Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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são figuras burocráticas, dedicadas à disputa eleitoral e ao controle<br />
do poder. Não são entidades voltadas para a produção de cultura, de<br />
valores, de formas de identidade. Deixaram de ser canais de paixões<br />
políticas, dedicam-se somente a interesses. Segundo, porque o intelectual<br />
que opera nas condições do capitalismo globalizado precisa ser<br />
livre de injunções para poder ser intelectual. Dado o empobrecimento<br />
cultural dos partidos, o casamento entre eles e os intelectuais parece<br />
ser problemático, mais propenso a produzir dor que prazer.<br />
Mas os intelectuais, a rigor, só têm como se realizar na política e a<br />
partir da perspectiva da política. Afinal, política não é sinônimo de<br />
poder, nem de mundo dos profissionais da política, mas um campo<br />
em que se disputam ideias a respeito do viver coletivo e em que se<br />
aposta nas possibilidades de construir o social, planejar o futuro, tornar<br />
mais justa a convivência entre grupos e pessoas. O intelectual que<br />
não se coloca nessa perspectiva e se recusa a pensar o todo – que se<br />
fecha em sua especialização, em seu corporativismo – mantém-se em<br />
função subalterna.<br />
Os diferentes tipos de intelectuais críticos e democráticos, e entre<br />
eles os marxistas, enfrentam outro problema. É que a vida pública está<br />
hoje em crise. O Estado, a ideia de Estado, a dimensão ética e educativa<br />
do Estado, tudo isso está envolto em um profundo mal-estar.<br />
Assiste-se à intensificação do mercado e à valorização da sociedade<br />
civil contra o Estado. É uma época com pouca política, na qual os<br />
cidadãos não encontram respostas para seus problemas no sistema político,<br />
não confiam nele e preferem não olhar para ele. A própria polí tica<br />
é vista com desconfiança, especialmente se for identificada com Estado e<br />
vida coletiva.<br />
Os ambientes em que vivemos parecem “despolitizados”, vazios de<br />
perspectiva cívica, com reduzida noção do que é público. Nada dá<br />
muito sentido e expressão às comunidades em que nos inserimos e<br />
que nos orientam. Das organizações profissionais à comunidade política<br />
“nacional”, o clima é de desconforto e melancolia. Assistimos a uma<br />
complicada alteração nas formas mesmas com que cada um pensa a<br />
sua relação com o todo: com os demais, com o Estado, com a história,<br />
com o futuro. O trabalho intelectual ficou com seu eixo deslocado.<br />
Uma constatação pode nos ajudar a entender isso. Presenciamos a<br />
radicalização daquele “desencantamento do mundo” de que falava<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
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