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Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

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idealização ou simplificação analítica, funcionando como um alerta<br />

para algumas de nossas dificuldades.<br />

Não estaria Caio Prado, com ela, querendo enfatizar que, no Brasil,<br />

dada a falta de uma subjetividade política consistente, o político não<br />

poderia funcionar como fator de estruturação social e desfecho histórico?<br />

Que o país integra uma história feita mais por “fatos” que por<br />

escolhas e construções políticas deliberadas, mais por “processos” que<br />

por “projetos”? Sua ênfase no peso do passado indicaria, assim, que<br />

no Brasil moderno a condição periférica, de base colonial, entranhou-<br />

se em todas as práticas e instituições, condicionando a marcha mesma<br />

da modernização e tingindo de incoerência e imperfeição a lógica<br />

da acumulação capitalista, ao menos até certo trecho do caminho. O<br />

passado pesado entrelaçou-se com ela e deu origem a formas inusitadas<br />

de vida moderna, potencializando os efeitos da “desagregação<br />

política” dos movimentos populares e da precária subjetividade política<br />

das classes sociais.<br />

O fato de Caio Prado Jr. ter sido um intelectual marxista certamente<br />

facilita o entendimento dessas suas hipóteses de trabalho e de seu estilo<br />

como historiador. O estudo do capitalismo como modo de produção,<br />

como sistema social e como Estado distingue o marxismo como teoria. Ao<br />

adotá-lo como ferramenta de trabalho, o intelectual foi inevitavelmente<br />

projetado para esse campo de observação, com o que ficou incentivado<br />

a buscar na história brasileira os elos e as contradições que a ativavam e<br />

a revelavam como um todo complexo, explicando seus padrões de desenvolvimento,<br />

seus atores, suas estruturas de funcionamento.<br />

Mas Caio Prado foi um marxista singular, e não somente “estranho”.<br />

Antes de tudo porque não se deixou modelar pelo marxismo realmente<br />

existente, pelo modo como a época dizia que se devia ser marxista.<br />

Especialmente entre os anos 1930 e 1940, e mesmo depois, o marxismo<br />

ainda não havia construído para si uma prática intelectual propriamente<br />

dita. Os marxistas eram, em sua maioria, revolucionários e<br />

políticos profissionais que também produziam teoria. Suas referências<br />

estavam na revolução, no partido político, na classe operária, no movimento<br />

comunista internacional, tudo o mais deveria ser um desdobramento<br />

disso. Faziam ciência, com certeza, mas também seguiam as<br />

orientações políticas e partidárias, concedendo algo a elas, ainda que<br />

fosse de forma protocolar.<br />

154 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012

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