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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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O ensaio tem que conseguir que a totalidade brilhe por um momento<br />

em um traço escolhido ou encontrado, sem que se afirme que ela esteja<br />

presente. Ele corrige o que há de casual e isolado de suas intuições à<br />

medida que, no seu próprio percurso ou em seu relacionamento de mosaico<br />

com outros ensaios, elas se multiplicam, conformam, limitam; não<br />

por uma abstração que delas retira os marcos diferenciais (ADORNO,<br />

in COHN, 1986, p. 180).<br />

1 ANtoNio CANDiDo: foRmAÇÃo E HiStÓRiA<br />

Para se compreender o contexto das ideias de nossos três críticos é<br />

necessário visitar vários aspectos ligados à produção intelectual paulistana<br />

por volta da metade do século XX. Entre os anos 1940 e meados<br />

de 1950 formava-se em São Paulo um momento importante da história<br />

das consequências do movimento modernista. Se o ímpeto iconoclástico<br />

de 22 já há muito havia arrefecido, seus desdobramentos<br />

foram tremendamente criativos.<br />

Antes disso, porém, esses desdobramentos foram precedidos por<br />

um sentimento doloroso de derrota e crise: “Fiz muito pouco, porque<br />

todos os meus feitos derivam de uma ilusão vasta [...] faltou humanidade<br />

em mim. Meu aristocratismo me puniu. Minhas intenções me<br />

enganaram.” Ou ainda mais trágico (e não menos lúcido): “Meu passado<br />

não é mais meu companheiro. Eu desconfio do meu passado”<br />

(ANDRADE, 1974, p. 252). Era assim que se sentia Mário de Andrade<br />

perto do final de sua vida, em 1942, em meio ao Estado Novo, às<br />

incertezas da Segunda Guerra Mundial, do futuro do nazifascismo e<br />

diante da desconfortável posição de “líder” do vitorioso movimento<br />

de modernização cultural e política que parecia chafurdar, impotente<br />

diante desse quadro de regressão. Dedo em riste, falando de outros<br />

tanto quanto de si mesmo, Mário de Andrade lamentava que com<br />

poucas exceções (nas quais ele mesmo não se enquadrava) ele e os<br />

modernistas vitoriosos tivessem sido “vítimas do nosso prazer da vida e<br />

da festança em que nos desvirilizamos”. Já pouco viris, os modernistas<br />

teriam virado as costas à revolta “contra a vida como está” em nome<br />

de estéreis discussões sobre “valores eternos”. Incapazes de ler de fato<br />

a história e a política, deixaram de lutar pelo “amilhoramento político-<br />

social do homem”.<br />

80 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 78-113 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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