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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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sido “devoradas” pela cultura local, permitindo inclusive que o cinema<br />

japonês se fizesse com seus próprios capitais.<br />

A questão brasileira era distinta. Aqui, nem a cópia (ou imitação)<br />

prevaleceu sempre, nem a “devoração” (antropofágica?) vingou efetivamente.<br />

Como já citado, estávamos em uma espécie de entre-lugar,<br />

presos àquela “dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro”. Nossa<br />

síntese era precária, mas existia, mesmo que sob o signo do paradoxo.<br />

Por exemplo, as imagens criadas pelo ocupante moderno, os Estados<br />

Unidos e sua indústria das imagens para ocupação, curiosamente viravam<br />

“coisa nossa”:<br />

não é que tenhamos nacionalizado o espetáculo importado como os<br />

japoneses o fizeram, mas acontece que a impregnação do filme americano<br />

foi tão geral, ocupou tanto espaço na imaginação coletiva de<br />

ocupantes e ocupados, excluídos apenas os últimos estratos da pirâmide<br />

social, que adquiriu uma qualidade de coisa nossa na linha de que<br />

nada nos é estrangeiro pois tudo o é (p. 79).<br />

A partir da década de 1940 – justamente a época em que surge a geração<br />

crítica que estamos comentando, representada aqui por Antonio<br />

Candido, Paulo Emílio e Mário Pedrosa – o sucesso das chanchadas (os<br />

filmes de “baixa cultura”, voltados à “plebe”) cativa o “ocupado” antepondo-se<br />

ao gosto do “ocupante” (tanto externo, o “imperialismo”,<br />

quanto interno, a “classe dominante” europeizada ou americanizada).<br />

Uma identificação cultural de outra ordem passa a ser uma realidade<br />

e uma potencialidade criativa:<br />

a identificação provocada pelo cinema americano modelava formas<br />

superficiais de comportamento em moças e rapazes vinculados aos<br />

ocupantes; em contrapartida a adoção, pela plebe, do malandro, do<br />

pilantra, do desocupado da chanchada, sugeria uma polêmica de ocupado<br />

contra ocupante (p. 80).<br />

Como na canção de Noel Rosa de 1933, Não tem tradução<br />

(“O cinema falado/ é o grande culpado/ da transformação”), os modos<br />

da plebe se antepõem aos modos “americanos” impostos mas, sem<br />

negá-los propriamente, os coloca em situação de rearranjo.<br />

92 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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