
de milho, além de sal mineral.<br />
As rações utilizadas na E.E.B.M. eram elaboradas visando atender as<br />
exigências nutricionais dos animais, de acordo com a idade, estado<br />
fisiológico e também para os animais selecionados para participar de<br />
exposições e leilões (Tabela 3).
Tabela 3 - Ração usada na E.E.B.M. para animais de 01 a 25 dias (ração<br />
inicial); de 25 dias ao desmame e após o desmame.<br />
Ração inicial/até 25d % 25 dias/desmame % Após desmame %<br />
Milho triturado<br />
Farelo de trigo<br />
Farelo de soja<br />
Sal mineral<br />
Fonte: EMEPA, 2006<br />
50<br />
30<br />
18<br />
02<br />
Milho triturado<br />
Feno de tifton<br />
Farelo de soja<br />
Farelo de trigo<br />
Sal mineral<br />
Calc. calcítico<br />
56<br />
15<br />
23,5<br />
3,5<br />
01<br />
01<br />
Milho triturado<br />
Feno de tifton<br />
Farelo de soja<br />
Farelo de trigo<br />
Sal mineral<br />
Calc. calcítico<br />
Na E.E.B.M. é usada, também, ração diferenciada para fêmeas no<br />
terço final da gestação (Ração A) e para animais que irão participar de<br />
exposições e leilões (Ração E), conforme tabela 4:<br />
Tabela 4 – Rações usadas para fêmeas no terço final (Ração A) e para<br />
animais que irão participar de exposições e leilões (Ração E).<br />
30<br />
30<br />
18<br />
20<br />
01<br />
01
Ingredientes Ração A - % Ração E - %<br />
Milho moído 30,0 28,0<br />
Farelo de trigo 32,5 15,0<br />
Torta de algodão 15,0 0<br />
Caroço de algodão 20,0 8,0<br />
Farelo de soja 0 0<br />
Feno de titfon 0 30,0<br />
Cloreto de amônio 0,5 0,5<br />
Calcário 1,0 0,7<br />
Sal mineral 1,0 0,7<br />
Total 100,0 100,0<br />
Energia 77,0 72,0<br />
Proteínas 17,0 18,5<br />
Fonte: EMEPA, 2006<br />
Outra atividade importante acompanhada durante o estágio foi a<br />
escrituração zootécnica. A EMEPA, periodicamente, recebe a visita de um<br />
inspetor do Serviço de Registro Genealógico da APACCO, para<br />
inspecionar e tatuar os animais. Aqueles que são aprovados na inspeção,<br />
recebem o registro provisório e se tudo correr bem com o animal, na<br />
próxima visita ele recebe o registro definitivo. O escritório da EMEPA faz<br />
uma comunicação de cobertura para a APACCO, e na época da parição faz-<br />
se a comunicação dos nascimentos, afim de que, quando o inspetor for<br />
chamado para fazer a tatuagem, a APACCO já tenha a relação dos animais<br />
existentes na propriedade. São usados vários formulários para<br />
2.
controlar a escrituração zootécnica dos animais a partir da cobertura (<br />
Anexo 2).<br />
Os animais da EMEPA destinados à reprodução recebem brincos de<br />
cores variadas, conforme a raça. Os que se originam do sistema de<br />
comodato, são destinados à realização de pesquisa e experimentos,<br />
recebem brincos de uma só cor e forma diferente daqueles usados nos<br />
animais de reprodução (Figura 1).<br />
Figura 1 – Colocação de brinco em um ovino.<br />
Fonte: EMEPA (2006).<br />
No período de parição a assistência às parturientes é permanente e os<br />
estagiários e veterinários podem ser chamados a qualquer momento para<br />
ajudar nos partos (Figura 2 e 3).<br />
3.
Figura 2 – Parto distórcico de uma ovelha.<br />
Fonte: EMEPA (2006)<br />
Figura 3 – Parto distócico.<br />
Fonte: EMEPA 2006
5. MANEJO SANITÁRIO<br />
O manejo sanitário animal constitui um dos lados do triângulo<br />
formado juntamente com os aspectos nutricionais e reprodutivo. Sendo a<br />
nutrição um dos esteios que sustentem o tripé, ela deve ser a preocupação<br />
primordial do criador, pois, animais bem alimentados e bem nutridos são<br />
animais fortes e que dificilmente adoecem. Animais bem nutridos<br />
reproduzem melhor. As doenças porém podem estar na própria alimentação<br />
ou podem ocorrer com alimentação inadequada, ou podem entrar nas<br />
propriedades de repente, trazidas por um animal que vai a uma exposição<br />
ou que é adquirido de locais contaminados. As doenças podem ser<br />
transmitidas por outras espécies de animais.<br />
A vacinação é a maneira mais segura de evitar doenças. Nas estações<br />
de Pendência e Benjamim Maranhão, os animais são vacinados contra<br />
Clostribioses da seguinte forma: a primeira dose é aplicada quando o<br />
animal completa um mês de vida, quando a mãe foi vacinada, e na segunda<br />
semana de vida quando a mãe não foi vacinada. A segunda dose é aplicada<br />
aos 21 dias após a primeira e a terceira dose após quatro meses depois da<br />
última dose. As cabras prenhes podem ser vacinadas em qualquer período<br />
da gestação. A dose é de 2ml para ovinos e caprinos pela via subcutânea. A<br />
vacinação contra raiva é feita em todos os animais a partir dos quatro meses<br />
de idade com revacinação anual. A dose de vacina é de 2ml por via<br />
subcutânea e intramuscular (Figura 4).
Figura 4 – Aplicação de vacina em caprino.<br />
Fonte: EMEPA (2006)<br />
Segundo Pugh (2004), os programas de manejo sanitário do rebanho<br />
devem ser elaborados especificamente para uma propriedade, de forma<br />
individual, e varia de acordo com o tamanho do rebanho, seu objetivo e as<br />
metas de produção de proprietário. As práticas de manejo sanitário devem<br />
ser elaboradas em separado para cada categoria de animal. As fêmeas<br />
secas, em final de gestação e paridas são cuidadas de forma diferente. Os<br />
neonatos, crias desmamadas e reprodutores, devem receber tratamento<br />
diferenciado.<br />
4.
5.1 - HELMINTOSES (Verminoses)<br />
5.1.1. Etiologia<br />
As helmintoses de caprinos e ovinos são causadas por parasitos<br />
pertencentes às classes Nematoda, Cestoda e Trematoda. Os principais<br />
gêneros parasitos de caprinos e ovinos são: Haemonchus, Trichostrongylus,<br />
Strongilóides, Moniezia, Cooperia, Oesophagostomum, Trichuris e<br />
Cisticercus (RIET-CORREIA, et all, 2003 e AMARANTE, 2005).<br />
Os trichostrongilídeos, incluindo Dictyocaulus, são responsáveis por<br />
mortalidade considerável e morbidade difusa, especialmente em<br />
ruminantes. Os gêneros mais importantes do trato digestivo são<br />
Haemonchus, Ostertágia, Trychostrongylus, Cooperia, Nematódirus,<br />
Hyostrongylus, Marshallagia e Mecistocirrus (URQUHART, et all. 1998).<br />
A elevada prevalência associada a grande patogenicidade, faz do<br />
Haemonchus contortus a principal espécie endoparasita de ovinos e<br />
caprinos na região semi-árida e no Brasil. Este parasito do abomaso é<br />
hematófago, ou seja, se alimenta de sangue. Os animais com carga<br />
parasitária elevada podem apresentar anemia e edema submandibular e os<br />
casos de mortalidade por este parasito são relativamente comuns. Em<br />
seguida, em ordem de importância aparece a espécie Trichostrongylus<br />
Colubriformis, parasito do intestino delgado, presente praticamente em<br />
todas as criações de ovinos e caprinos. Esses lesam a mucosa intestinal<br />
provocando exsudação de proteínas séricas para a luz intestinal. Em<br />
grandes infecções os animais podem apresentar anorexia, diarréia e edema<br />
submandibular (papeira) (AMARANTE, 2005 e RIET-CORREIA, et all,<br />
2003).<br />
5.
5.1.2. Epidemiologia<br />
A epidemiologia é o estudo dos fatores, inter-relacionados, que<br />
levam ao aparecimento de doenças numa população. No caso das<br />
namatodeoses gastrintestinais, a presença do verme não significa<br />
necessariamente a presença da doença. Os principais fatores que interferem<br />
na epidemiologia dos nematódeos gastrintestinais são os relacionados ao<br />
ambiente e ao hospedeiro. Os nematódeos possuem um ciclo evolutivo<br />
direto com um período de desenvolvimento no hospedeiro (fase parasitária)<br />
e outro no meio ambiente (fase de vida livre). A fase ambiental se inicia<br />
com a liberação dos ovos na pastagem através das fezes e o<br />
desenvolvimento das larvas até L3 (larva infectante), que dura<br />
aproximadamente sete dias, dependendo da temperatura e da umidade<br />
(figura 5). O ciclo parasitário propriamente dito se inicia com a ingestão<br />
das larvas infectantes juntamente com o pasto pelo hospedeiro onde<br />
desenvolve-se para atingir o estágio adulto. O período pré-patente, ou seja,<br />
a partir da infecção até a eliminação dos ovos através das fezes, é de<br />
aproximadamente 21 dias (Santa Rosa, 1996). A L3 após ser ingerida pelo<br />
hospedeiro chega até o abomaso ou intestino, penetra nos tecidos e muda<br />
para L4. Depois de 10 dias muda para L5 e emerge dos tecidos e se<br />
transforma em verme adulto na luz do órgão. As fêmeas iniciam a<br />
ovipostura, que pode variar de 100 a 10.000 ovos/dia/fêmea, dependendo<br />
da espécie (RIET-CORREA, 2001).<br />
Na maioria das vezes, as infecções naturais por tricostrongilídeos<br />
abrangem uma mescla de espécies. A importância de cada uma delas é<br />
variável conforme a região e a estação do ano. Nas áreas onde o inverno é<br />
chuvoso, a Ostertágia tende a ser o gênero de maior importância clínica em<br />
6.
ovinos e bovinos, predominando o Haemonchus nas regiões em que o<br />
verão é chuvoso. As características das doenças são determinadas por<br />
fatores que influenciam a susceptibilidade do hospedeiro, a quantidade de<br />
larvas infectantes acumuladas nas pastagens e o número de larvas<br />
hipobióticas. A Hipobiose acontece durante o período em que as condições<br />
ambientais são adversas. Assim a Hipobiose assegura que a nova geração<br />
de adultos fique apta à oviposição logo que as condições ambientais se<br />
tornem favoráveis (RADOSTISTIS, 2002).
Figura 5 - Fases de vida livre dos nematódeos gastrintestinais.<br />
Fonte: Vieira (1967)
5.1.3. Sinais Clínicos<br />
Os sinais clínicos caracterizam-se por anorexia, menor ganho de<br />
peso, emagrecimento progressivo, desidratação, pelo hirsuto, fezes pastosas<br />
e, posteriormente, diarréia. Em ovinos a ocorrência de fezes pastosas ou<br />
diarréicas pode ser detectada pela presença de excrementos secos presos na<br />
lã da região perineal (RIET-CORREA, 2001). No estado crônico observa-<br />
se edema submandibular, debilidade orgânica geral, queda progressiva da<br />
produção leiteira e, na maioria das vezes, morte (SANTA ROSA, 1996).<br />
5.1.4. Diagnóstico<br />
O diagnóstico das nematodeoses gastrintestinais pode partir de uma<br />
avaliação clínica dos animais, contudo, somente sinais clínicos não são<br />
suficientes para um diagnóstico preciso, visto que existem outras<br />
enfermidades que apresentam sinais clínicos semelhantes aos das<br />
verminoses. A necropsia com contagem parasitária, a contagem de ovos<br />
por grama de fezes (OPG) e a cultura de larvas são as técnicas que devem<br />
ser utilizadas para confirmar as suspeitas clínicas. Deve-se ter cuidado na<br />
interpretação do OPG, pois nem sempre esse exame reflete o número de<br />
nematódeos presentes nos animais. Fatores como estado imunitário do<br />
animal, espécies presentes, capacidade de oviposição, consistência das<br />
fezes e estágio dos parasitos no interior do hospedeiro podem interferir no<br />
resultado do exame (RIET-CORREA, 2001).<br />
A colheita das fezes para exame laboratorial deve ser feita<br />
diretamente do reto do animal com luvas de plástico descartável. Em<br />
animais de pequeno porte, introduz-se apenas um dedo. Em animais<br />
maiores pode-se introduzir dois dedos, fazendo-se uma massagem na<br />
mucosa retal. Após ter obtido o material, descalçar a luva, invertendo-a,<br />
podendo dar-lhe um nó para melhor conter as fezes colhidas. O envio para
o laboratório deve ser o mais rápido possível e as amostras de fezes devem<br />
ser acondicionadas em caixa isotérmica com gelo. Recomenda-se que seja<br />
coletado material de dez animais por categoria, incluindo animais<br />
saudáveis e animais com sinais de verminose (MOLENTO, 2006).<br />
Figura 6 - Coleta de fezes para exames (OPG)..<br />
Fonte: EMEPA, 2006
Segundo Molento (2006), a utilização do método Famacha é de<br />
grande utilidade para identificar os animais que receberão ou não<br />
tratamento, observando a coloração da conjuntiva ocular e correlacionando<br />
o resultado com o valor do hematócito (Figura 7). Quando o animal<br />
apresenta mucosa ocular muito clara e hematócrito abaixo de 30%, deve-se<br />
trata-lo imediatamente. Na EMEPA era aplicado rotineiramente e somos a<br />
favor da aplicação deste método, uma vez que é de fácil aplicação e reduz a<br />
medicação com anti-helmintícos e ajuda a despoluir o ambiente.<br />
7.
5.1.5 - Controle e Profilaxia<br />
Figura 7 - Tonalidades da conjuntiva ocular.<br />
Fonte: Molento (2006)<br />
A partir do diagnóstico laboratorial (OPG) devem ser implementadas<br />
medidas de controle. Contudo, não é indicado apenas o controle químico<br />
pelo uso de anti-helmínticos, pois esses conferem uma segurança relativa,<br />
principalmente, quando as pastagens estão muito contaminadas ou quando<br />
8.
há resistência ao princípio ativo utilizado. Deve-se evitar a superpopulação<br />
de animais, assim como o pastoreio prolongado em determinada área, que<br />
favorece o aumento de ofertas de formas infectantes aos animais. É<br />
necessário utilizar tratamentos estratégicos que tenham como princípio<br />
básico o conhecimento do estado parasitológico dos hospedeiros e do<br />
ambiente (RIET-CORREA, 2001).<br />
Santa Rosa (1996) recomenda tratamento estratégico após o estudo<br />
epidemiológico em regiões onde as estações do ano são bem definidas.<br />
Consiste na aplicação dos anti-helmínticos em épocas pré-determinadas,<br />
antes que ocorra aumento significativo da população de parasitas no<br />
rebanho e na pastagem. Basicamente consiste na concentração das<br />
vermifugações no período seco visando o controle dos parasitas em seus<br />
respectivos hospedeiros, pois, nessa época do ano, são os únicos locais de<br />
sobrevivência do parasita. Desse modo, ocorrerá a descontaminação da<br />
pastagem no período chuvoso.<br />
Segundo Amarante (2005), o controle de helmintose de pequenos<br />
ruminantes não pode depender apenas da aplicação de anti-helminticos.<br />
Portanto, deve-se acrescentar a essa prática a criação de animais<br />
geneticamente resistentes aos nematódeos, bem como a adoção de práticas<br />
de manejo que visem a redução da contaminação ambiental pelos estágios<br />
de vida livre dos parasitos, tendo em vista que a maioria dos nematódeos<br />
apresenta duas fases distintas no seu desenvolvimento: uma fase parasitária<br />
que ocorre no hospedeiro e que se inicia com a ingestão da larva infectante<br />
e completa com o parasita adulto eliminando ovos nas fezes. A outra fase<br />
ocorre na pastagem que é a vida livre que vai do ovo até a larva infectante.<br />
Costa e Vieira (1984 apud Vieira 1997) ressaltaram a importância da<br />
adoção de um controle estratégico para a helmintose de pequenos<br />
ruminantes. Este controle é um programa baseado em estudos<br />
epidemiológicos regionais, que permitem conhecimento da dinâmica
populacional dos parasitos, no hospedeiro e no meio ambiente. O<br />
tratamento é realizado em épocas pouco favoráveis à sobrevivência das<br />
larvas de nematódeos gastrintestinais no ambiente e, consequentemente,<br />
menor risco de infecção dos animais após o tratamento. Os autores<br />
recomendam o seguinte esquema para a região semi-árida:<br />
- Primeira medicação: início do período seco (junho ou julho)<br />
- Segunda medicação: 60 dias após primeira (agosto/setembro)<br />
- Terceira medicação: final do período seco (novembro)<br />
- Quarta medicação: meados do período chuvoso (março)<br />
A aplicação de anti-helmínticos deve ser feita racionalmente, através<br />
de dosificações estratégicas, que visem diminuir o número de formas<br />
infectantes na pastagem; dosificações táticas, que são realizadas para cobrir<br />
o tempo entre duas dosificações estratégicas, motivadas por fatores<br />
climáticos, como umidade e temperatura aumentados; e dosificações<br />
curativas, utilizadas quando aparecem sinais clínicos de parasitose ou<br />
morte de animais. O objetivo das dosificações estratégicas é de administrar<br />
anti-helmínticos quando os parasitos estão em menor número na pastagem,<br />
ou em épocas em que as condições climáticas estiverem desfavoráveis à<br />
sobrevivência dos estágios de vida livre (RIET-CORREA, 2001).<br />
Vieira (1997) apresentou em forma de tabela vários grupos de anti-<br />
helmínticos desenvolvidos para atuar sobre ovos, larvas, formas imaturas e<br />
adultos dos nematódeos gastrintestinais (Tabela 5).<br />
Tabela 5 - Principais anti-helmínticos utilizados no controle da nematodeose<br />
gastrintestinal dos caprinos e ovinos<br />
Grupo<br />
Químico<br />
Benzimidazóis e<br />
pró-benzimidazóis<br />
Princípio<br />
Ativo<br />
Albendazol<br />
Albendazol<br />
Nome<br />
Comercial<br />
Albendathor 1,9%<br />
Anor 10%<br />
indicação Dose Via de aplicação<br />
Cap Ovi Oral S.C. I.M<br />
.<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
4,75mg/kg (2,25ml/kg)<br />
4,75mg/kg(4,048ml/kg)<br />
+<br />
+
Oxfendazol Systamex 2,65% + + 5,0mg/kg (0,22ml/kg)<br />
Fenbendazol Panacur 3,3% (químio) + + 5,0mg/kh (0,15ml/kg)<br />
Albendazol Ovalben 1,9%<br />
+ + 4,75mg/kg(0,25ml/kg)<br />
Imidotiazóis e C.tetramisol+<br />
+ +<br />
Pirimidina C.prometazina Adevermin inj. 10% + + 6,6mg/kg (0,066ml/kg)<br />
C.levamisole Ripercol sol.oral 5% + + 7,5mg/kg (0,15ml/kg)<br />
C.tetramisol Tetramisol fagra11,75% + 7,8mg/kg (0,066ml/kg)<br />
C.tetramisol Vermisol- RF 10%<br />
+ 6,6mg/kg (0,066ml/kg)<br />
Salicilanilidas e Closantel Nitrofenol<br />
+ 10mg/kg (1,1ml/kg)<br />
Substitutos<br />
Nitrofenólicos<br />
Diantel Rumivac oral 8% + + 8mg/kg (1,1ml/kg)<br />
Organofosforados* Triclorfon Triclovet oral pó 97% + + 100mg/kg (1mlkg de<br />
uma solução a 10%)<br />
Avermectinas Ivermectin Ivomec solução 0,08% + + 0,2mg/kg (0,25ml/kg) + Axila, face<br />
Ivermectin Ivomec infetável 1%<br />
+ 0,2mg/kg (0,02mlkg) interna coxa<br />
Milbermicinas Moxidectin Cydectin injetável 1% + 0,2mg/kg(0,02ml/kg) Axila, face<br />
interna coxa<br />
FONTE:Vieira & Cavalcante (1996). Dados não publicados.<br />
* Somente consumir a carne e o leite sete dias após a vermifugação. Não<br />
vermifugar fêmeas prenhes. Em caso de sinais de intoxicação, aplicar<br />
sulfato de atropina.<br />
Antes de investir em tratamentos com anti-helminticos, os produtores<br />
deveriam investir na realização de exames laboratoriais para verificar se a<br />
aplicação de tratamento é realmente necessária. Além disso, apenas com<br />
exame copropasitológicos periódicos pode-se determinar se a droga que<br />
está sendo utilizada em uma propriedade está tendo a eficácia esperada<br />
contra uma determinada população de helmintos (AMARANTE 2005).<br />
Costa e Vieira (1984 apud Vieira 1997) ainda recomendam as<br />
seguintes medidas profiláticas adicionais para o controle de nematódeos:<br />
- Limpar e desinfetar as instalações;<br />
- Manter as fezes em locais distantes dos animais ;<br />
- Evitar super-população nas pastagens;<br />
- Separar os animais por faixa etária;<br />
- Vermifugar os animais ao trocar de área;<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+
- Incorporar ao rebanho animais vermifugados;<br />
- Manter os animais no aprisco até no mínimo doze horas após a<br />
vermifugação;<br />
- Animais jovens ao ser vermifugados devem ser colocados em<br />
pastagem descontaminadas;<br />
50 dias.<br />
- Descanso da pastagem em épocas chuvosas deve ser superior a<br />
5.1.6 - Situação Acompanhada<br />
Na E.E.P., é realizado o controle estratégico, observando os estudos<br />
epidemiológicos regionais, o período seco e o período chuvoso, visando a<br />
utilização de anti-helmínticos em épocas menos favoráveis à sobrevivência<br />
das larvas de nematódeos gastrintestinais no ambiente, como recomenda<br />
Costa e Vieira (1984). Realiza-se também exames periódicos para que<br />
conheça a situação dos rebanhos , antes de fazer o tratamento com anti-<br />
helmínticos e para isso utiliza a seguinte técnica de exame parasitológico:<br />
Método de Gordon e Whitlock modificado<br />
Objetivo: identificação e contagem de ovos de helmintos por grama de<br />
fezes (OPG). Indicado para fezes de grandes animais.<br />
Princípio: método de flutuação associado à contagem de ovos, usando a<br />
câmara de Mc-Master.<br />
Material: duas a três gramas de fezes pesadas em balança, solução<br />
hipersaturada de NaCI (400g de sal para 1000ml de água), câmara de<br />
McMaster, bastão de vidro, proveta graduada, copo, tamis e pipeta de<br />
Pasteur com pêra de borracha.
Técnica: tritura-se duas a três gramas de fezes em um copo com bastão de<br />
vidro e acrescentar 60ml de solução hipersaturada de NaCI<br />
*homogeniza<br />
*passa a mistura através do tamis<br />
*retira-se o tamis<br />
*homogeniza o líquido e com a pipeta de Pasteur retira uma amostra<br />
para encher a câmara. Repete a operação e enche a outra célula.<br />
*espera dois minutos para os ovos flutuarem e depois observa ao<br />
microscópio na objetiva de 10x.<br />
células).<br />
*em seguida, era feita a contagem dos ovos contidos na câmara (duas<br />
Observação: O significado da contagem de ovos por grama de fezes não é<br />
indicativo real do grau de infecção do hospedeiro, devendo sempre levar<br />
em consideração alguns fatores como hora do dia da coleta do material,<br />
idade, nutrição, imunidade, alterações fisiológicas e patológicas dentre<br />
outras.<br />
5.2 – ECTIMA CONTAGIOSO<br />
O ectima contagioso, também conhecido como boqueira, é uma<br />
doença viral dos caprinos e ovinos, transmissível ao homem, caracterizada<br />
pelo aparecimento de pápulas, vesículas, pústulas, e formação de crostas,<br />
que acomete mais os animais jovens. A menor incidência em adultos se<br />
deve possivelmente a imunidade de vacinações prévias ou infecções<br />
passadas (RIBEIRO,1997 E SANTA ROSA, 1996).<br />
5.2.1 – Etiologia<br />
Vírus muito resistente do grupo DNA, pertencente à família<br />
Poxviridae do gênero parapoxivirus. Liofilizado ou em congelamento a
menos 20 graus conserva-se por três anos e nas pastagens pode permanecer<br />
por um ano. Não resiste a temperatura de 60 graus por 30minutos e é des-<br />
truído pelo fenol a 5%. O vírus encontra-se no solo e invade as células epi-<br />
teliais da mucosa da boca através de pequenas soluções de continuidade ou<br />
ferimento. A partir daí, origina-se a lesão proliferativa do tecido epidermal<br />
(SANTA ROSA, 1996).<br />
Segundo Vieira (1967), a causa determinante do ectima é um vírus<br />
filtrável, dermotrópico (com predileção para a pele), da mesma família da<br />
varíola, mas com poder antigênico diferente.<br />
O agente é um poxvirus do subgrupo parapoxvirus, que também<br />
inclui o pseudo poxvirus, causador dos nódulos dos ordenhadores dos seres<br />
humanos (vírus da Paravacínia), e o agente da estomatite papular bovina.<br />
Existem diferenças biológicas entre cepas do vírus do ectima contagioso,<br />
mas essas diferenças não são expressas antigenidamente, apenas um<br />
sorotipo é reconhecido (SMITH, 1993).<br />
O ectima é causado pelo parapoxvirus composto, no mínimo, de seis<br />
cepas imunológicas.O gênero parapoxvirus contém o vírus da ectima, vírus<br />
da estomatite papular, vírus da pseudo varíola e vírus do actima contagioso<br />
da camurça. O vírus do ectima é imunologicamente distinto da vacínia, mas<br />
semelhante ao agente causador da pseudo varíola, e antigenicamente<br />
semelhante ao vírus da varíola caprina, mas não com o vírus da varíola<br />
ovina. O vírus do ectima é prontamente transmitido para o homem<br />
(ROBINSON, 1981 E 1988, apud RADOSTITS, 2002), principalmente,<br />
trabalhadores de abatedouro que manipulam lã e couro.<br />
5.2.2 - Sinais Clínicos<br />
9.
A lesão primária se desenvolve na pele dos lábios e se estende para a<br />
mucosa oral. Ocasionalmente, encontram-se lesões nos pés, na região<br />
interdigital e ao redor da coroa. As ovelhas e cabras que amamentam suas<br />
crias infectados podem desenvolver lesões no úbere. Nos cordeiros jovens a<br />
lesão inicial pode se desenvolver na gengiva, abaixo dos dentes incisivos.<br />
As lesões se desenvolvem como pápulas e progridem pelos estágios<br />
vesicular e pustular, antes de formar crosta. A coalescência de muitas<br />
lesões discretas costuma levar à formação de crostas grandes e a<br />
proliferação do tecido dérmico produz uma massa verrucosa debaixo delas.<br />
Quando a lesão se estende para a mucosa oral desenvolve-se uma<br />
necrobacilose secundária (MANUAL MERK DE VETERINÁRIA, 2001).<br />
Segundo Santa Rosa (1996), os sintomas clínicos caracterizam-se por<br />
lesões com as seguintes evoluções: pápulas (com proliferação do tecido<br />
epidermal), vesículas, pústulas, úlceras e crostas. Essas lesões proliferativas<br />
do tecido epidermal aparecem principalmente nos lábios, nas gengivas, nas<br />
narinas, no úbere e, às vezes, na língua, na vulva, nos olhos, nos espaços<br />
interdigitais e nas coroas dos cascos. Quando as lesões aparecem dentro da<br />
boca a mucosa toma uma coloração acinzentada, com ulcerações<br />
sanguinolentas que exalam um odor fétido. Nesse caso, o animal fica<br />
impossibilitado de comer. Ao engolir saliva contaminada a infecção se<br />
propaga para o estômago, intestinos e pulmões provocando a morte.<br />
5.2.3 – Diagnóstico<br />
O diagnóstico diferencial segundo Radostitis (2002) deve ser feito<br />
com a Língua azul, a Dermatite ulcerativa, Dermatite proliferativa<br />
(podridão do pé em formato de morango) e com a varíola ovina. Embora<br />
exames laboratoriais não sejam efetuados com o objetivo de diagnóstico,<br />
um diagnóstico definitivo pode ser feito através de sorologia (teste de<br />
difusão em agar-gel),fixação de complemento e cultura de tecido no tecido
testicular, porém a microscopia eletrônica é o método mais rápido e mais<br />
confiável.<br />
5.2.4 – Tratamento<br />
Não existe tratamento específico, recomenda-se a utilização de anti-<br />
séptico após a limpeza das lesões e a remoção das crostas. Tem-se aplicado<br />
com sucesso a solução de iodo a 10%. No úbere, as lesões devem ser<br />
tratadas com solução de iodo e glicerina na proporção de 1:3 ou solução de<br />
ácido fênico a 3% mais glicerina (SANTA ROSA, 1996).<br />
5.2.5 – Controle<br />
A doença é controlada pela vacinação sistemática. Nos casos de<br />
aparecimento da doença em propriedade onde os animais não foram<br />
vacinados, deve-se isolar os animais doentes e vacinar os demais (SANTA<br />
ROSA, 1996). A vacinação é de pouco valor quando grande número de<br />
animais já está acometido. A vacina é preparada a partir de suspensão de<br />
crostas em glicerol salina, sendo pintada em pequena área da pele<br />
escarificada na coxa. A vacinação é completamente eficaz no mínimo por<br />
dois anos, mas os cordeiros devem ser inspecionados uma semana após a<br />
vacinação para assegurar-se de que resultaram lesões locais. A ausência de<br />
reação local significa falta de viabilidade da vacina ou de imunidade<br />
anterior. A imunidade não é sólida até três semanas após a vacinação.<br />
(RADOSTITIS, 2002).<br />
5.2.6 - Situação Acompanhada<br />
Na Estação Experimental de Pendência no período de 28/08/06 a<br />
29/09/06, ocorreram dezenas de casos de actima contagioso no rebanho de<br />
10.
cabras leiteiras das raças Anglo-nubiana, Parda Alpina e Alpina Britânica<br />
que ficaram no centro de manejo chamado sistema de produção de leite e<br />
derivados (figuras 6 e 7). A princípio eram umas poucas cabras isoladas,<br />
depois este número foi aumentando à medida que o pasto ia ficando seco e<br />
endurecido. As crostas eram retiradas e aplicava-se a solução de iodo a<br />
10% glicerinado. Uma vez por semana o curativo era feito com benzofenol.<br />
As cabras com poucas lesões ou lesões superficiais em duas semanas já<br />
estavam curadas. As cabras com lesões mais profundas, atingindo as<br />
gengivas e a mucosa oral o curso da doença demorava mais de três<br />
semanas. Segundo relato dos manejadores e dos técnicos agrícolas<br />
responsáveis, a época da seca, quando os animais lesionam o focinho no<br />
pasto duro e em várias espécies de cactos existentes no campo, propicia o<br />
aparecimento das boqueiras, uma vez que o vírus resiste muito tempo no<br />
solo. O rebanho era inspecionado diariamente para isolar as cabras que<br />
apresentavam princípio de boqueira, ao mesmo tempo que aquelas tratadas<br />
e recuperadas eram soltas para o campo.
Figura 8 – Cabra c/ Ectima contagioso (boqueira).<br />
Fonte: EMEPA (2006)<br />
Figura 9 – Cabra leiteira com Ectima contagioso (boqueira).<br />
Fonte: EMEPA (2006)<br />
5.3. LINFADENITE CASEOSA (Mal do caroço)<br />
Essa abscedação caseosa dos linfonodos e órgãos internos de<br />
caprinos e ovinos ocorre mundialmente. Trata-se de uma infecção<br />
endêmica importante nas regiões com grandes populações de ovinos e<br />
caprinos. As perdas econômicas resultam da redução no ganho de peso,<br />
eficiência reprodutiva e produção de lã e leite, bem como da condenação de<br />
11.
carcaças e desvalorização de couros (MANUAL MERCK DE<br />
VETERINÁRIA, 2001).<br />
5.3.1. Etiologia<br />
A linfadenite caseosa, vulgarmente conhecida como mal-do-caroço,<br />
é causada pelo Corynebacterium pseudotuberculosis, bacilo gram-positivo,<br />
pleomorfico, aeróbio, que cresce em ágar sangue em 24-48 horas e causa<br />
hemólise. Tem uma toxina termo lábil, dermonecrótica, que é uma<br />
fosfolipidase a qual atua como esfingomielinase e causando aumento da<br />
permeabilidade vascular. Produz também um lipídio de superfície,<br />
leucotóxico, que o protege da fagocitose (RIET-CORREA, 2001).<br />
O Corynebacterium pseudotuberculosis também é a causa da<br />
linfangite ulcerativa dos bovinos e eqüinos, da acne contagiosa do eqüino,<br />
descritas, porém, como doenças distintas, pois parece ter patogênese<br />
diferente e não ocorrem em associação com a linfadenite caseosa<br />
(RADOSTITS et all, 2002).<br />
Esse pequeno Bastonete Gram-positivo é um parasita intracelular<br />
facultativo encontrado em fômites, no solo e esterco contaminados com<br />
exsudato purulento. Já se identificaram dois biótipos: um grupo nitrato-<br />
negativo (infecta ovinos e caprinos) e um grupo nitrato-positivo (infecta<br />
eqüinos). Os isolados de bovinos são grupos heterogêneos (MANUAL<br />
MERCK DE VETERINARIA, 2001).<br />
5.3.2. Epidemiologia<br />
No Brasil a doença tem sido diagnosticada em todos as regiões onde<br />
se aplica a ovinocultura e a caprinocultura. A prevalência na região<br />
Nordeste pode chegar a 50% em virtude da presença nessa região de várias<br />
espécies de plantas cetáceas, que causam ferimentos na pele de caprinos e
ovinos, favorecendo a infecção por Corynebacterium pseudotuberculosis<br />
(LANGENEGER, 1988, apud RIET-CORREA, 2001).<br />
Segundo Radostitis (2002), a linfadenite caseosa apresenta aumento<br />
da prevalência relacionado a idade, alcançando seu pico de incidência nos<br />
adultos, pelo fato desses estarem mais expostos aos fatores de risco<br />
(tosquia, pastejo no campo, banhos contra ectoparasitas). As fontes de<br />
infecção são os corrimentos dos linfonodos superficiais, que se abscedam e<br />
se rompem e as secreções nasal e bucal dos animais com abscessos<br />
pulmonares que drenam para a árvore brônquica. O microorganismo pode<br />
sobreviver no solo infectado por pus por até 08 meses; em galpões de<br />
tosquia infectado por 04 meses; na palha, feno e outros fômites por até 02<br />
meses. Temperaturas baixas e condições úmidas prolongam o tempo de<br />
sobrevivência. A infectividade persiste no banheiro dos ovinos e caprinos,<br />
no mínimo por 24 horas. A infecção é facilitada pela presença de feridas,<br />
porém o microorganismo pode penetrar pela pele intacta. A transmissão<br />
pode ser por contato, por fômites, instalações, líquidos de banheiro e<br />
chuveiro contaminados, como também pela poeira dos galpões de tosquia e<br />
de currais contaminados. A doença clínica ocorre em animais com a forma<br />
visceral disseminada, uma das causas da ineficiência reprodutiva e da<br />
síndrome da ovelha magra, bem como da morte e descarte de ovinos mais<br />
velhos nos rebanhos infectados.<br />
5.3.3. Patogenia<br />
A bactéria penetra no organismo através de ferimentos, arranhões ou<br />
mesmo na pele intacta, alcança a linfa e atinge os linfonodos regionais. A<br />
partir destes, podem ocorrer as infecções sistêmicas. Em menores<br />
proporções podem ser observadas as infecções por via respiratória,<br />
digestiva, genital e cordão umbilical. A bactéria produz uma exotoxina, a<br />
fosfolipase, que tem efeito vasogênico das células endoteliais, causando
uma reação necro-hemorrágica e, em conseqüência da lesão vascular há um<br />
aumento da permeabilidade do vaso, que pré-dispõe à disseminação da<br />
bactéria do local da infecção primária para outros órgãos (SANTA ROSA,<br />
1996).<br />
5.3.4. Sinais Clínicos<br />
À palpação, há aumento de um ou mais linfonodos superficiais. Os<br />
mais acometidos são: submaxilares, pré-escapulares, pré-crurais,<br />
supramamários e poplíteos. Nos casos em que há envolvimento sistêmico,<br />
podem ocorrer pneumonia crônica, pielonefrite, ataxia e paraplegia,<br />
conforme o local da infecção. Em ovelhas é comum a transmissão do<br />
linfonodo supramamário para o tecido mamário, provocando queda na<br />
produção de leite, crescimento retardado do cordeiro e até sua morte. As<br />
lesões intra-escrotais são comuns em carneiros, mas não envolvem o<br />
testículo e o sêmen (RADOSTITS, 2002).<br />
Os abscessos internos causados por Corynebacterium<br />
pseudotuberculosis são importantes causa de perda crônica de peso em<br />
pequenos ruminantes. Quando presentes no tórax, os abscessos internos<br />
podem causar dispnéia crônica. Abscessos hepáticos também são relatados,<br />
causando insuficiência do respectivo órgão. Como resultado da compressão<br />
da medula espinhal por abscessos nos corpos vertebrais, foi detectada a<br />
moléstia neurológica em casos de infecção por Corynebacterium<br />
pseudotuberculosis. Afeta cordeiros nascidos em confinamento, em<br />
condições sanitárias precárias podendo ser confundida com a moléstia do<br />
músculo branco (SMITH, 1993), doença que ataca cordeiros jovens com<br />
deficiência em Selênio e Vitamina E, provocando Síndrome<br />
músculoesquelético, pela destruição de membranas celulares e proteínas<br />
(PUGH, 2005).
5.3.5. Diagnóstico<br />
12.<br />
O diagnóstico presuntivo realiza-se pela presença de abscesso nos<br />
linfonodos. Para o diagnóstico definitivo o agente deve ser isolado de<br />
exudato dos animais vivos, obtido por biopsia ou coletado na necropsia ou<br />
no abate (RIET-CORREA, 2001).<br />
Segundo Santa Rosa (1996,) a presença de abscessos nos linfonodos<br />
não é suficiente para o diagnóstico, sendo necessário isolar a bactéria a<br />
partir do pus. A bactéria cresce facilmente em ágar sangue e pode ser<br />
observada e identificada 48 horas após a incubação aeróbica. A<br />
identificação da bactéria permite fazer o diagnóstico diferencial entre os<br />
abscessos encontrados fora do sistema linfático e mesmo dentro deles,<br />
causados frequentemente por outras bactérias tais como Corinebacterium<br />
pyogenes, Staphyloccocus spp e Streptococcus spp.<br />
Os testes sorológicos consistem na hemaglutinação indireta, inibição<br />
da hemólise, inibição sinérgica da hemólise, imunodifusão e os testes<br />
ELISA para a detecção de anticorpos contra antígenos da parede celular<br />
bem como da exotoxina (RADOSTITS, 2002).<br />
5.3.6. Tratamento<br />
O tratamento não costuma ser tentado, embora o microorganismo<br />
seja sensível à penicilina e outros antibióticos. Isto acontece pelo fato do<br />
microorganismo permanecer encapsulado no abscesso e dentro das células.<br />
Aconselha-se fazer a drenagem cirúrgica do abscesso. (RADOSTITS,<br />
2002).
5.3.7. Controle e Profilaxia<br />
Santa Rosa (1996) recomenda medidas profiláticas que visam apenas<br />
reduzir a incidência da doença no rebanho, tais como: a) inspeção periódica<br />
do rebanho; b) isolar os animais com abscessos e proceder a incisão<br />
cirúrgica antes que se rompam espontaneamente. Deve-se abrir o abscesso<br />
e retirar todo o conteúdo purulento, em seguida fazer a desinfecção com<br />
iodo a 10%; c) o material retirado do abscesso deve ser queimado e os<br />
instrumentos utilizados desinfectados; d) os animais tratados só devem<br />
retornar ao rebanho após completa cicatrização; e) evitar compra de<br />
animais clinicamente enfermos.<br />
Os abscessos frequentemente recidivam depois de uma drenagem ou<br />
tentativa de excisão cirúrgica (MANUAL MERCK DE VETERINÁRIA,<br />
2001).<br />
As vacinas comerciais reduzem a incidência e prevalência da<br />
linfadenite caseosa dentro de um rebanho, mas não evitam todas as<br />
infecções novas e nem curam os animais já infectados. Atualmente todas as<br />
vacinas contêm o toxóide da PLD e algumas contém células bacterianas<br />
inteiras mortas (MANUAL MERCK DE VETERINÁRIA, 2001) a<br />
vacinação deve começar nos cordeiros e cabritos com 3 a 4 meses de idade,<br />
com reforços anuais administrados em todo o lote reprodutor um mês antes<br />
do parto esperado.<br />
A EMEPA não vacina seus animais contra Linfadenite caseosa e não<br />
recomenda a vacinação devido a pouca eficiência da mesma e por onerar a<br />
produção.<br />
As dificuldades das técnicas sorológicas para identificar caprinos e<br />
ovinos com a doença subclínica, faz com que a erradicação da enfermidade<br />
seja difícil.
5.3.8. Situação Acompanhada<br />
Foi necropsiado um caprino da raça Anglo Nubiana, que apresentava<br />
uma condição corporal media, porém não conseguia atingir seu pleno<br />
desenvolvimento reprodutivo, observou-se abscessos superficiais na<br />
região peitoral próximo ao esterno. O animal foi sacrificado e necropsiado,<br />
quando se constatou Linfadenite caseosa interna, com abscessos espalhados<br />
pelo coração, pulmão, baço, rins (Figura 10).<br />
Figura 10. Linfadenite caseosa visceral em um caprino com abscessos nos<br />
principais órgãos (baço com vários abscessos).<br />
Fonte: EMEPA (2006)<br />
Vários casos de Linfadenite caseosa localizada nos lifonodos<br />
superficiais, principalmente, parotídio, retrofaringeo e submandibular,<br />
tiveram seus abscessos retirados da seguinte forma:<br />
- Primeiro o animal foi contido por dois manejadores, um contendo<br />
a cabeça e o outro o posterior do animal:
- Segundo, o técnico ou veterinário calçando luvas fez a desinfecção<br />
e uma incisão no meio do abscesso no sentido vertical:<br />
- Terceiro, foi feita a drenagem do conteúdo com o auxilio de uma<br />
pinça de forma a retirar todo o pus e a parte fibrosa que fica grudada no<br />
interior do abscesso.<br />
- Por último, foi feita desinfecção e limpeza geral com algodão<br />
contendo iodo a 10%.<br />
Os animais tratados foram isolados e só voltaram ao rebanho depois<br />
de completa cicatrização.<br />
Figura 11 – Drenagem de abscesso de um caprino com Linfadenite<br />
caseosa.<br />
Fonte EMEPA (2006).
6. CONCLUSÃO<br />
13.<br />
O estágio supervisionado é o fechamento de ouro do curso de<br />
Medicina Veterinária, pois é neste semestre que o aluno tem a oportunidade<br />
de deparar-se com a realidade da profissão e do mercado de trabalho.<br />
Exercendo funções como auxiliar de um profissional, pode-se fazer uma<br />
avaliação do que foi ministrado em sala de aula e o que na realidade se usa<br />
na prática, principalmente, no campo.<br />
O trabalho no Nordeste é enriquecedor pela própria realidade que se<br />
apresenta no sertão onde o estágio foi realizado, pelo contato com o seu<br />
povo lutador, estudioso e solidário. Pode ser uma lição de vida para<br />
qualquer principiante que deseja conhecer uma realidade diferente da sua.<br />
O Estado da Paraíba é pequeno só no tamanho, mas grande e rico na<br />
bondade de sua gente e na luta de seu povo. A ovinocultura e a<br />
caprinocultura são atividades tradicionais no Nordeste, que servem de<br />
sustento para o sertanejo, produtores de pequeno e médio porte, que as<br />
utilizam como fonte de alimento e de renda. São atividades de relevante<br />
importância socioeconômica para a região e para todo o Brasil. No entanto,<br />
a produção e a produtividade desses animais ainda são limitadas devido a<br />
problemas sanitários, nutricionais e de manejo. Com o aumento dos<br />
rebanhos aumentaram também a incidência e a gravidade das doenças,<br />
exigindo medidas de controle mais efetivas. As verminoses por nematódeos<br />
gastrintestinais se constituem em uma das principais enfermidades dos<br />
ovinos e caprinos, causando redução na produtividade e, às vezes, a morte.
Os prejuízos são mais acentuados nas ovelhas e cabras no periparto e nos<br />
cordeiros e cabritos. Para melhorar o controle dessas helmintoses não basta<br />
apenas tratamento com anti-helmínticos, pois os nematódeos têm<br />
desenvolvido resistência a essas drogas, uma vez que a sua aplicação,<br />
muitas vezes, é inadequada e sem nenhum critério, o que leva a este<br />
resultado. Como complemento do controle os autores consultados são<br />
unânimes em recomendar métodos alternativos, tais como: o incremento da<br />
nutrição; a criação de ovinos resistentes; o manejo de pastagens; o controle<br />
biológico dirigido às fases de vida livre feito através de fungos, bactérias e<br />
insetos; consorciação de agricultura e pecuária e o uso de diferentes<br />
espécies de herbívoros como meio de descontaminação das pastagens.<br />
Outras enfermidades são também importantes como o Ectima contagioso<br />
(boqueira) e a Linfadenite caseosa (mal do caroço), discutidas nesse<br />
trabalho.<br />
Com esse estágio no Nordeste, com a experiência no semi-árido,<br />
onde chove apenas três a quatro meses por ano, verificou-se a luta e o<br />
trabalho que aquele povo tem para sobreviver. Pode-se concluir que o<br />
desenvolvimento da ovinocultura e caprinocultura tem condições de<br />
avançar muito mais, principalmente nas regiões onde o clima é mais<br />
favorável, razão de seu potencial extraordinário. É um campo aberto que<br />
está crescendo e necessitando de pesquisadores, veterinários e técnicos,<br />
engajados num grande projeto para transformar o Brasil em um grande<br />
produtor e exportador de carne e produtos derivados de ovinos e caprinos,<br />
procurando fortalecer também o mercado interno, através do<br />
desenvolvimento da cadeia produtiva para que todos possam consumir<br />
produtos derivados da ovinocultura e da caprinocultura, acabando com o<br />
preconceito que algumas pessoas ainda têm contra esses produtos.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AMARANTE, A.F.T., Controle de Verminose Ovina, Brasília-DF,<br />
Revista CFMV nº 34, Janeiro/Abril, 2005; p. 19-30.<br />
IBEGE, Produção pecuária municipal, 2003 – Disponível em:<br />
http/www.sidra.ibge.gov.br. Acessado em 29/10/06.<br />
MANUAL MERCK DE VETERINÁRIA. Editor Sugan E. Aiello, 8ª ed.<br />
São Paulo: Roca. 2001. 1861p.<br />
MOLENTO, M. B. Controle das Helmintoses. Revista O Berro n. 93,<br />
setembro de 2006, p.63-66.<br />
14.<br />
NOGUEIRA, E. A.; Júnior, S. N. – Ovinos e Caprinos Avançam em São<br />
Paulo, IEA (CCTC) – 2005. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br.<br />
Acessado em 29/10/06.<br />
PUGH, D. G., Clínica de ovinos e caprinos. São Paulo: Roca, 2004, 514p.<br />
RADOSTITIS O. M.; GAY C. C., BLOOD D. C. e HINCHCLIFF, K. W.<br />
Clínica Veterinária – Um tratado de doenças de bovinos, ovinos, suínos,<br />
caprinos e eqüinos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 9ª ed. 1737p.<br />
RIBEIRO, S. D. A. Caprinocultura: Criação racional de caprinos. São<br />
Paulo: Nobel, 1997. 318p.<br />
RIET-CORREA, F. et all. Doenças de ruminantes e eqüinos. 2. ed. São<br />
Paulo: Livraria Varela 2001. Vol. II, 574p.
SANTA ROSA, Janete. Enfermidades em caprinos: diagnóstico,<br />
patogenia, terapêutica e controle. Brasília: Embrapa-CNPC, 1996. 220p.<br />
SMITH, B. P. Tratado de Medicina Interna de Grandes Animais. São<br />
Paulo: Manole, 1993. Vol. II. 1738p.<br />
URQUHART, G.M. et all. Parasitologia veterinária. 2. ed. Rio de<br />
Janeiro: Guanabara Koogan, 1998, 273 p.<br />
15.
8. ANEXOS<br />
ANEXO 1 – Certificados de Estágio Obrigatório Supervisionado em<br />
Medicina Veterinária<br />
16.
ANEXO 2 – Formulários utilizados pela EMEPA na escrituração<br />
zootécnica e no registro dos animais<br />
17.
ANEXO 3 – Algumas raças criadas pela EMEPA<br />
18.