Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc
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de corpo orgânico, vulgar, dócil, obediente – o falso espírito livre, espírito<br />
cativo e “ridiculamente superficial” do qual fala Nietzsche. De<br />
outra maneira, pensando com José Gil, o projeto de Gonçalo M.<br />
Tavares aponta para um gesto dançado que abre no espaço a dimensão<br />
do infinito, pois “seja qual for o lugar onde se encontra o bailarino,<br />
o arabesco que descreve transporta o seu braço para o infinito” (GIL,<br />
2004, p. 14), pois, como já foi visto, o corpo do bailarino é sempre<br />
transportado pelo movimento em um gesto que começa antes dele,<br />
do próprio movimento, e que se prolonga depois dele. José Gil diz que<br />
“tudo se passa no espaço do corpo do bailarino” (GIL, 2004, p. 14)<br />
que abre buracos no espaço comum, que faz furos no espaço comum,<br />
vulgar, para abrir nele um campo de ventilação, de ar, uma espécie<br />
de estado de desobediência, de queda, de desequilíbrio, de quebra do<br />
movimento que provocará sempre outros movimentos, pois o gesto<br />
da dança inventa sempre novos começos, como um corpo que jorra<br />
para fora de si mesmo.<br />
Por esses e outros tantos desdobramentos podemos pensar que<br />
Gonçalo M. Tavares faz uso de um procedimento singular, como tarefa,<br />
da e na sua escrita, que é o de abrir o corpo da palavra, da frase,<br />
como um bailarino enraivecido em uma travessia violenta (a expressão<br />
é de Nietzsche), até projetá-las para fora, EXIBI-LAS, e armar um<br />
espaço em cada uma delas como um corpo que busca alcançar as<br />
intensidades mais altas, um corpo que é um círculo de desejos. José<br />
Gil chama a esse procedimento, na dança, de “plano de imanência da<br />
dança”, que se dá quando as ações do corpo já não se distinguem dos<br />
movimentos do pensamento, e isso pode ser tomado como uma consciência<br />
do corpo; corpo que passa a ser um corpo-pensamento, que<br />
se abre e se fecha, que pode ser atravessado por diferentes fluxos de<br />
vida; corpo que é uma pura afirmação da vida. Para José Gil, “dançar<br />
é criar a imanência graças aos movimentos” (2004, p. 44).<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />
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