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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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Quando Caio Prado publicou seu ensaio de interpretação materialista<br />

do Brasil (Evolução política do Brasil, que é de 1933), o ambiente<br />

intelectual não sugeria nem referendava a visão que ele começaria a<br />

adotar: a do desenvolvimento capitalista conservador e a do déficit de<br />

subjetividade política das classes subalternas. Muito ao contrário. Com<br />

a exceção do comunista italiano Antonio Gramsci (1891-1937), todos<br />

afirmavam a aproximação inevitável do socialismo como decorrência<br />

do desenvolvimento e da crise do capitalismo. Os subalternos, partido<br />

revolucionário e classe operária à frente, pareciam prontos para tomar<br />

o poder e reformar o mundo.<br />

Havia, portanto, no movimento comunista da época, mais confiança<br />

e empolgação do que realismo, rigor e distanciamento crítico, mais<br />

“otimismo da vontade” que “pessimismo da inteligência”, usando a<br />

bela expressão de Romain Rolland insistentemente empregada por<br />

Gramsci. É verdade que, com a ascensão triunfante do nazifascismo<br />

na Europa e no Japão, o clima de confiança cedeu. No Brasil, a derrota<br />

rápida da insurreição de 1935 ajudou a que se percebesse o quanto<br />

havia de ingenuidade nos marxistas. Mesmo assim, porém, o distanciamento<br />

crítico não chegou propriamente a preponderar, até porque<br />

também foi prejudicado por outros dois traços comuns do marxismo<br />

da época: o “obreirismo”, que supervalorizava a cultura e os procedimentos<br />

intelectuais de uma classe operária vista em abstrato, e o<br />

apego ritual e quase religioso às orientações recebidas dos centros oficiais<br />

do movimento comunista internacional. Tudo somado, entre as<br />

décadas de 1920 e 1940 irá se manifestar aquela característica que<br />

Leandro Konder brilhantemente chamou de “derrota da dialética”.<br />

Mais preocupado em “preparar os militantes políticos para a aceitação<br />

disciplinada das palavras de ordem emanadas da direção” (p. 44), o<br />

marxismo predominante perderia sua dimensão dialética e terminaria<br />

por ser praticado de modo tosco, sem vigor teórico (KONDER, 1988,<br />

p. 44-45).<br />

Seguindo à margem desse processo, Caio Prado Jr. adotaria um<br />

marxismo muito pessoal, que de algum modo o imunizou contra as<br />

tendências gerais. Foi sempre inimigo declarado do uso mecânico e<br />

doutrinarista de esquemas revolucionários para “enquadrar” os fatos<br />

brasileiros, como se fosse possível transpor para os trópicos, sem mais<br />

nem menos, elaborações válidas para outros contextos históricos ou<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

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