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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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Max Weber no início do século XX. Protagonizamos uma era de especialização,<br />

racionalização e profissionalização intensas, em que estão<br />

sendo roubadas as bases que fomentavam a reprodução do intelectual<br />

rebelde, que não se submete a rotinas institucionais, não aceita as<br />

divisões rígidas do trabalho e está sempre mergulhado em embates<br />

doutrinários. É uma era que reduziu dramaticamente a possibilidade<br />

objetiva de que se empreendam esforços teóricos totalizantes. No<br />

lugar do romantismo revolucionário, dos conflitos éticos e da paixão<br />

cívica, entraram em cena o cálculo criterioso, as carreiras bem planejadas,<br />

o pragmatismo institucional, o respeito aos cânones e ritos burocráticos.<br />

O saber especializado parece frear o impulso intelectual para<br />

alçar-se ao “universal”, à crítica abrangente dos sistemas, à proposição<br />

de novos desenhos de vida.<br />

A época é individualista e individualizadora. Fragmenta e diferencia<br />

sempre mais, exacerba direitos e interesses, faz com que as obrigações,<br />

os deveres, sejam vistos como fardo e ônus. Nela, as pessoas lutam<br />

por interesses e por identidade, e essas lutas não produzem mais<br />

vida coletiva, ainda que sejam justíssimas. São lutas que produzem<br />

tensão e efervescência, mas não conseguem se traduzir em formas<br />

mais avançadas de convivência.<br />

Paradoxalmente, a nossa também se tornou uma era de instituições<br />

e organizações, situação que reflete o estágio de complexidade social<br />

em que nos encontramos. Em boa medida, as instituições chamam<br />

para si as tarefas “pedagógicas” que antes cabiam aos intelectuais. As<br />

atividades intelectuais estão cada vez mais condicionadas por orientações<br />

políticas que se confundem com iniciativas organizacionais,<br />

com seus invólucros administrativos, seus arranjos e suas restrições. A<br />

sombra da burocracia agigantou-se. Cresceu o atrito entre a liberdade<br />

intelectual e a rotina institucionalizada.<br />

É uma época de muita informação e pouco conhecimento. Há muitas<br />

ideias no ar, mas não temos certeza se elas são mesmo ideias (formas<br />

novas e sistematizadas de reflexão sobre o mundo) ou somente<br />

informações um pouco mais articuladas. Mesmo no terreno das informações,<br />

travestidas ou não de ideias, a dispersão, o detalhe, o supérfluo<br />

e o imediatismo parecem ser a regra. Os efeitos da informatização repercutem<br />

aqui de forma intensa. À nossa frente, ergue-se um complexo<br />

e fragmentado sistema de comunicação, com suas inúmeras redes<br />

166 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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