Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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Mannheim (1976), para o esclarecimento da constituição social das<br />
ideias e das relações mais ou menos condicionadas que mantêm com<br />
os grupos sociais e as sociedades que as engendram (apesar de Mannheim<br />
também levar em conta as gerações). Sua premissa paradigmática<br />
é a de que<br />
existem modos de pensamento que não podem ser compreendidos<br />
adequadamente enquanto se mantiverem obscuras suas origens sociais.<br />
[...] A abordagem da Sociologia do Conhecimento não parte do<br />
indivíduo isolado e de seu pensar a fim de, à maneira do filósofo, prosseguir<br />
então diretamente até às alturas abstratas do “pensamento em<br />
si”. Ao contrário, a Sociologia do Conhecimento busca compreender<br />
o pensamento no contexto concreto de uma situação histórico-social,<br />
de onde só muito gradativamente emerge o pensamento individualmente<br />
diferenciado (MANNHEIM, 1976, p. 30-1).<br />
Certamente esse postulado da sociologia do conhecimento não permaneceu<br />
incólume desde o seu surgimento como empreendimento<br />
organizado no início do século XX; além de ter sofrido progressivamente<br />
a concorrência, de um lado, de perspectivas estruturalistas (Saussure)<br />
e pós-estruturalistas (Foucault) e, de outro, do chamado marxismo<br />
ocidental (Adorno, Benjamin, Gramsci e outros), que convergia com a<br />
ênfase de Mannheim na questão dos condicionantes sociais da cultura,<br />
ainda que operasse uma realocação desta para a esfera da dominação<br />
ideológica. Um dos principais estímulos para sua revitalização veio de<br />
Pierre Bourdieu que “trouxe o conhecimento de volta para o mapa da<br />
sociologia em uma série de estudos sobre ‘prática teórica’, ‘capital cultural’<br />
e o poder de instituições como as universidades para definir o que conta e<br />
o que não conta como conhecimento legítimo” (BURKE, 2003, p. 16).<br />
O caso da teoria sociológica de Pierre Bourdieu (1974), que tem sido<br />
muito empregada, embora com sentidos distintos e resultados muito<br />
diferentes, parece, com efeito, exemplar para discutir os limites da sociologia<br />
do conhecimento para a pesquisa da dimensão cognitiva das<br />
interpretações do Brasil. Pois, por se concentrar no “contexto” em detrimento<br />
do “texto”, essa perspectiva pouco favorece, em função dos seus<br />
próprios objetivos, uma abordagem mais consistente da dimensão cognitiva<br />
das interpretações do Brasil, não obstante possa trazer subsídios<br />
18 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 10-35 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012