Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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Em primeiro lugar, o processo conservador de desenvolvimento dificultava<br />
que o passado terminasse de passar, ou seja, ficasse para trás.<br />
Como ele escreveu em um de seus livros, vivemos a “assistir pessoalmente<br />
às cenas mais vivas de nosso passado”, frase com que, segundo<br />
ele, um professor francês havia definido os brasileiros como um povo<br />
a ser invejado pelos historiadores, que podiam trabalhar com o passado<br />
como se ele estivesse presente o tempo todo. Caio Prado sempre<br />
reiterou sua hipótese de trabalho: entre nós, é enorme a capacidade<br />
de resistência e reprodução da velha estrutura colonial, fonte de tantos<br />
problemas e de tantos desafios teóricos e práticos. Na “Introdução”<br />
redigida para Formação do Brasil contemporâneo, cuja primeira<br />
edição é de 1942, ele assim se expressou:<br />
Observando-se o Brasil de hoje, o que salta à vista é um organismo<br />
em franca e ativa transformação e que não se sedimentou ainda em<br />
linhas definidas; que não “tomou forma”. É verdade que em alguns<br />
setores aquela transformação já é profunda e é diante de elementos<br />
própria e positivamente novos que nos encontramos. Mas isto, apesar<br />
de tudo, é excepcional. Na maior parte dos exemplos, e no conjunto,<br />
em todo caso, atrás daquelas transformações que às vezes nos podem<br />
iludir, sente-se a presença de uma realidade já muito antiga que até<br />
nos admira de aí achar e que não é senão [o nosso] passado colonial<br />
(PRADO JR., 1970, p. 11).<br />
Em segundo lugar, o mencionado contraste iria se traduzir em déficit<br />
de subjetividade política, problematizando o protagonismo das classes<br />
sociais. A sociedade ficava como que sem energia para produzir, tanto<br />
entre as classes dominantes quanto entre as camadas subalternas<br />
(escravos, brancos marginalizados, agregados, desocupados, trabalhadores<br />
subalternos, operários), sujeitos políticos com competência para<br />
desenvolver ação consequente e eficaz, defendendo seus interesses<br />
mas também contribuindo para plasmar o país. O historiador se voltava<br />
para o Brasil do século XIX, mas a frase parecia escrita para toda uma<br />
época: na análise dos movimentos insurrecionais da primeira metade<br />
do século XIX, e mesmo depois, na luta abolicionista, por exemplo, ele<br />
registra “a ineficiência política das camadas inferiores da população<br />
brasileira”, ou mesmo sua “atitude revolucionária inconsequente”.<br />
152 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012