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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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Assim, ao contrário do que deve ocorrer na “sociologia cultural”,<br />

na “sociologia da cultura” a cultura é uma variável apenas “branda”<br />

submetida a diferentes variáveis “fortes” e mais tangíveis da estrutura<br />

social. Nessa acepção, argumenta Alexander, o poder explicativo da<br />

cultura consiste apenas “no melhor dos casos, em participar na reprodução<br />

das relações sociais” (p. 39). Nessa sugestão radical de desacoplamento<br />

entre cultura e estrutura social, ou por outra, de afirmação<br />

da ideia de autonomia cultural, Alexander vê a única possibilidade de<br />

definir-se um “programa forte” para a sociologia da cultura capaz de<br />

identificar e qualificar sociologicamente o poder da cultura na conformação<br />

da vida social 3 . A esse respeito, penso que continua válida<br />

3 Exemplo crucial da sua proposição analítica encontra-se em “A preparação<br />

cultural para a guerra: código, narrativa e ação social” que fecha o volume<br />

Sociologia cultural. Formas de classificação nas sociedades complexas. Nele,<br />

Alexander aborda da perspectiva da sociologia cultural, isto é, considerando<br />

a cultura como variável independente, problemas de “simbolismo político” (e<br />

não de motivos racionais) em nações democráticas, uma vez que as guerras<br />

não se fariam sem a mobilização dos sentimentos e crenças dos cidadãos.<br />

Substantivamente, analisa as “dinâmicas culturais internas” presentes nos preparativos<br />

dos Estados Unidos para a Guerra do Golfo Pérsico em 1991, descartando<br />

as ideias de “manipulação exercidas pelos governos” e de “contestação<br />

dos movimentos contrários à guerra” como suficientes para compreender os<br />

processos de legitimação da guerra (p. 256). Daí que destaque literatura de<br />

ficção, filmes e informações objetivas sobre a guerra como elementos mobilizados<br />

por diferentes grupos sociais de interesse na definição da estrutura<br />

semântica do conflito. O “sentido” cultural da guerra pode ser apreendido a<br />

partir da articulação de três elementos fundamentais: código, que separa dicotomicamente<br />

– mas não de modo contingente, e sim estrutural – certas qualidades<br />

simplificadas como “bem e mal”, “puro e impuro”, “amigos e inimigos”<br />

e “sagrado e profano” (p. 256); narrativa, que permite que aqueles códigos<br />

dicotômicos adquiram sentido em relação a uma experiência histórico-universal,<br />

fazendo a guerra corresponder a um processo de “imaginação coletiva” (p.<br />

258); e gênero, que confere a capacidade dessa narrativa histórico-universal<br />

sublimar os processos sociais aumentando a importância simbólica da guerra<br />

entre os cidadãos. Em suma, a complexidade da guerra só ganharia inteligibilidade<br />

sociológica, recuando-se até a sua preparação cultural, a partir da<br />

qual tornar-se-ia possível discriminar o caráter semanticamente orientado das<br />

ações e instituições desde a estrutura interna das formações discursivas que<br />

lhe conferem sentido e legitimidade coletivas.<br />

20 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 10-35 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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