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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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Sob esse ponto de vista, pode-se dizer que, notadamente a partir do<br />

processo da Independência, os intelectuais se dividiram, esquematicamente,<br />

entre os defensores da originalidade e do “gênio” nacional e os<br />

campeões da universalidade cosmopolita, que no caso significava uma<br />

defesa dos valores da civilização liberal. A definição “dialética do local<br />

e do cosmopolita”, que Candido formulou em mais de uma ocasião,<br />

era a chave para compreender esse processo de formação cultural: “A<br />

dialética do local e do universal dá o balanço desta oposição, situando<br />

os termos inimigos no interior de um mesmo movimento de afirmação<br />

da identidade nacional, em que eles se complementam harmoniosamente”<br />

(SCHWARZ, 1987, p. 169). É esse o caráter da descrição de<br />

Antonio Candido em Formação da literatura brasileira.<br />

A compreensão dialética da formação dá um passo à frente no ensaio<br />

talvez decisivo da maturidade de Antonio Candido, “Dialética da<br />

malandragem”, publicado originalmente na <strong>Revista</strong> do Instituto de<br />

Estudos Brasileiros, nº 8, um estudo sobre Memórias de um sargento<br />

de milícias (1852), de Manuel Antonio de Almeida. Por aqui podemos<br />

acompanhar como, em Antonio Candido, romance e sociedade se<br />

encontram por meio da análise criteriosa da forma entendida como<br />

condição prática mediadora.<br />

A forma, entretanto, não se define exclusivamente na esfera literária.<br />

A própria realidade histórica é também formada, na medida em que<br />

é compreendida como formação social objetiva definida no jogo das<br />

forças produtivas e não na esfera ideal das consciências individuais. O<br />

fundamental nas Memórias, segundo a análise de Candido, é que em<br />

seu entrecho formal vibra uma intuição, uma verdadeira figuração, do<br />

movimento da sociedade brasileira (a tensão constante entre ordem<br />

e desordem em uma sociedade de base escravista, mas ao mesmo<br />

tempo desejando se urbanizar e modernizar). Para o crítico, tal intuição<br />

define-se como uma espécie de redução estrutural do movimento<br />

histórico que o romance apanha in locu. Não propriamente na qualidade<br />

de “documento”, mas sim como uma formalização estética do<br />

movimento formativo da sociedade brasileira (ou de suas condições<br />

de existência: no caso, a dialética entre ordem e desordem, que o<br />

crítico percebe na organização formal do romance, tanto quanto na<br />

própria forma social do Brasil do século XIX).<br />

86 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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