Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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1 À PRoCuRA DA REvoLuÇÃo buRGuESA<br />
Caio Prado não foi um intelectual que se manteve recluso em alguma<br />
esfera superior, sem contato vivo com a sociedade ou alheio à<br />
agenda da época. Bem ao contrário, foi um intelectual público, que<br />
viveu em contato corporal com seu tempo, integrado às lutas sociais<br />
e às questões que se debateram ao longo de um importante trecho<br />
do século XX. Foi também um intelectual marxista. E como marxista,<br />
envolveu-se intelectualmente com a política e com o Partido Comunista<br />
Brasileiro (PCB). Nessa condição, atuou como um organizador<br />
de cultura, seja como homem de partido, escritor e historiador, seja<br />
como editor.<br />
Tudo isso em uma fase decisiva da vida nacional, entre 1930 e 1980,<br />
anos que assistiram à consolidação do capitalismo no Brasil mas que<br />
não se caracterizaram pela estabilização de uma relação política e<br />
social com a democracia, nem pela sedimentação no país de uma<br />
cultura democrática. Foram anos de desenvolvimento econômico, de<br />
urbanização, de redefinição das relações entre o campo e a sociedade,<br />
de afirmação das modernas classes sociais no Brasil – ou seja, anos<br />
em que a vida moderna se disseminou pela sociedade. Mas não foram<br />
anos de democratização política: não houve consolidação de um sistema<br />
democrático de governo, de práticas democráticas, de modos<br />
democráticos de pensar e fazer política, nem mesmo de ampliação<br />
categórica do sufrágio. Duas décadas de democracia representativa<br />
(1946-1964) terminaram por simbolizar uma espécie de espasmo em<br />
uma longa noite de desenvolvimento econômico combinado com autoritarismo<br />
político, de capitalismo induzido e sem democracia.<br />
Esse contraste entre desenvolvimento econômico-social e desenvolvimento<br />
político tingiu toda a história brasileira. Não foi um acaso,<br />
portanto, que tenha aparecido em posição de destaque na elaboração<br />
teórica de Caio Prado, ainda que nem sempre de forma explícita ou<br />
adequada. O historiador fez dele, devidamente adaptado, uma espécie<br />
de chave para compreender a história brasileira, que ele via como<br />
envolvida por um processo em que o desenvolvimento se fazia sem<br />
rupturas radicais, reiterando o passado e com isso travando o futuro.<br />
Ao longo do tempo, teriam sido dois os efeitos principais desse “modelo”<br />
de desenvolvimento.<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 148-169 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
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