Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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simples internacionalismo, mas por um “pan-nacionalismo” (p. 93).<br />
Depois de especular sobre a possibilidade de surgimento dessa peculiar<br />
dialética entre nacionalismo e internacionalismo em vários países,<br />
sobretudo naqueles que foram derrotados na I Guerra e também na<br />
França, termina seu depoimento-plataforma pedindo abertura para<br />
esse debate. Clama para que os novos intelectuais deixem a “torre de<br />
marfim” e assumam as “questões de cultura” como sua responsabilidade.<br />
Sua tarefa maior deveria ser “participar do desaparecimento de<br />
um Brasil formal e do nascimento de uma nação” (p. 95).<br />
Saltemos algumas décadas e vejamos como Paulo Emílio, já então o<br />
mais importante pensador do cinema no Brasil, aplicou e desenvolveu<br />
muitas dessas ideias em sua prática crítica. Em seu ensaio já clássico<br />
“Cinema: trajetória no subdesenvolvimento”, Paulo Emílio consagrou,<br />
para certa tradição crítica, os princípios de análise que não apenas<br />
estruturavam uma história do cinema brasileiro (e suas “mortes” e “ressurreições”),<br />
a partir de seu contexto periférico, dependente e “subdesenvolvido”,<br />
culminando no auge (e na crise) do Cinema Novo mas,<br />
ao mesmo tempo, compilou as questões decisivas sobre a discussão<br />
promovida desde a teoria da dependência sobre os princípios da crítica<br />
histórica e materialista nas condições brasileiras. O tal princípio era<br />
resumido assim: “Em cinema o subdesenvolvimento não é uma etapa,<br />
um estágio, mas um estado” (GOMES, 1980, p. 85).<br />
Porém, e nisso reside o mais importante, nesse “estado” as coisas<br />
não funcionavam sempre da mesma maneira. Com impressionante<br />
fôlego sintético, o crítico passeia por diversos cinemas, e nações, “subdesenvolvidos”<br />
(em uma palavra: dependentes não apenas economicamente<br />
do centro capitalista hegemônico, mas sobretudo dependentes<br />
de uma dialética constante entre “ocupado”, o local, e “ocupante”,<br />
a força externa ou cosmopolita e também a classe dominante local<br />
que a representa) mostrando sobretudo suas diferenças. No caso do<br />
cinema indiano, ele nota que mesmo tendo sido formada uma indústria<br />
francamente popular, seu resultado foi fazer com que o filme<br />
indiano permanecesse fiel às “ideias, imagens e estilo já fabricados<br />
pelos ocupantes para consumo dos ocupados” (idem). No caso do<br />
Japão ocorreria o contrário: mesmo com a entrada massiva do cinema<br />
estrangeiro, sobretudo norte-americano, desde o início do século XX e<br />
principalmente a partir do pós-guerra, as imagens do ocupante teriam<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
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