Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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volvimentismo” dos anos 1950-60, para lembrar dois casos emblemáticos.<br />
Em vários momentos da nossa história intelectual o pensamento<br />
conservador, por exemplo, foi menosprezado levando, contudo, a que<br />
se negligenciasse a vigência dessas formas de pensar no âmbito da<br />
cultura política. Essa dimensão deveria interessar àqueles que estão<br />
voltados para o estudo dos efeitos sociais das ideias, porque ela é<br />
decisiva para se compreender, entre outras coisas, como se constitui<br />
no Brasil uma cultura política que menospreza a monumental desigualdade<br />
que marca a nossa sociedade. E, também, porque avessa à<br />
democracia, não acredita na ação coletiva e favorece a que o homem<br />
comum não leve a sério os seus iguais (FERREIRA; BOTELHO, 2010).<br />
Malgrado seu expressivo crescimento nas últimas décadas ou, talvez<br />
por isso mesmo, persistem algumas visões simplificadoras, e mesmo ingênuas<br />
sobre o pensamento social (BASTOS; BOTELHO, 2010). Como<br />
aquelas que supõem ser suficiente identificar a sua pesquisa como um<br />
tipo de conhecimento antiquário sem maior significação para a sociedade<br />
e para as ciências sociais contemporâneas. E não são incomuns<br />
ainda hoje visões segundo as quais as ciências sociais, quando concebidas<br />
em acepção positivista e orientadas para o mundo empírico e<br />
para o acúmulo de conhecimento objetivo sobre ele, já deveriam ter<br />
solucionado as questões colocadas pelas interpretações mais antigas.<br />
Por outro lado, e isso é fundamental para manter a controvérsia viva,<br />
não faltam pesquisas, realizadas inclusive entre os próprios cientistas<br />
sociais contemporâneos, indicando a persistência da importância das<br />
interpretações do Brasil no conjunto da produção das Ciências <strong>Sociais</strong><br />
brasileiras (BRANDÃO, 2007, p. 24) 1 .<br />
Mas longe de constituir um traço idiossincrático da sua prática no Brasil,<br />
a controvérsia sobre a importância do pensamento social, como aquela<br />
sobre a importância dos clássicos, expressa uma característica crucial das<br />
1 É significativo, assim, que já no próprio âmbito de sua institucionalização no<br />
Brasil tenham surgido tantos trabalhos sobre a história das Ciências <strong>Sociais</strong>, como<br />
indica o fato de que 46 de 121 obras de sociologia publicadas, no Brasil, entre<br />
1945 e 1966 tratem da própria disciplina (VILLAS BÔAS, 1992, p. 135). Isso<br />
para não falar dos balanços sobre a tradição intelectual brasileira anterior à institucionalização,<br />
realizados, por exemplo, por Florestan Fernandes em “Desenvolvimento<br />
histórico-social da sociologia no Brasil”, originalmente publicado na<br />
revista Anhembi em 1957 (FERNANDES, 1980) ou por Alberto Guerreiro Ramos<br />
em Cartilha brasileira do aprendiz de sociólogo, de 1954 (RAMOS, 1995).<br />
14 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 10-35 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012