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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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não detém toda a verdade. A razão procede por sucessivas aproximações<br />

e alcança verdades que são sempre parciais e provisórias. Por<br />

isso, o marxista valoriza a dúvida, a incerteza, a necessidade de rever<br />

sempre o que se considera descoberto ou conhecido. Ao mesmo tempo,<br />

recusa a ideia de que a ciência pode tudo, que é a única forma de<br />

saber, tão perfeita que dispensaria até mesmo a arte, a sensibilidade, o<br />

conhecimento espontâneo, a criatividade, a imaginação, a religiosidade<br />

e especialmente a observação criteriosa dos fatos.<br />

2. Ser um intelectual marxista é portanto, em segundo lugar, empregar<br />

a perspectiva da totalidade concreta para investigar a realidade com<br />

o máximo rigor e objetividade, valorizando o conhecimento em si.<br />

O pensamento crítico dialoga permanentemente com a realidade:<br />

busca compreendê-la, alcançá-la por inteiro, reunificá-la. É desafiado<br />

por ela. Por isso mesmo, pode ser mais ou menos favorecido pelos arranjos<br />

sociais e pela cultura prevalecente em cada época histórica. Isto<br />

significa recusar os determinismos sedutores, com suas causalidades<br />

rígidas, e dar atenção dedicada ao incessante jogo de determinações<br />

recíprocas entre forças desiguais e contraditórias. A realidade somente<br />

pode ser compreendida se for pensada como processo, movimento,<br />

contradição, unidade do diverso. No fundo, tudo está ligado a tudo<br />

o tempo todo, e a astúcia do pensamento é perseguir o movimento<br />

que articula, aproxima e afasta as partes: os fluxos, as determinações<br />

(NOGUEIRA, 2005).<br />

3. O intelectual marxista persegue o conhecimento e a verdade do<br />

real, mas faz isso associado a uma proposta de intervenção e a um ideal<br />

de transformação social. Assimila o marxismo como uma teoria política<br />

em um duplo sentido: está sempre em busca da tradução política daquilo<br />

que é obtido pelo conhecimento crítico e vê a ação política como<br />

eixo estruturador da vida em sociedade.<br />

Ao longo do século XX, a exacerbação mecanicista do determinismo<br />

econômico tendeu, durante décadas, a congelar a política na esfera<br />

“determinada” das superestruturas, com o correspondente cancelamento<br />

da dimensão do sujeito e da vontade. Houve bastante menosprezo<br />

pela teorização sistemática da política e do Estado. O marxismo<br />

ficou assim em dificuldades para acompanhar as mudanças imponentes<br />

que apareceram na esfera mesma do político (generalização do<br />

sufrágio, socialização da política, democracia de massa, novos sujeitos<br />

158 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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