Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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Nem os negros nem a população livre das camadas médias e inferiores<br />
estavam em contato com fatores capazes de lhes dar organicidade<br />
e consciência política. Tais setores,<br />
sem coesão, sem ideologia claramente definida, mesmo quando alcançam<br />
o poder, tornam-se nele completamente estéreis. Em todos<br />
os movimentos populares [do período imediatamente posterior à Independência],<br />
o que mais choca é sua completa desagregação logo<br />
que passa o primeiro ímpeto da refrega (PRADO JR., 1977, p. 60-61).<br />
O mesmo raciocínio poderia ser estendido para as classes dominantes,<br />
que nunca souberam elaborar politicamente seus interesses e<br />
por isso nunca apresentaram um projeto, uma ideia de país, com que<br />
convocar (e subordinar) os demais grupos e setores sociais.<br />
Tal modo de pensar foi importante para que se aperfeiçoasse o entendimento<br />
da revolução burguesa no Brasil e da trajetória seguida<br />
pelo país rumo à modernidade. Tornou-se uma das decisivas influências<br />
da historiografia e do modo brasileiro de pensar o Brasil.<br />
Caio Prado Jr. tratou em um registro forte, absolutizado, a ideia de<br />
que o passado não termina nunca de terminar, o que o levou, por<br />
exemplo, a dar pouca atenção às transformações ocorridas na sociedade<br />
brasileira a partir de 1930. Foi bastante criticado por ter empreendido<br />
análises que insistiram exageradamente no prolongamento<br />
do capitalismo mercantil, de base colonial, no país. Não há em seus<br />
escritos a consideração da afirmação industrial na economia brasileira,<br />
como se o capital tivesse parado no tempo. Sequer trabalharia a hipótese<br />
da industrialização retardatária, com a qual teria podido equacionar<br />
o tema. O Brasil, para ele, mesmo depois de 1964, permanece<br />
ancorado no passado, capitalista com certeza, desde sempre, mas sem<br />
pujança industrial e sem capitalização radical do mundo agrário. Com<br />
isso, não faltariam críticas e registros ao que se chamou de seu “marxismo<br />
estranho” (SANTOS, 2001).<br />
Há, de fato, uma limitação em seu modo de conceber o desenvolvimento<br />
capitalista no Brasil. Vista em grande angular, porém, sua<br />
concepção teve a vantagem de acentuar (de forma unilateral, digamos<br />
assim) o peso do passado na história brasileira. Ofereceu um retrato<br />
do Brasil que desautorizava qualquer tipo de ilusão ufanista, qualquer<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
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