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Ensino Bíblico – Banco do Brasil Ag. 0300-X C/c 35.720-0<br />

PORTAL ESCOLA DOMINICAL<br />

3º Trimestre de 2012 - CPAD<br />

Vencendo as Aflições da Vida - "Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas” (Salmos<br />

34:19).<br />

Comentários da revista da CPAD: Pr. Eliezer de Lira e Silva<br />

Consultor Doutrinário e Teológico da CPAD: Pr. Antonio Gilberto<br />

LIÇÃO Nº 10 – A PERDA DOS BENS TERRENOS<br />

Nossa relação com os bens materiais deve mostrar que amamos a Deus sobre<br />

todas as coisas.<br />

INTRODUÇÃO<br />

- Na sequência do estudo sobre os “dramas materiais”, estudaremos hoje a perda dos bens terrenos.<br />

- Devemos amar a Deus sobre todas as coisas e, por isso, a perda dos bens terrenos não pode nos levar a<br />

nos distanciar ou a questionar o Senhor.<br />

I – DEUS É O DONO DE TODAS AS COISAS<br />

- Prosseguindo o estudo do que denominamos de “dramas materiais”, ou seja, as aflições decorrente do nosso<br />

relacionamento com as coisas, estudaremos hoje a questão atinente à perda dos bens terrenos, uma realidade<br />

que advém tanto a crentes quanto a incrédulos.<br />

- Conforme já vimos na lição anterior, ao tratar da angústia das dívidas, não podemos deixar de considerar<br />

que, nesta terra, todas as coisas pertencem a Deus, visto que Ele é o criador de tudo (Gn.1:1) e, portanto, por<br />

direito, tudo Lhe pertence (Sl.24:1).<br />

- O homem foi posto como supremo administrador da criação terrena, sendo, por isso, mordomo de<br />

Deus (Gn.1:28). Se isto deu ao homem uma supremacia sobre toda a criação terrena, não o tornou, em<br />

absoluto, senhor da criação terrena. É desta distorção do ensino bíblico que surgiram ideias completamente<br />

equivocadas a respeito do nosso relacionamento dos bens materiais que tem na teologia da prosperidade a sua<br />

principal vertente nos dias em que vivemos.<br />

- Deus é o dono de todas as coisas, tendo ao homem tão somente a administração sobre a criação terrena, o que<br />

faz com que, a um só tempo, entendamos que o homem pode, legitimamente, usufruir de tudo quanto Deus<br />

criou, mas que também deve zelar de toda a criação, pois terá de prestar contas ao Senhor da sua utilização.<br />

- De igual maneira, ao termos consciência de que somos meros administradores do que pertence a Deus,<br />

também compreendemos que, pela ordem das coisas, jamais podemos nos prender às criaturas, mas, sim, ao<br />

Criador. Temos de buscar servir a Deus e não às coisas, buscar ter a Deus de tudo e não às coisas criadas<br />

por Deus.<br />

- Todavia, quando o homem pecou, crendo na mentira satânica de que poderia viver sem Deus, viver<br />

independentemente de seu Criador (Gn.3:4,5), acabou por gerar consequências nefastas para a sua vida, uma<br />

das quais, no que pertine ao seu relacionamento com a criação terrena, é que a mesma lhe passou a ser hostil,<br />

produzindo não somente o que seria necessário para a sobrevivência do ser humano, mas, também, o que não<br />

lhe serviria para tanto, os “espinhos e cardos” de que falou o Senhor em um de Seus juízo sobre o primeiro<br />

casal pecador (Gn.3:18).<br />

- A criação terrena não mais ficou à disposição pura e simples do homem para que dela pudesse desfrutar, sem<br />

qualquer penosidade, para a sua satisfação. Passou a existir uma competição entre o homem e o restante da<br />

criação terrena, um embate de que dependeria a própria sobrevivência humana sobre a face da Terra, gerando<br />

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o que os economistas denominam de escassez, visto que os recursos existentes seriam sempre insuficientes<br />

para satisfazer os desejos humanos.<br />

- É deste conflito entre recursos e desejos (de que nasce a própria necessidade da ciência econômica) que<br />

surge a noção de “bem”, entendido como “tudo o que tem utilidade material, prática, e valor fiduciário”,<br />

ou seja, “tudo aquilo que serve de elemento a uma empresa ou entidade para a formação do seu patrimônio<br />

aziendal e para a produção direta ou indireta do seu lucro”, como afirma o Dicionário Houaiss da Língua<br />

Portuguesa.<br />

OBS: Azienda é o “conjunto de elementos (bens materiais ou imateriais) que servem ao comerciante, ou ao industrial, para que desempenhe suas<br />

atividades produtivas”.<br />

- Vemos, pois, que os “bens terrenos” são todos aqueles elementos da criação terrena que servem, de<br />

alguma maneira, para que o homem tenha a satisfação de suas necessidades, que permitem ao homem<br />

sobreviver sobre a face da Terra.<br />

- Ora, como já dissemos, estes “bens” pertencem a Deus. Verdade é que, para adquiri-los legitimamente, o<br />

homem precisa fazer uso do trabalho (Gn.3:17-19) e a sua aquisição se torna indispensável para a<br />

sobrevivência do homem, motivo por que o direito de propriedade é um direito natural, que decorre da própria<br />

determinação divina e algo que faz com que o homem possa usufruir daquilo que Deus lhe concedeu, apesar<br />

do pecado.<br />

- Tanto os “bens” pertencem a Deus que, além do salmista, já citado (Sl.24:1), o profeta Ageu também<br />

afirmou que o ouro e a prata pertencem ao Senhor (Ag.2:8), tendo o próprio Jesus afirmado aos Seus<br />

discípulos que Deus tem prazer em dar aos homens “bens” se eles lhO pedirem (Mt.7:11). Que bens? Tanto os<br />

“bens do mundo” (I Jo.3:17) como também o Espírito Santo (Lc.11:13).<br />

- A expressão “bens” representa propriamente as coisas materiais que nos servem para a satisfação de nossas<br />

necessidades e a Bíblia Sagrada faz questão de nos mostrar que elas são dádivas de Deus para nós. <strong>Para</strong> os<br />

israelitas, Deus prometia “abundância de bens” na Terra Prometida se houvesse fidelidade a Ele e à Sua lei<br />

(Dt.28:11), tendo, também, a rainha de Sabá entendido que Salomão tinha abundância de bens que lhe havia<br />

sido dada pelo próprio Deus (I Rs.10:7,10). Neemias, também, reconheceu que Deus cumpriu a Sua promessa<br />

ao povo de Israel, dando-lhes abundância de bens, embora tal atitude não tenha sido correspondida pelo povo<br />

(Ne.9:35).<br />

- O próprio Satanás reconheceu que Deus é quem deu os bens a Jó (Jó 1:10), a provar, pois, que Deus é o dono<br />

de todas as coisas e dá a quem quer, quando quer e como quer.<br />

- No entanto, e aqui reside o grande perigo, o homem, no pecado, entende que pode viver sem Deus e, por<br />

isso, acaba por achar que tudo quanto possui é fruto de seu próprio esforço, é resultado de suas próprias forças<br />

e, diante dos bens terrenos, esquece-se d’Aquele que é a fonte de tudo quanto foi adquirido, esquece-se do<br />

Deus que dá aos homens todos os bens terrenos. É neste ponto, quando há a desconsideração de que Deus é o<br />

dono de tudo e que é o principal responsável por aquilo que adquirimos por força do nosso trabalho que surge<br />

o “materialismo”, que é a redução de tudo ao “material”, que é a exclusão de Deus de nossas mentes, de nossa<br />

apreciação da realidade.<br />

II – O PENSAMENTO MATERIALISTA AO LONGO DOS SÉCULOS<br />

- O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define materialismo como sendo a “doutrina que identifica,<br />

na matéria e em seu movimento, a realidade fundamental do universo, com a capacidade de explicação<br />

para todos os fenômenos naturais, sociais e mentais”. Como ensinam Hilton Japiassu e Danilo Marcondes,<br />

“…de modo gera, portanto, o materialismo nega a existência da alma (…), bem como a realidade de um<br />

mundo espiritual ou divino cuja existência seria independente do mundo material. O próprio pensamento teria<br />

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uma origem material, como um produto dos processos de funcionamento do cérebro.…” (Materialismo.In:<br />

Dicionário básico de filosofia, p.163).<br />

- O materialismo caracteriza-se, portanto, como todo e qualquer pensamento que entende que, no universo, só<br />

existe a matéria, ou seja, substância sólida, corpórea. Este pensamento não é novidade na história da<br />

humanidade. Os primeiros filósofos ocidentais, na Grécia, voltaram-se para a discussão a respeito do que seria<br />

a matéria e não poucos deles viram a realidade como sendo puramente material.<br />

- O primeiro deles foi Demócrito (460-370 a.C.), que apresentou uma teoria em que “supõe a gênese da<br />

natureza, e até da alma humana, a partir do movimento, da agregação e da dissociação de porções mínimas e<br />

indivisíveis de matéria, os átomos, que não foram criados nem antecedidos por qualquer divindade ou força<br />

imaterial”. <strong>Para</strong> este filósofo, cuja teoria foi denominada de “atomismo”, portanto, a origem de todas as coisas<br />

era fruto dos átomos, partículas materiais que seriam as fontes de todas as coisas que existiam no universo,<br />

átomos estes que não teriam sido criados por ninguém. Tudo, inclusive a alma, seria material, portanto,<br />

formada destes átomos.<br />

- O pensamento de Demócrito encontrou grande guarida no mundo grego e, por conseguinte, em todo o mundo<br />

conhecido de então, já que Demócrito viveu numa época em que a cultura grega estava se espalhando pelo<br />

mundo todo, tendo tido receptividade em vários povos e movimentos, entre os quais destacamos os seguintes:<br />

a) Epicuro e seus seguidores, os epicureus (At.17:18) – Epicuro, outro filósofo grego (341-270 a.C.), foi<br />

influenciado pelo pensamento de Demócrito, tendo fundado um movimento filosófico que durou por alguns<br />

séculos na Grécia e em Roma. <strong>Para</strong> ele, os átomos eram a explicação última do mundo e nada existiria a não<br />

ser os átomos e o vazio entre eles. Por isso, entende que não se deve perguntar sobre a existência de Deus e<br />

defende que se deve buscar o máximo prazer nesta vida, pois, depois da morte, nada haveria. Por isso, os<br />

epicureus estranharam tanto a pregação de Paulo a respeito da ressurreição e de Jesus. A influência do<br />

pensamento de Epicuro foi tão grande entre os judeus que o Talmude (o segundo livro sagrado do judaísmo)<br />

chega a chamar aquele que ataca a fé como sendo “o epicurista”.<br />

OBS: Eis o texto do tratado “Pirke Avot” (Ética dos Pais) do Talmude: “Rabi Eleazar diz: Sê diligente no<br />

estudo da Tora, sabe o que deves responder ao epicurista…” (2:19a) (apud BUNIM, Irving M.. A ética do<br />

Sinai. Trad.Dagoberto Mensch, p.121).<br />

b) os saduceus (Mt.22:23; Mc.12:18;Lc.20:27) – A seita judaica dos saduceus, que parecem retirar seu nome<br />

de Zadoque, que, segundo alguns, é o sumo sacerdote nos tempos de Davi e Salomão e, segundo outros, um<br />

discípulo de Antígono de Soco, mestre judaico que foi um dos “homens da Grande Assembleia”, o grupo<br />

formado por Esdras e Neemias para serem os grandes estudiosos e intérpretes da lei em Israel após o exílio,<br />

tinha como sua característica principal o materialismo, a total descrença na alma ou na existência de algo além<br />

da matéria, fruto inegável da influência exercida sobre eles do pensamento filosófico grego materialista.<br />

OBS: Corroborando o que nos ensinam as Escrituras a respeito dos saduceus, transcrevemos o que fala dos saduceus o historiador judeu Flávio<br />

Josefo: “…Os saduceus, ao contrário, negam absolutamente o destino e creem que, como Deus é incapaz de fazer o mal, Ele não Se incomoda com<br />

que os homens fazem. Dizem que está em nós fazer o bem e o mal, segundo nossa vontade nos leva a um ou a outro e as almas não são nem<br />

castigadas nem recompensadas num outro mundo…” (Guerra dos judeus contra os romanos II,12,153. In: JOSEFO, Flávio. História dos hebreus.<br />

Trad. Vicente Pedroso. v.3, p.60).<br />

- Além de Demócrito, os estoicos (At.17:18) foram outro grupo que bem representou o materialismo na<br />

Antiguidade. O estoicismo foi um movimento filosófico que surgiu na Grécia com Zenão de Cício(334-262<br />

a.C.), mas que perdurou também por alguns séculos, que também tinha no materialismo uma de suas<br />

principais características. Segundo eles, o universo é composto unicamente de matéria, que, ao contrário dos<br />

epicureus e atomistas, é algo contínuo. O mundo seria um todo orgânico animado pelo “logos”, o princípio<br />

vital. Tudo seria, pois, material, não existindo coisa alguma além da matéria.<br />

- O materialismo, porém, sempre sofreu grande oposição nos círculos intelectuais antigos. Além da<br />

predominância da religião na Antiguidade, religiões que sempre procuravam explicar o sobrenatural, quando<br />

não negavam precisamente a matéria (como é o caso do hinduísmo e do budismo), devemos observar que os<br />

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dois principais filósofos do Ocidente, Aristóteles e Platão, admitiam a existência de coisas imateriais, às quais<br />

davam maior importância do que às materiais, notadamente Platão, cuja escola de filosofia (a Academia)<br />

duraria mil anos depois de sua morte.<br />

- Com a vinda de Cristo e a evangelização do mundo por intermédio da Igreja, então, o materialismo<br />

teria mais uma oposição e o triunfo do pensamento cristão, apesar da apostasia que nele logo se infiltrou, foi,<br />

sem dúvida alguma, um grande entrave para a proliferação do materialismo na Idade Média, tendo também<br />

contribuído para isto o surgimento do islamismo, igualmente uma religião que menosprezava esta espécie de<br />

pensamento.<br />

- O materialismo, porém, retomaria vigor a partir do final da Idade Média, dentro das consequências do<br />

antropocentrismo, ou seja, do pensamento que punha o homem no centro do mundo, no centro do universo. A<br />

partir do momento que o homem passou a valorizar a si mesmo e a sua razão, bem como a ciência e a<br />

tecnologia, quase que automaticamente dava fôlego a novas formulações materialistas.<br />

- Os primeiros filósofos e cientistas modernos não foram materialistas, admitindo a existência da alma e de<br />

substâncias incorpóreas, como é o caso do filósofo francês René Descartes (1596-1650), mas, a partir das<br />

descobertas científicas, principalmente da física, surge um pensamento chamado de “mecanicismo”, em que a<br />

natureza passou a ser entendida como uma “máquina cega”, pensamento este que encontrou guarida em vários<br />

escritores do chamado “Iluminismo”, pensadores do século XVIII, entre os quais os franceses Barão de<br />

Holbach (1723-1789), para quem a matéria é a única realidade e Denis Diderot (1713-1784), organizador da<br />

Enciclopédia, que afirma que de um animal saíram todos os demais, de um só ato da natureza.<br />

- O desenvolvimento do pensamento materialista só aumentaria depois da Revolução Francesa (1789). A<br />

crença na ciência e na razão faria com que, cada vez mais, fossem desprezados os argumentos espirituais e de<br />

fé por parte dos estudiosos. Até mesmo os teólogos passaram a querer justificar científica e naturalmente a<br />

Palavra de Deus, o que fez com que surgissem os movimentos da crítica bíblica e uma teologia que<br />

consideraria as narrativas sobrenaturais da Bíblia como simples lendas ou crendices. Era o fermento<br />

materialista invadindo os próprios seminários e institutos de teologia! O aparecimento das teorias<br />

evolucionista, através de Herbert Spencer(1820-1903) e de Charles Darwin(1809-1882), e do chamado<br />

“materialismo histórico”, de Karl Marx (1818-1883) e de Friedrich Engels (1820-1895), fariam com que o<br />

materialismo atingisse seu ponto mais alto de aceitação na história do Ocidente.<br />

- Herbert Spencer teve uma educação alheia à religiosidade, tendo cedo se dedicado, por influência dos pais,<br />

ao estudo autodidático da ciência e da história. Nestes seus estudos, acabou convencido de que havia um<br />

princípio que regularia todas as coisas no universo, o princípio da evolução, tendo, a partir de então, escrito<br />

diversas obras para mostrar como tudo era fruto da evolução. Este seu pensamento, apresentado cerca de dez<br />

anos antes das obras de Charles Darwin, teria grande repercussão e influenciaria muito a classe intelectual da<br />

Europa e dos Estados Unidos.<br />

- Charles Darwin acolheria esta ideia evolucionista de Spencer e consideraria que ela estava comprovada em<br />

suas pesquisas feitas em viagens ao longo do planeta, tendo, então, concluído que a vida na Terra era fruto de<br />

uma evolução, ideia esta que reforçou tanto a postura materialista a respeito do mundo, como o ideário ateísta<br />

que já contaminava o mundo nesta segunda metade do século XIX.<br />

- Este pensamento atingiria, no que tange ao estudo das chamadas “ciências humanas”, seu ápice na<br />

formulação do chamado “materialismo histórico” de Karl Marx e Friedrich Engels. <strong>Para</strong> estes, a história da<br />

humanidade sempre havia sido a história da luta pelo controle das coisas materiais e a isto se reduzia o<br />

homem. Não havia nada de espiritual, mas todas as supostas manifestações sobrenaturais e ideias imateriais<br />

nada mais seriam que justificativas, ilusões que tinham a finalidade de mascarar a “luta de classes”, ou seja, o<br />

conflito entre os homens pela posse das riquezas e dos bens materiais.<br />

OBS: “…o materialismo filosófico marxista parte do princípio de que a matéria, a natureza, em suma, o ser é<br />

uma realidade objetiva, que existe fora e independentemente da consciência; que a matéria é um dado<br />

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primário, pois ela é a fonte das sensações, das representações, da consciência, enquanto que a consciência é<br />

um dado secundário, derivado, pois ela é o reflexo da matéria, o reflexo do ser; que o pensamento é um<br />

produto da matéria, quando esta atingiu, no seu desenvolvimento, um alto grau de perfeição; mais<br />

precisamente, o pensamento é produto do cérebro, e o cérebro, o órgão do pensamento; não podemos, por<br />

conseguinte, separar o pensamento da matéria, sob pena de cairmos num erro grosseiro…” (STÁLIN, Joseph.<br />

Materialismo dialético e materialismo histórico, p.10-1 apud POLITZER, Georges; BESSE, Guy e<br />

CAVEING, Maurice. Princípios fundamentais de filosofia. Trad. João Cunha Andrade, p. 137).<br />

- O pensamento materialista de Marx e Engels, complementado depois por Lênin (1870-1924) e Mao Tsé-<br />

Tung(1893-1976), seria o condutor dos regimes comunistas implantados no mundo a partir de 1917, com a<br />

criação da União Soviética, regimes que perdurariam até o final da década de 1980 em praticamente metade<br />

do planeta e que ainda vigoram em Cuba, Coréia do Norte, Vietnã e na China, o segundo maior país do mundo<br />

em extensão e o mais populoso do planeta. Vemos, pois, que o materialismo passou a ser pensamento<br />

dominante em grande parte do planeta durante quase todo o século XX.<br />

- A queda dos regimes comunistas e a própria decepção surgida com o fracasso dos regimes comunistas antes<br />

mesmo de seu desmoronamento foram fatores que provocaram um nítido recuo no pensamento materialista<br />

nos últimos anos, dando margem ao surgimento de uma “nova espiritualidade”, que tem crescido grandemente<br />

em todo o mundo, inclusive nos países que ainda adotam o pensamento materialista marxista. No entanto,<br />

apesar deste recuo no mundo intelectual, o materialismo está longe de deixar de ser uma característica do<br />

mundo pós-moderno, pois, apesar de o pensamento materialista ter crescido em virtude da modernidade, o fato<br />

é que a prática materialista, mais até do que o pensamento materialista, é algo que só tem aumentado nos dias<br />

em que vivemos.<br />

III – A PRÁTICA MATERIALISTA AO LONGO DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE<br />

- O fato é que, se o pensamento materialista ganha corpo e uma nitidez no mundo grego, por volta do século II<br />

a.C., a prática materialista tem acompanhado o homem desde o início dos tempos, uma vez que este tipo<br />

de atitude é consequência da prática do pecado. “…O homem pecador que recusar aceitar a Deus será<br />

necessariamente levado a se tornar preso às criaturas em um modo falso e destrutivo. Em seu desvio em<br />

direção às criaturas (conversio ad creaturam), ele foca nas últimas seu desejo insatisfeito pelo infinito. Mas os<br />

bens criados são limitados e, então, o seu coração passa de um para outro, sempre procurando por uma paz<br />

impossível…” (SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Instrução Libertatis<br />

Conscientia, n.40) (tradução nossa de texto oficial em inglês do site do Vaticano).<br />

- Consequência inevitável de se retirar da presença de Deus é a busca do homem pelas coisas materiais,<br />

pensando, iludido, que o vazio decorrente da ausência da comunhão com Deus pode ser preenchido pelo<br />

desfrute das coisas terrenas. Assim foi o que ocorreu com Caim, como se lê em Gn.4:16. Após ter se retirado<br />

da presença do Senhor, Caim deu início a uma civilização materialista, voltada para as coisas desta vida, sem<br />

qualquer preocupação com a realidade espiritual (cf. Gn.4:20-22).<br />

- A civilização caimita acabou por prevalecer no mundo antediluviano como um todo e a descrição que Jesus<br />

faz dos dias de Noé bem mostra quais eram os valores então predominantes: “comiam, bebiam, casavam-se e<br />

davam-se em casamento” (Lc.17:27). Era, portanto, um mundo que se guiava única e exclusivamente pelas<br />

coisas desta vida, numa total despreocupação com as coisas do espírito, com a eternidade, com o<br />

relacionamento com Deus. O resultado de uma prática materialista como esta não poderia ter sido outra: o<br />

dilúvio os consumiu a todos.<br />

- Mas, depois do dilúvio, a humanidade manteve esta prática materialista. Ao invés de servir a Deus e de<br />

adorá-l’O, os homens da comunidade única pós-diluviana resolveram “ter um nome para si” para não serem<br />

espalhados sobre a face da Terra, demonstrando assim um apego às coisas desta vida, tanto que queriam, a<br />

exemplo do que já fizera Caim, edificar uma cidade e procurarem “ser poderosos na terra” (cf. Gn.10:8). Uma<br />

vez mais, a prática materialista se apresenta como a tônica a nortear e orientar as ações humanas, numa total<br />

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despreocupação com “as coisas de cima”. O resultado disto foi novo juízo divino, com a destruição da<br />

comunidade única pós-diluviana, por meio da confusão das línguas (Gn.11:7-9).<br />

- Entretanto, ainda que espalhados, os povos surgidos desta divisão mantiveram esta sua prática materialista.<br />

Com efeito, Jesus descreve os gentios como sendo pessoas que se preocupavam apenas em correr atrás do<br />

beber, do comer e do vestir, dando a isto prioridade em suas vidas (Mt.6:31,32), comportamento que persiste<br />

nos nossos dias, onde, lamentavelmente, o “ter” tem preponderância sobre o “ser”.<br />

OBS: “…O fenômeno do consumismo mantém uma persistente orientação mais para o ‘ter’ do que para o ‘ser’. Ele impede de ‘distinguir<br />

corretamente as formas novas e mais elevadas de satisfação das necessidades humanas, das necessidades artificialmente criadas que se opõem à<br />

formação de uma personalidade madura’. <strong>Para</strong> contrastar este fenômeno é necessário esforçar-se por construir ‘estilos de vida, nos quais a busca do<br />

verdadeiro, do belo e do bom, e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as<br />

opções do consumo, da poupança e do investimento.’ É inegável que as influências do contexto social sobre os estilos de vida são notáveis: por isso<br />

o desafio cultural que hoje o consumismo apresenta deve ser enfrentado de modo mais incisivo, sobretudo se se consideram as gerações futuras,<br />

que arriscam ter de viver num ambiente saqueado por causa de um consumo excessivo e desordenado.…” (PONTIFÍCIO CONSELHO DE<br />

JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da doutrina social da Igreja, n.360, p.206).<br />

- A excessiva preocupação do homem com as coisas desta vida é uma característica da prática<br />

materialista ao longo da história da humanidade. É evidente que o homem, para sobreviver, tenha de suprir<br />

suas necessidades essenciais (alimentação, vestuário, educação, habitação), necessidade que é reconhecida por<br />

Deus (Mt.6:32), mas também é ponto pacífico que o homem não pode pôr estas coisas como prioritárias na sua<br />

vida. No exato instante em que as coisas materiais passam a dominar o centro das atenções do homem, ele se<br />

torna presa do materialismo e, neste preciso momento, dá as costas para Deus.<br />

- Quando amamos as coisas desta vida em primeiro lugar, passamos a servir às riquezas, ou seja, a<br />

Mamom (o deus das riquezas) e, por causa disto, deixamos Deus de lado. Jesus disse que não se pode<br />

servir a Deus e a Mamom (Mt.6:24) e, infelizmente, muitos são os que, na atualidade, mesmo se dizendo<br />

crentes, não servem a Deus, mas única e exclusivamente a Mamom.<br />

- O materialismo, isto é, o apego às coisas materiais, representa a própria negação de Deus, a ponto de termos<br />

de reconhecer que “materialismo é ateísmo camuflado”. Quando há o apego às coisas materiais, estamos,<br />

ainda que não o digamos com argumentos, estamos, na prática, negando que Deus existe. É por este motivo<br />

que as Escrituras dizem que “o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males” (I Tm.6:10a).<br />

- É dentro deste sentido que devemos compreender a intensidade do mal causado por Acã no arraial de Israel<br />

(Js.7:13-26). Ao cobiçar o anátema e se atrever a desobedecer às ordens divinas em troca da posse de bens<br />

materiais, Acã e sua família fizeram muito mal e introduziram, na comunidade do povo de Deus, a<br />

possibilidade do materialismo, o que deveria ser imediatamente erradicado para que aquela geração não<br />

tivesse o mesmo triste fim de seus pais, que pereceram no deserto por causa da incredulidade (Hb.3:19). É<br />

importante notar que Acã foi incapaz de glorificar a Deus, apesar do pedido de Josué neste sentido,<br />

exatamente porque, ao amar as coisas materiais, havia desprezado e menosprezado o Senhor.<br />

- Não foi outro o motivo pelo qual Agur pediu a Deus que não se tornasse um homem extremamente rico, pois<br />

a posse excessiva de riquezas dá ao homem a sensação de que não precisa de Deus (Pv.30:8,9). Esta ilusão de<br />

que as coisas materiais trazem satisfação a todas as necessidades do homem, ilustrada por Jesus na parábola do<br />

rico insensato (Lc.12:13-21), é o principal motivo por que o Senhor afirma que é difícil a salvação dos ricos<br />

(Mt.19:24; Mc.10:25; Lc.18:25).<br />

- A prática materialista também se intensificou com o início da Modernidade. A acumulação de riquezas<br />

passou a ser a principal preocupação dos povos com o aumento do comércio em escala mundial e a<br />

organização econômica que passou para a história com o nome de “capitalismo”, “sistema econômico baseado<br />

na legitimidade dos bens privados e na irrestrita liberdade de comércio e indústria, com o principal objetivo de<br />

adquirir lucro”. Vivemos hoje num mundo onde há uma corrida desenfreada para o acúmulo de riquezas, onde<br />

todos buscam tão somente amealhar bens para si. Há um consenso de que o homem foi feito para a riqueza<br />

material e que a vida se resume a posse de fortunas. No entanto, não é este o ensino de Jesus. O Senhor é bem<br />

claro ao afirmar que “a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” (Lc.12:15 “in fine”).<br />

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- A prática materialista tem se disseminado em todo o mundo. Se a queda dos regimes comunistas causou<br />

um impacto no pensamento filosófico materialista, foi um grande impulso para a intensificação da prática<br />

materialista. A preponderância dos países capitalistas na chamada “guerra fria”, nome como ficou conhecido o<br />

confronto entre os países capitalistas e os países comunistas entre 1945 e 1989, fez com que se criasse a ideia<br />

de que o sistema capitalista é o melhor sistema econômico que existe e que deve ser, por isso, adotado pelo<br />

mundo inteiro.<br />

- Nesta ideia que se disseminou mundo afora, temos a exaltação da posse de bens materiais e um<br />

consumismo desenfreado, que é a razão de ser de milhões e milhões de pessoas, inclusive daqueles que não<br />

tem recursos materiais suficientes sequer para a sua sobrevivência. Com efeito, mesmo as camadas miseráveis<br />

das diversas sociedades deste mundo têm voltadas as suas esperanças à posse de riquezas. O sonho de toda<br />

pessoa é se tornar rica, milionária e famosa, pouco importando o que tenha de fazer para atingir esta posição.<br />

- As pessoas, por sua vez, são julgadas e julgam as outras pelo que possuem, pelo seu patrimônio, numa<br />

completa inversão de valores morais e éticos. O materialismo distorce totalmente aos relacionamentos entre<br />

os homens, que passam a ser, sobretudo, relacionamentos interesseiros, voltados para a obtenção de vantagens<br />

econômico-financeiras. Até mesmo os relacionamentos afetivos passam a ser guiados por motivos econômicos<br />

e financeiros, a ponto de muitos constituírem ou destruírem lares e famílias por motivos puramente<br />

patrimoniais.<br />

- Na própria igreja, o materialismo também fincou raízes. As Escrituras já haviam predito que, nos últimos<br />

dias, haveria, no meio do povo de Deus, falsos mestres que não teriam qualquer pudor mas, após terem negado<br />

o Senhor que os resgatara, iriam fazer dos crentes negócio com palavras fingidas (II Pe.2:1-3). O “segmento<br />

gospel” tem sido um dos segmentos do mercado que mais crescimento tem tido no Brasil nos últimos anos e,<br />

segundo os especialistas, tem ainda muito para crescer. Lamentavelmente, como bem afirma o sociólogo da<br />

religião, Antonio Flávio Pierucci, cada vez mais as igrejas estão a oferecer “serviços lábeis (i.e., instáveis,<br />

passageiros, adaptáveis – observação nossa) (…)não permanentes e de consumo imediato, o mais das vezes<br />

oferecidos em troca de pagamento.…” (PIERUCCI, Antonio Flávio. Religião. Folha de São Paulo, caderno<br />

Mais!. 31 dez. 2000. p.20-1).<br />

- Não devemos, portanto, nos assustar com o crescimento da chamada “teologia da prosperidade”, que nada<br />

mais é que a introdução do materialismo na pregação do evangelho. Com efeito, passou-se a pregar um<br />

evangelho que traz vantagens patrimoniais, um evangelho que exalta e enaltece a posse de riquezas, um<br />

evangelho que, embora fale em Cristo, está, na verdade, levando o povo a Mamom. As pessoas correm a<br />

Jesus, mas porque querem se apegar às riquezas. Buscam o favor de Cristo, mas para poderem ter o carro<br />

novo, a casa nova, para serem empresários. Em nome de Jesus, estão a proliferar a avareza e o amor do<br />

dinheiro. Tenhamos cuidado com este falso evangelho, com esta investida materialista travestida de cristã e de<br />

evangélica, pois, “…alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas<br />

dores.” (I Tm.6:10b).<br />

- Na verdade, estes “pregadores de prosperidade” nada mais são que escravos do dinheiro e das coisas<br />

materiais. Vivem em função da acumulação de riquezas, vivem à busca das coisas desta vida, num sentido<br />

diametralmente oposto ao que se lê na Bíblia Sagrada, que manda aos crentes buscar as coisas que são de<br />

cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus (Cl.3:1). Por isso, como verdadeiros estelionatários,<br />

procuram satisfazer a sua ganância através da ganância alheia. Assim, exploram o povo e arrancam<br />

verdadeiras fortunas dos bolsos destes incautos, vendendo a imagem de um Deus que faz barganhas com os<br />

Seus servos e que, ante o “sacrifício”, ante o “tudo” que foi entregue, serão ricamente abençoados e<br />

enriquecidos pelo Senhor. No fundo, porém, quem enriquece são estes mesmos pregadores ou, então, as<br />

instituições para as quais eles trabalham. Neste relacionamento estabelecido em cima da “pregação da<br />

prosperidade”, só temos que nos recordar das palavras do apóstolo: “…os homens maus e enganadores irão de<br />

mal para pior, enganando e sendo enganados.”(II Tm.3:13).<br />

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- O materialismo também se manifesta no tratamento feito com base nos bens que as pessoas possuem.<br />

Já na igreja primitiva, Tiago repreende a acepção de pessoas por causa das posses de alguém (Tg.2:1-9). Este<br />

comportamento revela que o coração da pessoa não se encontra cheio do Espírito de Deus, mas, ao contrário, é<br />

um coração voltado única e exclusivamente para as riquezas, para Mamom. Quando julgamos as pessoas pelo<br />

que elas têm e não pelo que elas são, estamos fazendo da nossa vida uma prática materialista.<br />

- O mundo vive desta maneira, mas nós temos de ser diferentes. Recentemente, lemos reportagem em que<br />

pessoas de proeminência do mundo econômico e financeiro que tiveram problemas e perda de patrimônio<br />

testemunhavam que, de uma hora para outra, desapareceram os amigos de outrora, tendo, mesmo, alguns sido<br />

convidados a se retirar de clubes e entidades de que participavam e cuja participação, até bem pouco tempo<br />

atrás, era referência que a própria entidade fazia questão de divulgar para angariar novos integrantes. Muitos,<br />

porém, dentro das igrejas locais, têm se comportado da mesma forma, fazendo com que as relações de<br />

amizade sejam apenas jogos de interesses, manifestações de ganância e de cobiça, sejam evidências de que se<br />

está servindo a Mamom e não, a Deus.<br />

- Como podemos verificar, portanto, se o pensamento materialista pode ser algo distante para a realidade de<br />

cada crente, se o pensamento materialista pode estar um tanto quanto fora de moda, depois da derrocada do<br />

comunismo, o que estamos aqui a denominar de prática materialista é algo bem presente e que tem,<br />

infelizmente, frequentado e dominado a vida de muitos que cristãos se dizem ser.<br />

IV – A AFLIÇÃO DA PERDA DOS BENS TERRENOS<br />

- Dentro deste quadro materialista que domina o mundo e, inclusive, se infiltrou na igreja, é claríssimo que a<br />

aflição decorrente da perda dos bens terrenos é algo que tem sido de difícil enfrentamento por parte dos<br />

que cristãos se dizem ser, já que, no mais das vezes, encontramo-nos influenciados pela mentalidade<br />

materialista que faz com que ponhamos nossos corações naquilo que possuímos em vez de n’Aquele que<br />

nos concede ter o que temos.<br />

- O Senhor Jesus, no sermão do monte, foi explícito ao afirmar que não devemos pôr nossos corações nas<br />

coisas desta Terra, pois elas estão sujeitas à perda, pois os tesouros terrenos podem ser consumidos pela<br />

traça, pela ferrugem e pelos ladrões, enquanto que os tesouros celestes estão imunes a estes fatores (Mt.6:19-<br />

20). Como se não bastasse, se temos nossos corações nos tesouros terrenos, aqui ficaremos, pois está nosso<br />

tesouro, também estará o nosso coração, de forma que, infelizmente, não podemos, confiando nas riquezas,<br />

alcançar a salvação (Mt.6:21; 19:23,24). Por isso até o apóstolo Paulo advertiu os crentes para que, em caso de<br />

enriquecimento, não pusessem sua confiança nas riquezas, mas em Deus (I Tm.6:17).<br />

- A perda dos bens terrenos é apontada como uma possibilidade real neste mundo em que vivemos. O<br />

Senhor Jesus disse que os tesouros podem se perder seja por causa da traça, seja por causa da ferrugem, seja<br />

por causa dos ladrões. Quem tem bens deste mundo pode vir a perdê-los por causas naturais (traça), pela<br />

deterioração (ferrugem) como também pela ação do próprio homem (os ladrões).<br />

- Os bens terrenos podem vir a perder-se por causas naturais, ou seja, pela própria ação da natureza que,<br />

como já vimos supra, por causa do pecado, não atua apenas favoravelmente ao homem, mas pode prejudicá-lo.<br />

Assim, por exemplo, um desastre natural, como um terremoto ou uma inundação, pode privar alguém de todo<br />

o seu patrimônio num só instante.<br />

- Foi o que ocorreu com o patriarca Jó, que, de uma hora para outra, veio a perder suas ovelhas por causa de<br />

“um fogo que caiu do céu” (Jó 1:16) e um grande vento que fez com que desabasse a casa onde estavam seus<br />

filhos, vindo todos eles a falecer (Jó 1:18,19), causas naturais que fizeram com que o velho homem de Deus<br />

tivesse grandes perdas. Sabemos que tudo ocorrera por obra do diabo, por permissão divina, mas não deixou<br />

de serem causas naturais as que determinaram tais perdas a Jó.<br />

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- Os bens terrenos podem vir a perder-se por fatores de deterioração, de degeneração das próprias<br />

estruturas sócio-econômicas que fomentaram o crescimento do patrimônio de alguém. Assim, por<br />

exemplo, uma crise econômica, uma mudança tecnológica podem fazer com que negócios promissores, que<br />

traziam enormes riquezas para alguém, de uma hora para outra levem aquela pessoa à derrocada, à perda de<br />

seu “status” social. Nos dias em que vivemos, é muito comum este estado de coisas, de modo que muitos<br />

procuram se manter atualizados do ponto de vista tecnológico, para que não venham a ser surpreendidos por<br />

este fator de perda dos bens terrenos.<br />

- Mas, também, os bens terrenos podem se perder por causa da ação maligna do homem, pela injustiça,<br />

pela prática de crimes e outras atividades ilícitas. Já estudamos que vivemos um período de aumento da<br />

violência e esta forma tem sido cada vez mais presente na perda dos bens terrenos. Voltando novamente ao<br />

caso de Jó, que é emblemático a respeito deste tema, vemos que o patriarca perdeu seus bois e jumentas pela<br />

ação de sabeus que roubaram o gado, além de matar todos os pastores que serviam ao homem de Uz (Jó<br />

1:14,15), o mesmo ocorrendo com relação aos camelos, que foram roubados pelos caldeus (Jó 1:17).<br />

- Ao contrário do que alegam, entre outros, os arautos da teologia da prosperidade, não há qualquer<br />

imunidade dos salvos a estes fatores de perda de bens terrenos. Jó recebia testemunho da parte de Deus e,<br />

mesmo assim, o Senhor permitiu a Satanás que tomasse todos os bens de Jó, o que o destruidor fez num só<br />

momento, num só instante, mostrando todo o seu nefando caráter.<br />

- Vivemos num mundo que está no maligno e, deste modo, não há porque acharmos que estamos isentos de ter<br />

a perda dos bens terrenos, bens que nos são concedidos por Deus, mas bens que estão num mundo em que a<br />

terra concorre contra nós e onde habita a injustiça. Por isso, os fatores que existem no mundo concorrem para<br />

que nossos bens terrenos estejam sujeitos à destruição.<br />

- O importante, entretanto, não é que nossos bens terrenos estejam sujeitos a serem perdidos, mas que nossos<br />

corações neles não estejam confiados, pois, se assim ocorrer, teremos a mesma reação que teve o patriarca Jó.<br />

- Ao receber a notícia de que perdera, num só dia, tudo quanto havia adquirido ao longo de seus anos de vida,<br />

naturalmente o patriarca se abateu, sentiu o impacto de ter perdido o trabalho de anos e anos. Não podemos<br />

esperar outra reação de quem se vê numa situação de perda dos bens terrenos: a tristeza advém,<br />

inevitavelmente, porquanto é a perda de anos a fio de trabalho árduo, aflição que aumenta ainda mais quando<br />

se está diante de alguém que serve a Deus e que tudo adquiriu, por conseguinte, com honestidade e o próprio<br />

suor.<br />

- Por isso, as Escrituras nos dizem que Jó, ao ter conhecimento de que passara a ser um homem miserável, sem<br />

bens e sem família, levantou-se, rasgou o seu manto e rapou a sua cabeça, gestos que, no Oriente Antigo,<br />

simbolizavam humilhação e profunda tristeza (Jó 1:20).<br />

- Mas o patriarca não se limitou a chorar as suas misérias, atitude absolutamente normal para um ser humano<br />

que é dotado de afeição e de amor próprio. Apesar de profundamente abalado e triste, Jó não deixou de adorar<br />

a Deus! Sim, o texto é bem claro ao nos dizer que Jó adorou (Jó 1:20), tendo exclamado, então: “Nu saí do<br />

ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do<br />

Senhor (Jó 1:21).<br />

- No momento da perda dos bens terrenos, Jó adorou ao Senhor, reconheceu o Seu senhorio sobre todas as<br />

coisas e que o Senhor que lhe havia dado tudo, poderia tomar tudo, se o quisesse. Jó reconheceu que, quando<br />

saíra do ventre de sua mãe, saíra nu, sem qualquer bem e, por isso, se o Senhor quisesse que ele assim tornasse<br />

ao pó, sem nada possuir, não lhe estava tirando coisa alguma, fazendo-o terminar a própria vida como a<br />

iniciara, ou seja, sem coisa alguma na face da Terra.<br />

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- Temos nós, irmãos, compreendido esta realidade de que tudo pertence a Deus e que Deus pode nos tirar o<br />

que nos deu a qualquer momento se assim o desejar? Temos nós compreendido que saímos nus do ventre de<br />

nossas mães e que se voltarmos ao pó nus não teremos nada mais nada menos do que somos?<br />

- A corrida pelos bens materiais que temos presenciado, na atualidade, entre os que cristãos se dizem ser,<br />

inclusive em termos de “cobranças” e “exigências” a Deus, como se Ele fosse obrigado a nos enriquecer, é<br />

algo diametralmente oposto ao que vemos no patriarca Jó. Jó perdeu tudo, sem que tivesse pecado, e provou<br />

onde estava o seu coração neste momento extremamente angustiante: seu coração estava em Deus e não nos<br />

bens que possuía, nem mesmo em seus filhos. Diante das calamidades que lhe sucederam num só dia, Jó ainda<br />

tinha o seu Deus e a Ele prestou adoração!<br />

- Jó apresentou este sentimento que o apóstolo Paulo explicitaria no capítulo 8 de sua carta aos Romanos,<br />

quanto afirmou que nada nos pode separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm.8:35-39). O<br />

apóstolo afirma que nem a fome, nem a nudez, nem a tribulação, nem a angústia, nem o perigo, nem a espada,<br />

nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir,<br />

nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura pode separar o crente fiel do amor de Deus, que<br />

está em Cristo Jesus, nosso Senhor.<br />

- A perda dos bens terrenos foi permitida por Deus no caso de Jó para que se mostrasse a Satanás que Jó não<br />

servia a Deus por causa dos bens que o Senhor lhe havia dado, mas servia a Deus por causa d’Ele mesmo.<br />

Muitas vezes, a perda dos bens terrenos tem este papel de mostrar não só a nós mesmos mas a todos que nos<br />

cercam onde está alicerçada a nossa fé, onde está alicerçado o nosso amor.<br />

- A perda dos bens terrenos vem nos mostrar que devemos servir única e exclusivamente ao Senhor dos<br />

bens e não aos bens do Senhor. A perda dos bens terrenos vem desnudar a nossa estrutura espiritual, vem nos<br />

mostrar a quem realmente servimos e isto é fundamental para que os bens materiais não impeçam a nossa<br />

salvação.<br />

- O chamado “mancebo de qualidade” (Mt.19:16-25; Mc.10:17-26 e Lc.18:18-26), quando confrontado tão<br />

somente com o desafio de se livrar de seus bens materiais pelo Senhor Jesus, bem revelou em que estava<br />

alicerçada a sua confiança. Apesar de seu anelo pela vida eterna e de sua exemplar e rigorosa religiosidade, ao<br />

ser confrontado com seus bens materiais por Cristo, revelou que sua fé estava embasada em suas riquezas e,<br />

por isso, não aceitou servir ao Senhor. De igual maneira, lamentavelmente, muitos religiosos de nosso tempo<br />

também têm rejeitado seguir a Cristo Jesus por causa de suas riquezas. Que Deus nos livre deste laço do<br />

demônio!<br />

- Como bem nos faz ver o relato do texto sagrado a respeito de Jó, ele não pecou porque reconheceu a<br />

soberania de Deus sobre os bens terrenos, não tendo também atribuído a Deus falta alguma por tudo o que lhe<br />

ocorrera (Jó 1:22).<br />

- Diante da perda dos bens terrenos, deve, pois, o crente, se quiser permanecer sem pecado e,<br />

consequentemente, apto a entrar no reino dos céus, não pode, de modo algum, culpar a Deus pelo acontecido.<br />

Muitos são os que, além de perder os bens terrenos, também perdem a salvação porque, diante da perda dos<br />

bens terrenos, atribui a Deus a culpa, revoltam-se contra o Senhor, esquecendo que nós é que devemos servil’O<br />

e não Ele a nós.<br />

- Jó não atribuiu a Deus falta alguma e entendeu que, como Senhor de todas as coisas, a Divindade poderia<br />

retirar de Jó, no momento que quisesse, tudo quanto o patriarca havia amealhado ao longo de sua existência.<br />

Devemos ter o mesmo comportamento: Deus é o Senhor de tudo e, como todo proprietário, pode, a qualquer<br />

momento, decidir que aquilo que nos confiou seja retirado de nossa administração.<br />

- Não é fácil agirmos desta maneira, mas é assim que devemos agir. Se isto nos é difícil, peçamos graça a<br />

Deus que nos dará, em nosso íntimo, esta atitude, pois devemos servir ao Senhor e não aos bens do mundo que<br />

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Ele nos dá. Devemos amar o Senhor e não aos bens que Ele nos concede. Se amarmos as riquezas, estaremos<br />

servindo a Mamom e, “ipso facto”, não amaremos a Deus, pois não é possível servir a um e outro<br />

simultaneamente (Mt.6:24).<br />

- A perda dos bens terrenos pode ser uma ação divina para impedir que O rejeitemos como fez o<br />

“mancebo de qualidade”. Como todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e são<br />

chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28), Deus, em muitas situações, permite que percamos tudo quanto<br />

possuímos para que não venhamos a perder o dom mais precioso que nos deu: a salvação. Como as coisas<br />

materiais se constituem em um grande obstáculo para que alcancemos a salvação (Mt.19:23), muitas vezes<br />

somos desapossados destes bens para que não percamos a vida eterna.<br />

- São poucos, muito poucos, aqueles que, a exemplo de Salomão, chegam à consciência de que os bens<br />

terrenos todos são vaidade (Ec.6:2) e que, por isso, devemos servir a Deus. Por isso, muitas vezes, iludido pela<br />

posse de muitos bens, o homem é confrontado com a sua perda para entender que o Senhor é o verdadeiro e<br />

único bem. A perda dos bens terrenos, portanto, constitui-se no maior lucro que se pode ter, que é o<br />

reconhecimento do real valor da salvação em Cristo Jesus, bem que todo o patrimônio do mundo não pode<br />

adquirir (Sl.49:6-8).<br />

- A perda dos bens terrenos mostra-nos a natureza terrena destes bens. Por isso, o apóstolo João<br />

denominou as riquezas da terra de “bens do mundo” (I Jo.3:17). Assim os denominou precisamente porque são<br />

bens passageiros, pois “o mundo passa e a sua concupiscência” (I Jo.2:17a). Quando perdemos os bens<br />

terrenos, notamos seu caráter passageiro, como também a perenidade daquele que faz a vontade de Deus (I<br />

Jo.2:17b).<br />

- A perda dos bens terrenos faz-nos ver que o homem é superior às demais criaturas terrenas. Quando se<br />

tem a perda dos bens terrenos, há, ainda, a permanência daquele que os possuía. O entenebrecimento da mente<br />

humana pelo materialismo faz com que passemos a servir à criatura em vez de ao Criador (Rm.1:21-23), com<br />

que amemos o dinheiro e não a Deus, passando, então, a adorar as riquezas, a servi-las e não ao Senhor de<br />

todas as coisas (Cl.3:5).<br />

- No entanto, quando estes bens terrenos desaparecem, notamos claramente que somos superiores a eles e que,<br />

portanto, não poderíamos viver em função deles, mas eles é que existem em função de nós. Isto nos faz<br />

compreender a tolice que é a conduta materialista e nos permite nos aproximar de Deus, o único e verdadeiro<br />

Bem.<br />

- A perda dos bens terrenos permite-nos também apreciar não só a nossa fé, a nossa estrutura<br />

espiritual, mas, também, a estrutura daqueles que nos cercam. Quando perdemos tudo quanto temos, já o<br />

dissemos supra, também desaparecem de nossas vidas muitos daqueles que se diziam nossos amigos, nossos<br />

companheiros. A perda dos bens terrenos permite-nos avaliar a natureza dos nossos relacionamentos,<br />

desnudam o caráter daqueles que estavam ao nosso redor. Não é à toa que o proverbista afirma que: “Em todo<br />

o tempo ama o amigo; e na angústia nasce o irmão” (Pv.17:17).<br />

- A perda dos bens terrenos permite-nos compreender a soberania divina e a nossa dependência de Deus<br />

e, por conseguinte, nos tornar ainda mais próximos do Senhor. Quando ficamos sem o que possuímos,<br />

passamos a entender que dependemos exclusiva e unicamente de Deus e que, portanto, não podemos nos<br />

orgulhar daquilo que viermos a adquirir, mas devemos sempre dar graças ao Senhor por aquilo que temos. A<br />

perda dos bens terrenos impede-nos de chegar à soberba e à autossuficiência, sentimentos que nos impedirão<br />

de viver com o Senhor por toda a eternidade.<br />

- Jó admitiu esta sua situação de dependência de Deus quando, já próximo do final de seu cativeiro,<br />

reconheceu que tudo quanto soubera de Deus era apenas um “ouvir dizer”, mas que a situação de extrema<br />

penúria que havia vivido lhe revelara quem realmente era o Senhor (Jó 42:1-6). Deus, assim, cumprira o Seu<br />

propósito na vida do patriarca, que não era, em absoluto, o de provar ao diabo a sinceridade do Seu servo, mas<br />

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de fazê-lo se aproximar ainda mais do seu Senhor. A doença e a perda dos bens terrenos cumpriram, pois, este<br />

papel de aproximar Jó ainda mais de Deus.<br />

- A perda dos bens terrenos é uma oportunidade para que exerçamos o amor ao próximo. Diante de<br />

alguém que perdeu tudo quanto possuía, devemos mostrar que servimos a Deus, ajudando-lhe a se reerguer,<br />

dando-lhe o necessário para a sua sobrevivência imediata e criando condições para que possa, por meio do<br />

trabalho, voltar a adquirir bens que sirvam à satisfação de suas necessidades. Por isso, o apóstolo João disse<br />

que parte dos bens do mundo que Deus nos dá é, precisamente, para que venhamos a suprir as necessidades<br />

daqueles que nada têm (I Jo.3:17,18).<br />

- A perda dos bens terrenos é uma oportunidade que Deus nos dá de evangelizarmos o mundo, de<br />

mostrarmos que temos o amor de Deus e que Deus não só nos ama mas a todos os homens. A ação social da<br />

igreja em favor dos pobres e dos menos favorecidos é uma importante demonstração do amor de Deus que está<br />

em nós e pode, assim, levar à salvação de muitos.<br />

- Por fim, antes de encerrarmos este estudo, devemos falar um pouco sobre a chamada “teoria da<br />

restituição”, mais uma das invencionices que tem tumultuado a fé de muitos que cristãos se dizem ser.<br />

Segundo esta teoria, Deus seria obrigado a restituir tudo quanto perdemos de bens terrenos. É conhecido, aliás,<br />

um cântico que fez muito sucesso no “mercado gospel”, onde o poeta de falsa inspiração exclama: “restitui, eu<br />

quero de volta o que é meu”.<br />

- Trata-se de mais uma distorção grave do que nos ensina a verdade bíblica. Deus é o dono de todas as coisas<br />

e, portanto, quando as toma não é obrigado a restituir coisa alguma, já que tudo é dele. Quando alguém<br />

exclama “restitui, quero de volta o que é meu”, está falando uma tolice, pois nada é nosso, salvo os nossos<br />

pecados e, uma vez perdoados, o Senhor não no-los dará de volta (Jr.31:34; Mq.7:18; Hb.8:12,17).<br />

- Vimos que a perda dos bens terrenos tem diversos propósitos, e, dependendo do propósito, Deus não<br />

irá restituir tudo de volta àquele que perdeu os bens terrenos. Jó recebeu tudo em dobro, é bem verdade,<br />

mas porque havia ali um propósito de aproximar Jó mais de Deus, de impedi-lo de chegar à soberba, mas,<br />

também, havia a necessidade de restituição, visto que tudo ocorrera em virtude de desafios satânicos que, uma<br />

vez desmascarados, impunham a devolução dos bens terrenos ao patriarca, mas Deus não se limitou a devolver<br />

o que tivera, mas a lhe dar tudo duplicado (Jó 42:10).<br />

- Nem sempre, porém, isto acontece. O rei Manassés, de Judá, foi privado por Deus, em virtude da sua<br />

impiedade, da liberdade, do governo e de seus bens, arrependeu-se e Deus lhe restaurou a situação anterior,<br />

devolvendo-se tudo quanto dantes possuía, sem, porém, fazer a multiplicação que fizera com Jó (II Cr.33:11-<br />

13).<br />

- Com Mefibosete, a situação foi diferente. Por causa de uma mentira de seu servo Ziba, Mefibosete foi<br />

privado de todo o seu patrimônio por uma ação insensata de rei Davi (II Sm.16:4) e, mesmo depois de<br />

revelada a injustiça cometida, teve tão somente a restituição de metade do seu patrimônio (II Sm.19:29) e<br />

Mefibosete, mostrando que não era um “cobrador de restituição”, abriu mão até da metade que se lhe<br />

devolveu, pois seu prazer não era o que o rei lhe dera, mas o amor ao próprio rei, como figura perfeita do<br />

verdadeiro e genuíno cristão, que quer ter o Deus dos bens e não os bens de Deus (II Sm.11:30).<br />

- Com outro rei de Judá, Joaquim, a situação foi ainda diferente. Depois de passar anos no cativeiro, teve<br />

melhorada a sua situação em Babilônia, mas não readquiriu o que havia possuído antes, tendo tão somente<br />

lhe sido dada a honra de desfrutar da companhia do rei, uma situação nitidamente inferior à que possuía<br />

anteriormente (Jr.52:31-34).<br />

- A promessa que o Senhor Jesus dá aos Seus discípulos não é de “restituição”, mas, sim, de que a vida<br />

que temos n’Ele neste mundo é “cem vezes mais” do que o que tínhamos antes da salvação, como deixou<br />

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claro aos discípulos logo após o episódio do “mancebo de qualidade” (Mt.19:27-30; Mc.10:28-31 e Lc.18:28-<br />

30).<br />

- Este cêntuplo, entretanto, não pode nem deve ser interpretado em termos materialistas, como fazem os<br />

arautos da teologia da prosperidade em nossos dias, pois, se assim fosse, o Senhor Jesus teria mentido, pois, ao<br />

<strong>ler</strong>mos a história da Igreja, observarmos que os discípulos não tiveram qualquer melhora econômicofinanceira<br />

após o início de seus ministérios, mas, bem ao contrário, um decréscimo patrimonial evidente.<br />

- Este cêntuplo, como ensina o pastor e teólogo irlandês John Nelson Darby (1800-1882), está relacionado<br />

com a glória de Deus que foi trazida pelo Senhor Jesus. Passamos a desfrutar, desde já, a comunhão com o<br />

Senhor, a compartilhar de Sua glória, ainda que parcialmente, e este desfrute é “cem vezes mais” do que<br />

qualquer coisa que o mundo possa nos oferecer. Por isso, a decisão de servir a Cristo e não às riquezas, como<br />

afirma Darby, é “…decisão que não será estabelecida sobre as aparências, nem segundo o lugar que os homens<br />

ocupam no velho sistema, e perante os outros homens. Muitos dos primeiros serão os últimos — e muitos dos<br />

últimos serão os primeiros. Com efeito, era de recear que o coração carnal do homem, num espírito<br />

mercenário, nem aceitasse o encorajamento como forma de recompensa por todo o seu trabalho e por todos os<br />

seus sacrifícios, e procurasse fazer de Deus seu devedor” (Estudos sobre a Palavra de Deus: Mateus-Marcos.<br />

Trad. de Dr. Martins do Vale, p.141).<br />

- Este cêntuplo tem, também, um teor material, pois como afirma Russell Norman Champlin, “…o<br />

discípulo obtém muitas outras possessões materiais, porquanto tudo quanto pertence aos seus novos irmãos,<br />

agora é seu também.…” (Novo Testamento interpretado versículo por versículo, com. Mt.19:29, v.1, p.494).<br />

- Temos, portanto, que fundamento bíblico algum tem a chamada “teoria da restituição”, que não passa de<br />

mais uma artimanha satânica para fazer o salvo em Cristo Jesus de perder a sua salvação, passando a buscar as<br />

riquezas em vez de buscar ao Senhor. Que Deus nos guarde pois!<br />

<strong>Caramuru</strong> <strong>Afonso</strong> Francisco<br />

Portal Escola Dominical – www.portalebd.org.br Página 13

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