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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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como um marco da arte contemporânea justamente na única bienal<br />

que o crítico organizou, a VI Bienal de 1961 (ROCHA, 2003, p. 130) 7 .<br />

O fracasso da forma copiada e seu destino medíocre, ideia desenvolvida<br />

no ensaio dos anos 1970, já havia sido enunciada em um ensaio<br />

escrito uma década antes, “Uma situação colonial?”, publicado<br />

originalmente no jornal O Estado de S. Paulo, Suplemento Literário,<br />

em 19 de novembro de 1960 e depois em Gomes (1981). Nesse<br />

primeiro texto, a dialética entre “colonizador e colonizado” (substituída<br />

pelo conceito mais complexo e sutil no ensaio dos anos 1970<br />

por “ocupado e ocupante”) teria como resultado a “mediocridade”:<br />

“O denominador comum de todas as atividades relacionadas com o<br />

cinema é em nosso país a mediocridade” (p. 286). Mas então, o tom<br />

negativo do termo provocaria uma viravolta surpreendente, quase que<br />

um programa estético no qual a adversidade (penso aqui também em<br />

Hélio Oiticica: “Da adversidade vivemos”) abre caminho para a inovação,<br />

tendo por causa “nossa incompetência criativa em copiar”.<br />

Um certo primarismo, calcado na ilusão de que em “situação colonial”<br />

ou periférica se pode copiar, mimetizar completamente a fonte<br />

ideal, é a base da “incompetência”. Esta, entretanto, na medida em<br />

que se realiza (e não poderia ser de outro modo), pode ter seu resultado<br />

invertido. A chave da ideia está na noção de criatividade. Uma<br />

vez que somos incapazes de copiar (ainda que o desejemos), se soubermos<br />

ser criativos diante da impossibilidade de efetivar plenamente<br />

a fantasia, de fato somos capazes de criar algo novo, e, nesse sentido,<br />

“original”. Nossa originalidade, nosso caráter de inovação e vanguardismo,<br />

só pode residir em uma falha sistemática, em uma traição bem<br />

pensada das fontes das quais nos alimentamos. Creio que aqui, a metáfora<br />

oswaldiana da antropofagia, do “primitivo” que faz a revolução<br />

não por expulsar o poderoso colonizador, mas por degluti-lo e regurgitá-lo,<br />

ganha um sentido conceitual efetivo e dialético.<br />

Resumindo: em nossos autores, Antonio Candido e Paulo Emílio,<br />

romance, cinema e sociedade se informam por meio da análise criteriosa<br />

da forma entendida como condição prática mediadora diante<br />

de processos históricos concretos (a dialética entre ordem e desordem<br />

dentro do mundo criado pela escravidão e o favor, no caso da litera-<br />

7 Para uma análise geral da VI Bienal, ver Alambert in Abdala Jr. e Cara (2006).<br />

94 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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