26.04.2013 Views

Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

Revista Sinais Sociais N20 pdf - Sesc

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

expõe, furiosamente aberto, talvez no instante da “EXIBIÇÃO Profunda”,<br />

porque é nesse momento que entendemos que, para Gonçalo<br />

M. Tavares, não há nenhum corpo completo, que ao corpo que faltam<br />

movimentos chamamos de corpo “INcompleto” (TAVARES, 2001,<br />

p. 91) e ao outro chamamos de deus. Mas que, principalmente, esse<br />

deus não se exibe. Gonçalo retoma a ideia de que o corpo que dança<br />

– no seu “projeto para uma poética do movimento” – é um corpo de<br />

osso e de articulação, um corpo que morre, um corpo sem metafísica,<br />

mais perto do chão, um corpo furioso e sólido, mas também gasoso<br />

e possível de evaporar, enquanto ensaia uma espécie de “dança<br />

desenfreada.” (NIETZSCHE, 2006, p. 268). Logo, o projeto literário<br />

de Gonçalo M. Tavares é também osso, carne, articulação, travessia<br />

violenta, paradoxo e oposição de termos, mas para desfazê-los por<br />

dentro, em contato, em uma armadilha para o sentido. Uma poética<br />

do osso imprevisto que sobrevive como movimento. Ele retoma essa<br />

questão no fragmento 50:<br />

Quando o Movimento acabar o osso sobrevive.<br />

O movimento da dança, o poético no oxigênio, deve MOSTRAR que<br />

o osso SOBREVIVE, o osso permanece quando acabar o Movimento.<br />

(TAVARES, 2001, p. 62).<br />

O fragmento trata da sobrevivência do osso, ele “SOBREVIVE” e<br />

permanece quando se retira a pele e o movimento termina. O osso<br />

nu agora é pele, o que volta a se exibir é de novo a pele. O osso nu<br />

é o que nada tem de flexível, ele é o único sólido que pode se impor<br />

às bailarinas absolutas de Valéry. Tanto que no fragmento 21 a carne<br />

que aparece como possibilidade para a dança, sobrevive e permanece<br />

quando se retira a pele. A carne nua é pele, o que volta a se exibir é<br />

de novo a pele. “A pele é cá fora e mostra-se” (TAVARES, 2001, p. 92).<br />

Diz ele no fragmento 76, que tem um título que indica evidência:<br />

“Isso é claro”. A dança, na escrita de Gonçalo M. Tavares, é a indicação<br />

de uma “poética dos ossos e dos Mortos”, porque ela é o osso nu<br />

que sobrevive quando o movimento acaba; é a carne nua que sobrevive<br />

quando o movimento acaba; osso e carne nus que se exibem como<br />

pele, o milagre. Segue o fragmento 21:<br />

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº 20 | p. 114-147 | SEtEmbRo > DEzEmbRo 2012<br />

141

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!