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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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constitui um ponto de partida estrutural da análise, ou antes, um problema<br />

mais contingente. Problema cujo sentido, sendo variável em<br />

relação à combinação com outros fatores internos e externos de composição<br />

das obras, somente a pesquisa comparativa poderia então<br />

apontar caso a caso. Afinal, apesar de algumas linhagens terem se tornado<br />

mais cristalizadas, como em qualquer família, também no caso<br />

da tradição intelectual brasileira, como bem lembra o autor, por vezes<br />

“os mais próximos são os mais distantes, e ninguém pode impedir que<br />

um Montecchio se apaixone por uma Capuleto” (p. 39). Nesse sentido,<br />

penso que um dos aspectos mais produtivos derivados da proposta<br />

seria justamente o de, cruzando diferentes linhagens, surpreender afinidades<br />

eletivas e escolhas pragmáticas onde elas não são evidentes,<br />

esperadas, intencionais – seja em termos cognitivos ou normativos 2 .<br />

Pensando em termos teóricos mais gerais, diria, com algum exagero,<br />

que a constituição do pensamento social como um repertório ou espaço<br />

de comunicação cognitivo implica, em certo sentido, completar o movimento<br />

analítico característico da sociologia do conhecimento. Esta,<br />

como se sabe, tem estado voltada, desde a síntese teórica formulada por<br />

2 Foi justamente nessa direção que procurei reconstituir analiticamente a formação<br />

de uma agenda de pesquisas, de Populações meridionais do Brasil até<br />

Homens livres na ordem escravocrata (1964), de Maria Sylvia de Carvalho Franco,<br />

passando por Coronelismo, enxada e voto (1949), de Victor Nunes Leal, e<br />

diferentes pesquisas de Maria Isaura Pereira de Queiroz desenvolvidas desde a<br />

década de 1950, procurando destacar suas continuidades e descontinuidades<br />

(BOTELHO, 2007). No plano das continuidades, argumentei que estas pesquisas<br />

mantêm, em primeiro lugar, a tese central do ensaio de Vianna sobre a<br />

configuração histórica particular das relações de dominação política no Brasil<br />

fundada no conflito entre as ordens privada e pública e não diretamente assimilável<br />

ao conflito de classes enraizado no mundo da produção; bem como,<br />

em segundo lugar, sua tendência teórico-metodológica a relacionar a aquisição,<br />

distribuição, organização e exercício de poder político à estrutura social<br />

com o objetivo de identificar as bases e a dinâmica da política na própria vida<br />

social. Com relação, por sua vez, às descontinuidades cognitivas internas entre<br />

os diferentes trabalhos que compõem a vertente da sociologia política brasileira<br />

destacada, argumentei que são distintas, sobretudo, as concepções de sociedade<br />

e, nelas, o relacionamento entre ação e estrutura social, que assume e que<br />

procura conferir verossimilhança com os próprios resultados obtidos no estudo<br />

da constituição, organização e reprodução das relações de dominação política.<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 10-35 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

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