26.04.2013 Views

Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

com outros partidos, conheceu militantes de vários tipos e foi eleito<br />

deputado estadual em São Paulo (1947), cargo que abandonou quando<br />

o PCB teve o registro cassado, em 1948. Em 1943, juntamente com<br />

Monteiro Lobato e Arthur Neves, fundou a Editora Brasiliense e, nos<br />

anos 1950, a <strong>Revista</strong> Brasiliense, publicação que teria extraordinária importância<br />

na história política do Brasil. Nela, Caio publicou numerosos<br />

artigos históricos e políticos, muitos dos quais voltados para a estrutura<br />

agrária brasileira. A revista contribuiu para a formação de inúmeros intelectuais<br />

durante os anos em que circulou (de 1955 a 1964).<br />

Caio Prado foi um militante, mas jamais se deixou constranger intelectualmente<br />

pelo PCB. Não permitiu que o partido exigisse dele algo<br />

mais que lealdade, nem aceitou que o partido postulasse a função<br />

de “administrar” o impulso criativo e crítico do intelectual, fosse uma<br />

espécie de dono e gestor do conhecimento. Levou a sério a perspectiva<br />

de que atitude crítica e autonomia são requisitos essenciais para<br />

que o intelectual possa funcionar como usina de ideias, como agente<br />

cultural, e possa, desse modo, colaborar para que um partido atue<br />

adequadamente, isto é, fazendo escolhas e apostas corretas, desenhando<br />

programas factíveis, aprimorando seus cálculos. Terminou por<br />

ser, talvez sem plena consciência disso, um fator de contestação no<br />

interior do movimento comunista, contestação que só não repercutiu<br />

mais intensamente devido ao desinteresse que Caio Prado teve pelas<br />

disputas internas e pela luta ideológica que se processava no partido.<br />

Em nenhum momento chegou a integrar a direção partidária e nunca<br />

chegou a ser propriamente valorizado pelos comunistas.<br />

Seu relacionamento com o PCB sempre pressupôs que o partido não<br />

conseguia fazer escolhas políticas adequadas porque teorizava a partir<br />

de modelos e esquemas preconcebidos (fragilmente universalizados)<br />

e não de elaborações que fossem capazes de interagir com o processo<br />

real, traduzi-lo corretamente, compreendendo suas determinações e<br />

empregando-as para fazer análise política e projetar a revolução. Seu<br />

convívio com o PCB foi sempre eminentemente polêmico: vieram<br />

dele algumas das mais contundentes críticas à teoria e à prática que<br />

prevaleciam no partido. A revolução brasileira (1966) foi o ápice disso.<br />

Caio Prado Jr. não rompeu com o partido, nem dele se afastou.<br />

Foi uma situação atípica, especialmente se se levar em conta que as<br />

direções do PCB não costumavam ser tolerantes com aqueles que<br />

162 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!