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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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aquisição, distribuição, organização e exercício de poder político e<br />

suas complexas relações com a estrutura social brasileira.<br />

Por isso eles voltaram ao passado da sociedade brasileira para tratar de<br />

fenômenos já assinalados por Oliveira Vianna, como “mandonismo”,<br />

“coronelismo”, “relações de favor”, “parentela”, “voto de cabresto” e<br />

“exercício personalizado do poder”. As relações de dominação política<br />

não se sustentam sem uma base social de legitimação, e por essa<br />

razão esses fenômenos foram vistos – tal como por Oliveira Vianna –<br />

integrando um “sistema de reciprocidades” assimétricas que envolveria<br />

relações diretas, pessoalizadas e violentas engendradas entre os<br />

diferentes grupos sociais. Estas seriam as bases sociais da vida política<br />

brasileira. Como as inovações institucionais não se realizariam em um<br />

vazio de relações sociais, essas bases não poderiam ser menosprezadas,<br />

mesmo consumada a passagem da sociedade rural à urbana.<br />

Ao problematizar a interação entre instituições políticas e vida social,<br />

de um lado, e a capacidade de ação de indivíduos e grupos e o<br />

condicionamento dessas ações pelas estruturas sociais, de outro, também<br />

essa vertente da sociologia política apresenta ganhos cognitivos<br />

importantes para a compreensão de certos desafios ainda abertos à<br />

cidadania democrática no Brasil como, por exemplo, o do associativismo,<br />

condição da democracia quando a consideramos também do<br />

ponto de vista societário (e não exclusivamente institucional). Fenômeno<br />

social que, apesar do seu crescimento em nossa história recente, continua<br />

não apenas frágil como ainda muito marcado por princípios de<br />

identidade e de conduta pouco universalistas, o que acaba por fortalecer<br />

uma atitude cética em relação às próprias instituições políticas.<br />

Esse reconhecimento é mais importante quando observamos que a<br />

reflexão feita no Brasil nos últimos vinte anos levou, significativamente,<br />

a que se privilegiasse o funcionamento das instituições e seu papel<br />

na vida social de modo quase independente, como se os processos<br />

políticos existissem exclusivamente no âmbito sistêmico e não mantivessem<br />

nenhuma espécie de vínculo com o “mundo da vida”. Essa<br />

abordagem que, em larga medida, tem um débito com a economia<br />

neoclássica (Habermas chega a falar em “colonização” das ciências<br />

sociais pela economia para explicar essa operação intelectual), tem<br />

por fundamento as escolhas e preferências de eleitores e políticos,<br />

concebidos essencialmente como calculadores, maximizadores, utili-<br />

28 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 10-35 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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