Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
uma inovadora teoria da hegemonia e da sociedade civil. Gramsci,<br />
além disso, caminhou ao largo da versão reducionista de Marx, com a<br />
qual se fixara uma quase absoluta dependência da construção social<br />
em relação à estrutura econômica. Superou tal versão, insistindo no<br />
reconhecimento de que o marxismo se singulariza por ser uma teoria que<br />
afirma, ao mesmo tempo, a autonomia relativa dos âmbitos da economia,<br />
da política, da ética e da cultura e a recíproca influência entre<br />
eles. Seu marxismo é uma teoria política que exclui o voluntarismo e<br />
o arbítrio (derivados da desconsideração dos condicionamentos econômicos)<br />
assim como o fatalismo e a subalternidade (resultantes da<br />
conversão da “determinação econômica” em “economicismo”).<br />
É preciso considerar também que as falhas e dificuldades teóricas<br />
do marxismo – suas insuficiências enquanto proposta científica – não<br />
decorreram de defeitos congênitos, epistemológicos ou ontológicos,<br />
inerentes à própria teoria, mas derivaram, ao menos em parte, dos<br />
condicionamentos, impactos e desdobramentos do movimento comunista.<br />
São problemas políticos que têm a ver com os nexos entre teoria<br />
e movimento político e que, portanto, só podem ser resolvidos com a<br />
redefinição destes mesmos nexos: ou com sua superação, quer dizer,<br />
com sua reposição em bases completamente novas, ou com seu cancelamento<br />
em nome da plena autonomização da teoria.<br />
Pressionado pela própria história da teoria, pela crise do marxismo<br />
e pela desagregação dos partidos comunistas em praticamente todos<br />
os países, o intelectual marxista tornou-se um personagem em busca<br />
de reinserção e contagiado por uma espécie de crise de confiança. Ele<br />
ainda encontra impulso para se reproduzir em nossos dias? Ele ainda<br />
faz sentido, ainda é necessário? Que obstáculos encontra para se afirmar<br />
e se expandir?<br />
O intelectual marxista não tem mais como ser um homem de partido<br />
no sentido de estar formalmente integrado a uma organização<br />
política concreta. Ele certamente precisa ser partidário: tomar partido<br />
e pôr-se em defesa de uma parte da sociedade, a dos subalternos, a<br />
dos excluídos, explorados e humilhados. Mas não precisa ser necessariamente<br />
um militante partidário em sentido estrito, muito menos<br />
um dirigente ou um funcionário de partido. E isso por dois motivos.<br />
Primeiro, porque a nossa não parece ser mais uma época de partidos<br />
entendidos como veículos de transformação social. Os partidos atuais<br />
164 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012