Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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Ciências <strong>Sociais</strong> em geral que, como toda disciplina de natureza intelectual,<br />
traz em si uma “história construída” (LEVINE, 1995; GIDDENS,<br />
1998; ALEXANDER, 1999). Assim, a reflexão contínua sobre as Ciências<br />
<strong>Sociais</strong> remete a um aspecto crucial da própria identidade cognitiva das<br />
disciplinas que a compõem. Afinal, em contraste com o que ocorre nas<br />
ciências naturais, a lógica das Ciências <strong>Sociais</strong> exige que, para que ela<br />
atinja seus fins, refaça o seu próprio caminho, se assemelhando, neste<br />
aspecto, ao trabalho de Penélope (BRANDÃO, 2007, p. 24).<br />
Todavia, como no caso mais amplo das Ciências <strong>Sociais</strong> em relação<br />
aos seus clássicos, o significado das interpretações do Brasil, objeto por<br />
excelência da área de pesquisa do pensamento social, para a busca<br />
contemporânea de conhecimento continua em aberto. Isso expressa,<br />
igualmente, a ausência de consensos cognitivos estáveis no interior das<br />
Ciências <strong>Sociais</strong> praticadas no Brasil e, no limite, um campo de possibilidades<br />
e conflitos a respeito da sua própria identidade. Minha hipótese<br />
quanto ao seu significado heurístico para as Ciências <strong>Sociais</strong>, é que o<br />
pensamento social pode representar uma espécie de repertório interpretativo<br />
a que os pesquisadores podemos recorrer para buscar motivação<br />
e perspectiva nas diferentes áreas que as compõem. Isso porque,<br />
em meio ao labirinto da especialização acadêmica contemporânea, e<br />
do decorrente fracionamento do conhecimento, as interpretações do<br />
Brasil não representam apenas uma modalidade de imaginação sociológica<br />
encerrada no passado. Elas também constituem um espaço cognitivo<br />
de comunicação entre presente, passado e futuro que pode nos dar<br />
uma visão mais integrada e consistente da dimensão de processo que o<br />
nosso presente ainda oculta – um fio de Ariadne, por assim dizer.<br />
É esta hipótese que apresento para discussão, embora não me pareçam<br />
simples os desafios nela envolvidos. Para torná-la menos abstrata<br />
recorrerei a um dos exemplos mais emblemáticos do pensamento social<br />
brasileiro, Oliveira Vianna e os possíveis significados heurísticos da sua<br />
sociologia política, mobilizando, para isso, alguns resultados recentes<br />
de pesquisa (BOTELHO, 2007; 2008; 2010; BOTELHO; LAHUERTA,<br />
2010). Antes, contudo, alguns problemas mais gerais de ordem teórico-<br />
metodológica da sociologia do conhecimento devem ser enfrentados.<br />
Deter-me-ei em dois deles ligados especificamente à pesquisa do pensamento<br />
social. Em primeiro lugar, em um plano mais amplo, a questão<br />
da relação entre “textos” e “contextos” na pesquisa sociológica contemporânea;<br />
em segundo, as diferentes possibilidades de recuperação dos<br />
textos clássicos para as atividades cotidianas da disciplina atualmente.<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 10-35 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
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