Leia toda a entrevista na edição impressa disponível para ... - Lux - Iol
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Rui Moreno<br />
paulo coelho<br />
www.paulocoelhoblog.com<br />
“Vocês, que se acham perfeitos,<br />
não tiveram a humildade de receber, e o pobre<br />
homem não teve a alegria de dar„<br />
DE COMO O MUNDO É UM ESPELHO<br />
O ENCONTRO ESQUECIDO<br />
O mullah Nasrudin, perso<strong>na</strong>gem central da tradição sufi , marcou um encontro com um importante<br />
fi lósofo da sua aldeia – mas acabou por se distrair com outra coisa, e não chegou à hora<br />
marcada.<br />
O fi lósofo, depois de esperar algum tempo, escreveu <strong>na</strong> porta da casa de Nasrudin: “Irresponsável!”<br />
E foi-se embora.<br />
Horas depois, Nasrudin apareceu em casa dele.<br />
– Então, você esqueceu-se do nosso compromisso? – bradou o homem.<br />
– Sim, esqueci-me, e peço desculpa. Mas, ao chegar a casa, vi que deixara o seu nome<br />
no portão, e vim imediatamente.<br />
A GENEROSIDADE E A RECOMPENSA<br />
Compadecido com a pobreza do rabino Jusya, Ephraim colocava diariamente algumas moedas<br />
debaixo da sua porta. E reparou que, quanto mais dava a Jusya, mais dinheiro ganhava.<br />
Ephraim lembrou-se de que o rabino Baer era mestre de Jusya, e pensou: “Se sou bem<br />
recompensado ao dar ao discípulo, imagine o quanto ganharei se resolver apoiar o seu mestre.”<br />
Viajou <strong>para</strong> Mezritch, e cobriu de presentes o rabino Baer. A partir daí, a sua vida começou<br />
a piorar, e quase perdeu tudo.<br />
Intrigado, procurou Jusya e contou o ocorrido.<br />
– É muito simples – disse Jusya. – Enquanto você dava sem pensar a quem, recebia.<br />
Deus também fazia o mesmo. Mas quando começou a procurar gente ilustre <strong>para</strong> fazer as suas<br />
doações, Deus também passou a fazer a mesma coisa.<br />
ENCHER O COPO ALHEIO<br />
Durante um jantar no mosteiro de Sceta, o padre mais idoso levantou-se <strong>para</strong> servir água<br />
aos outros. Foi de mesa em mesa com muito esforço, mas nenhum dos padres aceitou.<br />
“Somos indignos do sacrifício deste santo”, pensavam.<br />
Quando o velho chegou à mesa do abade João Pequeno, este pediu-lhe que enchesse o seu<br />
copo até à borda.<br />
Os outros monges olharam, horrorizados. No fi <strong>na</strong>l do jantar, repreenderam João:<br />
– Como pode julgar-se digno de permitir-se ser servido por um homem santo? Não percebeu<br />
o quanto lhe custou levantar a garrafa? Não notou como as suas mãos tremiam?<br />
– Como posso impedir que o bem se manifeste? – respondeu o João. – Vocês, que se acham<br />
perfeitos, não tiveram a humildade de receber, e o pobre homem não teve a alegria de dar.<br />
O ALUNO QUE FURTAVA<br />
Durante uma das aulas do mestre zen Bankei, um aluno foi apanhado a roubar. Todos os discípulos<br />
pediram a expulsão do aluno.<br />
Bankei não fez <strong>na</strong>da. Na sema<strong>na</strong> seguinte, o aluno roubou de novo, mas Bankei manteve-o<br />
<strong>na</strong> sua turma. Irritados, os outros escreveram uma petição exigindo que o ladrão fosse<br />
punido.<br />
– Como vocês são sábios – disse Bankei, ao ler o pedido. – Conhecem a diferença entre o que<br />
é certo e o que está errado. Podem estudar em qualquer outro lugar. Mas este pobre irmão –<br />
que não sabe o que é certo ou errado – só tem a mim <strong>para</strong> o ensi<strong>na</strong>r, e continuarei a fazer isto.<br />
Uma torrente de lágrimas purifi cou o rosto do ladrão: o desejo de roubar havia desaparecido.